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hermeneutica n.5 apocalipse
hermeneutica n.5 apocalipse

A NATUREZA DA LITERATURA APOCALÍPTICA

 

DEFINIÇÃO

 

Uma classe inteira de literatura deve seu nome à primeira palavra do texto grego do último livro de nossa Bíblia. A palavra é (apokálupsis). Este substantivo provém do verbo (apokalúptein), que significa "desvendar", daí "revelar". O adjetivo "apo­calíptico" é usado para qualificar escritos que têm certas afinidades com o Apocalipse do Novo Testamento. Foram feitas associações entre o Apoca­lipse e outras porções e livros da Bíblia, tais como Daniel e Ezequiel e estes são ditos conterem material apocalíptico em sua natureza. Depois foram feitas associações com escritos não-canônicos, tais como os Segredos de Enoque, e estes são também chamados "escritos apocalípti­cos". Desta forma, como o termo foi considerado como descritivo de muitos escritos que não poderiam ser classificados de outra maneira, o gênero literário recebeu seu nome. Basicamente, "apocalíptica" é a literatura não diferente do Apocalipse.

 

Mas, o que caracteriza esta literatura? Muitos estudiosos a incluem nos "tratados para tempos difíceis" (G.E.Ladd, A Commentary on the Revelation of John — Um Comentário Sobre o Apocalipse de João — p.8). Esta literatura surgiu no período da história de Israel depois que a voz profética fora silenciada. Durante tempos de severa perseguição, livros apocalípticos surgiram na ausência de um profeta para responder à pergunta: "Porque o justo sofre?" Os livros apocalípticos pretendem ser uma revelação divina, geralmente através de um intermediário celestial, a alguma pessoa proeminente na história passada da nação, na qual Deus promete vingar seu povo sofredor, destruir toda a impiedade e trazer paz duradoura. A diferença básica entre a profecia e o texto apocalíptico é que a profecia lidava com as obrigações éticas do período em que o profeta escreveu, ao passo que o texto apocalíptico centralizava-se num tempo no futuro, quando Deus iria intervir catastroficamente, para julgar o mundo e estabelecer a justiça (Rist, Introduction and Exegesis of theRevelation of St. John the Divine — Introdução e Exegese do Apocalipse de S. João, o Divino — p. 347).

 

Há cerca de tantas definições da natureza desta literatura quanto há escritores sobre os livros deste gênero. Um método é definir o texto apocalíptico por três aspectos óbvios: forma, função e conteúdo. A virtude deste método é que estes aspectos são bem evidentes. Cada um destes tem cercas características, que precisam ser observadas. Estas são: 1) A forma, como tendo pseudonímia (ou anonímia), simbolismo, mitologia, orientação cosmológica, numerologia (gematria), experiências extáticas, alegações de inspiração, visões (esotéricas), drama, empréstimos de outros apocalipses, alegoria e prosa. 2) A função (ou propósito), como respon­dendo às necessidades que surgem das perseguições, resolvendo o proble­ma colocado pela justiça de Deus e o sofrimento do homem (teodicéia), e expondo os objetivos do nacionalismo. 3) O conteúdo inclui determi­nismo, escatologia, transcendentalismo, uma filosofia pessimista da histó­ria, dualismo, divisão eônica (Veja Aqui) do tempo e um mínimo de ensinos éticos e morais.

