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superioridade da menssagem da cruz 1 cor 1.
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              A SUPERIORIDADE DA MENSAGEM DA CRUZ

                                          INTRODUÇÃO 

                         Nosso Texto Áureo: I Co. 1.18

Mostra que a pregação evangélica eficaz não se baseia em pressupostos religiosos ou argumentos filosóficos, mas na cruz de Cristo, loucura para os que perecem, mas para os salvos, poder de Deus.

 Na igreja de Corinto havia tanto judeus religiosos quanto intelectuais instruídos na filosofia grega. Na lição de hoje, veremos que, como naqueles dias, a religiosidade e a filosofia humana imperam, mas ambas estão distanciadas da verdade do evangelho de Cristo. As palavras do Apóstolo, conforme veremos neste estudo, revelam que o fundamento da fé cristã não repousa nesses dois pólos, mas na centralidade da mensagem da cruz, loucura para os que perecem e o poder de Deus para os que crêem.

 A MENSAGEM DA RELIGIÃO

 A religião é uma tentativa humana de aproximação de Deus. É uma espécie de torre de Babel (Gn. 11.9), de confusão, por meio do qual o homem, através dos seus esforços, de suas vestes de figueira (Gn. 3.7) quer agradar ao Criador. Para tanto, a religião se sustenta numa série de regras e padrões humanos na tentativa de manipular as pessoas (Cl. 2.20-23). Nos tempos de Paulo, especificamente na cidade de Corinto, a religião judaica determinava os procedimentos a serem seguidos a fim de que o ser humano adquirisse sua salvação, essa era uma defesa dos judaizantes (Gl. 1.8,9), que pregavam um outro evangelho distinto do de Cristo. Quando Jesus esteve entre os religiosos de sua época, eles cobravam a realização de milagres (Mt. 12.18-40). O problema dos sinais é que eles, ao invés de fortalecerem a fé, na verdade, viciam as pessoas a sempre quererem mais sinais, como aconteceu com os israelitas quando caminhavam pelo deserto. Há pessoas que não conseguem se distanciar dos sinais, somente acreditam se, como Tomé, avistarem as feridas de Jesus (Jo. 20.25). O pior da religião, no entanto, é a busca pelo mérito divino. Os religiosos estão sempre buscando fazer algo para agradar a Deus, não entendem o milagre do novo nascimento (Jo. 3.3) e que somos salvos pela graça, por meio da fé, isso não vem das obras para que ninguém se glorie (Ef. 2.8,9).

 A MENSAGEM DA FILOSOFIA

 A filosofia em Corinto, quando Paulo escreveu sua Epístola, era um conhecimento valorizado, cujo fundamento era a racionalidade. Tal racionalidade era apregoada pelos filósofos clássicos, com os quais os gregos estavam acostumados. Para esses filósofos, a base do conhecimento estava na “sofia”, isto é, na “sabedoria” humana. Através das reflexões humanas, os pensadores daqueles tempos, como alguns da modernidade, buscam Deus, através das investigações lógicas, trazer provas racionais de Sua existência. Deus, no entanto, nega-se a ser conhecido pelas vias da razão exclusiva. Quanto mais o homem pergunta por Deus através de suas especulações filosóficas, mais deles Ele se distancia. É pouco provável que alguém reconheça o Deus, Pai do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo pela investigação filosófica. O máximo que podemos apreender é a figura de um Criador poderoso que tudo fez ou de um Legislador Moral que julgará a todos devido a consciência universal do pecado. Para o homem natural, representado pelos materialistas ou existencialistas ateus, Deus não passa de um delírio. Para os filósofos deístas, Deus pode ser comparado a um relojoeiro que criou o mundo e o entregou ao acaso. Para os agnósticos, Deus pode até existir, mas como não se pode saber, resta, como os atenienses dos tempos de Paulo, construir um altar ao Deus Desconhecido (At. 17.23). A filosofia, como área de conhecimento humano, tem o seu devido valor. Não podemos negar a contribuição que o estudo filosófico trouxe a humanidade. Alguns filósofos, na verdade, foram cristãos, tais como Agostinho de Hipona, Anselmo de Aorta,Blaise Pascal, Soren Kierkegaard, entre outros. Mas, em se tratando do evangelho de Cristo, somente podemos conhecê-lo espiritualmente, pois Ele o foi revelado pelo Espírito. O mistério de Deus chegou até nós por meio de Jesus de Cristo (Cl 1.26; 2.2). O estudante cristão de filosofia deve levar cativo todo conhecimento à obediência de Cristo (II Co 10.5). Caso contrário, o conhecimento filosófico pode acabar distanciando-o da Palavra de Deus (Cl. 2.8).

 A MENSAGEM DA CRUZ DE CRISTO

 Os judeus pedem um sinal, os gregos querem sabedoria (I Co. 1.22) A mensagem do evangelho de Cristo, por conseguinte, é um escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Aprouve a Deus, entretanto, salvar os homens (e mulheres) pela loucura da pregação (I Co.2.14; 3.19). A pregação do apóstolo Paulo, quando esteve em Corinto, não se fundamentou em sofismas, em raciocínios lógicos, mas na cruz de Cristo (I Co. 2.4). A mensagem da cruz é a interdição de Deus tanto aos religiosos quanto aos filósofos. Enquanto a religião quer que as pessoas sejam salvas por meios das suas obras, a mensagem do evangelho de Cristo diz que o homem é salvo pela graça, por meio da fé, e que isso não vem de nós, é dom de Deus (Ef. 2.8,9). Enquanto os homens buscam uma explicação lógica para provar que Deus não existe, Ele, na Sua simplicidade, se faz carne, habita no meio dos homens e, em Cristo, revela-se como o Deus de amor e graça (I Co. 1.27). A mensagem da igreja cristã não pode ser outra senão a do Cristo crucificado (I Co. 2.2). Não são poucos que atualmente querem sustentar suas mensagem na religiosidade humana ou em argumentos filosóficos. As pessoas somente poderão crer pela fé, e essa resulta da pregação da Palavra de Deus (Rm. 10.17).

 Podemos Concluir que a mensagem da igreja não pode ser religiosa - fundamentada nos méritos humanos, ou filosófica - sustentada na razão pura. A tarefa da igreja é a de se debruçar espiritualmente sobre a Palavra de Deus e proclamá-la em alto e bom som. Essa não agradará a todos os seguimentos da sociedade, continuará sendo escândalo para os religiosos e loucura para os intelectuais. Isso porque os religiosos não admitem serem salvos por outro meio que não seja o esforço pessoal. Os pensadores acham a pregação cristã algo irracional e sem qualquer fundamento lógico. Mesmo assim, com o autor do hino 291 da Harpa Cristã cantamos: “Rude cruz se erigiu, dela o dia fugiu, como emblema de vergonha e dor, mas contemplo esta cruz, porque nela Jesus, deu a vida por mim, pecador. Sim, eu amo a mensagem da cruz, té morrer eu a vou proclamar, levarei eu também minha cruz, té por uma coroa trocar”.

A cruz é a exibição da sabedoria de Deus aos olhos dos homens (1 Co 1:18-25).

 1:18  Porque o palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que tomos salvos, é o poder de Deus.

