Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate this Page

Rating: 2.9/5 (1471 votos)



ONLINE
5




Partilhe esta Página

 

 

<

Flag Counter

mmmmmmmmmmm


// ]]>

how to watch super bowl 2021 for free

sete taças do apocalipse
sete taças do apocalipse

                           SETE TAÇAS DO APOCALIPSE

 

                           

                A Primeira Taça — Sobre a Terra (APOC.16:2)

 

Há algo de expressivo na execução das sete pragas. As taças, como um todo, implicam ação rápida. Golpeando, como relâmpago, destroem o reino da besta, que havia tomado para si mesma o reino do mundo. Destruição repentina sobrevirá à besta e aos seus adoradores, e não poderão escapar.

 

Os juízos das trombetas limitam-se, mais ou menos, ao mundo romano, mas os juízos das taças hão de cobrir a terra e devem constituir a guerra total de Deus sobre o mundo. As taças são a resposta de Deus a Satanás e destruirão seu império. Nas trombetas, o poder de Satanás é liberado a fim de dar andamento a seus objetivos. Nas taças, Deus desencadeia todo o seu poder a fim de pôr termo à obra sombria de Satanás. Entrega a seus anjos controle direto sobre todas as forças naturais, e esses anjos, por sua vez, executam o julgamento que está escrito.

 

Na primeira taça da ira vemos uma praga parecida com a sexta praga egípcia (Êx 9:8-12), a primeira a afligir os corpos dos egípcios. David Brown afirma: “A razão pela qual a sexta praga egípcia aqui é a primeira é por ter sido dirigida contra os magos egípcios, Janes eJambres, para que não pudessem permanecer na presença de Moisés; de forma que aqui a praga é enviada sobre os que na adoração à besta haviam praticado a feitiçaria. Assim como se submeteram à marca da besta, da mesma forma devem levar a marca do Deus vingador.”

 

Neste sentido, ficamos a imaginar se “a chaga ruim e maligna” não afligirá a parte do corpo que leva a marca da besta—a saber, a fronte e a palma da mão. “Sofrimento físico, sem dúvida, adicionar-se-á à angústia dos homens, mas as feições principais e predominantes será o trato judicial com a alma e com a consciência—sofrimento que excede de muito qualquer aflição corporal.” Mas certamente não podemos afastar-nos das chagas literais—feridas ruins, malignas e supuradas!

 

A palavra usada para “chaga” significa uma úlcera feia que se extravasa de forma altamente ofensiva. Em Êxodo 9:8 Moisés e Arão jogaram cinzas da fornalha para o alto, à vista de Faraó, as quais desceram sobre homens e animais na forma de terríveis tumores. Tanto aquelas pragas como estas devem ser tomadas literalmente, como prova o fato de as feridas medonhas da primeira taça ainda estarem sobre os homens na quinta taça das trevas, onde lemos de “dores e chagas” (16:11). Estas feridas abertas indicam desesperança e também horripilância; elas são incuráveis (Dt 28:27, 35) e devem ser suportadas como prenúncio da angústia do inferno.

 

A Segunda Taça — No Mar (16:3)

 

Uma feição notável das sete taças não somente é sua semelhança com as pragas do Egito, mas também com as das trombetas. Nas taças, entretanto, não há o julgamento limitado das trombetas. Nesta segunda taça da ira temos um quadro de um homem assassinado e ensopando-se em seu próprio sangue. O mar e tudo o que nele há tornou-se “como um cadáver deitado em seu próprio sangue coagula­do”. Sob a terceira trombeta apenas a terceira parte do mar tornou-se em sangue (8:8), contudo aqui a destruição não é parcial, mas completa. Terminados os juízos, sobrarão poucas pessoas para entrarem no milênio.

 

E por que o mar cobre maior porção da terra, esta praga será largamente difundida em seu poder de acarretar a morte. Sangue, a marca vívida e terrível da morte, foi derramado abundantemente pela besta. Mas agora o sangue dos mártires há de ser vingado. A besta começa a colher o que semeou.

 

É sangue por sangue! Não há palavras para descrever a condição terrível das coisas enquanto milhões de criaturas marinhas mortas cobrem a superfície dos oceanos. O mau cheiro destas carcaças horríveis e putrefatas será grande demais. Com todos os seres viventes marinhos mortos, quanto de poluição e doença conterá tal mar de sangue!

 

A Terceira Taça — Nos Rios (16:4-7)

 

O terceiro anjo, presidindo sobre as águas, derrama sua taça nos rios e nas fontes das águas, isto é, as fontes do mar. Todas as fontes de progresso e bem-estar nacional entram em juízo porque o comércio e a vida, em geral, dependem dos rios, canais e fontes. Rejeitamos a aplicação inteiramente simbólica de “rios” como a vida comum da nação caracterizada por princípios reconhecidos e aceitos de governo, e “fontes das águas” como as fontes de prosperidade e bem-estar transformadas em sangue (envenenado moralmente). Sustentamos que o anjo da guarda que controla as águas as poluirá num instante.

 

Dois anjos aparecem nesta declaração dos juízos justos, recíprocos e retributivos de Deus. Primeiro, o anjo das águas (16:4) usa a expressão peculiar da eternidade de Deus—“que és e que eras”. Como o Justo, Deus não exagera no mínimo grau a medida justa de juízo estrito. Os apóstatas haviam derramado o sangue dos santos e dos profetas, e agora a justiça retributiva opera à medida que os assassinos do povo de Deus são forçados a beber a água tornada em sangue. Recebem terrível condenação. São dignos de morte medonha, que agora aparece como amostra da segunda morte no lago do fogo.

 

Refere-se ao segundo anjo como o anjo do altar (16:7). Mais corretamente, é o próprio altar que fala. A primeira parte do versículo 7 pode ser traduzida por “ouvi o altar [personificado], dizendo”. Neste altar, as orações dos santos são oferecidas a Deus, e debaixo dele encontram-se as almas dos mártires que clamam por vingança sobre seus inimigos e sobre os inimigos de Deus. Assim o anjo e o altar, representando o céu inteiro, admitem que os juízos de Deus são justos e verdadeiros. Todos, dentro do santuário celeste, estão do lado de Deus à medida que ele age como o grande vingador dos seus. Os clamores dos altares desde a época de Abel agora serão vingados para sempre (Mt 23:35).

 

A Quarta Taça — Sobre o Sol (16:8, 9)

 

Sob a quarta trombeta escurece-se a terça parte do sol (8:12), mas aqui o poder abrasador do sol intensifica-se. “Foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo.” Esta há de ser a bomba H de Deus. Não interpretamos o sol simbolicamente nesta passagem (como autoridade suprema governamental representada pelo mundo romano revivificado), mas como o sol real, de cujo calor nada pode escapar (Sl 19:1-6). Tendo controle completo sobre suas obras criadas, Deus intensifica o calor do sol e com isso causa grande morticínio. Descrevendo o grande e terrível dia do Senhor, o profeta Joel declarou:

 

O sol e a lua escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor (Jl 2:10).

 

Sob a primeira trombeta as árvores e a relva verde foram queima­das, mas agora Deus aplica sua política da terra abrasada aos corpos dos homens. Podemos nós imaginar a angústia terrível que as multidões experimentarão ao serem abrasadas por esse calor intenso? A versão de Almeida traduz bem a ênfase do grego, ao dizer: “Os homens foram abrasados com grande calor”—isto é, aqueles homens que em 16:2 são descritos como possuindo a marca da besta. Assim como aconteceu com as pragas do Egito, aqui também, nestas pragas do juízo, o povo de Deus fica imune. Assim como os três jovens hebreus foram preservados na fornalha de fogo, assim também o remanescente será protegido por Deus (Ap 7:16; Dn 3:27).

 

E como o coração de Faraó foi endurecido a despeito da amostra do poder absoluto de Deus sobre sua criação, assim também aqui o sofrimento físico extremo falha em produzir qualquer mudança de coração: “Não se arrependeram para lhe darem glória.” Em vez de serem esmagados pelos juízos de Deus e clamar por misericórdia, estes homens apenas blasfemaram o seu nome. O castigo merecido engrossa os lábios e endurece o coração; os fogos dos juízos falham em purificar. Por ser a bondade da graça que leva ao arrependimento (Rm 2:4), os homens que não são ganhos por meio da graça jamais serão ganhos.

 

Podemos apenas especular sobre o que poderia ter acontecido se tivesse havido arrependimento santo da parte destes homens com sua carne em fogo. Teria Deus, com autoridade sobre as pragas, parado a tempestade de sua ira e uma vez mais abençoado os arrependidos com seu favor? A tragédia será a falta absoluta de humildade e pesar da parte do homem pelo pecado. Um juízo duplo como o calor abrasador e ausência de água potável falhará em produzir qualquer mudança de coração. Por ser este povo réprobo por completo, Deus os abandonará.

 

A Quinta Taça — Sobre o Trono da Besta (16:10, 11)

 

Nesta quinta taça da ira, o juízo se derrama sobre o trono da besta que foi erigido em imitação arrogante do trono de Deus. O dragão deu seu trono para a besta (13:2). A obra-prima de Satanás agora é ferida no centro e sede do seu poder. A besta, uma pessoa real, como instrumento de Satanás, está condenada. E está claro que os súditos deste reino de imitação, e também seus executivos, sentem o golpe da vingança divina. William Newell sugere que o trono da besta será a Babilônia reconstruída no rio Eufrates—a antiga capital de Satanás na terra de Sinar, onde a maldade deve receber “uma casa” no final dos tempos (Zc 5:5-11).

 

Finalmente o desafio ímpio e insolente: “Quem é semelhante à besta? quem poderá batalhar contra ela?” (13:4) é para sempre respondido. Sob o domínio da besta, Satanás constrói um vasto império, mas Deus não há de ficar para trás: fere o reino da besta com a escuridão. Porque amaram mais as trevas do que a luz, escuridão tão negra como a da praga dos egípcios (Êx 10:21-23) agora sobrevêm aos seguidores da besta. Esta horrível escuridão sugere as trevas que devem suportar para sempre.

 

Tais trevas sem alívio fazem com que os homens mordam de dor as suas línguas. Este juízo parece acontecer simultaneamente com os efeitos das pragas anteriores. As dores e chagas da primeira taça tornam-se mais assustadoras pelas trevas. William Ramsay lembra-nos que a expressão “mordiam de dor as suas línguas” é única na Bíblia e indica uma agonia mais intensa e excruciante. Tal ação sugere ira por causa da desilusão de suas esperanças e da derrocada de seu governante e reino. Planejam vingança mas não a podem efetuar; daí a sua fúria. Sofrendo angústia mental e física, mordem os lábios e línguas.

 

É interessante notar que a parte do corpo com a qual estes rebeldes pecaram é a mesma que agora sofre a angústia. Blasfemaram o Deus do céu, Aquele que controla a luz e a escuridão. Juras terríveis procederam de seus lábios contra o nome de Deus e contra o próprio Deus. Agora estes blasfemadores mordem as línguas!

 

Até mesmo o acúmulo de pragas, em vez de mera sucessão, falha em produzir mudança de coração, pois lemos de novo que não se arrependeram de seus feitos. Sua vontade está indomada. Não correm lágrimas de penitência. Abandonados aos seus feitos malignos, golpes ainda mais pesados devem descer de Deus a fim de quebrar-lhes a vontade obstinada.

 

Devemos salientar que esta taça da escuridão não deve ser confundi­da com o escurecimento dos corpos celestes logo antes da aparição de Cristo em 19:11-16. O que vemos nesta quinta taça é um dos sinais que nosso Senhor deu em sua descrição do período da Tribulação (Lc 21:8-38). Para o remanescente na terra haverá luz bastante, assim como Israel teve luz em suas habitações durante as pragas egípcias.

 

A Sexta Taça — Sobre o Rio Eufrates (16:12-16)

 

O sexto flagelo (16:12-16).

 

12. Derramou o sexto a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol. Este flagelo é diferente dos outros, porque não in­flige uma praga sobre a humanidade, mas serve de preparo para a batalha final. Ele é semelhante à sexta trombeta, quando quatro anjos foram soltos de além do rio Eufrates, para liderar uma invasão de exércitos praticamen­te incontáveis de cavalaria demoníaca, que matou a terça parte da raça humana (9:13-19). Vimos que no Antigo Testamento o rio Eufrates é o limite da terra prometida, e atrás dele hordas de pagãos aguardavam por uma oportunidade de invadir o povo de Deus (veja 9:14). Os profetas às vezes viam o rio Eufrates secar como prelúdio para o momento em que Deus reunirá seu povo disperso em seu próprio país (Is 11:15-16,4 Esdras 13:14). No presente exemplo o rio seco representa simbolicamente a remoção da barreira que retinha as hordas pagãs.