 

Naturalmente, é observável imediatamente que cada escrito apocalíp­tico não teria todas estas características; alguns têm mais, outros menos. Mas os três aspectos são de importância na definição deste gênero. É também evidente, ao ler-se o texto apocalíptico, que um aspecto pode ser dominante sobre os outros dois. Geralmente, contudo, é o aspecto da forma que chama a atenção para este tipo de literatura. As características destes aspectos foram desenvolvidas durante um período de séculos, resultantes de crenças religiosas básicas (cf. P. Hanson, The Dawn of Apocalyptic — A Alvorada do Apocalíptico). Foi sugerido, por Stanley B. Frost (OldTestament Apocalyptic — O Apocalíptico do Velho Testa­mento — 1952, p. 6), que o apocalíptico surgiu quando a escatologia judaica (conteúdo), mesclou-se com o mito semítico (forma), durante a perseguição da nação judaica (função). Isto é verdadeiro quanto ao apocalíptico judaico. Muito do chamado "apocalípticoneotestamentário" parece ser uma fusão do mito judaico e gentio, para propósitos gnósticos: forma (mito judaico e gentio), conteúdo (escatologia), função (gnóstica ou do conhecimento). Esta, em termos mínimos e elementares, é a definição do apocalíptico.

 

Algumas das literaturas não-canônicas que foram classificadas como "apocalípticas" são as seguintes: Entre os textos apocalípticos do Velho Testamento, deve ser observado que nenhum tem o título "Apocalipse", ao passo que os apocalípticos do Novo Testamento têm.

 

Os judaicos são:

 

1) O Livro de Enoque, também conhecido como Primeiro Enoque ou Enoque Etiópico; escrito por volta de 164-64 a.C.

 

2) A Assunção de Moisés, escrita por volta de 50 a.C. — 25 d.C.

 

3) Os Segredos de Enoque, também chamado Segundo Enoque, escrito no início do primeiro século.

 

4) O Livro de Baruque, ou Segundo Baruque, escrito no primeiro século.

 

5) IV Esdras foi escrito depois de 90 d.C.

 

Os "Apocalipses do Novo Testamento" são:

 

1) O Pastor de Hermas (apenas uma das visões, a quinta, é considerada apocalíptica), escrito por volta do início do segundo século.

 

2) O Apócrifo de João, escrito por volta da metade do segundo século.

 

3) O Apocalipse de Pedro, escrito por volta da metade do segundo século.

 

4) O Apocalipse de Paulo, escrito no final do quarto século.

 

5) O Apocalipse de Tomé, do quinto século. O Apocalipse de Maria, depois que os acima foram escritos.

 

6) O Apocalipse de Estevão, que é muito tardio.

 

CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA APOCALÍPTICA

 

A definição acima, de apocalíptico, precisa ser desmembrada em uma definição mais conveniente, para caracterizar este tipo de literatura. Embora nem todos os estudiosos concordem quanto às características elementares básicas, as seguintes são pelo menos mais evidentes:

 

1) Escatológica — Toda literatura apocalíptica é escatológica, mas as duas coisas não são idênticas. São feitas, acertadamente, distinções entre as duas. A escatologia pode existir e frequentemente existe nos escritos básicos, separada das seções apocalípticas. A própria natureza contingen­te do pensamento escatológico faz com que a escatologia se preste à expressão apocalíptica (mitológica). Por outro lado, o apocalíptico é sempre escatológico, seja explícita ou implicitamente. A escatologia olha para um tempo futuro, quando Deus irromperá catastroficamente no mundo do tempo e do espaço, para julgar sua criação. Há uma distinção a ser feita entre profecia escatológica e o apocalíptico. Aquela predisse o futuro que deverá surgir do presente, ao passo que osapocaliptistas predisseram o futuro que deverá irromper no presente (H.H. Rowley, The Relevance ofApocalyptic — A Relevância do Apocalíptico — 1947, p. 38).

 

2) Significação Histórica — O apocalíptico mantém a tensão entre a história e o éschaton. O apocaliptistaescreve dentro de uma estrutura histórica para assegurar o leitor acerca da intervenção divina. Isto é caracteristicamente feito retraçando-se a história na forma de profecia, para falar às condições da época da escrita. Os elementos da situação histórica real são representados pelas imagens do livro. O conhecimento da situação histórica auxilia a interpretação da mensagem (Summers, op. cit.p. 30).