 Facilmente notamos, nas epístolas de Paulo, quanto a importância da cruz de Cristo era enfatizada por ele. (Ver II Co 13:4; Gl 3:1; 5:11; 6:12,14; Fp 2:8; 3:18; Cl 1:20 e 2:14). Naturalmente que o apóstolo dos gentios não estava pensando na cruz de madeira em que Jesus fora crucificado, e nem a mensagem da cruz, para ele, consistia dos detalhes cruentos dos sofrimentos de Cristo, encravado na cruz. Antes, ao falar assim, ele pensava sobre as boas novas que anunciam que, em Cristo, Deus estava reconciliando o mundo consigo mesmo. (Ver II Co 5:19). Na cruz é que se concretizou a reconciliação. Cristo fez por nós aquilo que não podemos fazer por nós mesmos. Na hora crucial da agonia, Deus Pai, aparentemente, abandonou seu Filho. Mas isso, na realidade, era impossível. E assim, em Cristo, Deus aceita o mundo inteiro, sob a condição única de arrependimento e fé. Cristo foi aquele que levou sobre si os nossos pecados, encravando-os na sua cruz, tendo sido esse o ato culminante de sua missão terrena. Quando falamos em «cruz», portanto, pensamos na expiação realizada pelo sangue de Cristo. (Ver Rm 3:35). Assim também, quando falamos em «cruz», pensamos em «redenção» (Ver Rm 3:24); pensamos em «expiação pelo sangue» (Ver Rm 3:25 e 5:11); e pensamos em «justificação», porque Cristo foi entregue pelas nossas ofensas e ressuscitou visando nossa justificação (Ver Rm 3:24,28 e 4:25).

 No entanto, o fato de que todas essas doutrinas verdadeiras estão centralizadas em torno de um Salvador moribundo constitui uma «...loucura...» para os incrédulos, sobretudo para os «eruditos», aqueles que possuem treinamento filosófico e uma sabedoria humana geral. Ora, conforme lemos no vigésimo segundo vs. deste capítulo, os gregos buscavam «sabedoria». E essa «sabedoria» tinha o efeito de afastá-los para longe de uma elevada mensagem espiritual, porquanto, para eles, esta parece revestir-se de elementos de insensatez.

 «... loucura...» No original grego, a palavra usada neste ponto não é tão violenta. Antes, o termo grego tem o sentido de «tolice», «insensatez», sem dar qualquer idéia de desarranjo mental ou insanidade, conforme a tradução «loucura» nos dá a entender. Nossa palavra «moroso» se deriva dela. Para os detratores do cristianismo, portanto, a mensagem da cruz parecia «morosa», no sentido de faltar-lhe a percepção pronta da verdade, o que caracteriza as superstições e as idéias ultrapassadas, derivadas de conceitos religiosos tolos, mas agora totalmente inaceitáveis para a mente «moderna». O sentido básico dessa palavra, no original grego, é algo «embotado», «tolo», «pesado», «insípido». Da maneira como Paulo a emprega aqui, dá a entender «embotamento mental». A sabedoria humana, portanto, sente-se superior a essas antigas superstições, a essas crenças «primitivas».

 Porém, o que parece ser embotamento mental, por parte dos crentes, na realidade é apenas um discernimento suficiente que lhe permite descobrir a «sabedoria» de Deus, em meio às trevas da sabedoria humana, as quais, na realidade, são aquilo que oculta a verdade, longe de revelá-la.

 Ora, tudo isso nos faz lembrar da famosa declaração de Tertuliano: Creio porque é absurdo. Isso significa que aquilo que parece absurdo para os homens, pode ter tal aparência porque a mente deles está tão entenebrecida que não pode apreender a verdade de Deus. Soren Kierkegaard é lembrado devido à sua atualmente famosa declaração: «Deus é o mais ridículo de todos os seres». Com isso ele queria dizer que não precisamos de provas racionais ou empíricas acerca da existência de Deus e acerca de sua verdade, porquanto todas elas parecerão ridículas para os homens, de qualquer modo, ainda que tais provas pudessem ser apresentadas. O fato é que Deus simplesmente não precisa amoldar-se à sabedoria humana, nem precisa ser atingido por ela, descrito por ela, pára que seja real. A verdade final, por conseguinte, nos é outorgada por meio da revelação divina; e essa revelação pode ser aprendida intuitivamente, e é intuitivamente que podemos concordar com ela; tudo, porém, será sempre e essencialmente, um «dom de Deus», dado aos homens do alto, proveniente de uma fonte externa a eles. Não depende, em qualquer grau, da aceitação por parte do conhecimento ou da erudição dos homens.

 «...para os que se perdem...» Esses são os que estão alienados de Deus, que fatalmente cairão na perdição eterna, se persistirem em seu caminho de rebeldia. Paulo pensava aqui acerca do destino humano e do julgamento final, bem como acerca daqueles que se encaminhavam nessa direção na condição de perdidos. (Ver I Pe 3:18-20; 4:6 e Ap 14:11). Tais indivíduos estão alienados de Deus em seus corações, em suas mentes e de conformidade com suas ações, e dificilmente poderiam perceber mais do que insensatez na cruz de Cristo. Habitam nas trevas porque seu ceticismo cegou o seu entendimento. Suas mentes estão acostumadas a pensar segundo canais negativos e infrutíferos, no que concerne à verdade espiritual; e somente a iluminação divina pode modificar os seus hábitos mentais, de modo a virem reconhecer a sabedoria (ver o vigésimo primeiro versículo deste mesmo capítulo), onde antes viam apenas tolice.

 «...nós, que somos salvos...» Uma mais perfeita tradução diria: «...nós, que estamos sendo salvos...», porquanto aqui é expressa a salvação como um processo, porquanto, naturalmente, ela também tem esse aspecto. A regeneração ocorre através da conversão e do arrependimento, mediante o veículo da fé. Segue-se então a santificação; e, no futuro, a glorificação coroará todo esse processo. Ora, esse processo pode ocupar um tempo prolongado, e cada passo desse processo faz parte integrante da salvação.

 Pode-se chamar de «salvação» à salvação inicial ou conversão, com toda a legitimidade; mas a salvação também tem um aspecto presente e outro futuro, não se tratando apenas de uma transação passada. No trecho de Rm8:24, somos informados por Paulo que «...na esperança fomos salvos». Contudo, ainda não contemplamos e nem temos compreendido perfeitamente o objetivo maior dessa esperança. A salvação presente é apenas a garantia, a primeira prestação, por assim dizer, da salvação futura. Mas estamos nos dirigindo verdadeiramente nesse sentido—estamos «sendo salvos». A salvação consiste na transformação por que passam os remidos no processo que os transmuta em Cristo, em que passam a compartilhar de sua natureza moral e metafísica, até que, finalmente, chegarão a participar da própria divindade, no dizer de II Pe 1:4.

 «...poder de Deus...» Tal é o evangelho, mas somente para aqueles que estão sendo salvos. A pregação da cruz tem resultados muito maiores do que é possível para a sabedoria humana; pois o evangelho pode salvar uma alma eterna, o que certamente é a obra mais elevada que a mente humana pode conceber, quando se compreende, realmente, quão vasta obra é a salvação. Pois não é coisa de pouca monta vir um pecador remido a compartilhar de tudo quanto Cristo é e possui, tornando-se seu co-herdeiro e participante de sua natureza divina, de modo a tornar-se um ser superior aos próprios anjos. Somente o poder de Deus, atuando por intermédio do Espírito Santo, é que pode transformar os homens dessa maneira.

 Não é diminuto o poder que nos salva da condenação devido ao pecado e da ilusão humana; mas isso é apenas o começo do poder que opera através do evangelho de Cristo. Daí é que procede a completa transformação dos remidos segundo a imagem de Cristo, em que os homens mortais vão sendo transformados em seres divinos e imortais, participantes da vida necessária e independente do próprio Deus, em meio a uma santidade perfeita. (Ver os trechos de Mt 5:48; Jo 5:25,26 e 6:57). Ora, a sabedoria humana não pode nem aprender e nem concretizar qualquer dessas realidades espirituais. Mas Deus pode torná-las experiências nossas, através do evangelho de Cristo. (Ver Rm 1:16).

