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coliseu de Roma o primeiro martir
coliseu de Roma o primeiro martir

O Primeiro Mártir do Coliseu

 

"O sangue dos mártires é a semente dos cristãos." — Tertuliano 

As ruínas da cidade incendiada ainda fumegavam nos montes Palatino e Esquilino, quando Nero concebeu a ideia de satisfazer a raiva do povo com o sangue dos cristãos. Esse monstro, cujo nome é associado a tudo o que é cruel e impiedoso, foi o primeiro imperador romano a decretar a perseguição aos inofensivos servos de Deus. O édito foi emitido; o clamor, em toda parte, era o extermínio do cristianismo. Todo o mundo pagão armou-se contra ele. Mal fora promulgado o terrível decreto, e as pessoas, como que possuídas por demônios, lançaram-se em fúria desu­mana contra os inocentes e indefesos seguidores do Crucificado. A frené­tica resolução de desarraigar o cristianismo começou em Roma e difun­diu-se através de cada província e cidade do Império. Membros da mes­ma comunidade, e até da mesma família, converterem-se em delatores e executores uns dos outros. Nestas páginas acham-se registradas duas ou três ocasiões em que pais tentaram em vão, com todo tipo de tortura e castigo, abalar a lealdade de seus tenros e inocentes filhos. Em cada cidade e aldeia, foi concedida licença irrestrita aos magistrados para pilhar, aprisionar, torturar e destruir os cristãos; e esses oficiais subordi­nados, por sua vez, delegavam poder aos lacaios mais cruéis a seu serviço. O mesmo aconteceu, em época recente, na China e no Japão.

 "Foi proclamado, além disso", afirma um mártir citado por Eusébio, "que ninguém deve experimentar qualquer cuidado ou pena por nós, mas que todos devem pensar e comportar-se em relação a nós como se não mais fôssemos gente".

 Esses horrores não cessaram com os tiranos que lhes deram início. Por trezentos anos, os poderes do Inferno continuaram a sua guerra contra a Igreja, com maior ou menor fúria levantando e caindo, como as ondas do oceano; num momento, desabando com o estrondo e a espuma dos vagalhões na tempestade, e no outro, calmo e tranquilo como um lago.

 Os escritos de Basílio sobre a perseguição de Deoclécio dão uma ideia geral do que foram as crueldades e os horrores daqueles dias.

 "As casas dos cristãos eram deixadas em ruínas; seus bens, pilhados. Seus corpos caiam nas mãos dos ferozes lictores, que os dilaceravam como bestas selvagens, e arrastavam as matronas pelos cabelos através das ruas, insensíveis às súplicas por clemência,viessem elas dos idosos ou daqueles em tenra idade. Os inocentes eram submetidos a tormentos reserva­dos apenas aos mais vis criminosos; os calabouços eram lotados com os habitantes dos lares cristãos, que agora jaziam desolados; os desertos sem caminhos e as cavernas das florestas enchiam-se de fugitivos, cujo único crime fora a adoração a Jesus Cristo. Nesses dias trevosos, filhos traíam os pais, e pais acusavam a própria prole; os servos obtinham a propriedade de seus senhores por denunciá-los, e um irmão buscava o sangue do outro. Nenhuma reivindica­ção ou vínculo de humanidade parecia ser reconhecido, tão completa era a cegueira que a todos acometera, como se fora uma possessão demoníaca. Além disso, as casas de oração eram profanadas por mãos ímpias; os altares mais sagrados, derrubados. Nenhuma oblação a Deus era feita; nenhum lugar foi deixado para os mistérios divinos; era só tribulação, uma escuridão lutuosa calava todo consolo; o colégio sacerdotal foi disperso; nenhum sínodo ou concilio pôde reunir-se, por medo da matança que assolava em toda parte; mas os demônios celebravam suas orgias e poluíam tudo com a fumaça e o sangue de suas vítimas".

 As catacumbas são o último memorial dessa época terrível; aquelas cavernas lúgubres e as escuras passagens nas entranhas da terra são o mais precioso registro da Igreja; suas lajes toscas, com a palma e a coroa, falam de aproximadamente um milhão de mártires.