 

“Os reis que vêm do lado do nascimento do sol” não são definidos com mais detalhes, nem sua função é identificada. Alguns comentadores veem aqui um conflito civil entre os reis do oriente e os reis do mundo todo (v. 14), mas no texto não há nenhum indício disto. A conclusão mais natural é que os reis do oriente — as hordas pagãs — reúnem suas forças às dos reis do mundo (civilizado) todo, para combater o Messias, porque estamos claramente diante da “peleja do grande dia do Deus Todo-poderoso” (v. 14). Mais adiante lemos que a besta é auxiliada por “dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora” (17:12). Junto com a besta eles combatem o Cordeiro (17:14). Estes dez reis podem ser os reis do oriente, como também os reis do mundo todo. Em qualquer caso João prevê uma confederação de dois grupos de reis que auxiliam a besta no combate com o Cordeiro.

 

Muitos comentadores afirmam — como se isto fosse evidente no tex­to — que os reis do oriente são os partos, que agora invadem o mundo civilizado sob a liderança de Nero redivivus. Isto, porém, é pura especulação. Conforme a lenda, Nero reconquistaria Roma; nesta passagem os reis se aliam ao Anticristo para se oporem ao Todo-poderoso. Se a alusão fosse à lenda do Nero redivivus, a besta como líder deveria vir do oriente, enquanto que no texto ela já tem seu trono em Babilônia e aceita ajuda destes reis estrangeiros.

 

13. Os “reis que vêm do leste” de repente desaparecem da narrativa, que continua falando do dragão e da besta. Pela primeira vez aparece o termo falso profeta; ele é a segunda besta que surgiu da terra para dar apoio à besta em suas exigências blasfemas. Os três espíritos imundos semelhantes a rãs, saindo da boca dele, são a maneira de João descrever a inspiração demoníaca dos inimigos de Deus na grande batalha final. Ao soar da sexta trombeta veio do oriente uma praga terrível afligir os ho­mens, matando a terça parte da humanidade. Aqui o quadro é diferente; os espíritos maus não afligem as pessoas, mas as inspiram para que se aliem ao dragão, à besta e ao falso profeta. João quer dizer que este movimento não é meramente político ou militar, mas uma manifestação escatológica histórica da luta secular entre Deus e Satanás. A palavra traduzida “imundos” é a mesma usada tantas vezes nos evangelhos para se referir a demônios como espíritos imundos (Mc 1:23; 3:11; 5:2). Eles são semelhantes a rãs talvez para manter a analogia com a praga das rãs no Egito (Êx 8:6).

 

14. Porque eles são espíritos de demônios pode ser traduzido melhor por “porque eles são espíritos demoníacos”. Demônios são seres espiri­tuais, por isso não podemos dizer que eles têm espíritos; eles são espíritos. Para os reis do mundo inteiro veja o comentários ao v.12. João antevê uma aliança de governadores humanos, inspirados por demônios, que com­baterão o Messias.

 

A peleja do grande dia do Deus Todo-poderoso não é uma frase comum na Bíblia. As expressões comuns são o dia do Senhor (veja 1 Ts 5:2), o dia de Cristo (Fp 1:10), ou o dia do Senhor Jesus Cristo (1 Co 1:8). Alguns intérpretes tentam encontrar alguma diferença de significado en­tre estes termos, como se representassem dias diferentes, mas isto é impos­sível. Na verdade são tão iguais e cambiáveis que somente a palavra “o dia”, ou “aquele dia”, sem adjetivos, pode ser usada para designar o úl­timo dia (l Co 3:13; 2 Ts 1:10). O evangelho de João refere-se com frequência ao “último dia” (Jo 6:39; 11:24; 12:48). Pedro fala do “dia de Deus” (2 Pe 3:12). O dia do Senhor é o momento em que todo o plano redentor de Deus estará consumado, de salvação e julgamento, tanto de indivíduos, como da igreja, e de toda a criação. João vê o ódio que se expressou durante os séculos da história humana em termos de hostilidade e perseguição ao povo de Deus chegando ao “grand finale”, quando todos os que governam a terra se juntam para uma batalha derradeira. Os profetas do Antigo Tes­tamento falaram muito de uma batalha como esta, entre o povo de Deus e seus vizinhos pagãos (Sl 2:2-3; Is 5:26-30; Jr 6:1-5; Ez 38; J13:9-15).

 

15. À vista da crise iminente representada pela batalha entre Deus e as forças do mal o próprio Jesus diz uma palavra à igreja, para advertir seu povo e lhes falar da realidade que há por trás dos acontecimentos históricos imediatos. A guerra dos reis aliados, sob a liderança do Anticristo, não é a última realidade: é o fato da volta do Senhor. É neste evento que a esperan­ça dos santos se concentra. Este versículo é uma interrupção da passagem, para proporcionar à igreja a perspectiva correta.

 

Ele virá como vem o ladrão. Outras passagens do Novo Testamento comparam a vinda de Jesus com a de um ladrão (veja 3:3). A ideia não é de astúcia, nem da surpresa da volta do Senhor, mas de que ela não é esperada. Paulo diz que Cristo vem como ladrão (1 Ts 5:2), mas isto somente em relação aos que não estão preparados: “Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa” (1 Ts 5:4). Para os que estão despertos, atentos, sua vinda não será surpresa, inesperada, mas uma libertação feliz da situação trágica do mundo em que se encontram... João presume que estas pessoas estarão vigiando. Esta tradução não deixa bem claro o significado do grego. Em português “vigiar” significa estar concentrado em um objeto, não dei­xando que nada desvie nossa atenção. Talvez este seja o argumento mais eficiente para a volta do Senhor “a qualquer momento”, isto é, antes da tribulação. É impossível “vigiar” a não ser que o acontecimento esperado possa acontecer a qualquer hora, ou seja, antes da grande tribulação. O termo grego, no entanto, significa simplesmente “estar desperto”. Jesus exorta seus discípulos a estarem acordados, porque não podem saber quando ele voltará (Mt 24:42). Ele ilustrou isto dizendo: "Mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria (isto é, ficaria acordado) e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos; Porque, à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá” (Mt 24:43-44). A ênfase é colocada integralmente sobre a volta imprevista do Senhor, e por causa desta época de incerteza os crentes nunca podem se acomodar e dormir, têm de estar sempre acor­dados. Dormir significa dizer: “Paz e segurança” (1 Ts 5:3), quer dizer, perder de vista as coisas verdadeiramente importantes da vida e pensar que a segurança pode ser encontrada a nível humano, em vez de em ter­mos de nosso relacionamento com Cristo. Para estes “sobrevirá repen­tina destruição, como vem a dor do parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1 Ts 5:3). No presente contexto João pre­sume que a igreja não perdeu a perspectiva e não perdeu de vista os valores espirituais realmente importantes, apesar de a besta reinar em triunfo sobre as nações.

 

A advertência guarda as suas vestes, para não andar nu, e não se veja a sua vergonha não é terminologia muito usada, mas o significado é claro. A igreja de Laodicéia tinha sido advertida contra pobreza e nudez espiritual, e aconselhada a comprar “vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez” (3:18). Isto é uma exortação ao zelo espiritual.

 

16. Então os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom. Depois de exortar a igreja a ficar desperta, João conclui a narrativa dos espíritos imundos que reúnem os reis da terra para a batalha, acrescentando que eles os trazem a um lugar chamado Armagedom. Isto são preparativos da batalha que será descrita em 19:11ss., quando Cristo vem como guerreiro vitorioso para derrotar seus inimigos.

 

A palavra “Armagedom” é difícil de interpretar; o equivalente em hebraico seria har megiddon — a montanha de Megido. O problema é que Megido não é uma montanha, mas uma planície, localizada entre o lado da Galiléia e o mar Mediterrâneo, parte do vale do Jezreel(ou Esdraelon). É um campo de batalha famoso na história de Israel. Foi em Megido que Baraque e Débora derrotaram Jabim, o canaanita (Jz 5:19); ali morreu Acazias, rei de Judá, ferido por Jeú (2 Rs 9:27) e Josias, na batalha contra o faraó Neco (2 Rs 23:29; 2 Cr 35:22). Não está claro por que João fala da montanha de Megido; R. H. Charles diz que até agora ninguém deu uma interpretação convincente a esta passagem; ela não aparece na literatura hebraica. Charles sugere que a referência à montanha como lugar da batalha final seja tirada de Ez 38:8,21; 39:2,4,17, onde o profeta vê uma batalha escatológica sobre as montanhas de Israel. Seja qual for a origem do termo, está claro que com Armagedom João quer dizer o lugar da batalha final entre os poderes do mal e o Reino de Deus.notas Eld Ladd,coment.do apocalipse,1990) 

 

 

Os eruditos divergem na interpretação desta passagem. Certo comentarista sugere que o secar do rio Eufrates é uma figura da própria Babilônia, situada às suas margens. Mas nada se encaixará no contexto a não ser o rio Eufrates tomado literalmente, cuja largura forma grande barreira, difícil de ser transposta tanto por indivíduos como por exércitos. A secagem deste rio permitirá aos exércitos asiáticos (descritos no capítulo 19) marchar sem impedimento à Terra Prometida, da qual o rio Eufrates é a fronteira leste.

 

O importante a ser lembrado é que tanto o rio Nilo (Is 11:15) como o Eufrates devem secar-se literalmente. Assim, os limites ocidental e oriental de Israel estarão abertos aos invasores, e Israel estará desprotegida aos ataques de todos os lados. Com a secagem do rio Eufrates, os exércitos orientais sob seus respectivos reis então alcançarão seu objetivo.

 

Estes reis, que vêm “do oriente”, marcharão sem impedimento algum contra a Terra Prometida. Como o emblema nacional do Japão é o sol nascente, pode ser que essa nação agressiva partilhe no avanço das hordas asiáticas. Não é terrível a ideia de que incontáveis milhões de asiáticos hão de cruzar o leito seco do Eufrates e unir forças com a besta contra Israel? Tal ímpeto de nações unidas antes do grande dia da ira é medonho ao extremo. Cegamente, correm para o morticínio por atacado, quando o sangue chegará aos freios dos cavalos.

 

Note-se o uso frequente de “grande” neste capítulo. Mediante o ministério milagroso da besta, as multidões estarão acostumadas a grandes coisas. Sensacionalismo estará na ordem do dia. Grandes acontecimentos, com suas influências enganadoras, serão ocorrências diárias. Mas o próprio Deus dará ao povo algumas “grandes” coisas; não para prazer, mas para disciplina:

 

Uma grande voz (16:1)

Um grande calor (16:9)

Um grande rio (16:12)

Um grande dia (16:14)

Um grande terremoto (16:18)

Uma grande cidade (16:19)

A grande Babilônia (16:19)

Uma grande saraiva (16:21)

Uma grande praga (16:21).

 

Nos versículos 13 a 16 do capítulo 16, que alguns escritores tratam como parêntese, temos a trindade satânica dirigindo a combinação mais gigantesca de forças da oposição jamais testemunhada na terra. Tendo a supervisão pessoal de Satanás, as forças mundiais unem-se para sua condenação.

 

Nesta sexta taça da ira temos a trindade do mal—o dragão, a besta e o falso profeta—arregimentando todos os reis da terra para a batalha, não somente contra Israel mas contra o próprio Deus. “Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos conspiram contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Sl 2:2, 3).

 

As Três Rãs

 

A trindade maligna do mistério da iniquidade é comparada a três espíritos imundos, semelhantes a rãs (16:13). Embora três rãs fossem o brasão original da França, país que tem sido centro de infidelidade, socialismo e espiritismo, não cremos na interpretação exclusivamente histórica desta parte (ou de qualquer outra parte) dos capítulos 4 a 22. E por ser a profecia muitas vezes progressiva ou cumulativa, há uma visão modificada do princípio de interpretação que procura combinar os sistemas históricos e futuristas. Assim, pode haver cumprimentos parciais de algumas seções do Apocalipse sem esgotar sua significação. Apontam para um cumprimento completo no futuro. Os intérpretes deste ponto de vista duplo vêm no Nazismo, no Fascismo e no Comunismo as três rãs da visão de João.