 «O evangelho não é produto da sabedoria humana. Em sua inquirição pelo sentido da vida e por Deus, a mente humana jamais poderia ter concebido a verdade. Se, por um lado, a filosofia humana, em seu nível mais elevado, é um impulso na direção de Deus, então, a filosofia de Deus, é um impulso na direção do homem. Através de Jesus Cristo, e este crucificado, um novo conceito do poder e da sabedoria de Deus invadiu o mundo qual dilúvio». (John Short, in loc).

 «Existe uma palavra, uma eloqüência, que é a mais poderosa de todas, a eloqüência da cruz». (Stanley, in loc).

 «Aquilo que, para o mundo, parece uma 'debilidade' nos planos de Deus (ver o vigésimo quinto versículo deste capítulo), e em sua maneira de exposição, por parte de seu apóstolo (ver I Co 2:3), na realidade é seu 'poder', o poder que nos confere a salvação. E aquilo que parece 'insensatez', por causa da insuficiência da 'sabedoria das palavras' humanas, na realidade é a mais alta 'sabedoria de Deus' (ver o vigésimo quarto versículo deste capítulo)». (Faucett, in loc.)

 1:19  Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei o entendimento dos entendidos.

 As palavras «...está escrito...» formam uma frase constantemente usada nesta epístola, conforme se vê em I Co 1:19, 31; 2:9; 3:19; 4:6; 9:9,10; 10:7,11; 14:21 e 15:45,54. Também é de ocorrência muitíssimo freqüente na epístola aos Romanos, onde aparece por dezessete vezes. Nas epístolas de Gálatas e segunda aos Coríntios, essa expressão também aparece por diversas vezes. E também aparece por algumas poucas outras vezes, no restante das epístolas de Paulo.

 Utilizando-se dessa expressão, pois, Paulo vincula a sua mensagem a muitos aspectos importantes do A.T.Assim sendo, vemos que esse apóstolo defendia a continuação da mensagem do antigo pacto na revelação doN.T., o que, de resto, é uma idéia comum entre os escritores neotestamentários. Isso subentende, naturalmente, que o Messias, prometido nas páginas do A.T., é o Senhor Jesus do N.T. Paulo, na presente referência, queria mostrar-nos que ele não criara nenhum conceito novo ao degradar a «sabedoria humana», porquanto isso já havia sido tema das Escrituras proféticas do A.T.

 Essa citação foi extraída do trecho de Is 29:14, segundo a versão da Septuaginta (tradução do original hebraico do A.T. para o grego, completada em cerca de 200 A.C.). Contudo, Paulo substitui aqui a palavra «esconderá», que aparece no A.T., por «...aniquilarei...» Isso se coaduna com a sua maneira livre de citar o A.T., de acordo com os seus propósitos do momento. E possível que essa citação seja uma combinação de Isa. 29:14 e de Sal. 33:10.

 No A.T., essa declaração profética se refere ao fracasso da sabedoria e da política mundanas em Judá, em face do iminente juízo divino constituído pela invasão assíria. A futilidade da sabedoria humana é um princípio que pode ter diversas aplicações, e Paulo se utiliza dessa citação de uma das mais importantes maneiras como ela pode ser aplicada. A aplicação feita por Paulo, quanto à presente citação, salienta uma verdade mais importante do que aquela contida na passagem original do A.T.

 A sabedoria humana está sujeita à «destruição» e ao «aniquilamento». Não possui ela qualquer poder inerente, que a capacite a salvar uma alma ou a elevar um homem até Deus, o que, afinal de contas, é o propósito real e o grande alvo da existência humana. A sabedoria humana, pois, não pode desfazer o mal provocado pela queda no pecado, e nem pode ajudar o homem a aproximar-se novamente de Deus.

 «...sabedoria... inteligência...», ou então, conforme dizem outras traduções, «sabedoria...prudência», ou «sabedoria...entendimento». No dizer de Vincent (in loc), «Essas duas palavras com freqüência podem ser encontradas juntas, conforme se vê em Ex 31:3; Dt 4:6; Cl 1:9. Com isso comparar Mt 11:25, que diz 'sábios e entendidos'. Quanto à distinção entre elas, ver 'sophia', 'sabedoria', em Rm 11:33; quanto à 'sunesis', compreensão, ver Mc 12:33 e Lc 2:47. A 'sabedoria' é o vocábulo mais geral; trata-se da excelência mental, em seu sentido mais prenhe e elevado. A 'prudência' é a aplicação especial da sabedoria; e se trata de seu ajustamento critico a casos particulares». Ver também as notas expositivas em Rm 11:33, onde esses mesmos conceitos são apresentados, embora a palavra que ali se poderia traduzir por «conhecimento» seja, no grego, umvocábulo diferente. Não obstante, o termo grego «gnosis» pode ser usado como sinônimo de «sunesis», a qual aparece neste texto, de tal modo que a explicação de seus respectivos sentidos pode ser a mesma.

 «...todos os céticos e deístas, com seus esquemas de religião e moralidade naturais, não têm sido capazes de salvar uma única alma! Nenhum pecador foi jamais convertido, do erro de seus caminhos, pelos seus discursos e escritos». (Adam Clarke, in loc.).

 «A aplicação disso ao tema que temos entre as mãos, é a seguinte: O Senhor achou por bem punir a arrogância daqueles que, dependendo de seu próprio juízo, pensam ser líderes de si mesmos e de outros; e se isso (a destruição de sua sabedoria e o aniquilamento de sua prudência) porventura ocorresse entre um povo cuja sabedoria as outras nações tivessem oportunidade de admirar, o que se tornaria dos demais?» (Calvino, in loc).

 1:20  Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?

 Paulo faz aqui alusão à passagem de Is 33:18; ou talvez, inconscientemente, sem qualquer intuito especial, usou o fraseado do profeta Isaías. Quanto ao pano de fundo original dessas palavras, Robertson e Plummer (inloc), brindaram-nos com a seguinte excelente nota: «O apóstolo Paulo adaptou as palavras ao seu propósito imediato. A passagem original se refere ao tempo que se seguiu ao desaparecimento do conquistador assírio, com sua equipe de secretários, contabilistas e registradores de inventário, os quais registraram os pormenores dos despojos da cidade capturada. Na esteia de Salmaneser, na Galeria Assíria do Museu Britânico, existe um quadro surpreendentemente exato da cena aqui descrita por Isaías. O maravilhoso desaparecimento do exército assírio invasor foi, para Isaías, sinal que vindicava o poder e o cuidado de Yahweh, servindo de refutação, não tanto dos 'escribas' do conquistador, e, sim, dos mundanos conselheiros que havia em Jerusalém, os quais, primeiramente, haviam pensado em enfrentar o invasor através de uma aliança firmada com o Egito, apelando para outros métodos políticos cheios de artimanha, para, em seguida, caírem no desespero mais desmoralizador. O apóstolo Paulo se utilizou dessa passagem, por conseguinte, ainda que de maneira bastante livre, não de forma desconexa para com seu pano de fundo histórico... A pergunta é feita em um tom de triunfo».