 O Coliseu é outro testemunho dos triunfes do passado. Ele surgiu em meio aos horrores da perseguição, e tornou-se o campo de batalha onde a inocência e a fragilidade lutavam com a tirania e a criminalidade. O sangue, os milagres, e as vitórias da Igreja Primitiva lançaram uma reminiscência sagrada à volta dessas veneráveis ruínas, que nos faz aproximar com uma espécie de temor religioso. Supõe-se que milhares de mártires verteram seu sangue em suas arenas, embora os registros exatos não tenham chegado até nós. Dentre esses mártires, havia pessoas de ambos os sexos, e de diversas posições sociais: eram príncipes de sangue real, bispos,matronas de idade avançada, donzelas no rubor da juventude e da inocência, e crianças de tenra idade. A sua coragem e brandura, o seu triunfo sobre a dor e a morte, foram eloquência que plantou aquela cruz, que agora projeta a sua sombra na desolada arena. Os atos dos heróis do Coliseu preenchem as páginas mais interessantes e maravilhosas da história da Igreja Primitiva. São belos, eloquentes, tocantes, e estabelecem um notável contraste entre a força, a sublimidade e a magnificência do cristianismo, e a fraqueza, a vileza e a estupidez da infidelidade; são evidências incontestáveis da natureza divina da Igreja de Deus.

 Mas quem foi o primeiro mártir do Coliseu? A resposta a esta indagação envolve a resposta de outra igualmente importante. Quem projetou e construiu essa estupenda obra-prima da arquitetura? Que grande mente concebeu esta estrutura gigantesca, dispôs as suas proporções tão primorosa ordem e simetria, edificou arco sobre arco e bancada sobre bancada, cortou lavrou uma montanha de calcário, na mais sublime obra da arte antiga? O que é dito do esplêndido anfiteatro não redunda em louvor de algum grande homem, cujo talento e habilidade superiores deram nascimento à construção? Quem é ele, para que lhe levantemos a efígie no altar dos gênios, e lhe ofereçamos o incenso da adulação e do elogio?

 O arquiteto do Coliseu não carece do ouropel do louvor humano; contudo, deixe os amantes da arte sussurrar-lhe o nome com reverência, porque ele foi um cristão e um mártir. É um fato estranho que, por aproximadamente dezessete séculos, o arquiteto do Coliseu permanecesse desconhecido. Certamente uma construção de tamanha magnitude, contendo tantos detalhes e medidas, deve ter sido obra de uma mente superior. Todo edifício de renome reflete honras ao seu arquiteto; a fama dos grandes construtores do passado ainda brilha nas páginas da história, embora as estupendas obras de sua genialidade já hajam desaparecido.

 Marangoni, um erudito historiador do século passado, escrevendo na Cidade Eterna, e à sombra do próprio Coliseu, fez esta bela observação: "É algo digno de reflexão que, não obstante a magnificência desta obra, tão excelente em sua arquitetura, tão admirável em sua construção, a até mesmo considerada por Marcial a mais maravilhosa de todas as maravilhas do mundo, nem ele, nem qualquer outro escritor das eras seguintes, tenham mencionado o seu grande arquiteto".

 Marcial, como todos o sabem, foi um poeta romano que se distinguiu nos reinados de Vespasiano, Tito, e Domiciano. Ele exalta com pomposos elogios a memória de Rabírio, por sua habilidade em construir uni grande anexo ao palácio dos césares, durante o reinado dedomiciano. Afirma em seus escritos que este arquiteto ergueu um palácio que alcançava o firmamento e refletia a glória das estrelas; que o seu gênio penetrara os céus distantes, e copiara das fortificações celestes a magnificência e a majestade de seu projeto. "Com muito mais razão", prossegue Marangoni, "não deveria ele imortalizar o nome e a memória do grande arquiteto do Coliseu - uma construção muito superior ao palácio da Palestina, e edificado por um homem tão celebrado quanto conhecido do próprio Marcial?"

 Marcial não fez simplesmente uma alusão casual e passageira ao Coliseu; ele constituiu-se o seu panegirista. Os seus melhores poemas foram escritos sobre os horrores do anfiteatro; contudo, enquanto exalta com bombásticos louvores os méritos de um arquiteto inferior, por haver acrescentado uma nova ala à casa áurea, deixa passar em silêncio o nome que deveria ser escrito em letras de ouro em sua estrofe sobre o Coliseu. O silêncio de Marcial e dos escritores contemporâneos não é um enigma da história?