 

Muitos dos manuscritos da besta leem: “Como se fossem rãs.” Aqui temos o antítipo da praga das rãs enviadas sobre o Egito, milagre que os mágicos foram capazes de duplicar (Êx 8:7). Uma feição conspícua do ministério da besta serão os grandes sinais e maravilhas realizados por meios satânicos. O dragão, a besta e o falso profeta são apropriadamente comparados a repelentes rãs. Assim como as rãs coaxam à noite nos pântanos e charcos, assim também estes espíritos imundos nas trevas do erro ensinam mentiras na sujeira de lascívias imundas. Alford fala da “imundície e do barulho pertinaz da rã”. Os escritores e poetas gregos viam as rãs como habitantes do lago estígio, ou rio do inferno. Estes espíritos saem das bocas dos três ímpios que formam a trindade infernal (sendo a boca a sede principal de influência). De várias passagens das Escrituras concluímos que a boca é a fonte e o meio de destruição (Ap 1:16; 2:16; 9:17; 19:15; Is 11:4). O dragão há de ser consumido pelo sopro da boca do Senhor (2 Ts 2:8).

 

O espírito imundo que sai da boca do dragão simboliza a infidelidade orgulhosa que se opõe ao Senhor e ao seu Ungido (Cristo). O espírito imundo que sai da boca da besta representa o espírito do mundo nas políticas dos homens, quer seja a democracia sem lei, quer o despotismo, nos quais o homem é colocado acima de Deus. O espírito imundo que sai da boca do falso profeta representa o espiritismo mentiroso e a ilusão religiosa dominante nos dias do engano satânico.

 

Nesta trindade satânica, com seu ministério de operação de mila­gres, temos uma combinação de poder infernal direto, força bruta apóstata e terrível influência maligna para o propósito horrendo de reunir milhões de pessoas para a guerra. O esforço final do inferno a fim de derrubar o céu está próximo, e seu resultado é Cristo dominar como rei do mundo (19:17-21). Na sua vinda, ele lidará eficazmente com esses três espíritos imundos, assim como o fez com os que se opuseram a ele enquanto estava na terra.

 

Visto que o ajuntamento dos reis do mundo com a besta é sinal da vinda de Cristo a fim de destruir seus inimigos, os santos são exortados a vigiar esperando sua volta. Manda-se ao remanescente fiel uma palavra de ânimo e de advertência: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez” (16:15). Aqui temos um parêntese de grande importância espiritual. Deve-se compreender claramente que esta não é uma mensagem para a igreja, embora o princípio subjacente da bem-aventurança associada com o vigiar (e da vergonha com o viver descuidado) seja aplicável aos santos de todos os tempos.

 

O “eis” e o “bem-aventurado” definitivamente se relacionam com os santos da Tribulação. Ao seu redor haverá multidões dormindo na escuridão moral e espiritual. Vivendo num estado de segurança falso, congratulam a si mesmos por um estado de “paz e segurança”. Mas repentina e inesperadamente o Senhor, como um ladrão de noite, surpreenderá e destruirá os povos reunidos por agências satânicas contra o Senhor e seu Ungido. Os que acreditam que a igreja há de passar pela Grande Tribulação dão grande importância a este versícu­lo, mas Cristo não vem para sua igreja como um ladrão. Ele volta para a igreja como o noivo, já que a igreja é sua noiva. Com a vinda de um ladrão há pavor e medo, pois ele vem para roubar-nos de nossas posses e destruir nossos bens (1 Ts 5:2, 4; Mt24:43; 2 Pe 3:10). Não somos da noite nem das trevas, e portanto não tememos a volta de nosso Senhor.

 

É claro, em relação com nosso andar devemos esforçar-nos para ter vestes sem manchas, em uma vida sem ter do que se envergonhar e sem nudez moral. O perigo que os santos enfrentarão, os que viverem na época em que os espíritos imundos estiverem operando, é o de negligenciar a esperança do advento e com isso exporem-se ao olhar dos anjos e de um mundo sem Deus—“nu” ou tendo falta pública de direção e proteção divina.

 

O bispo Lightfoot sugere que pode haver uma alusão nesta advertên­cia à vigilância a um costume judaico no serviço do santuário. Vinte e quatro vigias ou companhias eram nomeadas todas as noites para guardar as várias entradas dos santuários sagrados. Certo indivíduo era nomeado como capitão ou comandante sobre os outros, e era-lhe dado o nome de “homem da montanha da casa de Deus”. Seu dever era dar volta aos vários portões durante a noite a fim de verificar se seus subordinados eram fiéis em seus serviços. Ele era precedido por homens que levavam tochas e esperava-se que cada sentinela vigilante saudasse sua aparição com a seguinte senha: “Tu, homem da montanha da casa, paz seja contigo!” Se, por falta de vigilância, ou por causa do sono, tal coisa fosse negligenciada, o ofensor era surrado com a vara do ofício, e suas vestes queimadas e ele era marcado com a vergonha.

 

A Batalha do Armagedom

 

Como trememos ao tentar visualizar o que acontecerá com as nações unidas em ódio imorredouro a Deus e a seu Cristo à medida que se ajuntam pelos espíritos imundos para a batalha naquele dia do Deus Todo-poderoso! Que morticínio universal! A História prova que há épocas quando as nações são tomadas da paixão pela guerra e que os historiadores não podem explicar por completo. É isto o que acontecerá na guerra contra Deus.

 

Quão cegamente serão levadas as hordas da terra contra Aquele que as criou! (Veja o Sl 2; Ap 17:14; 19:19.) A frase “e eles os congregaram” (16:16) pode ser traduzida por “ele os congregou”. Se o “ele” foi retido pode representar Deus, que lhes dá poder sobre os espíritos imundos. Ninguém pode ler o Apocalipse como um todo sem perceber que Deus está por trás das cenas e dos atores no juízo judicial do livro. Em retribuição justa ele permite que os chefes apóstatas da terra reúnam as multidões no monte de Megido.

 

E, considerando que o Armagedom testemunhará a batalha mais sangrenta de toda a história, devemos examinar brevemente a significação histórica e profética do campo de batalha mais terrível da terra. O Armagedom fica ao pé do monte Carmelo, que foi cena de muito morticínio no passado. Armagedom significa “monte da destrui­ção” ou “morticínio” e esse nome é bem adequado. Atualmente o nome é Har, que significa “monte”, e Magedom ou Megido que vem de uma palavra cuja raiz significa “separar” ou “massacrar”. A área limitada de Megido não permitiria a presença de vastos números de homens, mas o nome também pode significar a vizinhança mais ampla de Israel, onde, por agência satânica, as nações da terra serão esmagadas.

 

Megido foi palco da derrota dos reis cananeus pela interposição miraculosa de Deus sob Débora e Baraque. Como aliado da Babilônia, Josias foi derrotado e morto em Megido. O prantear dos judeus na época logo antes que Deus interfira por eles contra todas as nações que se dispuseram contra eles é comparado ao lamentar de Josias em Megido (Jz 5:19, 20; Zc 12:11; 2 Cr 35:22-25).

 

Mas pode-se fazer a pergunta: “Por que o Armagedom é escolhido como local de congregação?” Bem, as nações reúnem-se aí a fim de esmagar e exterminar a Israel! “Astutamente formam conselho contra o teu povo, e conspiram contra os teus protegidos. Dizem eles: Vinde, e apaguemo-los para que não sejam nação, nem seja lembrado mais o nome de Israel. Pois à uma se conluiam; aliam-se contra ti” (Sl 83:3-5). Deus, entretanto, domina e intervém. Embora as nações se lancem com poder combinado contra o Senhor e seu povo, a fúria divina é desencadeada e a destruição sobrevêm às hordas arrogantes. Israel é libertado e seus inimigos cruéis mortos. E na destruição completa das nações, decide-se sobre a soberania da terra e também sobre o direito de Israel de possuir sua própria terra.

 

A Sétima Taça — No Ar (16:17-21)

O sétimo flagelo (16:17-21).

 

O sétimo flagelo é um relato antecipado do julgamento de Deus sobre Babilônia, a sede do poder da besta. O relato detalhado do jul­gamento e a queda de Babilônia segue nos próximos dois capítulos (17-18), que será comentado na próxima lição. Alguns comentadores encontram aqui dois eventos diferentes: uma derrota preliminar de Roma, que dá ao Anticristo poder universal, se­guida do julgamento de Roma por Deus. Mas João já antecipou diversas vezes o fim, tanto em termos de salvação como de julgamento, para depois estender-se sobre os eventos do fim (veja em 6:12ss.; 11:15ss.; 14:8; 14:14ss., 15:2ss.). Na verdade João já tinha anunciado a queda de Babilônia (14:8), de maneira antecipada. Assim como o sexto selo trouxe o dia da ira de Deus (6:12-17), e assim como a sétima trom­beta fez um anúncio do fim (11:15ss.), assim o sétimo flagelo traz o jul­gamento de Babilônia, acrescentando os detalhes deste julgamento mais adiante.

 

17. Então derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está. Esta voz aparentemente é a mesma do v. 1 — a voz de Deus — já que vem do templo e do trono de Deus. A voz anuncia prolepticamente, a consumação do julga­mento de Deus sobre a capital da besta. A frase “Feito está” representa uma só palavra grega que indica ação completa. Novamente nos depa­ramos com a técnica literária de João, de anunciar um fato como realizado, para depois detalhar o conteúdo do fato.

 

18. Ao pronunciamento da sentença sobre a capital da besta seguem os fenômenos apocalípticos que são manifestações da glória e do poder de Deus: relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nun­ca houve igual desde que há gente sobre a terra. Fenômenos semelhantes tinham seguido a sétima trombeta (11:19), e estavam relacionados com a visão de Deus em 4:5 e com a preparação para o soar das sete trombetas (8:5). Estes fenômenos são manifestações comuns do poder e da glória divinos.

 

19. O resultado desta teofania é o colapso completo da civilização humana, ateísta. A grande cidade, Babilônia, a capital da besta, se dividiu em três partes; em outras palavras, foi transformada em ruínas. Em 11:8 as mesmas palavras, “a grande cidade”, foram usadaspara Jerusalém; mas o contexto deixa bem claro que nesta passagem a cidade em questão é Babilônia. Jerusalém já tinha sido destruída em um grande terremoto (11:13). Nesta visão João vê a cidade sendo arruinada por um terremoto; tudo o que esta destruição significa está descrito de diversas maneiras nos dois capítulos seguintes.

 

Caíram as cidades das nações. Mais uma vez João vê antecipada­mente a destruição das cidades que apoiaram a besta. Os detalhes estão em 17:12-14, onde diz que o Cordeiro guerreará contra os reis que apoiaram a besta, vencendo-os. Veja também 18:9, onde os reis da terra lamentam a queda da grande cidade.

 

Lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Babilônia deu às nações da terra “do vinho do furor da sua prostituição” para beber, deixou “os reis da terra se prostituírem com ela” e possibilitou aos comerciantes da terra “enriquecerem à custa da sua luxúria” (18:3). Deus, por seu lado, dá a Babilônia e às nações que a seguiram um outro cálice para beber, o cálice da sua ira. Este tema já foi comentado em 14:8,10.

 

“Lembrou-se Deus da grande Babilônia.” Estas palavras são do­lorosas. Durante o curto período do reinado do Anticristo parecerá que Deus esqueceu o seu povo. O mal aparentemente estará vencendo; não há perspectivas de libertação. Meu Deus não esquece. Deus se lembra, e ele se lembrará do poderoso inimigo do seu povo, para lhe retribuir com justiça.

 

20. Mais uma vez João descreve o fim que ainda não veio, que compreenderá a renovação de todo o sistema criado e o início de um novo céu e nova terra. Isto só se realiza depois da volta de Cristo (19:11ss.), e será mesmo um sistema totalmente transformado (21:lss.). João já pode dar uma ideia de como será isto falando, em linguagem apocalíptica, do fim do sistema antigo: Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados. João já usou em uma passagem anterior expressões semelhantes para descrever a vinda do fim: quando o sexto selo foi aberto ele deixou transparecer a dis­solução do sistema atual (6:12ss.).

 

21. Também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande. Não sabemos com certeza que medida de peso foi usada, mas parece que as pedras pesavam mais de cinquenta quilos.

