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Liderança cristã diacono diaconato
Liderança cristã diacono diaconato

                 LIDERANÇA CRISTÃ DIACONO DIACONATO

 

 

Por que existe o ministério do diácono? Qual a sua função e importância na vida da igreja local? Estas perguntas podem e devem ser trabalhadas em sala de aula. Muitos alunos não têm a convivência da realidade e dos meandros da organização eclesiástica de suas igrejas locais. Por isso esta é uma excelente oportunidade para abordar um assunto que faz parte da vida cristã de todo membro em uma comunidade local.

Para responder as perguntas elaboradas acima, deve-se partir do sexto capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos, pois ali, pela primeira vez, foi constituído um ministério específico de caráter social para resolver uma variante problemática de aspecto étnico: entre as viúvas de fala hebraica e as de fala grega. Tal problema poderia atravancar o avanço da igreja local que estava em Jerusalém. Os apóstolos sentiram-se cobrados em solucionar um problema não muito fácil, entretanto, os ministérios da Palavra e da Oração não poderiam ficar em segundo plano. Mas igualmente, a sobrevivência humana.

Orientados pelo Espírito Santo, e também dotados por um profundo bom senso, juntamente com a igreja, os apóstolos não hesitaram em tomar a decisão de separar sete homens judeus de fala grega 13 Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau - para resolverem uma questão de caráter social e urgente. Assim, a igreja de Jerusalém voltou a normalidade da sua atividade coadunando a prática proclamatória do Evangelho com o serviço de interferir socialmente na vida dos crentes, e não- -crentes também, para suprir a necessidade de quem precisava de ajuda. Por isso, o caráter do ministério diaconal é profunda e biblicamente enraizado numa intensa preocupação social. O diácono de Atos não foi chamado para fazer trabalhos meramente litúrgicos, (como colher dízimos e ofertas e servir a Santa Ceia), mas principalmente a cuidar dos mais necessitados, visitar as viúvas e os enfermos, amparando quem realmente precisa de cuidados na comunidade cristã local.

Por conseguinte, o serviço de diácono não é simplesmente uma função eclesiástica, mas um estilo de vida ensinado e promovido por Jesus de Nazaré. Quando um crente olha para o verdadeiro diácono ele deve sentir-se impulsionado para viver um estilo de vida diaconal, como o de Cristo em seu ministério terreno. Pois o diaconato é um estilo de vida centralizado em Jesus de Nazaré, jamais em si mesmo.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Em seus ensinos, Jesus não especificou como seria a organização da Igreja, nos diversos lugares por onde seu evangelho haveria de promover a conversão de muitas pessoas pelo poder do Espírito Santo. Ele garantiu que haveria de edificar a sua Igreja e “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18). E a Igreja cresceu e se expandiu pelo mundo todo. E seu crescimento demandou o estabelecimento de medidas e providências jamais experimentadas por qualquer organização humana.

Para começar o grandioso trabalho, só restavam onze apóstolos. Judas, o traidor, perecera de maneira trágica, indo para “o seu próprio lugar” (At 1.25). A equipe de Jesus era pequena e diminuíra. Mas a obra precisava ser feita. Em lugar de Judas foi eleito Matias, que tomou “o seu bispado” (At 1.20). (Esse texto mostra que o apóstolo também era bispo). Resolvido o problema da substituição de Judas, os apóstolos encetaram a grande missão de prosseguir com a obra de Jesus. No cenáculo, receberam o poder do Alto, sendo batizados com o Espírito Santo. Com a pregação cheia de unção, quase três mil novos crentes agregaram-se ao pequeno grupo de cristãos (At 2.37-41).

O crescimento vertiginoso trouxe diversos problemas. Entre os conversos, havia pessoas de outros lugares, além de judeus. Os problemas não tardaram a surgir. O evangelista Lucas, escritor dos Atos dos Apóstolos, registrou o que ocorria naqueles dias, quando a comunidade cristã cresceu grandemente, e surgiram diversos problemas, inclusive de ordem social (cf. At 6.1-7). E os líderes da Igreja resolveram reunir a assembleia e buscar a solução para o atendimento social aos irmãos carentes. A tarefa era um grande desafio. Ou eles cuidavam da evangelização e do discipulado, ou cuidavam da parte social.