 Dezessete séculos se passaram sobre os muros imperecíveis deste estupendo monumento da antiguidade; turistas e estrangeiros afluíram de todos os pontos da bússola para fitar com admiração as ruínas, que imortalizaram em seus escombros um arquiteto desconhecido. Em vão, os amantes da grandeza passada leram histórias e registros antigos, à procura do nome deste homem. Debruçaram-se atentamente sobre as inscrições apagadas e as lajes de mármore rachadas, que ainda se agarram às velhas paredes, esperando achar ao menos um efêmero elogio ao construtor. Porém o esquecimento eterno ter-lhe-ia amortalhado o nome, não fosse uma descoberta acidental trazê-lo à luz.

 Durante escavações feitas na catacumba de São Agnes, na estrada de Nomentan, uma rude tumba foi descoberta. Estava fechada por uma lápide de mármore ostentando a figura da palma e da coroa, e junto a ela, um frasco de sangue, o inconfundível testemunho do martírio. A tosca inscrição declarava: GAUDÊNCIO, o arquiteto do Coliseu.

 Eis aqui a explicação para o estranho silêncio de Marcial e dos historiadores pagãos contemporâneos seus. Gaudêncio era um cristão e um mártir; pertencia a seita odiada e perseguida por todo o poder do Império. Provavelmente, foi uma das primeiras vítimas a ter o sangue derramado na areia do anfiteatro.

 O imperador romano pensava não apenas aniquilar o cristianismo, mas obliterá-lo da memória humana. Nenhum ato público era permitido em favor dos cristãos; abrigá-los, elogiá-los, ou imaginar que fossem capazes de qualquer coisa grande e nobre, era traição. O poeta bajulador, que buscava somente os sorrisos de César, conhecia o tema que o agradaria; não arriscaria a vida expressando simpatia pelos perseguidos seguidores da cruz. Assim, Gaudêncio partiu sem um monumento. Os tímidos amigos deitaram os seus restos na tumba de um mártir, nas escuras criptas das catacumbas, e na débil esperança de que um dia a posteridade reconhecesse-lhe o gênio e o talento, rabiscaram rudemente, sobre a laje de mármore que o cobria, que ele fora o arquiteto do Coliseu.

 Não surpreende que os restos mortais de Gaudêncio, bem como o de centenas de outros nobres mártires, fossem depositados silenciosamente, e aparentemente sem honras, nas me­lancólicas galerias das catacumbas. Numa época em que tudo era horror e confusão, quando os trêmulos sobreviventes mal podiam, em segredo e na escuridão da noite, reunir os restos de seus amigos martirizados, não havia oportunidade para registrar lhes os triunfes e homena­gens em epitáfios estudados, ou monumentos imperecíveis.

 Há milhares de santos brilhando no resplandecente grupo vestido de branco, e que "seguem o Cordeiro por onde quer que vá", desconhecidos da Igreja militante, a não ser pelo nome. Contudo, encontramos nos registros das catacumbas alguns versos curtos, porem tocantes, homenageando alguns mártires em particular; talvez a rude composição de algum amigo sobrevivente, lavrada na pedra dura por uma mão delicada, à baça luz de uma lâmpada a óleo. Tais eram os versos na tumba de Gaudêncio:

 Sic premia servas Vespasiane Dire

Premiatvs es morte gaudenti letare

Civitas vbi glorie tve avtori

 

Promisit iste dat kristvs imnia tibi

Qui alivm paravit theatrv in celo 

Eis aqui um panegírico em poucas palavras, porém simples e sublime. Ele declara que nosso herói foi vítima de grosseira ingratidão, e embora o seu gênio tenha contribuído para a glória da cidade, a sua recompensa foi a morte cruel. O cristão que entalhou este epitáfio parecia consolar-se com a glória e apreciação dada ao amigo no outro mundo. "César prometeu três grandes recompensas", parece dizer ele, "Mas o pagão foi falso e ingrato. Aquele, que é o grande Arquiteto do céu, e cujas promessas não falham, preparou para ti, em recompensa à tua virtude, um lugar no teatro eterno da cidade celestial".