 

A narrativa apocalíptica de João está agora se aproximando rapidamente do seu fim. Ele nos levou através do tempo de grande tribulação, com a terrível perseguição dos santos pelo Anticristo, e nos mos­trou uma civilização rebelde e anticristã, que não se curva e não se ar­repende sob a ira de Deus derramada sobre ela nas pragas das sete trom­betas e das sete taças. O sétimo flagelo não foi uma praga, somente anunciou o fim, a destruição de Babilônia em particular, um acontecimento já anunciado (14:8). Agora só falta relatar a vinda do fim. João dá primeiro o lado negativo da vitória divina, ou seja, a destruição da civilização rebelde, anunciada pelo sétimo flagelo (capítulos 17 e 18), e depois fala da volta de Cristo em triunfo, seu reinado vitorioso, e por fim o estabelecimento do novo sistema, com novo céu e nova terra (capítulos 19-22).

 

Bibliografia  George Ladd,coment. do apocalipse,1990

 

 

Tudo o que temos sob a taça anterior é preparatório para o derramamento final de ira de Deus, o grande dia da ira de Apocalipse19:11-16. Então, e só então, os rebeldes serão esmagados e removidos da terra (Mt 13:40-43). Na sexta taça temos a conglomeração das nações da terra contra Israel para a batalha contra Deus e o remanescente de seu povo (Is 11:15, 16). Agora sobrevêm uma destruição que excede em magnitude tudo o que jamais foi testemunhado desde que o homem deu início à sua história de sofrimento fora do jardim do Éden.

 

O sétimo anjo derramou sua taça no ar. Por que todos os homens respiram o ar, que é essencial à vida, aqui temos o juízo divino visitando o fôlego de vida dos povos. E por que Satanás é mencionado como príncipe da potestade do ar (Ef 2:2), temos também nesta taça a consumação do juízo sobre as influências perniciosas do diabo. Assim, o reino de Satanás sofre sob esta praga horrível. A “grande voz” é a voz de Deus, como no versículo 1 do capítulo 16, exceto que aqui o santuário e o trono se unem. No santuário resideDeus e no trono ele reina. A voz divina clama: “Está feito”, significando que a série toda de pragas agora está completa. Está feito! Aconteceu. Compare a voz de Deus nesta consumação final com a voz de Cristo na cruz quando a obra da expiação foi completada: “Está consumado!” O “está consumado” do Salvador foi totalmente rejeitado, de modo que aqui vem o “está feito” do Juiz da terrível retribuição divina.

 

Chegou o fim da ira de Deus. Mais tarde acontecerá a exibição medonha da ira do Cordeiro. Sob a sétima taça, Deus dá à Babilônia “o cálice do vinho do furor da sua ira”. Esta frase sugere raiva fervente e ira incontida, e a ambas encontramos referência em Jeremias30:23, 24. Aqui se afirma o fato da destruição da Babilônia. Nos capítulos 17 e 18 temos o relato com mais detalhes do breve resumo dado sob esta taça. Deus é o Criador; ele produz convulsões de natureza tal como a que lançou a terra no caos antes da criação do mundo.

 

Três Expressões da Ira

 

Nos “relâmpagos e vozes e trovões” (sempre expressivos do poder dominante do juízo) temos a fórmula da visitação divina calculada para infundir terror nos corações dos homens. Estes sinais e expressões da ira retributiva são visitados sobre a terra na forma do maior terremoto que a terra já experimentou. Todos os terremotos até esta altura nada significam quando comparados com esta sublevação sem paralelo. (Veja Hb 12:25, 26).

 

As Três Partes da Cidade

 

Tão destruidor é este vasto terremoto que Jerusalém é dividida em três partes. Roma e todas as grandes cidades da terra são reduzidas à ruína. Destrói-se para sempre toda a soberania exercida sobre os reis da terra, que Roma e Babilônia representam. “A grande Babilônia” é individualizada como estando madura para “o grande terremoto” e “uma praga. . . excessivamente grande.” O lugar e seu orgulho são condenados à destruição eterna (Jr 51:62-64), cuja destruição é celebrada no céu em Apocalipse 19:1-4.

 

Para aumentar o terror da hora há o desaparecimento de ilhas e montes. Sob o sexto selo estes foram “removidos dos seus lugares” (6:14). Aqui eles “fugiram” e “não mais se acharam”. Que catástrofe maciça!

 

O ato coroador do juízo é a queda de saraivas enormes sobre a terra. A saraiva, como já mostramos, é símbolo da ira divina (Is 28:2; Ez38:22). (Para outras saraivas, veja Ap 8:7; 11:19.) Ninguém pode imaginar completamente quais serão os efeitos desta última saraivada súbita e devastadora. A natureza esmagadora e avassaladora deste juízo torna-se clara ao lembrarmo-nos de que as pedras da saraiva “pesavam quase um talento” cada. Um talento equivalia, aproximadamente a 20 quilos. Assim a severidade do juízo reservado contra o dia da batalha e guerra no “tesouro da saraiva” de Jeová é horrível ao extremo (Jó 38:22, 23; Sl 105:32).

 

Estes juízos, porém, resultam em blasfêmia em vez de arrependi­mento! A persistência no pecado endurece a consciência. A tragédia é que o homem não se quebranta nem se arrepende; permanece sem mudança. Com a exposição do poder judicativo de Deus, os homens deviam ter-se voltado para ele, dando-lhe glória; em vez disso, perecem amaldiçoando-o. Que efeito diverso a apresentação do poder de Deus exerce sobre o seu povo: dão glória ao Deus do céu (11:13).

 

Bibliografia H. Lockyer +www.ebareiabranca.com  ,coment.do apocalipse G.E LADD,1980

 

 

Babilônia, a meretriz (17:1-6a).

 

Não nos devemos olvidar que o Apocalipse foi originalmente escrito para a igreja cristã primitiva, que sofria perseguições por parte do império romano. Essa perseguição era especialmente intensa porque os cristãos se recusavam a adorar ao imperador romano, conforme se requeria no culto ao imperador. A besta saída do mar representa a Roma secular e pagã. Historicamente, representa o imperador Nero; profeticamente, o «Nero redivivo» ou anticristo. A besta saída da terra representa a Roma religiosa, o culto ao imperador (historicamente falando); mas, profeticamente, ela representa o «João Batista» do anticristo, o falso profeta, que promoverá por todo o mundo o culto ao anticristo, mediante os meios de comunicação em massa. Na antiguidade, a própria cidade de Roma fora deificada, e uma deusa, chamada «Roma», veio a ser a deusa protetora das cidades romanas da Ásia Menor. Roma era a divindade tutelar de Cartago. Em 29 a.C., foram erigidos por Otávio templos dedicados a «Dea Roma» e a «Divus Julius». Também houve templos dedicados ao próprio Otávio em Pérgamo, na Nicomédia e na Bitínia. Os remanescentes desses templos pagãos até hoje podem ser vistos em Pérgamo. E isso talvez seja os restos do «trono de Satanás», que figura na epístola à igreja de Pérgamo, neste livro do Apocalipse. Parece que o culto de Roma estava associado à adoração dos «imperadores falecidos», ao passo que o culto ao imperador dirigia-se aos imperadores reinantes. De tudo isso é que se desenvolveu uma espécie de doutrina da «Roma eterna». Não há que duvidar que o vidente João, no capítulo que passamos a comentar, zombava dessa ideia, sendo provável também que ele fustigava todas as formas da «idolatria romana», representadas no culto a Roma e no culto ao imperador.

 

meretriz, que figura neste capítulo, é essa idolatria romana de muitas facetas, ainda que o culto ao imperador seja o ponto mais destacado, conforme se vê por todo o Apocalipse. Roma se tornara o centro das formas mais ousadas e horrendas de idolatria; mas João predisse que nada disso perduraria, pois estava condenado a sofrer a mais contundente derrota que se possa imaginar. Também não se deve duvidar que João esperava que isso ocorresse em seus próprios dias, pois não antecipava a aplicação a «longo prazo» de suaspredições. Nessa expectação, que não se cumpriu em seus próprios dias, João não se mostrou diferente dos profetas do A.T., como Isaías, que esperava o reino messiânico para imediatamente depois do julgamento da Assíria (ver os capítulos dez e onze do livro de Isaías); ou como Daniel, que pensou que o fim ocorreria imediatamente após o julgamento de Antíoco IV Epifânio. Jeremias esperava oreino para imediatamente depois do retorno do exílio. É evidente, pois, que as visões dos profetas ultrapassavam seu próprio entendimento e as suas expectações pessoais, que tão frequentemente ficaram sem cumprimento, ainda que Deus tenha decretado seu cumprimento para os últimos dias.

 

Normalmente, as predições bíblicas têm um cumprimento a curto prazo e outro a longo prazo. Portanto, nos «últimos dias», veremos o aparecimento tanto de um império político, a federação dos dez reinos, controlada pelo anticristo, que terá a cidade de Roma como seu centro, como também veremos o aparecimento de um novo «culto ao imperador», que consistirá da adoração conferida ao homem do pecado. Esse culto tornar-se-á tão forte que dominará as mentes dos homens e os tornará virtuais escravos da malignidade; pois Satanás será adorado por intermédio do anticristo (ver Ap 13:4). A maior perseguição religiosa de todos os tempos será promovida pelos aderentes do culto ao anticristo; e essa adoração será corrupta e maligna de tal modo que fará o comunismo parecer santo comparativamente.

 

Para o vidente João, essa «idolatria», quer em seu aspecto antigo - «culto ao imperador», quer em seu aspecto futuro - «culto ao anticristo», é a «meretriz». Mas essa meretriz também será a Roma política e econômica. Não se duvida que João não pôde antecipar muitas das «implicações» dessas predições. Somente os próprios acontecimentos nos ensinarão o que precisamos saber acerca dessas coisas.

 

A dupla destruição. É claro que nos capítulos dezessete e dezoito deste livro, nas sete visões da condenação de Roma, se retrata a destruição tanto «política» quanto religiosa de Roma. Porém, erraríamos se fizéssemos unicamente a Igreja Católica Romana ser a Roma «religiosa». Sem dúvida, porções de todas as denominações cristãs serão atraídas para o terrível culto ao anticristo. Muitos dos chamados cristãos serão enganados, encarando o anticristo como um novo Messias. Na verdade, entretanto, o «culto» ao anticristo será uma religião inteiramente nova, combinando ideias e crenças do oriente com as do ocidente. Também será uma religião extremamente «antidivina» e «anticristo», por inclinar-se para as ideias do ateísmo e do agnosticismo. Tornar-se-á algo tão imensamente maligno que o comunismo parecerá algo santo, paralelamente a isso.

 

Não cremos que qualquer denominação verdadeiramente evangélica venha a ser enganada de tal modo que aceite esse culto ao anticristo como algo provindo do Senhor, e que dê lealdade ao anticristo. O mais provável é que as denominações evangélicas venham a ser «purificadas» pelo fogo da tribulação, e que finalmente se formará a unidade de todas as denominações evangélicas, e um «movimento subterrâneo» (porquanto a igreja visível desaparecerá, tão atroz será a perseguição religiosa). Não há como chamar o «romanismo» de a meretriz tonta com o sangue dos santos e dos mártires de Jesus, quando, historicamente, reconhecemos que isso é uma referência ao «culto ao imperador». Esse culto era algo inteiramente fora dos círculos cristãos. Mas é verdade que o culto ao anticristo, em muitos lugares do mundo, se assemelhará, pelo menos no princípio, com uma espécie de «neocristianismo». Todavia, todas as denominações cristãs que realmente sejam formadas de pessoas regeneradas, e que se apegam às doutrinas centrais da Bíblia, como a «trindade», a «divindade de Cristo», etc., não poderão ficar enganadas para sempre.