Por decisão sábia e unânime, escolheram sete homens, com qualidades exemplares, para cuidarem daquele “importante negócio”, que era dar assistência aos novos convertidos nas suas necessidades básicas. Muitos que aceitavam a Cristo ficavam em situação difícil, rejeitados por suas famílias, expulsos de casa e desprezados da sociedade. Assim, ante uma crise de caráter humano, os apóstolos tiveram que tomar medidas que serviram de base para a criação do cargo ou da função de diácono que faz parte, até hoje, do ministério ordenado, nas igrejas cristãs.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 139-140.

Aquilino de Pedro afirmou que o diaconato é o ministério por excelência; o serviço é a sua razão primacial. Se nos voltarmos aos atos dos apóstolos, constataremos que não exagera o ilustrado teólogo. A diaconia outra coisa não é senão um serviço incondicional e amoroso a Deus e à sua Igreja. O diácono que não vive para servir a igreja de Deus, não serve para viver como ministro de Cristo. A essência do diaconato é o serviço; do diaconato, o serviço também é o amoroso fundamento. E sem serviço também a diaconia é impossível. Nesse sentido, quão excelso e perfeito diácono foi o Senhor Jesus!

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

I - A DIACONIA DE JESUS CRISTO

  1. Significado do termo.

A palavra diaconia é originaria do vocábulo grego diákonos e significa, etimologicamente, ajudante, servidor. Já que o diácono é um servidor, pode ele ser visto também como um ministro; a essência do ministério cristão, salientamos, é justamente o serviço. Em seu Dicionário do Novo Testamento Grego, oferece-nos W.C. Taylor a seguinte definição de diácono: garçom, servo, administrador e ministro. Na Grécia clássica, diácono era o encarregado de levar as iguarias à mesa, e manter sempre satisfeitos os convivas. Na septuaginta, eram os servos chamados de diáconos, porém não desfrutavam da dignidade de que usufruíram seus homônimos do NT, nem eram incumbidos de exercer a tarefa básica destes: socorrer os pobres e necessitados. Não passavam de meros serviçais. Aos olhos judaicos, era esse um cargo nada honroso. A palavra diácono aparece cerca de trinta vezes no NT. Às vezes, realça o significado de servo; outras, o de ministro. Finalmente, sublime a função que passou a existir na Igreja Primitiva a partir de Atos capítulo seis. Observemos, entretanto, que, nesta passagem de Atos dos apóstolos, não encontramos a palavra diácono. O cargo descrito, e o titulo não é declinado. A obviedade do texto, contudo, não atura duvidas: referiam-se os apóstolos, de fato, ao ministério diaconal.

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

Eles devem ser como o próprio Mestre; e é muito apropriado que eles o fossem, pois, enquanto estivessem no mundo, deveriam ser como Ele foi quando estava no mundo. Porque para ambos o estado atual é um estado de humilhação; a coroa e a glória estavam reservadas para ambos no estado futuro. Eles precisavam considerar que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos” (v. 28). O nosso Senhor Jesus aqui se coloca diante dos seus discípulos como um padrão de duas qualidades anteriormente recomendadas: a humildade e a utilidade.

[1] Nunca houve um exemplo de humildade e condescendência como houve na vida de Cristo, que não veio para “ser servido, mas para servir”. Quando o Filho de Deus entrou no mundo - o Embaixador de Deus para os filhos dos homens alguém poderia pensar que Ele deveria ser servido, que deveria ter se apresentado em um aparato que estivesse de acordo com a sua pessoa e caráter; mas Ele não fez isso; Ele não agiu como uma celebridade, Ele não teve nenhum séquito pomposo de servos de Estado para servi-lo, nem se vestiu em túnicas de honra, porque tomou sobre si a “forma de servo”. Ele, na verdade, viveu como um homem pobre, e isto fez parte da sua humilhação. Houve pessoas que o serviram com as “suas fazendas” (Lc 8.2,3); mas Ele nunca foi servido como um grande homem. Ele nunca tomou a pompa sobre si, não foi servido em mesas, como um dos grandes deste mundo. Jesus, certa vez, lavou os pés dos seus discípulos, mas nunca lemos que eles tenham lavado os pés dele. Ele veio para ajudar a todos quantos estivessem em aflição. Ele se fez servo para os doentes e debilitados; estava pronto para atender aos seus pedidos como qualquer servo estaria pronto para atender à ordem do seu senhor, e se esforçou muito para servi-los.

O Senhor Jesus serviu continuamente visando este fim, negando a si até mesmo o alimento e o descanso para cumprir essa tarefa.