 «...sábio...» Temos aqui uma alusão definida aos gregos, com sua filosofia e com sua busca pela sabedoria mundana, o que, no conceito de Paulo, não era e nem é suficiente para descobrir os tesouros das realidades espirituais. (Ver o vigésimo segundo versículo deste capítulo, que requer essa identificação com os gregos, embora todas as nações da terra tenham seus próprios «sábios»). Onde está o sábio? Isto é, que foi feito de sua sabedoria? Foi reduzido a nada, quando submetido a teste, pela sabedoria divina. A sabedoria divina salva a alma; a sabedoria humana, quando muito, torna a mente curiosa. A sabedoria divina é poderosa; a sabedoria humana, finalmente, é reduzida a nada. A sabedoria humana tão-somente enche de orgulho o seu possuidor; a sabedoria divina leva o remido a compartilhar da imagem de Cristo. Tal como os oficiais do rei assírio,Salmeneser, haviam desaparecido da cena, tendo sido extintos pelo Senhor Deus, em que seus esforços deram em nada, assim também sucede com aqueles que buscam a sabedoria humana à parte de Deus, ou que tentam substituir a sabedoria divina pela sabedoria humana.

 «...escriba...» Temos aqui uma alusão aos «eruditos» do povo de Israel, isto é, aqueles que estudavam a lei, que eram técnicos em suas minúcias, e que ensinavam os preceitos mosaicos ao povo judeu. Esse é o sentido que essa palavra sempre tem no N.T., com a única exceção de At 19:35, onde está em foco o «escrivão da cidade» de Éfeso. Assim como, para os gregos, o filósofo preparado era o pináculo da sabedoria terrena, assim também, para os judeus, era o escriba. Os escribas eram os eruditos profissionais entre os judeus, guardiães de todo o conhecimento que o povo israelita julgava importante. No entanto, em que resultava tal sabedoria, separada de Cristo, que é a Sabedoria de Deus? Resultava na mesma negação e inutilidade que ocorria no caso dos sábios gregos: nada. Porquanto nem a lei e nem o conhecimento da mesma podem salvar a alma perdida, levando o pecador de volta a Deus, ainda que isso possa mostrar até que ponto o homem se distanciou de Deus.

 «...inquiridor deste século?...» Essas palavras se referem, particularmente, às escolas gregas dos sofistas, ainda que não se limitem aos sofistas. Os filósofos, preparados na retórica, na lógica e na metafísica, facilmente podiam fazer com que «o pior argumento se tornasse o melhor», segundo Sócrates foi acusado de fazer. Sócrates possuía grande capacidade de debater, sabia como apresentar e defender delicadas distinções em seus argumentos. Por semelhante modo, entre os judeus também havia indivíduos dotados dessa habilidade, ainda que esse termo pareça aplicar-se com mais propriedade aos filósofos gregos. É possível que Paulo não estivesse fazendo aqui distinções pormenorizadas, mas antes, falasse em termos gerais. Seja como for, a sua mensagem é clara. A sabedoria humana, sem importar a sua variedade, e sem importar se proveniente dos gregos ou dos judeus, desvinculada de Cristo, se reduz a nada. Por igual modo, ela não é necessária para dar apoio e validar a sabedoria de Deus, a sabedoria que é o Senhor Jesus Cristo, e que se manifesta através do plano de redenção, que ele veio realizar.

 «...deste século?...» Os sábios aqui aludidos são aqueles desta esfera terrena, da era presente. Esses sábios não tardarão a desaparecer, em contraste com a sabedoria que é lá de cima, a qual é eterna. Esse termo, «século», denota o período anterior à era messiânica, ou seja, a «era vindoura». (Ver Lc 18:30 e 20:35). Trata-se daquele período de tempo que caracteriza a sabedoria e as atividades humanas sobre a terra; mas é um período de condições fugidias, saturado do egoísmo humano, de motivos éticos vis, de cegueira para com as realidades espirituais, prenhe de irreligião e de blasfêmia. E o tempo em que o homem tateia buscando luz; é o tempo do embotamento, do ceticismo e do desespero. (Ver I Co 2:6; II Co 4:4 e Ef 2:2). É o nosso próprio tempo, antes da inauguração do período futuro, de grande iluminação divina. .

 «...tornou Deus louca a sabedoria do mundo...» Deus tornou morosa esta chamada era da sabedoria humana, ou seja, «embotada», «estúpida», «insensata», desde que permitiu que brilhasse a luz de Cristo. (Com essa declaração paulina confrontar os trechos de Rm 1:22,23; Is 19:11 e 44:25,33). A passagem citada da epístola aos Romanos é o melhor comentário acerca desse pensamento. Deus provou, portanto, que a chamada sabedoria dos homens é uma insensatez. Demonstrou sua fraqueza e sua irrelevância para com o verdadeiro destino dos homens, para com a elevada chamada de Deus, em Cristo Jesus, porquanto é em Cristo que existimos, nos movemos e temos o nosso ser. A sabedoria humana tem errado porque se tem esquecido dafonte originária de toda a sabedoria, que é Deus, e esta manifestada na pessoa do Senhor Jesus Cristo. (Ver o trigésimo versículo deste mesmo capítulo). E, dessa maneira, Deus demonstrou que a suposta sabedoria humana não passa de pura ignorância, estando destituída de qualquer valor espiritual, não tendo podido aproximar em coisa alguma as almas de Deus, o qual é o verdadeiro alvo de toda a existência humana. (Ver I Co 8:6).

 A palavra «...mundo...», neste caso, não é a mesma palavra traduzida neste versículo como «século», embora seja sinônimo virtual da mesma; pois a alusão, neste caso, é à comunidade dos homens, que populam esta terra física, e não ao globo terrestre propriamente dito. Os homens é quem fazem a sabedoria deste mundo tornar-se o que ela é. O mundo, lugar da matéria crassa e grosseira, sob hipótese alguma poderia produzir a sabedoria celestial, não podendo nem mesmo compreendê-la, sem o auxílio da iluminação divina.

 1:21  Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem.

 Comenta Calvino (in loc), a respeito destas palavras de Paulo: «Precisamos dar cuidadosa atenção a estas duas coisas: Que o conhecimento de todas as ciências não passa de fumaça, onde a ciência celeste não se faz presente; e que os homens, apesar de toda a sua perspicácia, são tão estúpidos, na obtenção do conhecimento dos mistérios de Deus, por si mesmos, como um asno é incapaz de compreender as harmonias, musicais. Paulo, entretanto, não condenou expressamente nem a perspicácia natural do homem, nem a sabedoria adquirida com a prática e com a experiência, e nem o cultivo das faculdades mentais, através do aprendizado; tão-somente declara que nada disso tem valor para quem quer adquirir a sabedoria espiritual».

 A sabedoria mundana dos homens serve de obstáculo para eles mesmos, razão pela qual não puderam conhecer a Deus, mediante essa sabedoria mundana, mas antes, permaneceram na ignorância quanto ao verdadeiro sentido da existência. (E com isso se pode comparar o trecho de Rm 1:22, onde se lê que os homens professam possuir sabedoria, mas que, ao fazê-lo, fazem-se de insensatos. E o versículo anterior desse mesmo capítulo mostra-nos que aquilo que os homens consideram como sabedoria não passa de raciocínios «nulos», em vista do que também os seus corações atoleimados se obscurecem.

 Agostinho declarou: «Creio, a fim de poder compreender». Mas ele deixou bem claro que esse «entendimento» nos é dado através da «fé», isto é, da confiança em Deus e em seu Cristo; e que o ceticismo, na realidade,equivale às trevas. Nem um único raio da luz de entendimento verdadeiro pode ser adquirido, enquanto os homens não abandonam o terreno tenebroso das dúvidas e da incredulidade em que se encontram.