 

3) Uma Defesa Radical dos Justos — Uma das características mais óbvias do apocalíptico é vista na defesa radical do grupo perseguido, sempre identificado com os escolhidos de Deus, e com os quais sempre o escritor se identifica, como uma parte integrante. Surge a pergunta sobre por que o povo de Deus sofre, e a resposta é encontrada no dualismo, que é temporal e histórico. Há duas superpotências que se opõem, e ambas são sobrenaturais: Deus e Satanás. Com duas eras distintas, a presente está sob o controle das forças da impiedade, e, consequentemente, há um pessimismo acerca da presente situação histórica. É por esta razão que os justos sofrem. Existe pouco ou nenhum ensino moral e ético; estar no grupo escolhido é o bastante, pois o pior membro do grupo é muito melhor que a melhor pessoa que não é do grupo.

 

4) Pseudônimo — Com poucas exceções, os apocalipses são pseudônimos. Eles são escritos no nome de algum predecessor ilustre que profetiza acerca dos eventos da época do escritor real. A história passada torna-se reescrita, como profecia. Os eventos são bem facilmente determinados, até a época do escritor real, e então a profecia perde sua clareza, pois o escritor real considera-se como estando vivendo próximo ao fim do tempo. Várias razões são dadas para este uso de um nome de um ancião digno. É sugerido que o escritor, escrevendo em tempos difíceis, desejou esconder sua própria identidade e a do grupo perseguido (Kümmel, Introductionto the New Testament — Introdução ao Novo Testamento — p. 317). Outros propõem que um escritor tinha que escrever no nome de um homem preeminente do passado, a fim de obter audiência. Como a voz profética havia sido silenciada em Israel, a mensagem tinha que vir dos lábios de uma pessoa conhecida por uma leitura do Velho Testamen­to, pois o povo não iria aceitar um profeta novo de seu próprio tempo (R. H. Charles,Religious Development Bettween the Old and New Testament — Desenvolvimento Religioso Entre o Velho eo Novo Testamentos — p. 38-46). Seja qual for a razão, o escritor realmente não pretendia enganar; seus leitores sabiam que a escrita era recente.

 

5) Visões — O uso de visões como um meio de revelação é outra característica clara dos apocalipses. A visão altamente elaborada (esotérica) é o método principal usado para se receber a mensagem (I.T. Beckwith, TheApocalypse of John — O Apocalipse de João, p. 169). Embora os profetas do Velho Testamento tivessem visões, estas não passaram muito além de simples sonhos quanto à forma. Os apocaliptis­tas se moveram além de simples visão para experiências esotéricas altamente estruturadas e detalhadas. Geralmente um guia celestial está presente, para auxiliar no discernimento da mensagem das figuras totalmente fantásticas, vistas nessas visões. Frequentemente a interpreta­ção do livro inteiro depende da clarificação da visão por parte do guia (L. Morris, The Revelation of St. John — A Revelação de S. João — p. 24 e 25). A experiência esotérica é uma forma de simbolismo, figuras grotescas e imagens fantásticas (Summers, op. cit, p. 32 e 33).

 

6) Simbolismo — Provavelmente, a característica principal da litera­tura apocalíptica é o uso de símbolos para apresentar a mensagem escatológica. Através de séculos de desenvolvimento, um estoque comum de símbolos e figuras de discurso remarcáveis emergiram. Como pode alguém colocar em termos inteligíveis uma experiência espiritual? A in­terpretação de ideias, princípios e realidades espirituais é tornada fácil para aquele que sabe usar os símbolos. Para os não-iniciados, a mensa­gem permanece sendo um mistério. Desta forma, o escritor faz uso de símbolos para "revelar" a mensagem àqueles que estão familiarizados com o processo, e a mensagem é ocultada àqueles que não estão (G.B. Caird, The Revelation of St. John the Divine — O Apocalipse de S. João, o Divino — p. 6 e 7). Na linguagem do apocaliptista, os símbolos são muito significativos, pretendidos aserem um instrumento de uma carreira definida e importante de pensamento. Estes livros não foram escritos para amedrontar ou confundir o leitor; eles foram escritos para ajudá-lo a entender a obra de Deus em levar esta era a um fim.