[2] Nunca houve um exemplo de beneficência e utilidade como houve na morte de Cristo, que “deu a sua vida em resgate de muitos”. Ele viveu como um servo, e fez o bem; mas morreu como um sacrifício, e com isso Ele fez o maior bem de todos. Ele entrou no mundo com o propósito de dar a sua vida em resgate; isto estava primeiro em sua intenção. Os aspirantes a príncipes dos gentios fizeram da vida de muitos um resgate para a sua própria honra, e talvez um sacrifício para a sua própria diversão.

Cristo não age assim; o sangue daqueles que lhe são sujeitos é precioso para Ele, e Ele não é pródigo nisso (SI 72.14); mas, ao contrário, Ele dá a sua honra e a sua vida como resgate pelos seus súditos. Note, em primeiro lugar, que Jesus Cristo sacrificou a sua vida como um resgate. A nossa vida perdeu o direito nas mãos da justiça divina por causa do pecado. Cristo, entregando a sua vida, fez a expiação pelo pecado, e assim nos resgatou. Ele foi feito “pecado” e uma “maldição” por nós, e morreu, não só para o nosso bem, mas “em nosso lugar” (At 20.28; 1 Pe 1.18,19). Em segundo lugar, foi um resgate por muitos. Ele foi suficiente para todos, mas eficaz para muitos; e se foi eficaz para muitos, então diz a pobre alma duvidosa: “Por que não por mim?” Foi por muitos, para que por ele muitos pudessem ser feitos justos. Esses muitos eram a sua semente, pela qual a sua alma sofreu (Is 53.10,11). “De muitos”, assim eles serão quando forem reunidos, embora parecessem então um pequeno rebanho.

Então esse é um bom motivo para não disputarmos a precedência, porque a cruz é a nossa bandeira, e a morte do nosso Senhor é a nossa vida. Esse é um bom motivo para pensarmos em fazer o bem, e, em consideração ao amor de Cristo ao morrer por nós, não hesitarmos em “sacrificar as nossas vidas pelos irmãos” (1 Jo 3.16). Os ministros devem estar mais ansiosos do que os outros para servir e sofrer pelo bem das almas, como o bendito apóstolo Paulo estava (At 20.24; Fp 2.17). Quanto mais interessados, favorecidos e próximos estivermos da humildade e da humilhação de Cristo, mais prontos e cuidadosos estaremos para imitá-las.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 261-262.

Mt 20.26-28 Em uma frase, Jesus ensinou a essência da verdadeira grandeza: Todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal. A grandeza é determinada pelo serviço. O verdadeiro líder coloca as suas necessidades em último lugar, como Jesus exemplificou na sua vida e na sua morte. Ser um “servo” não significa ocupar uma posição servil, mas sim ter uma atitude na vida que atende livremente às necessidades dos outros sem esperar nem exigir nada em troca. Os líderes que são servos apreciam o valor dos outros e percebem que não são superiores a ninguém; eles também entendem que o seu trabalho não é superior a nenhum outro trabalho. Procurar honra, respeito e atenção dos outros vai em direção contrária às exigências de Jesus para os seus servos. Jesus descreveu a liderança a partir de uma nova perspectiva. Ao invés de usar as pessoas, nós devemos servi-las.

A missão de Jesus era servir aos outros e dar a sua vida por eles. Um verdadeiro líder tem o coração de um servo. Os discípulos devem estar dispostos a servir porque o seu Mestre deu o exemplo. Jesus explicou que Ele não veio para ser servido, mas para servir a outros. A missão de Jesus era servir — em última análise, dando a sua vida para salvar a humanidade pecadora. A sua vida não foi “tomada”, Ele a “deu”, oferecendo-a como sacrifício pelos pecados do povo. Um resgate era o preço pago para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um resgate por nós, e o preço exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar, Ele morreu a morte que nós mereceríamos.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 124.

Mt 20. 28 Nesse ponto, Jesus apresenta-se — o Filho do homem (veja comentário sobre 8.20) — como o supremo exemplo de serviço para os outros. O versículo é claramente importante para nossa compreensão da percepção de Jesus de sua morte.

Três questões relacionadas pedem discussão.