 Foi por decreto da sabedoria de Deus que os homens estão impossibilitados de encontrar a Deus, através de sua sabedoria mundana. Nisso parece transparecer a idéia de um pronunciamento judicial. Em outras palavras, Deus julgou este mundo como insensato, por terem os seus habitantes rejeitado à verdadeira sabedoria, e porque os homens se tinham voltado para a sabedoria puramente humana, a qual não serve de veiculo de iluminação espiritual. Essa é, em sua essência, a idéia que também encontramos em Rm 1:19-22. Nessa passagem descobrimos que o próprio mundo, na natureza, contém a sabedoria de Deus de tal maneira que, homens honestos, que não queiram perverter suas próprias faculdades intelectuais e seus sentimentos, podem chegar a descobrir a existência e o poder de Deus. No entanto, os homens se mostram desonestos e pervertidos. Por causa disso é que Deus pune judicialmente aos homens, deixando-os a braços com umludibrio, reduzidos à sua própria sabedoria mundana, mas perenemente condenados à futilidade de que se reveste essa sabedoria carnal.

 Este versículo, não obstante, suporta uma outra interpretação ainda, a saber, que essa futilidade se reflete nas insensatas ciências dos homens, mas que isso, finalmente, leva os homens a se voltarem para Deus, buscando a sabedoria divina autêntica. E então que a acham na pessoa de Jesus Cristo, bem como na «loucura» da pregação, que tem por grande tema a pessoa e a obra de Cristo. Portanto, de acordo com essa outra interpretação, até mesmo a punição judicial de Deus pode redundar em bem, uma vez que os homens se deixem convencer de seu fatal equívoco. Ora, quanto à mensagem, isso se assemelha à passagem de Rm 11:32, onde aprendemos que o fato de Deus ter «encerrado a todos debaixo da incredulidade» tinha por finalidade, realmente, usar de «misericórdia» perfeita para com todos. E mister um prolongadíssimo processo histórico, entretanto, para que os homens se deixem convencer do seu gravíssimo erro, para então se voltarem de todo o coração para Cristo, o Salvador. Isso porque Deus não força os homens a isso. Mas tão-somente os vai convencendo, gradualmente, através de todas as lições administradas pela história, de que eles precisam de Jesus Cristo. E assim, espontaneamente, movidos por seu livre-arbítrio, os homens eventualmente viriam a compreender e a aceitar a sabedoria divina.

 Deus é sábio em suas relações para com a humanidade, na história das necessidades humanas e de suas tentativas baldadas de retorno a Deus. Deus é quem permite a ignorância deles, como lição objetiva, para quefinalmente possam vir a conhecer a Deus, voltando-se para ele. Mas a iniciativa deve partir da parte do Senhor, e jamais dos homens. (Com isso comparar os trechos de At 17:30; Rm 11:32; At 14:16 e Rm 1:24).

 Algumas traduções, como a versão portuguesa que serve de base textual para este comentário, dizem «...a loucura da pregação...», enfatizando o ato da predica, e não aquilo que é pregado. Mas outras traduções dizem«...a loucura do que pregamos...», ou seja, o conteúdo do que se prega, o que seria equivalente à pregação de Cristo e sua cruz. (Ver os versículos dezoito e vinte e três). Não dispomos de meios seguros para determinar o que se deve entender aqui exatamente. Ambas essas traduções são gramaticalmente verdadeiras, e talvez a referência de Paulo seja suficientemente lata para incluir ambas as idéias.

 A palavra grega traduzida aqui por «pregar», «kyrussein», ainda que aqui seja usada a forma substantivada, significa «proclamar», tendo passado para o vocabulário neotestamentário com o sentido de proclamar as boas novas, isto é, o evangelho. A expressão «loucura da pregação» é uma ousada declaração (comparar com o vigésimo quinto versículo deste mesmo capítulo), pressupondo e interpretando, ao mesmo tempo, a mensagem do décimo oitavo versículo. Sim, a pregação do evangelho é uma insensatez para os homens, e assim Paulo retém esse termo, embora, na realidade, seja a sabedoria e o poder de Deus, quando corretamente compreendida essa pregação, porquanto é capaz de «salvar» a alma, o que a sabedoria puramente humana jamais poderia fazer.

 «A loucura da pregação não é a pregação da loucura... As religiões misteriosas ofereciam todas, a salvação por iniciação e ritual, tal como os fariseus a ofereciam por cerimonialismo. A religião cristã atinge o coração diretamente, mediante a confiança em Cristo, como Salvador. Essa é a sabedoria de Deus». (Robertson, in loc).

 Uma outra interpretação possível deste versículo é como segue: «O mundo não veio a conhecer a Deus, em sua sabedoria». Em outras palavras, não obteve visão clara de Deus como ser Supremo e todo sábio, ainda que, na criação mesma, existam evidências suficientes para levar os homens a essa conclusão. Essa interpretação expressa um aspecto da verdade, mas a mensagem ensinada neste versículo é que, «mediante os decretos de Deus, alicerçados em sua sabedoria, a sabedoria do mundo foi reputada inadequada como meio de adquirir a iluminação de Deus». Portanto, Deus decretara que o divino não pode vir a ser conhecido através do que é puramente humano. Deve haver a iluminação e a revelação celestiais. Ora, tanto uma como a outra coisa vieram por intermédio de Cristo; e assim ditava o sábio plano de Deus. Que o mundo não pode conhecer a Deus mediante a sabedoria puramente humana é um fato que força aos verdadeiros inquiridores a se achegarem pelo caminho determinado por Deus, e isso faz parte do seu plano e dos seus decretos sábios.

 A sabedoria de Deus, nesta passagem, mui provavelmente inclui a revelação que nos é dada por meio da natureza (conforme se lê em Rm 1:20 e ss. e At 17:27); mas certamente também inclui a revelação e a iluminação especiais que nos são conferidas através de Cristo e através do evangelho. Assim sendo, primeiramente é salientado o «fracasso» do mundo, e, em seguida, o «sucesso» do método divino, por outro lado.

 

1:22  Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, 

Os judeus, por causa de sua formação religiosa mística, onde os milagres e os prodígios eram comuns, tornaram-se tão presunçosos que pensavam que Deus lhes daria algum sinal ou prodígio a qualquer instante que o desejassem. Na sua incredulidade e rebeldia, ignoraram convenientemente a abundância de sinais e milagres efetuados por Jesus de Nazaré; e então, perversamente, subitamente exigiam sinais ainda maiores e mais numerosos. Os judeus não tinham uma mentalidade cética, conforme sucedia a tantos filósofos gregos, mas antes, criam no sobrenatural. Mas tentavam escravizar o sobrenatural aos seus próprios caprichos. E o povo de Israel, em sua cegueira espiritual, veio assim a rejeitar ao próprio Messias, devido à dureza de coração produzida pelo pecado voluntarioso. Tornaram-se os judeus moralmente incapazes de dar acolhida ao seu próprio Messias, e assim exigiram dele, incredulamente, mais e mais provas, quando, na realidade, ele já havia exibido provas mais do que suficientes para convencer qualquer homem honesto de que ele era realmente o Filho de Deus. Nos evangelhos (como em Mc 8:11,12; 12:38; Jo 4:48 e 6:30), vemos quão veraz é esta declaração de Paulo, no tocante à busca dos judeus por sinais prodigiosos.

 Porém, a grande verdade é que um coração rebelde, sem a ajuda divina e não estando sintonizado com Deus, pode contemplar muitíssimos sinais, para então, embora perplexo ante os mesmos, continuar em sua rebeldia, não se arrependendo de seu pecado. (Quanto a isso, ver a totalidade do nono capítulo do evangelho de João). Os judeus reconheciam a grandeza dos milagres operados por Jesus, porém, moral e religiosamente, não se deixavam convencer pelos mesmos. Alguns dentre eles procuravam encontrar explicações «naturais» para os prodígios de Jesus (a exemplo do que tantas pessoas continuam fazendo, até hoje); e outros julgavam que a verdadeira origem daqueles milagres era o diabo (ver Mt 12:24 e ss.).