 

Entre as numerosas figuras simbólicas, aparece o uso de números. Desde os tempos mais remotos, os homens associaram ideias com números, e vagarosamente desenvolveu-se a ciência de numerologia, denominadagematria. Os números eram usados para expressar conceitos, ideias e princípios (CF. Wishart, The Book ofthe Day — O Livro do Dia — p. 19-30). Os seguintes são de importância para nós, porque ocorrem no Apocalipse ou são básicos para a compreensão daqueles que ocorrem.

 

O número "1" veio a ser associado com o princípio de unidade ou de existência independente. Ele forma a raiz para a palavra "unidade". Desta forma, Israel foi exortado a dizer: "O Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6:4).

 

O número "2" é a duplicação de "1" e representa força. No Velho Testamento, duas testemunhas eram necessárias para confirmar qualquer fato. Jesus enviava seus discípulos de "dois em dois", por razões óbvias. O número aparece no Apocalipse em referência às "duas testemunhas" (11:3-12) e às duas "bestas" (13:1-18).

 

Sugestivo do círculo familiar completo é o número "3". A família representava a unidade social ideal sobre a terra: amor de pai, amor de mãe e amor filial. Isto assumiu o conceito do amor divino e finalmente de Deus mesmo, e isto se transportou à ideia da Trindade. Portanto, em gematria o número "3" simboliza o divino.

 

O universo físico era simbolizado pelo número "4". Havia quatro ventos, quatro direções, quatro cantos ou lados do mundo. "4" era o número cósmico. No Apocalipse, há as "quatro criaturas viventes, os "quatro cavalos e cavaleiros", e "quatro anjos junto ao rio Eufrates". Os homens viviam, trabalhavam e morriam num mundo simbolizado pelo número "4".

 

O número "5" é o número do próprio homem. Em cada mão estão cinco dedos, e em cada pé, cinco dedos. Quando o número é dobrado para "10", este simboliza a inteireza humana. Um homem perfeito tinha dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés; daí, sendo um homem perfeito. Dez manda­mentos foram dados como o dever total do homem para que ele fosse perfeito em sua sociedade. O Apocalipse fala de "dez chifres" (poder humano completo) e "dez dias" (tempo humano completo). Os múltiplos de dez também foram usados para mostrar inteireza: 10x10x10 * 1.000 (inteireza última); 12 x 12 x 10 x 10 x 10 * 144.000 (o número completo do povo de Deus sobre a terra).

 

Para os povos antigos, "6" era o número do mal, porque estava aquém de "7", o número sagrado da perfeição. Uma das palavras hebraicas básicas para "pecar" significa "errar o alvo". Isto é o que o número "6" significa. Ele simboliza o mal, porque, como o pecado, erra o alvo da perfeição. O próprio número, em sua pronúncia, tem o chiado da serpente.

 

Na gematria que se desenvolvia, o número divino "3" e o número cósmico "4" eram unidos para dar "7", o número sagrado da perfeição. Isto era a terra coroada com o céu; o universo físico e o espiritual unidos. O número "7" é muito usado no Apocalipse: sete espíritos, sete igrejas, sete candelabros, sete estrelas, sete selos, etc. "7" multiplicado pelo número completo "10" produz "70". Jesus enviou setenta homens preparados para uma obra especial. As Escrituras hebraicas foram traduzidas para o grego e denominadas a Septuaginta (70).