  1. Autenticidade. Muitos rejeitam a autenticidade do versículo 28 ou, pelo menos, de 28a (e do correspondente Mc 10.45) com base em que ele se ajusta mal ao contexto, uma vez que a morte vicária de Jesus não pode ser imitada por seus discípulos, que em nenhuma outra passagem registra-se ele falando de sua morte dessa maneira e que a linguagem usada reflete a influência da igreja helénica. Ao contrário, a linguagem demonstra ser palestina (Jeremias, Eucharistic Words [Palavras eucarísticas], p. 179-82); e Jesus não fala de sua morte em termos distintos de quando instituiu a ceia do Senhor (26.26-29) e também de Lucas 22.37, presumindo que ela se relaciona a uma ocasião distinta. E bastante comum no Novo Testamento, nas palavras atribuídas a Jesus e a outras existentes em outros trechos começarem com a necessidade dos discípulos matarem o “eu” e terminarem com a morte vicária única de Jesus como um exemplo ético — ou, de forma inversa, começarem com a morte única de Jesus e tê-la aplicada como um exemplo para os discípulos (Jo 12.23-25; Fp 2.5-11; IPe 2.18-25). Não há motivos substanciais para negar a autenticidade desse dito (cf. esp. S. H. T. Page, “The Authenticity of the Ransom Logion [Mark 10.45b]” [“A autenticidade do dito de resgate (Mc 10.45b)”], em France e Wenham, p. 1:137-61); e suas nuanças parecem muito mais em harmonia com a forma progressiva como Jesus se revelou (cf. Carson, “Christological Ambiguities” [“Ambiguidades cristológicas”]) que com a nítida confissão apostólica pós-ressurreição.
  2. Sentido. É natural entender que o “não veio” como pressupondo, pelo menos, um indício da pré-existência de Jesus, embora a linguagem não exija absolutamente isso. Ele não veio para ser servido, como um rei que depende de incontáveis cortesãos e criados, mas para servir os outros. Stonehouse observa com acerto que esse versículo presume que o Filho do homem tem todo direito de esperar ser servido, mas, em vez disso, ele serve. Está implícita a autoconsciência de que o Filho do homem que, por causa de sua origem celestial, possuía autoridade divina era aquele que se humilhou a ponto de se submeter a uma morte vicária. A tripla ruptura das referências do Filho do homem (veja digressão sobre 8.20), até aqui, é artificial. A demonstração da glória divina brilha com mais esplendor quando é separada por causa da morte vergonhosa de um homem redentor. Esse é exatamente o cerne da revelação de si mesmo de Jesus e do evangelho primitivo (ICo 1.23: “Pregamos a Cristo [Messias] crucificado”).

O Filho do homem veio para “dar a sua vida em resgate por muitos”. Deissmann (LAE, p. 331s.) observa que lytron (“resgate”) não era usado muito comumente para o preço de compra da libertação de escravos; e há boa evidência de que, no Novo Testamento, a noção de “preço de compra” está sempre sugerida no uso de lytron.

No entanto, outros, ao examinar a palavra na LXX, concluem que, sobretudo quando o sujeito é Deus, a palavra tem o sentido de “libertação”; e o verbo cognato, de “libertar”, sem referência ao “preço pago” (veja esp. Hill, Greek Words [Palavras gregas], p. 58-80). O assunto pode ser difícil de decidir em uma passagem como Tito 2.14. A perversidade é uma cadeia da qual Jesus por meio de sua morte nos liberta ou um dono de escravos do qual Jesus por meio de sua morte nos resgata?. O paralelo em 1 Pedro 1.18 sugere a última opção, embora (como Turner, Christian Words Palavras cristãs], p. 105-7, insiste) não haja nunca qualquer menção no Novo Testamento daquele a quem o preço é pago; e em Mateus 20.28,

esse sentido é praticamente assegurado pelo uso de an ti (“para”). A força normal dessa preposição denota substituição, equivalência, troca (cf. esp. M. J. Harris, DNTT, 3:1179s.). “A vida de Jesus entregue em morte vicária realiza a libertação de vidas confiscadas. Ele agiu em favor de muitos ao tomar o lugar deles” (ibid.,p. 1180).

O termo “muitos” enfatiza os incomensuráveis efeitos da morte solitária de Jesus: um morre, muitos encontram sua vida “resgatada, curada, restaurada, perdoada”, uma grande multidão que nenhum homem pode contar (cf. J. Jeremias, “Das Lõsegeld für Viele” [“O resgate de muitos”] , Ju d a ica 3 [1948], p. 263). Mas deve-se lembrar que o termo “muitos” pode se referir, nos PMM e na literatura rabínica, à comunidade eleita (cf. Ralph Marcus, “‘Mebaqqer’ and ‘Rabbim’ in the Manual of Discipline vi, 11-13” [“‘Mebaqqer’ e ‘rabbim’ no manual de disciplina 6.11-13”], JBL 75 [1956], p. 298-302). Isso sugere que a morte vicária de Jesus é o pagamento pelo povo escatológico de Deus e que resulta nesse povo. Isso se ajusta bem ao “muitos” de Isaías 52.13—53.12.