 

Duvidamos que a Roma do décimo sétimo capítulo deste livro seja o «romanismo», e que a do capítulo dezoito seja a Roma «secular e comercial». Devemos considerar esses quadros apenas como ângulos diversos de uma única coisa. Ambos retratam a «meretriz», porquanto ambos representam a Roma pagã e ímpia - uma do ponto de vista do culto ao imperador, e outra do ponto de vista político eeconômico de Roma. Particularmente em foco, por toda a parte, está a «cidade de Roma», e isso ocorre em ambos esses citados capítulos. (Ver Ap 17:18, onde a «meretriz» é aquela «grande cidade». Comparar com Ap 18:7, que retrará a «rainha», o que aponta para a mesma figura feminina -mas note-se que essa rainha é uma prostituta). Isso se harmoniza com Ap 17:2-5. Outrossim, Ap 18:10 mostra que continua em foco a «cidade» de Roma. O decimo nono versículo reitera a ideia. Mas a cidade «subentende» o império inteiro, por ser seu centro e capital. Essa é uma interpretação que se coaduna com o que sabemos que João atacava em seus dias; e supomos que outro tanto se dará no caso do aspecto profético dos capítulos dezessete e dezoito. Temos aqui as «sete visões» da queda de Roma, e, naturalmente, cada visão dará um ponto de vista diverso de uma mesma e única queda. Profeticamente falando, isso retrata a queda do anticristo, porquanto seu poder envolverá muitos aspectos, religioso, político, militar, etc. Em todos esses aspectos, entretanto, ele cairá; e é isso que os capítulos dezessete e dezoito do Apocalipse estão descrevendo. Notemos que em Ap 17:9 e ss. temos a Roma «política», mas imediatamente antes disso, no sexto versículo deste capítulo, temos uma alusão inequívoca ao «culto ao imperador», que perseguia aos cristãos que não anuíam a esse culto. Portanto, não há como pôr o capítulo dezessete em contra distinção ao décimo oitavo capítulo, estabelecendo qualquer distinção básica entre eles, a não ser que ali são retratados diferentes aspectos da queda da mesma Roma.

 

Também não devemos ver aqui o reavivamento da «literal cidade de Babilônia», que viria a ser a capital política e comercial do anticristo. Babilônia é apenas um código para Roma, conforme se vê nas notas expositivas sobre Ap 14:8; e é evidente que o vidente João escreveu contra Roma, e não contra a literal cidade de Babilônia. Isso é uma verdade histórica, e também será uma verdade profética. A profecia bíblica demonstra claramente (ver Ap 17:9 e ss.) que o centro de atividades do anticristo será a literal cidade de Roma, e não a cidade de Babilônia, reconstruída.

 

Para alguns intérpretes, o trecho de Ap 17:16 fala de uma «Roma religiosa», que a Roma política se deleitará em destruir. É o décimo oitavo capitulo deste livro presumivelmente aludiria a essa Roma política, diante de cuja queda subsequente o mundo inteiro selamentará. Porém, não são retratadas aqui duas Romas, uma política e outra religiosa. Os povos oprimidos se «alegrarão» ante a queda de Roma (ver Ap 17:16), mas, ao perceberem que isso os prejudicará, pois Roma os tornou ricos, se lamentarão. Os pequenos poderes sempre se regozijam ante a queda dos poderes maiores, mas geralmente logo descobrem que seu bem-estar está vinculado a estes últimos, pelo que têm motivos de pensar novamente, com maior sobriedade.

 

O décimo oitavo versículo deste capítulo mostra que a «cidade» de Roma está essencialmente em foco, embora ela represente o império todo. Alguns intérpretes supõem haver aqui uma clara distinção (nos capítulos dezessete e dezoito), entre a cidade de Roma e o império romano.

 

A razão por que alguns eruditos fazem tão radical distinção entre as duas Romas é que, nos versículos dezesseis a dezoito, há a predição de uma destruição de Roma por parte da besta e sua federação de dez reinos. O pano de fundo histórico disso é a tradição (que nunca teve lugar, historicamente falando) de que o «Nero redivivo», que era identificado com o anticristo nas antigas tradições cristãs, retornaria a Roma, à testa de um exército parta, a fim de assaltá-la, cometendo «matricídio». (Ver os Oráculos Sibilinos 5:363-369). Portanto, é fácil entender isso «historicamente». Porém, como entender isso profeticamente não é tão fácil. Os intérpretes protestantes não têm dificuldades aqui, pois supõem que o anticristo, após ter cooperado com a Igreja Católica Romana, utilizando-sedela (como também de seus aliados, as denominações protestantes apóstatas), repentinamente destruirá toda a imensa organização. Mas, apesar disso ser uma conveniente interpretação «protestante», de forma alguma é certo que isso é o que se deve ver aqui. Provavelmente haverá a unidade dos cristãos apóstatas (de todas as denominações) que prestarão lealdade ao anticristo e promoverão seu culto, os quais serão subsequentemente perseguidos e destruídos por ele; e isso poderia cumprir o aspecto profético das descrições à nossa frente. Contudo, sentimo-nos sobre terreno precário quando começamos a «nomear as denominações». Esse «cristianismo apóstata» sem dúvida se unirá a muitíssimas outras religiões mundanas, porquanto a influência do anticristo será universal. É claro que o anticristo não procurará destruir o culto que o incensa, mas tão-somente um certo aspecto do mesmo, e as denominações cristãs apóstatas, por exemplo, poderão cair em seu desagrado, sendo reduzidas a quase nada. A predição sobre a destruição da «meretriz» (ver o decimo sexto versículo deste capítulo), provavelmente inclui a ideia que todas as religiões do mundo desaparecerão, por serem destruídas, ou serão absorvidas no culto ao anticristo. Todas as religiões, excetuando seu culto imediato, terão de existir apenas subterraneamente, incluindo os membros fiéis a Cristo da igreja cristã.

 

17:1  Veio um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas;

 

Essas palavras servem de introdução aos capítulos dezessete e dezoito, juntamente. A grande «meretriz» é o paganismo romano, mas, especificamente, é a «cidade de Roma» (ver Ap 17:18). E é a mesma Roma que é descrita aqui, do princípio ao fim, embora de diversos ângulos e de diferentes maneiras. Sete visões revelam-nos a queda de Roma. Notemos que o trecho de Ap 18:3 enfatiza a «fornicação» de Babilônia; e aqui ela (Roma, chamada «Babilônia»—ver Ap 14:8) é a «meretriz». Há uma única Roma, mas ela é descrita segundo duas perspectivas ou mais; em todos esses aspectos, porém, ela experimentará destruição. Lembremo-nos que João estava escrevendo contra a Roma de seus dias, contra o império que perseguia e matava aos cristãos, tentando fazê-los adorar ao imperador, no «culto ao imperador». Não se deve pensar em duas Romas aqui, e nem na ereção literal da antiga cidade de Babilônia, que alguns estudiosos imaginam que será reconstruída no futuro. Não obstante, há certo contraste entre a cidade de Roma (a meretriz, ver o décimo oitavo versículo deste capítulo) e o império romano em geral, que está em foco nestes capítulos dezessete e dezoito. A «besta» será Roma como um império, mas também será o nerônico anticristo, que incorporará em si mesmo toda a maldade de Roma. Contrastar entre si os versículos terceiro e décimo primeiro deste capítulo.

 

«...um dos sete anjos que têm as sete taças...» O fato que os anjos dos juízos das taças (descritos individualmente no décimo sexto capítulo) estão envolvidos nas sete visões sobre a queda de Roma, permite-nos ver que isso faz parte das sete últimas pragas, como vimos na lição anterior, por ser um aspecto das mesmas, e não algo distinto delas. O anjo age como um guia, o que é comum no simbolismo apocalíptico. (Ver Ap 7:13).

 

«...falou comigo...» Em visão mística audível. (já comentamos isso na lição inicial)

 

«...mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz...» Roma (a meretriz, e, portanto, o império) é chamada de prostituta «grande» devido à sua idolatria e desabrido paganismo, que nega a autêntica adoração a Deus, mas, especialmente, devido ao seu «culto ao imperador», no qual os imperadores reinantes eram adorados como se fossem divindades. Além disso, havia a adoração da deusa «Roma», que eternizava a cidade de Roma e, supostamente, exaltava o sistema romano, promovendo ainda o «culto ao imperador». O simbolismo de «adultério», para indicar idolatria, é uma comum equação judaica.

 

«Esse julgamento, é claro, é a iminente destruição de Roma, devido à sua idolatria, porquanto ela perseguia aos santos. O retrato da deusa Roma como uma meretriz corresponde ao retrato anterior dos imperadores como uma horrenda besta satânica, além de corresponder ao fato que ela atraía as nações às práticas idólatras, o que é chamado de ‘fornicação’, no quarto versículo. Outrossim, havia nos escritos proféticos bons precedentes para esse simbolismo. João bem pode ter tido consciência que Naum chamara Nínive de meretriz, porquanto seduzia às nações, em face do que terrível condenação sanguinária fora proferida contra ela (ver Na 3:1-4). De modo bem similar, e por razões idênticas, um outro profeta aplicara o mesmo epíteto vergonhoso a Tiro, predizendo sua ruína (ver Is 23:15). Em várias outras passagens, Jerusalém é chamada de meretriz sedutora, desleal ao Senhor e desviada para a idolatria (ver Is1:21; Ez 16:15; conf. Os 2:5). Figuras simbólicas semelhantes são usadas nas profecias sibilinas que predisseram a destruição de Roma, com as seguintes palavras: ‘Ó Roma, descendente amimalhado do Lácio! Tu, virgem com frequência intoxicada por muitos pretendentes, como uma escrava (isto é, prostituta), haverás de casar-te sem cerimônias’. (Oráculos Sibilinos 3:356-358). O gosto dramático de João pelo contraste já pôde ser observado antes. Agora ele está evidentemente preparando o palco para o contraste entre essa ímpia meretriz e a noiva de Cristo, em toda a sua pureza e em seu resplendor, como também entre o bestial consorte da meretriz e Cristo, o Noivo». (Rist, in loc.).

 

Quem é esta prostituta repugnante?

 

1.      Historicamente falando, ela representa a Roma pagã e sua idolatria e adoração do imperador.

 

2.      Profeticamente falando, ela representa o novo paganismo do tempo do anticristo, e especificamente, o cultus dele, a nova idolatria. Certamente a grande parte das denominações cristãs farão parte do cultos do anticristo, tendo entrado numa apostasia de dimensões incríveis. As grandes denominações como a Igreja Católica Romana, as maiores entre as denominações protestantes, aquelas que temmais dinheiro e poder, sem dúvida, serão os líderes neste movimento (do lado cristão dele). Mas a influência do anticristo será universal e através do poder dele, será realizada uma união das religiões ocidentais e orientais. O resultado será um tipo de cristianismo pagão. Este novo cristianismo será hostil aos verdadeiros cristãos, e uma perseguição de grandes dimensões resultará disso. De fato, o anticristo promoverá a maior perseguição religiosa da história humana. A iniquidade do cultus do anticristo dará para o homem uma oportunidade para expressar suas inclinações mais baixas. A mocidade do mundo seguirá o anticristo com todas as suas forças e sentirá uma auto realização extraordinária, não sabendo, ou não querendo saber, a profunda perversão de seu herói. A geração atual, sem objetos sagrados, e envolvida em entorpecentes e outros vícios, quase sem controle, será incorporada, facilmente, no movimento do anticristo. A sabedoria deste mundo que faz da escravidão ao pecado um sinônimo de «liberdade» destruirá uma geração completa e a ceifa será grandemente amarga. Quando o anticristo ganhar seu poder, Marx, Lenin, Stalin, Hitler e outros personagens perversos da história, parecerão bons professores da escola dominical em comparação.

 

Será, afinal, uma união dos verdadeiros cristãos de todas as denominações, não em termos de organização, mas sim, em termos de compatibilidade de espírito e intenção. Cristo estará fora da igreja no fim deste século (ver Ap 3:20) e o anticristo será seu líder; alguns poucos se reunirão, entre perseguições, no nome do Senhor.

 

«...sentada sobre muitas águas...» Babilônia, a cidade protótipo da cidade de Roma, estava assim situada, porquanto o Eufrates atravessava por seu centro, e a cidade contava com muitos canais artificiais. (Ver Jr 51:13, onde isso é dito acerca da cidade de Babilônia). Roma, naturalmente, não estava literalmente assentada sobre muitas águas. Alguns supõem que já que Babilônia serve aqui de protótipo de Roma, que o autor, ao assim falar, não tencionava nada de especial, mas apenas visava dar-nos uma descrição mais gráfica. Mas dificilmente esse pode ter sido o motivo do autor sagrado por detrás dessas palavras. Portanto, muitos eruditos supõem que as «muitas águas», neste caso, indicam as «nações». Nesse caso, a grande meretriz seria vista a exercer controle sobre as nações, como se estivesse assentada em um trono, sujeitando-as a todos os seus caprichos. Havia um mito babilônico que aludia ao «abismo», «tiamat»; e alguns estudiosos pensam que as «muitas águas» se referem a esse abismo. Assim sendo, Roma estaria assentada, por assim dizer, sobre o abismo do hades. Porém, não é muito provável que isso é o que o vidente João tinha em mente, embora ele talvez conhecesse tal mito. O décimo quinto versículo fornece-nos a definição tencionada pelo próprio João. As águas são «povos, multidões, nações e línguas».