 À primeira vista, estes versos não parecem possuir toda a importância que lhes atribuí­mos mas um momento de reflexão provará que são um dos mais cândidos registros do passado. Não havia outro teatro construído no tempo de Vespasiano, a não ser o Coliseu; ele eraa glória da cidade, e ainda o é em suas ruínas. Vespasiano não perseguiu os cristãos, mas houve mártires em seu reinado. As leis de Nero não tinham sido revogadas, e ainda eram executadas, com maior ou menor violência, em diferentes partes do Império. Lemos a respeito de Apolinário, bispo de Ravena, no martirológio romano de 23 de julho: "quisub Vespasiano Caesaregloriosum martyriumconsummavif. Eusébio, em sua Histó­ria da Igreja (livro III, cap. 15), assim como Barônio (ano 74), asseveram que Vespasiano levantou uma terrível perseguição contra os judeus; mandou matar todos os que se diziam descendentes de Davi. Para os gentios daquele tempo, cristãos e judeus eram a mesma coisa. Dion Cássio afirma que Domiciano mandou matar aqueles "qui in mores Judeorumtransierant" (livro -T). isto e, aqueles que se tornaram cristãos. Líderes superficiais são inclinados a duvidar da inferência deste epitáfio. Mil questões podem ser feitas, e muitas objeções levantadas, mas sem entrar num tedioso, e talvez desinteressante exame da questão, será suficiente declarar que é a opinião aceita de todos os antiquários modernos, que este epitáfio só pode se referir ao arquiteto do Coliseu. Dentre os autores que defendem esta opinião, sem duvidar, estão Arringhi, Nibe, Rossi, Marangoni e Gerbet.

 A laje que contém esta inscrição pode ser vista atualmente na igreja subterrânea de Santa Martina, no Fórum. Martina foi uma das virgens expostas às bestas selvagens do Coliseu. A capela subterrânea é uma joia da arquitetura, e o último monumento da genialidade e da munificência de Pietro da Cortona, que a projetou e construiu. É ricamente ornamentada, e possui muitas peças de belo e excelente mármore. Entre os ornamentos que lhe adornam as paredes não há um tão interessante quanto a rude lápide de Gaudêncio.

 Nada se sabe de sua vida ou do modo como morreu; a sua história, o seu martírio, e o seu panegírico acham-se contidos neste breve e obscuro epitáfio. A Igreja blasonou em seus registros, com letras brilhantes, os nomes desses heróis cujos talentos ou triunfos foram aglória daqueles tempos primitivos; dentre eles, pode-se reconhecer o arquiteto da maior obra da antiguidade, o cristão e mártir Gaudêncio.

 

Bibliografia A. J. O'Reilly

FONTE www.estudarhistoriadaigreja.blogspot.com.br

 

 

 

 

Estêvão, o Primeiro Mártir At 6; 7; 8.1,2

 

 

 

A igreja, mesmo perseguida pelas autoridades, crescia cada vez mais rapidamente. No entanto, o crescimento trou­xe um problema com possibilidade de sérias consequências. A igreja cuidava dos seus pobres, especialmente das viúvas. Uma viúva naqueles dias não tinha as oportunida­des de emprego e sustento oferecidas pela sociedade moderna. Com a falta de organização, as viúvas do grupo de língua grega foram negligenciadas pelos judeus, de língua hebraica, que eram a maioria. Humanamente falando, ha­via ali uma base para um futuro rompimento entre os gru­pos. 

 

Os apóstolos perceberam a dificuldade e reuniram a comunidade. Explicaram que os deveres espirituais não lhes deixavam tempo para o cuidado material da igreja. Acon­selharam, portanto, a escolha de sete homens qualificados para cuidar desse aspecto como vimos na lição anterior 06. Foram estes os primeiros diáconos. Todos "cheios do Espírito Santo e de sabedoria" e dois deles, Filipe e Estêvão, com um ministério muito especial.

 

 

 

O Ministério de Estêvão (At 6.8-15) 

 

1. Seu espírito e caráter"E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo". Há uma ideia disseminada de que os milagres foram con­finados aos primeiros apóstolos. O ministério diaconal de Estêvão, no entanto, refuta esta teoria. O sucesso dos apóstolos é a melhor prova de continuidade da obra apostólica.

 

 2. Seus adversáriosO testemunho corajoso de Estêvão irou os membros das sinagogas. Quando esgotaram seus argumentos bíblicos, apelaram à violência, aliando-se com falsas testemunhas. E confiaram o resultado desejado à violência de uma turba.