  1. Dependência de Isaías 53. argumentam que não há alusão a Isaías em Marcos 10.45 e em Mateus 20.28. Eles argumentam isso com base em dois fundamentos: linguístico e conceituai. Da perspectiva linguística, eles observam que o verbo grego diakonein (“servir”, v. 28) e seus cognatos não são nunca usados na LXX para traduzir ‘eb ed (“servo” dos “cânticos de servo” de Isaías) e seus cognatos. Mas a evidência é frágil, e os paralelos conceituais são próximos — o Servo de Isaías beneficia os homens por meio de seu sofrimento, e Jesus também faz isso. Hooker, com certeza, está errado em restringir diakonein a serviço doméstico (cf. France, “Servant of the Lord” [“Servo do Senhor”], p. 34). France e Moo (Use o f OT [Uso do AT, p. 122ss.) também mostram que “dar a sua vida” tem origem em Isaías 53.10,12 e que lytron (“resgate”) não é uma tradução impossível para ’ãsãm (“oferta de culpa”) como alguns alegam. A palavra hebraica ’ãsãm inclui a noção de substituição ou, pelo menos, de um equivalente. O pecador culpado oferece uma ’ãsãm a fim de remover sua própria culpa, e em Levítico 5, ’ãsãm refere-se a pagamento compensatório.

Assim, embora ’ãsãm tenha mais nuanças sacrificiais que lytron, os dois termos incluem a ideia de pagamento ou compensação. Muitos estudiosos também reconhecem no termo “muitos” uma clara referência a Isaías (cf. esp. Dalman, p. 171-72). A implicação da evidência cumulativa é que Jesus se refere explicitamente a si mesmo como o Servo sofredor de Isaías (veja comentário sobre 26.17-30) e interpretava sua própria morte sob essa luz — interpretação em que Mateus seguiu seu Senhor (veja comentário sobre 3.17; 12.15-21).

  1. A. CARSON. O Comentário De Mateus. Editora Shedd Publicações. pag. 504-506.
  2. Serviço de escravo.

Diaconia significa “ministério, serviço”. Jesus Cristo foi exemplo para a Igreja em todos os aspectos. Em sua Diaconia, Ele foi “apóstolo... da nossa confissão” (Hb 13.1). Foi profeta (Lc 24.19); foi evangelista (Lc 4.18-19); foi Pastor (Jo 10.11) e também foi diácono. Ele demonstrou seu caráter e sua personalidade, dando exemplo de humildade. Para cumprir sua missão sacrificial em favor dos homens, Jesus despojou-se temporariamente de sua glória plena (Jo 17.14). Paulo diz que Ele assumiu a forma de servo, mais que isso, a forma de “escravo”. Jesus, “... sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se semelhante aos homens-, e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8 — grifo nosso). A expressão “tomando a forma de servo”, “significa aparecer em uma condição humilde e desprezível”.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 140.

Jesus, o Diácono dos diáconos

Foi o Senhor um diácono em tudo perfeito. Na declaração que faz Ele em Marcos 10.45, encontramos a variante da palavra diakonia duas vezes: “O Filho do Hmem também não veio para ser servido [diakonêthênai], mas para servir [diakonêsai] e dar a sua vida em resgate de muitos”. Ele era Senhor, e servia a todos. Era Rei prometido, mas se dizia servo dos servos de Deus. Deveria estar à mesa, mas ei-lo a lavar os pés dos discípulos.

Embora o apocalipse mostre-o na plenitude de sua gloria, vemo-lo em Isaias, como o servo sofredor. A fim de assumir a sua diaconia, despojou-se de suas prerrogativas, assumiu a nossa forma e pôs-se a servir indistintamente a todos.

Este é o nosso Senhor; Diácono dos diáconos!