 Naturalmente, sempre haverá o magno problema de determinar a fonte originária das «maravilhas», pois nem todas são de Deus. Alguns desses prodígios podem ter uma origem puramente humana, já que o homem é um ser espiritual, capaz de realizar aquilo a que chamamos de «milagres», tal como curas e várias manifestações psíquicas. Além disso, há uma dimensão de seres espirituais, de espíritos bons e maus, que não chegam até Deus. E esses seres também são fontes originárias possíveis de sinais e maravilhas.

 Um sinal, por si mesmo, assim sendo, não pode comprovar uma doutrina, embora possa levar os homens a reconhecerem a existência do mundo dos espíritos, o que é proveitoso para os homens. No entanto, um sinal verdadeiramente conferido por Deus é reconhecido por homens honestos e crentes, aqueles que verdadeiramente buscam a Deus. Pelo menos essa é a confiança refletida nas páginas do N.T., onde vemos que homens honestos e bons se congregaram em torno de Cristo. Mas aqueles que preferiam prosseguir em seus assaltos às casas das viúvas e em seus assassínios, embora tivessem contemplado os mesmos sinais que outros viram, foram repelidos pelos mesmos, visto que de Cristo brilhava a santa luz de Deus, que ofendia seus corações entenebrecidos.

 «...pedem...» Essa palavra, no original grego, pode significar, simplesmente, «requerem», mas também pode ter o sentido de «exigir». (Ver Lc 12:48 e I Pe 3:15). A tradução «exigem» seria a que mais de perto concordaria com a atitude altiva daqueles judeus incrédulos, sendo provavelmente isso que o apóstolo queria dar a entender aqui.

 Não obstante, os judeus asseveravam ser possuidores da verdade, apesar de se deixarem dominar por dúvidas, com relação a toda a verdade que porventura parecesse contradizer suas noções preconcebidas. Poderiam ter feito a seguinte oração, com toda a propriedade: Da covardia que teme novas verdades, Da preguiça que aceita meias-verdades, Da arrogância que pensa conhecer toda a verdade, Ó Senhor, livra-nos. (Arthur Ford).

 «...os gregos buscam sabedoria...» Essas palavras não têm a intenção de dar a entender que não havia abundância de religiosidade e de misticismo na cultura greco-romana. Paulo sabia que havia esses elementos ali. Porém, ao escrever para Corinto, que era um dos centros da erudição filosófica dos gregos, esse apóstolo frisou os vícios helênicos. Os gregos exigiam provas lógicas e filosóficas das idéias expostas. Não eram altivos de espírito como os judeus, pensando que já conheciam toda a verdade; antes, eram inquiridores da verdade. Contudo, deixavam-se limitar a certos meios, todos alicerçados sobre a sabedoria humana, perdendo assim de vista o conhecimento místico, ridicularizando de todas as coisas espirituais que, naturalmente, estão fora da capacidade de alcance dos métodos filosóficos.

 Tolamente os gregos imaginavam que a verdade poderia ser reduzida a meras proposições filosóficas. Ignoravam o alcance da intuição e da revelação divina. Aquilatavam como bárbara a palavra da cruz, como sese tratasse de uma superstição, tal e qual consideravam a muitos particulares de sua própria mitologia, onde abundavam as lendas de deuses de ações vergonhosas, que procuravam envolver aos homens. Muitos filósofos eram agnósticos no que diz respeito aos deuses antropomórficos da mitologia grega, e teriam encarado a mensagem de Cristo, em sua encarnação, em sua morte expiatória, etc, como mera variação de suas próprias lendas. Haviam abandonado a mitologia pela especulação filosófica, e agora, a mensagem da cruz haveria de parecer-lhes «insensata».

 Contudo, as mentes inquisitivas dos gregos não haviam subido o bastante, porquanto se tinham olvidado de investigar a religião celestial, revelada pelo criador. Se porventura se tivessem assemelhado um pouco mais a Platão, talvez pudessem ter reconhecido as reivindicações de Jesus Cristo. Porém, nos dias de Paulo, prevaleciam os filósofos da categoria mais cética, excetuando aqueles que se inclinavam mais estritamente para os princípios éticos, como os estóicos. Até mesmo a famosa Academia de Platão, nos dias do apóstolo dos gentios, desde há muito que cessara em sua propagação da doutrina platônica, mas se transformara em uma escola propagadora do ceticismo, crendo que somente o conhecimento que nos chega através da percepção dos sentidos é que constitui verdadeiro conhecimento, mas que, em vista da percepção dos sentidos não ser digna de confiança, por ser ilusória, então os homens não dispõem de meios para chegar à certeza do conhecimento. E a escola peripatética, composta por discípulos de Aristóteles, havia abraçado idêntico ponto de vista.

 Acima de tudo, o fato que Jesus Cristo fora crucificado, era um ponto adverso para a propagação da fé cristã.Pois a morte na cruz, reservada para os mais vis e piores criminosos, era olhada com horror pela polida sociedade greco-romana. (Ver o horror expresso por Cícero ante a execução por crucificação, em Pro Rabir 5, bem como a referência de Luciano a Cristo como o «sábio pregado em um poste», em De mort. Peregr. 13), que talvez expresse um ponto de vista derrisório da pessoa de Cristo. Além disso, na Palestina, foi encontrada a caricatura da crucificação de Cristo, constante de um escravo que se inclinava ante uma figura crucificada, dotada de cabeça de burro, e por baixo a seguinte inscrição: «Em recompensa, ele adora a um deus». Essa forma de atitude desprezível para com Cristo mui provavelmente era comum entre os «intelectuais» da cultura pagã dos primeiros dias do cristianismo, certamente uma atitude não muito diferente da dos intelectuais dos nossos próprios dias, os quais, através de sua sabedoria vã, não chegam jamais a conhecer a Deus.

 1:23  nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos,

 A palavra «...escândalo...» significa «armadilha», algo que leva um homem a tropeçar e cair, o que, por sua vez, causa «repulsão», sendo uma «tentação ao pecado». Os judeus, pois, que supostamente se encontravam no caminho que conduz de volta a Deus, tropeçaram no «obstáculo» que é Cristo; pois julgavam-no um motivo de escândalo, visto que, de outro modo, jamais o teriam crucificado. Isso fizeram, contudo, devido à sua rebeldia voluntária. Por essa razão é que Cristo se tornou para eles uma «armadilha», um empecilho, que fez com que se desviassem inteiramente na sua busca por Deus.

 O apóstolo Paulo mostra-nos, em Rm 11:11, contudo, que os judeus não tropeçaram a fim de caírem de forma final e «irrevogável», e, sim, a fim de que, mediante uma queda parcial quanto ao tempo, a salvação pudesse ser estendida aos povos gentílicos; e a fim de que, por sua vez, através da realização desse propósito, todo o Israel pudesse vir a ser finalmente salvo. (Ver Rm 11:26). Quanto ao presente contudo, os judeus se encontram completamente excluídos dessa corrida, porquanto foram marginalizados em face de se terem escandalizado de Cristo, do seu próprio Messias. Nenhum progresso espiritual pode ser feito pelos judeus, enquanto não for corrigido esse equívoco fatal, essa maldade proveniente do próprio coração.

 Para os gregos, entretanto, Cristo e sua mensagem não passam de uma «insensatez». Isso é reiteração das idéias que aparecem nos versículos décimo oitavo até vigésimo primeiro. A palavra «loucura», que esta versão portuguesa prefere, ao invés de «insensatez», é comentada nas notas expositivas sobre o décimo oitavo versículo deste capítulo.