 

Outro número usado no apocalíptico é o "12". Isto é, 3 x 4, e tornou-se o símbolo para o povo de Deus: a religião organizada. Será lembrado que havia doze tribos em Israel, e Jesus escolheu doze apóstolos. O número duplicado é "24" e no Apocalipse há "24" anciãos ao redor do trono, representando o povo de Deus dos dias do Velho Testamento e os do movimento cristão. 12 x 12 x 10 x 10 * 144.000, o número completo, simbolizando a segurança perfeita do povo de Deus sobre a terra.

 

Um outro número aparece no Apocalipse, um meio-número: "3 1/2". Isto é a metade de "7" e significa um período de tempo curto e indefinido. No Apocalipse, este aparece com "3 1/2 anos", "42 meses" e "1.260 dias". Representa instabilidade, confusão, insatisfação por um período de tempo indefinido.

 

7) Dramático — A literatura apocalíptica possui o sentido de um drama iminente, a atmosfera do dramático. Ela é dirigida à imaginação com sua vividez e, por vezes, figuras grotescas. Frequentemente, os símbolos são empregados para o efeito dramático, para enfatizar a seriedade da mensagem. Quando o leitor entende que o escritor está dirigindo sua mensagem à imitação, encontra o significado de uma figura na perspectiva do livro inteiro. Neste sentido, o detalhe diminuto não é importante; de fato, ele pode ser prejudicial à descoberta da mensagem real que o escritor deseja transmitir ao leitor.

 

O APOCALIPSE E A LITERATURA APOCALÍPTICA

 

Após discutir a natureza desta classe de literatura, deve ser determinado se o último livro do Novo Testamento deve ser considerado apoca­líptico. Ao primeiro pensamento, isto pode parecer ilógico, porque o gênero inteiro da literatura deve seu nome à primeira palavra de nosso Apocalipse canônico. Também, na primeira definição dada acima, foi afirmado que esta classe não é "diferente de nosso Apocalipse". No mínimo, a definição é que aforma (mito judaico ou gentio), o conteúdo (escatologia) e a função (propósito) constituem a literatura apocalíptica. Assim sendo, o último livro de nossa Bíblia é apocalíptico por definição.

 

Numa leitura do Apocalipse, pode-se encontrar várias características desta literatura mencionadas acima. Há um uso extensivo dos símbolos, e as visões e a gematria desempenham uma parte importante como veículos para a mensagem. A escatologia certamente é preponderante no que diz respeito ao conteúdo, e o propósito básico foi o de encorajar o leitor cristão à fidelidade durante um período difícil na história do cristianismo. João fez grande uso da forma (símbolos) e da função (propósito) para apresentar sua mensagem escatológica (conteúdo). O que não é tão evidente, todavia, são as dessemelhanças entre o Apocalipse e todos os outros livros deste gênero. João se libertou, de muitas maneiras, do esquema normal do apocalíptico, e estas diferenças são importantes o bastante para separar este livro de todos os outros desta classe, tanto que G.E. Ladd levantou uma pergunta como título para um importante artigo: "Por Que Não Profético-apocalíptico? (Journal of BíblicalLiterature, LXXVI, 1957, p. 192-200). As seguintes são algumas das principais diferenças entre o Apocalipse e outros escritos deste gênero:

 

1) O Apocalipse Não É Pseudônimo — Embora nem todos os estudio­sos concordem quanto à identidade do autor, há quase que acordo universal de que "João", quem quer que ele fosse, foi uma pessoa real, que escreveu sob seu próprio nome (1:4,9; 22:8). Ele não escreve no nome de uma figura proeminente do passado. Ele escreve com a convicção de que Deus lhe deu uma mensagem pastoral às igrejas para as quais ele foi feito supervisor. A estrutura epistolar não é a forma apocalíptica tradicional, e é evidente que este livro foi feito para ser lido em voz alta nas igrejas às quais ele é endereçado (1:3,4; 22:16,18). R.H. Charles concluiu que as razões para a pseudonímia já não mais eram válidas quando o Apocalipse foi escrito (A Critical and ExegeticalCommentary on the Revelation of St. John — Um Comentário Crítico e Exegético Sobre o Apocalipse de S. João — I, pp. xxxviii-xxxix). João escreveu a cristãos que o conheciam, e ele usou seu próprio nome, ao escrever.