 

 3. Sua mensagemEntendemos a pregação de Estêvão estudando as falsas acusações contra ele. A pior calúnia sempre tem como ponto de partida uma verdade mal inter­pretada: "Proferir palavras blasfemas contra este santo lu­gar..." Estêvão declarou que nenhum prédio é essencial à verdade divina. E repetiu a profecia de Jesus sobre a destruição do Templo. A mudança dos "costumes que Moisés nos deu". Em outras palavras, Estêvão pregou que a Anti­ga Aliança, com suas instituições, foi cumprida em Jesus. "Palavras blasfemas contra Moisés" ־ ou seja, pregou ser Moisés inferior a Jesus - "... e contra Deus" - ensinou a divindade de Cristo.

 

 4. Sua espiritualidadeEstêvão era acusado de ser blasfemador. Os acusadores, as falsas testemunhas e juízes, no entanto, "viram o seu rosto como o rosto de um anjo". Não parecia um inimigo da religião. Isto deve ter dado o que pensar aos judeus, principalmente ao jovem Saulo de Tarso.

 

 

 

O Processo de Estêvão (At 7.1-53) 

 

O discurso de Estêvão (cap. 7) é o mais longo registrado no Novo Testamento. Isto ressalta o ministério dele como ponto de partida crítico no progresso do Reino de Deus. Como veremos adiante, Estêvão se tornou o fator principal para a abertura da Igreja aos gentios, culminando na conversão de Saulo. A crise se desenvolveu da seguinte maneira:

 

 A primeira igreja foi composta quase exclusivamente por judeus. Eles não se separaram imediatamente da Lei de Moisés e suas tradições nacionais. Havia o perigo dos cristãos judaicos, em Jerusalém, se apegarem demasiadamente à Antiga Aliança. Assim, seriam impedidos de cumprir a missão às nações. Por muitos anos, de fato, a pregação do Evangelho limitou-se aos judeus. Uma visão celestial, então, deu a Pedro o impulso necessário para levar o Evangelho aos gentios (At 10). Apesar disso, alguns cristãos judeus exigiam que os gentios se fizessem judeus para se tornarem cristãos (At 15.1,2).

 

 A Igreja, no entanto, não ficou à mercê da inércia e tradição humanas. O Cabeça da Igreja tomou as medidas necessárias. Livrou seu povo do judaísmo e da influência de uma aliança ultrapassada. O método empregado foi a perseguição despertada pelo ministério de Estêvão. Este jovem diácono e pregador discerniu o sentido mais profundo e amplo do Evangelho. Corajosamente, pregou a completa falência da Antiga Aliança por meio do ministério de Jesus. Falou sobre a destruição do Templo como um sinal para Israel. Deus o rejeitava como seu povo, ficando os seguidores de Cristo no seu lugar. Tudo isto se pode prever em At 6.13,14. Estêvão, no seu discurso, falou claramente aos líderes judeus que os israelitas nunca entenderam os planos de Deus. E sempre perseguiram os líderes espirituais enviados por Deus. E ainda mais, disse ser o Templo dispensável, porquanto Deus se revelara a pessoas em todo e qualquer lugar. Moisés mesmo tinha predito o surgimento de um profeta semelhante a ele, o que implicaria em uma nova aliança. Concluiu com uma vibrante denúncia, enchen­do de fúria os líderes, causando seu próprio martírio e dando início a uma campanha de extermínio contra o Cristianis­mo.

 

 O ministério de Estêvão libertou a Igreja do seu ancoradouro judeu, de maneira eficaz e completa!

 

 

 

O Martírio de Estêvão (At 7.54-60) 

 

"E ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele". Estêvão viu chegar o seu fim. O discurso, ao invés de levar seus juízes ao arrepen­dimento, encheu-os de fúria. Mas, ainda que seu corpo estivesse à disposição dos seus inimigos, sua alma era inviolável (ver Mt 10.28). Observe os quatro indícios do seu fim triunfante:

 

 1. Inspiração do EspíritoEstêvão não tinha medo, apesar de os juízes estarem enfurecidos. Seu poder no mi­nistério se deu pelo fato de ser ele "cheio do Espírito San­to" (At 6.5,8), e assim foi até o fim: "Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu..." Aos juízes, declarara: "Vós sempre resistis ao Espírito Santo..." (7.51), e seus rostos demonstravam isto (v. 54). Estêvão, cheio do Espírito, tinha no rosto a glória de seu íntimo (6.15). Quem parecia mais com um blasfemador: os juízes ou o acusado?