 «...nós pregamos a Cristo crucificado...», isto é, um «Messias crucificado» (Ver I Co 2:2 e Gl 3:1). Era justamente em torno deste ponto que tanto os gregos como os judeus encontravam a sua grande dificuldade, embora encarassem essa questão de diferentes ângulos. (Ver as notas expositivas sobre o vigésimo segundo versículo deste capítulo, que ilustram esse particular).

 Os judeus aguardavam um Messias militarmente vitorioso, uma poderosa figura política, que livrasse o povo israelita do jugo romano. Pensavam ver isso claramente ensinado nas profecias do A.T. No entanto, compreen­deram de forma totalmente errada o ensino bíblico do Messias como «Servo Sofredor» de Yahweh. Os judeus, portanto, deixaram de levar em conta «todas» as profecias bíblicas sobre o Messias; antes, selecionaram para sua meditação apenas aquelas que lhes agradavam. (Ver At 3:22 quanto ao testemunho geral do A.T. em favor de Cristo, onde também muitas das profecias do A.T. são alistadas, mostrando como elas tiveram cumprimento no decorrer da narrativa histórica do N.T. Acerca de como as profecias sobre o «reino» dizem respeito a Cristo, ver At 3:21). Ora, dotados de uma compreensão tão parcial sobre a natureza do Messias, os judeus tropeçaram e caíram por causa de Jesus Cristo, o qual, em sua vida e em sua missão, cumpriu aspectos daquelas profecias que eles nem antecipavam.

 Os gregos, por sua vez, teriam esperado um Platão ou um Aristóteles glorificado, como seu Messias, se porventura houvessem considerado a vinda de um Messias, numa espécie de clímax de toda a sua sabedoria filosófica. Ficavam ofendidos, portanto, ante a figura de um humilde nazareno, um homem supremamente religioso e dedicado, e que, embora fosse sábio, como poderiam admitir, não possuía a sabedoria filosófica. Mas isso porque se tinham esquecido da lição de Sócrates, o qual fora reconhecidamente o melhor e mais sábio dos homens, a despeito do que viera a ser desprezado e, finalmente, fora oficialmente executado pelo estado, tal como sucedera com Jesus de Nazaré.

 «...Cristo crucificado...» Sim, porque foi na cruz de Cristo que a expiação pelos nossos pecados teve lugar. (Ver Rm 5:11). É ainda em Cristo que temos a «propiciação» (ver Rm 3:25), a «justificação» (ver Rm 3:24,28) e a «glorificação» (ver Rm 8:29,30). Também em Cristo se firma a nossa «esperança» (ver Rm 8:24,25), e nele é que somos «adotados» como filhos, na família de Deus (ver Rm 8:15).

 «Não um Messias guerreiro, a dardejar sinais do céu, a quebrar o jugo imposto pelos pagãos; e, sim, um Messias que morria em impotência e vergonha. Ver II Co 4:10; 13:4 e Dt 21:23, o 'pendurado', conforme é chamado no Talmude». (Findlay, in loc).

 1:24  mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos. Cristo, poder de Deus, e sabedoria do Deus.

 O quadro não era totalmente negro, entretanto. Havia tanto judeus como gentios que haviam aceito a Jesus Cristo. Esses eram os indivíduos iluminados, aqueles que haviam transcendido tanto as perversões do judaísmo, que recebera sinais do Senhor, mas não reconhecera a nenhum dos mesmos e ainda exigia mais e maiores sinais, como o embotamento filosófico dos gregos, a mera sabedoria humana.

 Naturalmente, essa iluminação é outorgada aos homens espiritualmente e não apenas sobre o intelecto. E se torna real quando da chamada ou eleição dos crentes, os quais, dessa maneira, se tornam capazes de receber os impulsos e as revelações divinas. Esse «chamamento» vem da parte de Deus, através do seu Santo Espírito. Não opera mediante a sabedoria humana, e, de fato, pode ser entravada por ela. Por isso mesmo, precisa transcender à sabedoria humana, atingindo aos homens no nível da alma, e não apenas nos níveis emocional ou intelectual. No terceiro capítulo de Romanos, o apóstolo Paulo apresenta o ensino sobre a impossibilidade dos homens caídos virem a Deus por seus próprios esforços e pela inteligência humana. É mister que haja a intervenção e a iluminação divinas para tanto. Essas são conferidas quando da «chamada» através do evangelho, chamada essa baseada nos eternos decretos de Deus.

 Não obstante, o impulso do Espírito Santo deve ser sempre correspondido por parte da vontade humana. Pois se o livre-arbítrio humano não pode obter a salvação por si mesmo, pode acolhê-la. Por outro lado, se a vontade humana perverter os impulsos do Espírito Santo, estes não produzirão o efeito desejado. Assim, pois, a salvação é dada ao pecador tanto através da agência divina como através da agência humana; e todos os homens são assim conduzidos aos pés de Cristo.

 A atitude acolhedora é criada na alma humana através da preparação do caráter. O certo é que a «fé» é a reação favorável da alma para com os impulsos do Espírito Santo, não sendo uma mera propriedade intelectual. (Quanto a esse tema, ver os trechos de Jo 3:15 e Hb 11:1). A alma, por ser uma entidade espiritual, possui determinado caráter, bem como certa visão de Cristo e das realidades espirituais. Quando essa visão é clara, o homem mortal, em sua própria alma, acolhe a mensagem do evangelho. Mas, nos casos em que essa visão é obscura, ou completamente confusa, o homem mortal rejeita a Cristo. Muitas dessas pessoas nem ao menoscompreendem que são seres essencialmente espirituais, e tolamente imaginam que o corpo material é a explanação de toda a sua existência (materialismo). Tais pessoas dificilmente se deixam atrair pela mensagem altamente espiritual de Cristo, não reagindo favoravelmente a ela.

 «...poder de Deus...» No caso daqueles que são chamados, que se achegam a Cristo, o evangelho é o poder de Deus, porquanto gira em torno de Cristo, que é o tema central do evangelho. Isso Paulo já havia salientado, no décimo oitavo versículo deste capitulo. O poder de Deus faz o que a sabedoria humana não é capaz de fazer: salva a alma e a eleva para Deus, que é o grande alvo e o propósito de toda a existência humana. (Ver os trechos de I Co 8:6 e Rm 11:36, quanto a esse tema).

 Na cruz, Jesus Cristo se tornou tanto o «poder» como a «sabedoria» de Deus, conforme lemos nos versículos vigésimo primeiro e vigésimo terceiro deste capítulo. Os judeus desejavam «sinais prodigiosos», demonstração de poder espiritual. Os gregos desejavam elevadas manifestações de «sabedoria». Ora, Cristo é ambas as coisas. (Ver o trigésimo versículo deste capítulo, que reitera a idéia essencial desta passagem). Cristo, crucificado, é a solução que Deus apresentou tanto para os judeus —que buscavam poder— como para os gregos, que buscavam sabedoria. Isso porque os elevadíssimos propósitos de Deus se cumprem na cruz de Cristo, à maneira de Deus, e não conforme pensavam os gregos ou os judeus.