 

É interessante observar-se que a cidade de Babilônia adquiriu suas riquezas por meio do rio Eufrates e seus numerosos canais de irrigação. Por semelhante modo, a pagã cidade de Roma coletou as riquezas do mundo e prosperou como uma meretriz ricamente enfeitada.

 

Outras ideias sobre o primeiro versículo deste capitulo:

 

1.      Historicamente falando, parece que Ninrode, seguido por muitos, edificou a cidade original de Babilônia, depois dos dias do dilúvio. Nessa cidade havia um templo consagrado a Belo, que mais tarde passou a ser chamado «Baal». Foi ali que Ninrode erigiu a torre de Babel. A primeira grande cidade de Babel, e o reino da Babilônia, eram governados por duas pessoas, um homem e uma mulher. A mulher estava encarregada das funções religiosas do estado, e o homem, das funções políticas. Babilônia veio a tornar-se cabeça de um imenso sistema mundial, conforme os homens viam a extensão do mundo, naqueles dias. Era uma federação iníqua, pelo que o termo «Babilônia» veio a indicar qualquer sistema iníquo, especialmente aqueles dotados de considerável poder e extensão. O programa encabeçado por Ninrode é retratado nos capítulos dez e onze do livro de Gênesis. O nome daquele homem significava «rebelde», e sua pessoa e obra prediziam uma muito maior rebelião e a exaltação do paganismo, que em breve apareceriam em cena. O nome «Babel» significa «portão de Deus», e foi em Babilônia que os homens tentaram criar o seu próprio conceito de Deus, bem como o seu próprio caminho, em rebeldia franca contra o caminho de Deus que fora revelado aos homens. O A.T. mostra a queda tanto deNinrode como da torre de Babel, como também de Babilônia como um estado de âmbito mundial. Por conseguinte, tornou-se um símbolo apropriado para qualquer sistema pagão que rejeite o caminho divino da vida em Cristo. Por essa razão, tanto o vidente João quanto muitos outros autores sagrados, empregaram tal símbolo para aludir à cidade e ao império de Roma. No entanto, repelimos a ideia de alguns estudiosos que pensam que essa cidade será reconstruída nos últimos dias, porquanto nada disso estava na mente do autor sagrado.

 

Profeticamente falando, o revivido império romano, formado pelo anticristo e sua federação de dez nações, está em foco. Essa federação, com seu culto ao anticristo será o «novo paganismo», muito mais terrível e corrupto que a antiga Roma pagã. Esse culto incorporará em si mesmo a cristandade apóstata, formada de todas as denominações; mas não cremos que uma única denominação particular esteja em foco aqui, com exclusão de todas as demais. A grande «meretriz», entretanto, não se comporá apenas da cristandade apóstata. Será algo muito mais vasto e mais extenso, uma nova religião mundial e enlouquecida, que incorporará o oriente e o ocidente em um maciço esgoto de iniquidade. Será tão estupendamente maligno que fará o comunismo parecer comparativamente santo; e os homens, sobretudo a juventude, seguirá esse novo culto com lealdade cega e com senso de realização.

 

17:2  com o qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam sobre a terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição.

 

A referência histórica é a adoração da deusa Roma e ao «culto ao imperador». A idolatria associada a essas formas de culto é chamada aqui de «prostituição», em harmonia com o que se vê no primeiro versículo, onde a própria Roma é chamada de «grande meretriz», e em consonância com o simbolismo do A.T. (Quanto à idolatria simbolizada pelo conceito de «imoralidade» e «adultério», por ser uma forma de infidelidade a Deus, a quem se deve toda a lealdade, ver as seguintes passagens: Is 1:21; Jr 2:20; 3:1,6,8; Ez 16; 15,16,28;31,35,41; 23:5,19,44; Os 2:5; 3:3 e 4:14). Esse simbolismo também foi usado acerca de diversas cidades: Tiro (ver Is 23:15-17); Nínive (ver Na 3:4); e agora Roma é chamada Babilônia, segundo a criptologia do trecho de Ap 14:8.

 

Esse vil «adultério» de Roma atingiu posições elevadas e baixas, tanto os «reis» quanto os habitantes comuns da terra. João mostra a universalidade do «culto ao imperador» e a adoração de «Roma». Nenhuma localização escapou, e nenhuma pessoa, por ser grande demais (como se não pudesse ser forçada), ou por ser insignificante demais (como se pudesse escapar à atenção), ficou isenta de dar sua lealdade a esse culto. Profeticamente falando, isso também sucederá quando o anticristo subir ao poder. Por pouco tempo ele dominará a terra toda, e todos se encurvarão ante a sua vontade. Por causa disso, tal como na Roma antiga, surgirá uma temível perseguição religiosa, a pior da história, segundo se aprende no sexto versículo deste capítulo, porquanto a «meretriz» ficará intoxicadacom o sangue dos «santos», isto é, dos «crentes», conforme se vê por todo o Apocalipse. Isso sucedeu historicamente. O Apocalipse foi escrito para os «mártires cristãos». Profeticamente, também se aplica a eles.

 

«Assim como Nínive e Tiro desviaram outros povos, forçando-os a cometer idolatria, agora será com Roma, a meretriz do Mediterrâneo, que seduzirá os ‘reis’, juntamente com seus súditos, fazendo-os ‘beber’ do ‘vinho’ de sua ‘fornicação’; isto é, ela os seduzirá à adoração idólatra de si mesma e seu consorte, e besta, o que o vidente João compara com ‘fornicação’ (comparar com Ap 2:21; 9:21 e 14:8)». (Rist,in loc.).

 

Outras ideias sobre o segundo versículo:

 

1.      Os «reis» do tempo da antiga Roma tentaram influenciar Roma para seu autobenefício, no comercio, etc. A fim de receberem esses benefícios, foi mister se tornarem parte do sistema dela, chegando, finalmente, a aceitar seu culto religioso, o «culto ao imperador». Nos últimos dias será necessário aceitar o culto ao anticristo, até mesmo para comprar e vender. (Ver Ap 13:17). Os crentes terão de valer-se do «câmbio negro», até mesmo para obter alimentos. Como conseguirão manter seus empregos e o suprimento de alimentos para as suas famílias?

 

2.      Todas as nações compartilharam dos vícios e das imoralidades de Roma. O mundo inteiro seguirá o culto ao anticristo, e ficará saturado com sua perversidade. Muitas coisas temíveis sucederão àqueles que se recusarem a tal. Por conseguinte, o Apocalipse é o «manual dos mártires». Adverte, mas também consola à igreja sofredora, assegurando-lhe a vitória final em Cristo. Os capítulos dezessete e dezoito deste livro mostram que Roma será derrubada. Os capítulos dezenove e vinte mostram que Satanás será derrotado. Os capítulos vigésimo primeiro e vigésimo segundo mostram que o bem, finalmente, haverá de triunfar.

 

17:3: Então ele me levou em espirito a um deserto; e vi uma mulher montada numa besta cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e que tinha sete cabeças e dez chifres.

 

«...Transportou-me...» Em visão mística, e não fisicamente, ainda que as palavras «no espírito» possam significar «estando em forma espiritual», e isso seria uma projeção do «psique» ou «alma», saindo do corpo. Alguns intérpretes, entretanto, discutem se aqui devemos entender «no espírito» ou «no Espírito». Na verdade, apesar dessa experiência ser causada pelo Espírito de Deus, provavelmente é uma experiência fora do corpo. (Comparar isso com Ap 1:10 e 4:2, onde há algo similar).

 

«...a um deserto...» Lugar desolado, faminto, sedento, habitação apropriada para uma meretriz horrenda. A esse lugar o anjo levou João. (Comparar com Ap 21:10, onde se lê que ele foi levado a um «monte», a fim de ver a descida da Nova Jerusalém, vinda dos céus, como «Noiva de

Cristo»). Sem dúvida há um contraste entre o «monte» e o «deserto», como também a «Noiva» e a «meretriz», sendo possível que João tenha querido que entendêssemos esse vívido contraste.

 

«...montada numa besta escarlate...» Sem dúvida temos aqui a primeira besta, aquela saída do «mar». (Ver Ap 13:1,2). Neste capítulo há um duplo simbolismo no termo «besta». Fala do império romano, mas também fala do «Nero redivivo», como um indivíduo, que incorporará em si mesmo toda a maldade daquele império. Historicamente falando, foi essa besta antecipada como o anticristo, segundo vê em Ap 13:3 e notadamente, em 17:10,11, mui claramente. Muitos cristãos criam que a reencarnação de Nero seria o anticristo. Outros continuam acreditando nisso, por causa dessa antiga crença, que é aludida no Apocalipse. Profeticamente falando, vemos aqui o próprio anticristo, que terá seu centro na cidade de Roma. Ele é visto aqui como uma besta «escarlate» por haver morto aos «santos». Está manchado com o sangue deles. (Ver o sexto versículo deste capítulo). A meretriz montará sobre o imperador (historicamente), e sobre o anticristo (profeticamente), por ser ele o símbolo de todas as iniquidades de Roma. Portanto, há um vínculo bem próximo entre o poder do imperador e o culto idólatra à sua pessoa. Eles andarão como um cavalo e seu cavaleiro; mas não se tratará de um cavalo comum, e, sim, da horrenda besta do capítulo treze.

 

Alguns estudiosos creem que, historicamente, a mulher sobre a besta simboliza a conexão entre a adoração à deusa «Roma» e o «culto ao imperador». Porém, parece mais certo ver aquela deusa e tal culto como a «mulher», ao passo que o imperador e tudo quanto ele representa, como a «besta», sobre a qual a mulher cavalga.

 

«...besta repleta de nomes de blasfêmia...» (Quanto às blasfêmias do anticristo, ver Ap 13:5). Sua blasfêmia é essencialmente ausurpação da adoração a Deus para si mesmo, exigindo isso no culto ao imperador. A passagem de II Ts 2:4, afirma: «...o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus...» Notemos que seus seguidores participarão de sua natureza, pelo que também serão blasfemados (ver Ap 16:9,21). Ele e eles «blasfemarão» de Deus e lhe «difamarão» o nome, que é santo, juntamente com tudo quanto é santificado. E disso consistirá tal blasfêmia.

 

Em Ap 13:1 vemos muitos «diademas» sobre a cabeça da besta, mas agora esses diademas não são mencionados.

 

«...com sete cabeças e dez chifres...» Já pudemos ver isso em Ap 12:3 e 13:1. Em Ap 17:9 vê-se a definição das «cabeças». São «sete montes», uma referência à cidade de Roma, em sua posição geográfica. Mas os «montes» também são «reis» (ver o décimo versículo deste capítulo); e esses são os reis «deificados» do império romano, que o vidente esperava que surgissem antes do «oitavo», o anticristo ou «Nero redivivo», aparecer no palco do mundo. João esperava ver o fim pessoalmente, porquanto não antecipava um longo «império romano», e nem a já longa idade da graça, ou da igreja. Os «dez chifres» são «dez reis», de acordo com o décimo segundo versículo deste capítulo, e isso se aplica, profeticamente, à federação de dez reis encabeçada pelo anticristo. Historicamente falando, como é óbvio, isso se aplica aos poderes mundiais que apoiavam Roma. Isso envolveria, quiçá, as províncias cujos governantes eram nomeados pelo senado romano, que podiam governar apenas por um ano (pouco tempo, Segundo se vê no décimo segundo versículo). Mas outros eruditos supõem que esses reis seriam sátrapas partas, que se esperava acompanhassem o Nero redivivo (que era tido e esperado como o anticristo, pelos cristãos primitivos), a fim de destruir a cidade de Roma (ver Ap 17:18), os quais só teriam poder porque acompanhariam a Nero em seu assédio.

 

A «besta», por conseguinte, incorporará em sua própria pessoa tudo quanto simbolizava Roma, pelo que é equiparada com ela, tal como a besta se comporá de sete cabeças e dez chifres.