 

 2. A visão de Cristo (vv. 55,56). Estêvão recebeu uma "anestesia" celestial que tirou o aguilhão da morte: os Céus foram abertos e Estêvão viu o Filho do homem, em pé, à destra de Deus. Jesus se levantou como para olhar de perto a situação do seu servo. E, para ajudá-lo, exercendo o mi­nistério de consolação. Ele conhece nossas fraquezas e quer nos consolar. É de se notar que o primeiro mártir, ainda na terra, teve licença de ver o Cordeiro de Deus no Céu. Pa­recia mostrar a fonte de onde todo mártir, que haveria de morrer pelo Mestre, tiraria sua força e constância na hora do sofrimento.

 

 Fortalecido pelo Espírito e pela visão celestial, Estêvão enfrentaria a morte violenta com fé em Deus e amor para com os seus inimigos.

 

 3. A oração de dedicação"E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espí­rito". Ao morrer, Estêvão imitou seu Senhor pela última Vez (cf. Lc 23.46). Houve, porém, diferença na oração: Cristo orou diretamente ao Pai. Estêvão orou a Jesus (ver I Tm 2.5). Cristo disse: "entrego", porque voluntariamente deu sua vida a seu Pai (Jo 10.17,18). Estêvão falou: "rece­be", sabendo que o Senhor tem as chaves da morte. Ele, como servo, estava pedindo sua soltura desta vida. Estêvão morreu como deve ser com todos os crentes: tendo uma oração nos seus lábios.

 

 4. A oração de intercessãoSeguindo ao Mestre na morte, assim como na vida, Estêvão, "pondo-se de joelhos, clamou com grande voz:Senhor, não lhes imputes este pecado" (cf. Lc 23.34). Sua morte foi acompanhada pelo amor que perdoa. Cristo acrescentou: "... porque não sabem o que fazem". Estêvão nada pôde falar quanto ao grau de culpa dos seus perseguidores. Só Cristo tem o poder de determinar sobre isso. Mas Cristo, com certeza, exige de seus seguidores o mesmo espírito de amor e perdão. Ele é nosso exemplo supremo.

 

 Como milhares de crentes, o último suspiro de Estêvão foi dedicado a uma oração por seus assassinos. Este tipo de perdão por parte dos crentes é comum. Naquela época, contudo, era uma novidade completa e deve ter impressionado profundamente todos os presentes.

 

 5. O sono da morte"E, tendo dito isto, adormeceu". Apesar do barulho da turba e das pedras que lhe rasgavam as carnes, adormeceu na paz de Deus para o repouso celestial. Os perseguidores podiam fazer o que quisessem com o cadáver. Estêvão já havia entrado no seu descanso. Sobre a morte do crente descrita como sono, ver 1 Coríntios 15.

 

 "E uns varões piedosos foram enterrar Estêvão, e fize­ram sobre ele grande pranto". Os piedosos talvez fossem judeus devotos, reconhecendo o apedrejamento como um erro trágico de seus líderes (cf. Lc 23.47,48).

 

 Alguns podem ter pensado que Estêvão se excedeu em seu zelo. O martírio, porém, deu o seu fruto. Os crentes, expulsos de Jerusalém pela perseguição, foram pregando pelo caminho até Antioquia. Aqui estabeleceram uma grande igreja entre os gentios. Além disto, o testemunho de Estê­vão deve ter falado profundamente ao coração de Paulo, que por sua vez foi apedrejado várias vezes pelos judeus. Naquela ocasião, talvez, nem Paulo nem Estêvão pudes­sem ter imaginado qual era o plano de Deus.

 

 

 

Ensinamentos Práticos 

 

1. O perigo do sucessoPara todos os servos fiéis de Deus, a partir de Abel, o sucesso espiritual tem produzido ciúmes e oposição por parte dos menos zelosos. E, nos ímpios, fúria e perseguição. A grande questão não é ter uma vida pacata, sem oposição. É sim, fazer a vontade de Deus e garantir o progresso da causa de Cristo.