 

2) O Apocalipse É Profético — Uma das características do apocalíptico é uma defesa radical das pessoas com que o autor se identifica. Isto não é inteiramente verdadeiro no que diz respeito ao Apocalipse. O autor realmente se identifica com o grupo perseguido, mas não dá somenos importância aos pecados dessas pessoas. Há uma repetida chamada à confissão e ao arrependimento e ao viver moral e ético (2:5,16,21,22; 3:3, 19; 18:4; 20:12,13; etc). Por esta razão, o escritor está mais em linha com os profetas do Velho Testamento do que com osapocaliptistas do judaísmo. Ao passo que os apocalipses judaicos tinham uma visão muito pessimista dessa era, os profetas do Velho Testamento e João interpretam a situação presente como estando sob o controle de Deus, que está continuamente revelando-se, para efetuar a salvação de sua criação. A vantagem que João desfrutou sobre os profetas do Velho Testamento é a Encarnação histórica (Kümmel, op. cit., p. 321-324). A situação da qual João escreve não é como os apocaliptistas proclamam, um prelúdio para uma intervenção escatológica, mas deve ser interpretada à luz dos dois adventos do Cordeiro, pelos quais e nos quais todas as forças da impiedade que se opõem à justiça serão destruídas (Mounce, The Book of Revelation — O Livro de Apocalipse — p. 24). O autor do Apocalipse chama sua obra uma profecia (1:3; 10:11; 19:10; 22:7, 10, 18,19). A his­tória não é retraçada na forma de profecia; antes, João fala de sua própria época, olhando para o futuro, quando a difícil perseguição que a Igreja enfrenta será destruída (cf. Caird, op. cit., p. 9-12).

 

3) A Interpretação das Visões — Há uma notável diferença no uso de visões pelo escritor de nosso Apocalipse, em comparação com outros apocalípticos. O método usual é o escritor ter um guia celestial para interpretar cada visão e símbolo para o vidente. No Apocalipse isto é raramente feito (uma exceção observável é 17:7-18). Geralmente João apresenta apenas a visão ou símbolos e deixa o leitor fazer a interpretação. Há uma abertura acerca da verdade escatológica, no Apocalipse, que é reanimadora em sua novidade, a qual, no apocalíptico comum, é apenas conhecimento esotérico secretamente preservado desde os tempos antigos. Para o leitor do Apocalipse, a história atual é escatologicamente interpre­tada para encorajar o cristão em sua difícil situação (Ladd, A Commentary on the Revelation of John — Um Comentário Sobre o Apocalipse de João — p. 13).

 

Estas são apenas três das diferenças aparentes entre o Apocalipse de nossa Bíblia e outros escritos apocalípticos. Há outras diferenças, que alguns estudiosos proporiam (cf. Morris, op. cit., p. 22-25; McDowell, OApocalypse, p. 22-26). Alguns diriam que essas diferenças são bastantes para classificar o Apocalipse como um livro de profecia e excluí-lo do gênero do apocalíptico. Sem dúvida, o Apocalipse, por definição, pertence a esta classe. Contudo, igualmente importante são as diferenças entre este livro e todos os outros desta classe. Talvez o termo proposto por Ladd, "profético-apocalíptico", seria mais apropriado para o último livro de nossa Bíblia. João usou muito do aparato tradicional do apocalíptico para apresentar uma mensagem profética. Ele foi criativo o bastante para usar algumas das formas de apocalíptico para transmitir uma mensagem dramática de teologia distintiva. Ele era um verdadeiro profeta cristão, usando termos apocalípticos para oferecer a mensagem da "revelação de Jesus Cristo" (1:1).

 

Bibliografia Broadus David Hale