 

Os «deuses» do imperador são repudiados zombeteiramente por João. Suas sátiras contra eles, por fazerem parte da besta satânica, mostram que eles nada serão, exceto veículos para a meretriz. Assim sendo, longe de serem divinos, tais imperadores, no dizer de João, são apenas feras satânicas, que surgiram a fim de destruir tudo quanto é bom e hígido. E assim, em linguagem vívida e dramática, João adverte aos cristãos contra qualquer participação na idolatria romana.

 

«Roma fora adoradora das leis civis; mas o homem de Patmos descreve amargamente a cidade de Roma como a grande violadora das leis. E com intensa ironia descreve a grande cidade como uma meretriz, que deriva sua força de uma besta apaixonada e poderosa. Platão descreveu a boa vida, que consiste da participação na realidade das grandes e eternas ideias. Do alto e do após-vida é que vem esse grande poder. Mas Roma recebeu poder do que é sub-humano, abusando da vida humana. Um escritor esperto de certa feita escreveu uma história sobre um homem que viveu uma vida dupla. Era membro do grupo de jurisconsultos que traçavam as leis, mas também era um secreto e bem-sucedido violador das leis. Esse livro foi intitulado ‘Lawmaker and Lawbreaker’ (‘Legislador e Transgressor da Lei’). Quando o grande legislador do mundo tornar-se no grande transgressor de tudo quanto é bom nas leis, a situação se tornará realmente uma tragédia profunda e dolorosa. Assim, pois, Roma tornou-se a cidade desregrada, sem lei». (Hough, inloc.).

 

Outras ideias sobre o terceiro versículo:

 

1.      A cor «escarlate» que envolve a besta pode referir-se ao «sangue dos santos», que a manchara. Mas outros veem nisso o luxo e as ostentações pretenciosas de Roma, civil ou religiosa.

 

2.      O deserto fala do ressequido estado espiritual de Roma pagã e seu culto. (Ver os comentários antes da exposição). Esse deserto também pode subentender «desolação iminente», devido ao juízo, o que é descrito nos capítulos dezessete e dezoito. Certamente não há nenhuma localização geográfica específica, como «Europa», «Itália», etc., conforme supõem alguns intérpretes. Alguns veem aqui o «deserto» do mundo, o lugar onde a besta dominará. Mas, apesar disso não ser a aplicação primária do termo, é uma boa aplicação.

 

3.      Os intérpretes da escola histórica, protestantes, muitos se esforçam por ver a Roma papal em todas essas descrições. Mas o significado transcende esta ideia grandemente.

 

4.      A mulher e a besta são magnificentes, esplendorosas em suas vestes e em seu poder, mas habitam no deserto. Isso se dá também com muitos «insensatos magnificentes», que se gloriam nos valores da terra, mas habitam em um deserto espiritual.

 

5.      «Nomes de blasfêmia», tal como em Ap 13:1, exceto que ali esses nomes estão em suas cabeças. Muitas conjecturas têm sido apresentadas sobre o sentido de tais «nomes», e as notas expositivas em Ap 13:1 dão um sumário das ideias. Os intérpretes protestantes veem aqui os muitos títulos e honrarias que a Roma papal tem dado a si mesma. Mas sem dúvida não é isso que está aqui em pauta.

 

17:4  A mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas; e tinha na mão um cálice de ouro, cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição;

 

Essa meretriz não é uma decaída comum. Suas vestes eram caras e principescas, o que é simbolizado pelo púrpura e pela escarlata. Sua posição era «imperial». Além disso, estava adornada de «ouro e pedras preciosas», recoberta de pérolas. Isso quer dizer que ela será riquíssima. Seu comércio iníquo muito lhe renderá, e ela se enriqueceu com os presentes que lhe foram dados pelos reis. Ela cobrará caro por seus serviços, tornando-se, por assim dizer, a «superprostituta».' Historicamente falando, João descrevia como Roma se enriquecera, sendo reconhecida como Senhora por toda a parte, extraindo das nações todas as riquezas que ela quis. Mas essa mulher riquíssima também é uma prostituta. Roma impunha às nações o seu culto idólatra, afastando-as de Deus. Conforme nos é sugerido por seu simbolismo, João pode ter tido em mente o preço elevado das prostitutas cultuais. A sua renda sustentava o culto e pagava os salários daqueles que cuidavam da adoração nos templos, além de financiar os reparos e a construção de outros templos. Mas para as próprias «meretrizes» ainda sobrava muito. Nos dias de Paulo, Corinto contava pelo menos com mil dessas «prostitutas cultuais»profissionais, pelo que aquela cidade se tornara uma atração turística. Assim, João visualizava a própria Roma como uma daquelas luxuosas meretrizes cultuais. João se espantou, horrorizado, ante a aparência da mulher. Era uma aparência imponente, mas ao mesmo tempo, asquerosa (ver o sexto versículo).

 

«...tendo na mão um cálice de ouro...» Seus súditos a serviam como se fora uma rainha. Esse detalhe pode ter sido tirado por empréstimo de Jr 51:7, onde Babilônia aparece como um «cálice de ouro» nas mãos de Deus, cheia de vinho que deixava as nações alucinadas ebêbedas (comparar com Ap 14:10 e notar o segundo versículo deste capítulo). Os reis e os habitantes da terra ficaram «intoxicados» com as fornicações dessa meretriz. (Ver também Ap 14:8,10). Tem segura esse «cálice», mas o mesmo é um cálice de «cólera». Aqueles quebeberem do «cálice da meretriz» não poderão evitar, finalmente, o «cálice da ira de Deus».

 

«....abominações...» No grego é «bdelugma», palavra usada na Septuaginta para indicar todas as formas de impureza cerimonial, sobretudo o que se relaciona a qualquer contato com os ritos idólatras. Esse termo indica, em primeiro lugar, qualquer coisa «detestável», algo digno de repúdio e desdém. A forma verbal, «bdelusso», significa «fazer cheirar mau» ou «ser repelente». O anticristo será a «desgraça mau cheirosa» do mundo, um indivíduo detestável e repelente. O cálice idólatra (fornicação), brandido pela meretriz,está repleto de coisas detestáveis e fedorentas, todas as formas de imundícia. Portanto, aquela que é tão atrativa é mulher doentia e nojenta. É um esgoto de imundícia. Essa é a espécie de ideia que o vidente João desejava transmitir.

 

Este versículo pode ser confrontado com Dn 11:31; 12:11; 9:27 e Mt 24:15. Antíoco IV Epifânio e o anticristo (o antítipo daquele) são algumas dessas «abominações», dignas de serem repelidas. São atrativos em todo o seu esplendor e pompa. Eles fazem muitos favores a seus seguidores; em última análise, porém, são apenas prostitutos doentes e imundos. Assim é que João descrevia Roma, a Roma pagãe seu culto ao imperador. Trata-se de uma linguagem bastante vívida, cortante e impressionante, que deve ter servido de advertência eficaz para a igreja primitiva, a fim de não se envolver com a adoração à deusa «Roma» ou com o «culto ao imperador».

 

Outras ideias sobre o quarto versículo:

 

1.      «Roma é aqui declarada luxuosa, licenciosa e asquerosa. Aqui, tal como no livro contemporâneo de IV Esdras 3:2,29, sente-se ser um mistério que a prosperidade e a permanência pertençam a um estado que apregoa sua impiedade e opressão não apenas desfrutando, mas também propalando os seus vícios» (Moffatt, in loc.).

 

2.      Conforme fazem acerca de toda a passagem, os intérpretes protestantes veem aqui a Roma papal, com todo o seu luxo.

 

3.      O «cálice» é um símbolo de «comunhão». A meretriz propaga a comunhão em torno da imundícia e do deboche. Alguns estudiosos chegam a pensar que se trata do cálice da «transubstanciação» romanista; mas certamente isso está longe da verdade.

 

4.      Algumas prostitutas dão bebidas fortes a seus amantes, ou até mesmo drogas, a fim de arrancar deles o que querem, sobretudo o dinheiro. Talvez haja algo dessa ideia nesse símbolo. É certo, pelo menos, que os homens ficarão intoxicados e totalmente dominados sob o controle da meretriz.

 

5.      «A aparência dela era alegre e afetada. Ali havia todos os atrativos das honras, das riquezas, da pompa, do orgulho mundanos, próprios para atrair mentes mundanas e sensuais» (Matthew Henry, in loc.).

 

Variante Textual: A «fornicação dela» é a forma que aparece nos mss A, 1006, 2344, na Vg, no Si(ph). A «fornicação da terra» é a forma que aparece em vários manuscritos insignificantes, evidentemente uma influência com base no quinto versículo, «abominações da terra». O ms Aleph tem um texto composto, «fornicação dela e da terra»; e o saídico diz «da fornicação dela com aqueles da terra». O boárico diz «com toda a terra». Mas a primeira forma certamente é a original. As outras formas representam equívocos e adornos escribais.

 

17:5  na sua fronte estava escrito um nome simbólico: A grande Babilônia, a mãe das prostituições e das abominações da terra.

 

«...na sua fronte...» Temos aqui uma marca identificadora, tal como no caso dos adoradores da besta (ver Ap 13:16), ou no caso dos adoradores do Cordeiro (ver Ap 7:3). A besta blasfema tem «nomes» de sua perversão sobre as suas cabeças (ver Ap 13:1), e isso também serve para indicar uma imensa perversão. Não nos é dito o que está escrito sobre as cabeças da besta, mas João informa sobre o que está escrito na testa da meretriz, sem faltar nenhuma letra. Em Roma era costume «marcar» as prostitutas, com um nome na marca, a fim de «rotulá-la». As prostitutas traziam rótulos na testa, para serem identificadas. (Ver Sêneca, Contr. i.2 e Juv. 6.112 e 55.). Essas marcas identificadoras também têm sido feitas em tempos modernos, como os alemães marcaram suas vítimas, ao tempo de Hitler. Até mesmo as meretrizes eram marcadas por eles, e elas se tornavam virtuais escravas da soldadesca. Seja como for, toda a prostituta é reconhecida pelos seus modos e por seus trajes. A pior meretriz de todas fica bem identificada nesta visão.

 

«...mistério...» Nas páginas do N.T., um «mistério» é uma verdade antes oculta nos conselhos divinos, mas que agora foi revelada. É um «segredo desvendado». Contudo, não pode ser desvendado pela mera investigação humana. Só a revelação divina pode esclarecer um desses mistérios, e o presente contexto o demonstra. (Ver Ef 3:4 sobre a definição neotestamentária de «mistério». Quanto a mistérios do N.T., ver Mt 13:13 e Rm 11:25). João nos revela, como que por iluminação divina, a imensa depravação de Roma e seu «culto ao imperador». O uso da palavra «mistério», neste ponto, nos permite entender que devemos buscar um significado espiritual oculto, na descrição que se segue. Devemos não esquecer que «Babilônia» é Roma, e compreender que sua idolatria é imoralidade espiritual, e que, considerada do ponto de vista espiritual, Roma é uma abominação diante de Deus, embora, aos olhos do mundo, pareça uma rainha adornada de joias caríssimas.

 

«...Babilônia...» Isto é, «Roma», segundo se vê nas considerações esboçadas em Ap 14:8. Em Roma se vê o reavivamento do sistemaímpios originalmente criado na antiga Babilônia. (Ver as notas expositivas quanto à introdução ao primeiro versículo deste capítulo, a esse respeito).

 

«...a grande...» Por ser vasta, tendo o mundo inteiro sob os seus pés, levando todas as nações do mundo a adorarem perante seus altares. Aqui temos a cidade de Roma, com sua adoração à «Dea Roma» e seu «culto ao imperador».

 

«...a mãe das meretrizes...» Ela mesma é uma prostituta, o que se vê claramente nos versículos primeiro e segundo. De fato, é a maior de todas elas, aquela que faz o maior número de vítimas. Em seus «adultérios» ela produz muitas filhas, as quais, por sua vez, nascem com as mesmas inclinações dela, e seguem a sua mesma «profissão». Espiritualmente falando, isso significa que Roma tornou-se a influência que causou muitas seitas, nações, sociedades e povos se voltarem para a idolatria, especificamente, para se unirem ao culto ao imperador e à adoração à «Dea Roma». Na Ásia Menor, onde o «culto ao imperador» era seguido com tanto zelo, o que fora incorporado à adoração em muitíssimos templos pagãos, os cristãos certamente entenderiam a sugestão de João.