 

 2. A violência é um argumento fracoUm viajante, na China, certa vez viu dois trabalhadores chineses em calo­rosa discussão. Finalmente, perguntou a um amigo chinês: "Como podem discutir com tanta veemência sem chegar a bater um no outro?" "E porque sabem que o primeiro a bater estará confessando que já lhe esgotaram as ideias", respondeu o sábio oriental.

 

 Quando os oponentes de Estêvão não tinham mais ideias, pegaram em pedras. Qual é nossa atitude quando per­demos os argumentos? Como crentes, decerto não pratica­mos nenhuma violência. Mesmo assim, devemos examinar nosso coração para termos certeza de que nenhum ressen­timento ficou ali. Perder a calma num debate pode ser cla­ro sinal de não se ter razão. Quem sabe que está com a razão pode conversar com paciência e calma.

 

 3. Uma vida virtuosa é um poderoso testemunhoAs falsas testemunhas derramavam acusações diante do Con­cilio. Enquanto faziam citações torcidas e reinterpretadas a Estêvão, ele manteve a calma. Deixou seu rosto mostrar a falsidade dos que queriam acusá-lo de blasfemador. Só falou quando lhe mandaram (7.1). A melhor maneira de respon­der aos caluniadores é viver de tal modo que ninguém dê Crédito à calúnia.

 

 4. A fúria dos formalistasEstêvão não morreu por negar os eternos fundamentos da religião. Ele foi vítima da ira de seus inimigos por declarar que as cerimônias temporárias da Lei acabariam. Sempre houve eclesiásticos dando mais valor à organização externa do que à presença do Espírito Santo. Há denominações em que se pode negar todas as verdades fundamentais do Cristianismo, e ainda ficar até no pastorado. Mas, qualquer menosprezo às formalidades da "ordem do culto" basta para a excomunhão. No entanto: Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade".

 

 5. A consciência ferida ferirá a outrosOs juízes devem ter gostado de ouvir a história de Israel mais uma vez. Assim Como Davi gostou da história que Natã contou sobre a Ovelha. Somente quando a história serviu para apontar a infidelidade dos ouvintes é que tudo se transformou. E foi este mesmo o propósito de Estêvão. Primeiro ganhou a atenção dos ouvintes com verdades bíblicas que facilmente aceitariam ־ até que pudesse demonstrar que eles tinham caído em gravíssimo erro. Sabia que, sem convicção do pecado, não poderia haver conversão.

 

 A convicção nem sempre resulta em conversão. Quan­do a consciência é ferida, surge uma chama. Esta queimará no íntimo, produzindo vergonha, penitência e arrependi­mento; ou externamente, exibindo-se na forma de ira e perseguição contra o pregador. Em tais momentos de con­vicção, a pessoa quer atacar seus próprios pecados ou o homem que despertou a sua consciência.

 

 6. O poder da piedade para repreenderA exclamação de Estêvão diante de sua visão foi o sinal para seus algozes matá-lo. É fato que a paz e o gozo espiritual dos mártires sempre atiçaram a fúria dos perseguidores. Estes, durante as perseguições religiosas na Escócia,batiam tambores a fim de que ninguém ouvisse as últimas palavras dos már­tires. Certa vez, um condenado dormiu tão tranquilamente na noite antes de ser sacrificado, que os próprios persegui­dores arrepiavam-se de horror. Uma vida de santidade é a mais forte repreensão contra os ímpios.

 

 7. Uma visão do CéuO que Estêvão viu literalmente, podemos ver espiritualmente em qualquer tempo - nosso Sumo Sacerdote que entrou no Santo dos Santos de uma vez para sempre. Desta maneira, os penitentes e sobrecar­regados podem achar misericórdia e graça para suas neces­sidades espirituais.

 

 Uma antiga oração diz: "Concede, ó Senhor, que em todos os sofrimentos que enfrentamos aqui na terra, por sermos testemunhas da tua verdade, possamos olhar firme­mente para o céu e ver, mediante a fé, a glória que há de ser revelada; e que, cheios do Espírito Santo, possamos aprender a amar nossos perseguidores e orar pedindo bênçãos para eles, mediante o exemplo do teu primeiro mártir, Estêvão, que inspira todos os que sofrem por ti, nosso único Mediador e Advogado". 

 

Bibliografia M. Pearlman,comentário de atos