 «Aqui 'nos temos e de Deus' encontramos a antítese do 'escândalo' e da 'loucura'. Enquanto os judeus indagavam como é que uma pessoa crucificada e maldita poderia ser o Salvador de Israel, como alguém tão destituído de força poderia ser capaz de derrubar todos os poderes hostis, e enquanto os gregos julgavam absurdo a salvação da parte de alguém que tivera um fim tão miserável, por outro lado, os escolhidos de Deus, experimentam e confessam que é do Redentor crucificado que se origina o poder divino, o poder da vida e da paz celestiais, bem como um poder renovador, santificador, beatífico, como não poderia ser encontrado em coisa alguma pertencente à criatura. Esses escolhidos reconhecem que em Cristo é que existe a sabedoria divina, capaz de solucionar os problemas mais difíceis, os problemas de iluminar as trevas que impediam os homens de perceberem os caminhos de Deus, de cumprir os mais nobres propósitos de Deus, trazendo de volta para as veredas da vida aqueles que se tinham desviado, conduzindo-os, afinal, para seu destino final». (Kling, in loc).

 «Porque dessa maneira foi satisfeita a justiça, naquela natureza que pecara e que Satanás desgraçara, naquela natureza que fora a sua própria ruína; dessa maneira o pecado foi condenado, ao mesmo tempo que o pecador foi salvo. O perdão e a justificação nos são oferecidos pelo caminho da graça, apesar de tudo ser efetuado com justiça estrita. As perfeições divinas são assim harmonizadas e glorificadas, e dessa maneira Deus executou seus sábios desígnios e seus conselhos eternos. Sim, até mesmo a sabedoria de Deus é vista na morte de Cristo sobre a cruz, na qual ele foi encravado a fim de tornar-se maldição por nós, a fim de que nos pudesse redimir da maldição imposta pela lei, para que a bênção de Abraão pudesse ser derramada sobre nós». (John Gill, inloc).

 1:25  Porque a loucura de Deus é Mais sábio que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

 Paulo dá prosseguimento aos seus paradoxos e ousadas declarações. Em sentido literal, não podemos atribuir qualquer «loucura» a Deus. Mas Paulo usou esse vocábulo, porque é isso que os homens com freqüência pensam sobre o plano divino da redenção em Cristo. E assim, se por um lado usamos esse termo, na realidade está em foco a elevadíssima e infinita sabedoria de Deus, porquanto a «...loucura de Deus...» consegue realizar aquilo que a sabedoria humana não é capaz de concretizar. Também sabemos que não podemos atribuirfraqueza a Deus. Mas Paulo usou esse vocábulo porque era isso que alguns judeus e gregos pensavam ser a grande característica da vida e do final trágico da vida de Jesus de Nazaré. Essa aparente fraqueza, entretanto, esconde uma força todo-poderosa (ver os versículos dezoito e vinte e quatro deste mesmo capítulo).

 Esse poder se manifesta na salvação das almas, o feito mais extraordinário que pode ser concebido pelos homens; pois não é pequeno o prodígio mediante o qual um ser humano mortal vem a participar da própria imagem moral e metafísica de Cristo, vindo a compartilhar da divindade (ver Rm 8:29 e II Pe 1:4). E é exatamente isso que essa suposta «...fraqueza de Deus...» realiza. E assim, quando lemos aqui «loucura», devemos realmente compreender «elevadíssima e celestial sabedoria»; e quando lemos «fraqueza», devemos entender «elevadíssima e celestial fortaleza». Em ambos os casos, quer o da sabedoria, quer o do poder, falamos de realidades totalmente acima das capacidades e do alcance de meros homens.

 Indiretamente, pois, Paulo como que estava dizendo: «Portanto, digamos que o evangelho de Cristo seja uma espécie de insensatez, na mente divina; e suponhamos que o poder inerente em Cristo, na realidade, seja uma espécie de fraqueza divina. Até mesmo nesse caso, essa insensatez é suficientemente sábia para destacar-se acima, muito acima, de qualquer sabedoria humana, ao mesmo tempo que a fraqueza de Deus é suficientemente poderosa para fazer o que toda a força humana não pode fazer».

 Por conseguinte, a sabedoria de Deus, mesmo quando considerada «em sua mais chã manifestação», é mais sábia que os homens. E o poder de Deus, até mesmo visto em seu nível mais débil, é mais forte que o poder humano. Mediante tais argumentos, pois, o apóstolo Paulo salienta o caráter «divino» e «celestial» do evangelho e do Cristo por este anunciado. Tal evangelho simplesmente transcende a tudo quanto é humano. Tertuliano, um dos pais da igreja, declarou: «Creio, porque é ridículo». E isso se coaduna com o que Paulo afirma nesta passagem. O evangelho pode parecer ridículo para a mente humana; mas exatamente essa falsa impressão pode ser uma indicação do fato que sua mensagem transcende à capacidade humana de raciocínio mental, isto é, pode ser uma indicação que o evangelho é de origem e natureza sobrenatural.

 «A cruz parecia a grande derrota de Deus. Mas tem conquistado ao mundo, e é a força mais poderosa à face da terra». (Robertson, in loc).

 «Nenhuma outra vida sobre a face do planeta tem sido tão poderosa entre os homens. A mais largamente propagada das religiões da humanidade, o cristianismo, tem Jesus como sua personagem central... De Jesus, através do cristianismo, têm partido impulsos que têm ajudado a amoldar cada fase da civilização». (Kenneth Scott Latourette, The Unquenchable Light, Nova Iorque, Harper & Brothers, 1941, págs. ii- xii).

 «Aquele poder e aquela sabedoria de Deus, aninhados na 'palavra da cruz', continuam no nosso encalço, porquanto o seu reino ainda não foi conquistado. Mas o 'cão de caça dos céus' está na trilha. Não podemos escapar dele. Podemos levantar barricadas em todas as portas de nossa vida, à nossa vontade; mas Cristo esperará, batendo e pleiteando. No fim, as barreiras necessariamente ruirão, em amor ou em julgamento; porque há um limite para a solidão que o homem é capaz de suportar, e a solidão máxima é a da alma destituída de Deus.

 «A palavra da cruz é o tema dominante desta epístola, e, de fato, de todas as epístolas de Paulo. Nelas, esse tema aparece explícita ou implicitamente, até mesmo na epístola a Filemom. Esse tema determina o tom e o padrão para tudo quanto se segue. Como o eco de uma detonação, reboa através desta primeira epístola aos Coríntios. e, quando lhe damos ouvidos, suas reverberações retêm ainda o seu poder antigo». (John Short, inloc).

 «A natureza humana se deleita em realizar grandes feitos. Deus, pele contrário, em suas dispensaçõesterrenas, sempre aparece como alguém fraco e pequeno, a princípio, e é somente mais tarde que revela o poder avassalador que está oculto nos instrumentos de que se utiliza». (Neander, in loc).

 «...nenhum homem pode deixar de perceber que, propriamente falando, nem insensatez e nem fraqueza podem ser atribuídas a Deus; mas era necessário, através de tão irônicas expressões, abater as loucas presunções da carne, que não têm o escrúpulo de tentar furtar de Deus toda a sua glória». (Calvino, in loc.).

 «Considerando em retrospecto este parágrafo, vemos que não é difícil, se as evidências forem consideradas por si mesmas, interpretarmos Paulo como um pregador que dava pouco valor a toda a erudição. Todavia, isso seria uma conclusão distorcida e distante da verdade. Porquanto ele mesmo era homem de erudição autêntica, embora se restringisse. Nunca atacou o conhecimento como tal. Mas estava absolutamente convicto que esta não pode conduzir os homens a Deus. Isso depende do próprio ato divino da redenção, na cruz de Cristo. O acesso a Deus não se efetua mediante a filosofia humana, mas através da revelação histórica, em Cristo», (C. TCraig, in loc).

 

FONTE Bibliografia R. N. Champlin,comentário do novo testamento,2003

FONTE VEJA www.avivamentonosul.blogspot.com.br