 

Essa Dea Roma e o «culto ao imperador» podem ser comparados com a «Magna Mater», a Grande Mãe dos Deuses, representada como uma deusa pura e casta, na Ásia Menor, a qual, desde o ano 204 A.C. vinha sendo adorada em Roma e cercanias. A devassa Roma mostrara o que a idolatria realmente é a despeito dos nomes e tradições por ela patrocinados.

 

«...e das abominações da terra...» Com frequência, a própria idolatria, nos escritos judaicos, é chamada «abominação» e é isso, essencialmente, que se deve compreender aqui. (Ver as notas expositivas sobre essa palavra, no quarto versículo deste capítulo). O cálice de ouro, que a meretriz exibe, está repleto de abominações e imundícias.

 

Outras ideias sobre o quinto versículo:

 

1.      Uma comum interpretação protestante diz que a meretriz é a «Roma papal», e que suas filhas imundas são as denominações protestantes apóstatas. O culto final, ao redor do anticristo, sem dúvida enganará a muitos cristãos de todas as denominações; mas os crentes fiéis se afastarão disso e existirão subterraneamente; e haverá certa unidade nesse movimento subterrâneo, pois as muralhas dogmáticas ruirão por terra, ficando de pé tão-somente a verdade bíblica. Porém, a meretriz e suas filhas envolvem mais que as denominações cristãs apóstatas. O movimento incorporará religiões orientais e não-cristãs. O trecho de Ap 18:4 lança o apelo à separação, para que os crentes nada tenham a ver com o culto ao anticristo, sem importar suas vinculações. Essa é a aplicação profética. Historicamente, João estava convocando os cristãos autênticos a não se imiscuírem com o culto ao imperador, algo inteiramente não-cristão.

 

2.      Que horrenda responsabilidade é a daqueles que são maus, que treinam outros à maldade, ou que os influenciam à depravação!

 

17:6  E vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus. Quando a vi, maravilhei-me com grande admiração.

 

«...vi...» Em visão mística. (Ver sobre isso em Ap 1:10 em ebd areia branca).

 

«...mulher...» Roma, a meretriz. (Ver as notas expositivas no primeiro versículo deste capítulo).

 

«...embriagada...» Houve dois grandes pecados praticados pela Roma pagã, nos tempos do vidente João. O primeiro era a sua idolatria, sua fornicação espiritual, o tema da passagem imediatamente anterior. (Ver Ap 17:1-5). Em segundo lugar, Roma martirizava um grande número de cristãos, por se recusarem a prestar culto ao imperador. Esse grande pecado é aqui frisado; e a linguagem simbólica usada é a de uma meretriz embriagada com o sangue dos mártires, que ela sorvera. E o resultado natural é que a meretriz embriagada haveria de querer mais e mais sangue, porquanto assim agem os embriagados. João escreveu este livro para consolar e fortalecer aos mártires em potencial. Escreveu para a igreja cristã. Portanto, somos forçados a interpretar o livro como de aplicação histórica primária à igreja primitiva. Porque, quando o interpretamos profeticamente, temos de aplicar suas predições a outro povo, que não os crentes dos últimos dias?. É evidente que a igreja atravessará a tribulação, se é que o Apocalipse diz a verdade.

 

«...o sangue dos santos...» Esses são os cristãos, os «santos» do N.T. (Ver também Ap 8:3,4; 11:18; 13:7,10; 14:12; 15:3; 16:6; 17:6; 18:24; 19:8; 20:9). Assim, a «igreja» está bem presente nas predições deste livro, até mesmo nos capítulos quarto a décimo nono e não ausente, conforme alguns supõem. (Ver Rm 1:7, no tocante ao termo «santos», que se aplica aos cristãos). Esse é um termo moral, que salienta a «santificação» dos crentes. Sem a santificação ninguém jamais verá a Deus (ver Hb 12:4). A santificação é algo necessário à salvação (ver II Ts 2:13). A conversão será falsa, se não for acompanhada da santificação.

 

«...testemunhas de Jesus...» Essas são as «testemunhas mártires» deste livro, que são tão exaltadas. (Ver as descrições sobre elas, nos capítulos sete e catorze). As «testemunhas» que João descreveu originalmente eram os cristãos que sofriam nos primeiros anos do estabelecimento da igreja cristã. Profeticamente, isso aponta para os «cristãos» que sofrerão sob o anticristo. Cremos que ele já vive à face da terra. Teremos de enfrentá-lo e certamente nossos filhos terão de enfrentá-lo. Terão de ser crentes melhores do que nós, a fim de resistirem à prova.

 

«...admirei-me com grande espanto...» Não se deve pensar aqui que João manifestou «admiração» pela meretriz, por causa do esplendor dela, apesar de suas inclinações naturais. Tal declaração significa apenas que ele foi muito surpreendido, e que sua mente ficou atônita ante o espetáculo, não podendo entender o que ela significaria. O versículo seguinte mostra que ele precisou receber explicações sobre a meretriz.

 

Outras ideias sobre o sexto versículo:

 

1.      Talvez esteja particularmente em foco a perseguição nerônica, descrita tão vividamente por Tácito (Anais xv.44). Profeticamente, a maior perseguição religiosa de todos os tempos, promovida pelo anticristo está em foco.

 

2.      O conceito de uma nação embriagada de sangue é bastante comum na literatura antiga. (Ver Josefo, Guerras dos Judeus v.8.2, acerca dos enfatuados compatriotas seus, cercados pelos romanos; ver Eurípedes, preservado em Filo, leb. Alleg. iii.71; em Cic. Phil.ii.29; em Suetônio, Tib. 59; em Plínio, História Natural xiv. 22,28; ver também Jr 46:10).

 

3.      A meretriz e suas filhas são a antítese mesma da moralidade. Mas na igreja de hoje, a atmosfera cultural da Babilônia é destacada. As melodias dos clubes noturnos transformam-se em «hinos evangélicos». São usadas expressões mundanas, e a fé cristã se degrada em face dessa irreverência e pouco caso.

 

4.      Essas palavras podem ser confrontadas com Ap 12:5,6, onde aparece a mulher no deserto, que deu à luz a um «menino» como já vimos em ebdareiabranca. Alguns intérpretes veem nisso um quadro paralelo. Supõem que a «igreja» é a mulher tanto do décimo segundo capitulo como deste capitulo; assim, a igreja fiel dali é vista como a igreja apóstata daqui. Porém, visto que o vidente João escreveu sobre o «culto ao imperador» (Roma e sua idolatria), ao descrevê-la como a meretriz, não estava falando da igreja em nenhum sentido. Essas passagens só podem ser paralelas verbalmente, mesmo que pensássemos que a mulher do décimo segundo capítulo é a igreja. Na realidade, aquela mulher é a nação de Israel, o seu «menino» é Cristo; e a igreja nem está em foco naquela cena. Por igual modo, a igreja não está em foco aqui, e, sim, o culto ao anticristo, embora isso venha a incorporar supostos elementos cristãos.

 

5.      «Os agioi (santos)... mártires cristãos. Esses não se contaminarão como os demais homens; mas sua pureza será conquistada ao preço da vida deles» (Moffatt, in loc.).

 

6.      Os visitantes da cidade de Roma, ao falarem com certo papa, eram por ele instruídos que se queriam relíquias de Roma, bastava tomar um pouco da areia do Coliseu, porquanto tal areia estaria empapada do sangue dos mártires.

 

7.      Um poder cruel intoxicará aqueles que o brandirem. Há quem sinta um prazer sádico no sofrimento alheio. A perseguição da igreja cristã é ao mesmo tempo longa e terrível. Basta-nos ler o Livro dos Mártires, de Fox. Sabe-se de um pregador que, considerando a história dos mártires, disse: «A igreja cristã tem pago, não com dinheiro, mas com sangue».

 

17:7    Ao que o anjo me disse: Por que te admiras? Eu te direi o mistério da mulher e da besta que a leva, a qual tem sete cabeças e dez chifres.

 

O anjo veio aliviar a perplexidade e surpresa de João, a sua admiração. Ele estava atônito pelo que vira, e não sabia o que seria. Sua admiração, conforme se vê aqui, se devia essencialmente à sua incapacidade de compreender o que seria, pelo que o anjo faz aqui o papel de intérprete.

 

«...mistério...» Isso é explicado nos comentários sobre o quinto versículo, com referências a outros «mistérios» e definições que aparecem no N.T.

 

«...mulher...» Essa é a «meretriz», que representa o império romano e seu «culto ao imperador». (Ver o primeiro versículo). Alguns estudiosos pensam estar em foco a cidade de Roma (ver o décimo oitavo versículo), em contraste com o império romano em geral, porquanto há certa distinção entre a besta e a mulher; e no décimo sexto versículo a besta vem a odiar e a destruir a mulher. As notas introdutórias ao presente estudo procuram explicar por que e como os capítulos dezessete e dezoito parecem expor, por assim dizer, duas Romas ou Babilônias diferentes. Historicamente é fácil explicar isso. A lenda que Nero (ressurreto ou reencarnado) retornaria do exílio, à testa de um exército parta, a fim de destruir Roma (essencialmente a cidade desse nome; ver o décimo oitavo versículo) indica a besta a atirar-se contra a meretriz. Profeticamente, porém, o problema se torna mais difícil. Não se pode identificar a meretriz com qualquer denominação cristã apóstata em particular; mas mui provavelmente a cristandade apóstata se misturará com o movimento em torno do anticristo, identificando-se com a meretriz. O anticristo haverá de destruir certa porção desse culto, aquilo que cair em seu desfavor; mas, em linhas gerais, ele haverá de preservar seu culto, ao invés de destruí-lo. Os acontecimentos propriamente ditos, entretanto, deixarão claras todas essas questões.

 

«...besta...» A primeira besta, o «monstro saído do mar» (ver Ap 13:1,2), que é o mesmo anticristo (ver II Ts 2:3).

 

«...sete cabeças...» Esses seriam os imperadores romanos que, segundo João pensava, fechariam o ciclo do império, antes da sua destruição. Também pertencem a Satanás, porquanto o diabo governará por meio de seu falso cristo. O trecho de Ap 13:1 mostra-nos que o anticristo terá essas sete cabeças. Ele será a culminação do governo dos imperadores romanos, incorporando em si mesmo toda a maldade deles.

 

«...dez chifres...» Isso também é explicado em Ap 12:3, reiterado em Ap 13:1. Os versículos nove, dez e doze deste capítulo nos fornecem as interpretações emanadas diretamente do anjo. Historicamente falando, esses chifres eram os «reis das províncias romanas», que apoiavam ao imperador. Mas alguns estudiosos pensam que esses são iguais aos imperadores, e que os dez se tornariam em sete mediante a eliminação de três deles, Galba, Oto e Vitélio, porquanto seu reinado foi muito breve, eram usurpadores, e foram governantes insignificantes. Isso é impossível quando consideramos o décimo segundo versículo, onde é evidente que os dez serão governantes contemporâneos com a besta, apoiando sua autoridade, embora por pouco tempo, ao invés de serem governantes romanos sucessivos, antes do advento do anticristo. Ver o primeiro versículo deste capítulo, sob «Outras Ideias», ponto dois, para uma identificação tentativa das dez nações da federação do anticristo dos últimos dias.

 

«...leva a mulher...» Ela é vista «montada» sobre o monstro (ver o terceiro versículo). O império romano e seu culto estão intimamente associados ao imperador (à besta), tal como um cavaleiro está associado ao seu cavalo.

 

Outras ideias sobre o sétimo versículo:

 

1.      A meretriz é a cidade (ver o décimo oitavo versículo), mas talvez reputada como representante do império inteiro, que sofreria o açoite do Nero reencarnado, quando retomaria com tropas partas para destruir a cidade. Supõe-se que a lenda que ensinava isso também indicava que ele destruiria o império até certo ponto, e não apenas a cidade.

 

2.      É possível que o sentido original da «besta» fosse o império romano; e esse seria a mensagem geral de Ap 13:1,2. O trecho de Ap17:3, naturalmente, mostra que o império está em foco, com o uso deste símbolo. Mas, em Ap 17:11-17, a besta é o imperador apenas, a saber, o anticristo, o «Nero redivivo». Esse uso duplo do símbolo pode confundir-nos. Nero, possuído pelos demônios, que se levantaria do próprio hades, reencarnado, dirigiria os partas contra Roma, a meretriz.

 

     Notas Bibliografia R. N. Champlin,comentario do novo testamento