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

A AUTO HUMILHAÇÃO DE JESUS (13.4-20)

Pelo fato de a declaração de abertura do capítulo 13 ser longa e detalhada, o leitor deve considerar que o início da cena da ceia ocorre na primeira oração do versículo 2: E, acabada a ceia (o texto grego diz “durante a ceia”), e então continua com a primeira oração no versículo 4: levantou-se da ceia. Ao fazê-lo, o Senhor tirou as vestes (4, cf. 10.17; Fp 2.5-8); i.e., a túnica externa. Então, tomando uma toalha, cingiu-se, o que “marca a ação de um escravo”. Assim preparado, Ele pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxuga-los com a toalha com que estava cingido (5). João não declara por que algum dos discípulos não executou esta tarefa servil, mas evidentemente havia ocorrido alguma “busca de posição” entre os doze (Lc 22.24). Além disso, Jesus era o único naquela sala que poderia executar até mesmo o simbolismo da purificação — pois só Ele estava limpo no sentido teológico e moral da palavra (cf. 17.19; Hb 13.12). Ele veio para dar ao homem a possibilidade de tornar-se puro, moralmente limpo, santo.

Quando Jesus foi lavar os pés de Pedro, este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? (6) A resposta de Jesus, não o sabes tu, agora, não só afirmava a ignorância de Pedro em relação às coisas espirituais (e.g., a vinda do Espírito), como também incluía uma promessa: tu o saberás depois (7). O que eu faço era a humilhação do Senhor, simbolizada no ato de levar-lhes os pés; na verdade, porém, Ele estava proporcionando toda a obra redentora de Deus para o homem. Hoskyns comenta que a reação de Pedro não é um contraste entre o orgulho de Pedro e a humildade de Jesus, mas, antes, “entre o conhecimento de Jesus, o qual é a base da ação, e a ignorância de Pedro, que ainda não percebe que a humilhação do Messias é a causa efetiva da salvação cristã” (cf. 2.22; 7.39; 12.16; 14.25-26; 15.26; 16.13; 20.9).9 Mas o entendimento do futuro estava longe demais para Pedro. Ele só via a incongruência imediata da situação — Jesus lavando os seus pés. Impulsivamente, ele declarou: “Nunca em nenhum momento lavarás os meus pés — para sempre” (tradução literal). Pedro esperava colocar um ponto final em tudo aquilo. Mas Jesus conhecia o caminho para o coração de Pedro — a ameaça de ser excluído da presença de Jesus, a quem Pedro amava. Se eu te não lavar, não tens parte comigo (8; cf. Hb 12.14). “Não há lugar na sociedade dos cristãos para aqueles que não forem purificados pelo próprio Senhor Jesus”. Se a comunhão só poderia ser adquirida pela purificação (cf. 1 Jo 1.7), então Pedro queria tudo o que pudesse ter — pés, mãos e cabeça (9).

Jesus fez uma aplicação geral da ideia sobre a qual conversava com Pedro: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés. Ele está todo limpo”. “Vós estais limpos, mas não todos” (10). Hoskyns comenta que, no ato da lavagem dos pés, Jesus “simbolicamente declara a completa purificação deles através da humilhação da morte do Messias. O cristão fiel é purificado pelo sangue de Jesus” (1 Jo 1.7; cf. Rm 6.1-3; 1 Co 10.16).14 Se a santidade de coração estiver no coração da Eucaristia (ver o comentário sobre 6.53), a pureza do coração está no coração do Pedilavium (lavagem dos pés). Tudo isto era uma prefiguração simbólica da obra do Espírito que se tornaria possível através da sua vinda (14.15-17,25-26; 15.26; 16.7-15).

Mas, e quanto a Judas? Ele estava limpo? Jesus sabia, e soube (6.70-71), quem o haveria de trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos (11). Bernard diz: “No que diz respeito à limpeza do corpo, não há dúvida de que ele estava nas mesmas condições dos outros, mas não no sentido espiritual”.

Tendo lavado os pés dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa, outra vez perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12) Macgregor comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida novamente (10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas” (7).16 Sem esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um exemplo (15), ou modelo, “que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo”.17 Da mesma forma que Ele, seu Mestre (literalmente, “Ensinador”) e Senhor, lhes tinha feito, assim deveriam fazer uns aos outros (13-14; cf. 34). Hoskyns diz: “Seu ato de lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da autoridade cristã”.18 Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse que a lavagem dos pés fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que Ele estava ensinando, pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a única maneira de ser “o maior” (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar a estrada do serviço amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no conhecimento da vontade de Deus para nós. A palavra traduzida como bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt 5.3-12).

Um dos doze, no entanto, está se excluindo da execução do serviço amoroso, e consequentemente das bem-aventuranças implicadas. Sem dúvida alguma pensando em Judas, o Mestre disse: Não falo de todos vós (18). Então, como para enfatizar o fato de que o próprio Judas escolhera desempenhar o papel do traidor como um cumprimento das Escrituras, Ele acrescentou: eu bem sei os que tenho escolhido. Bernard traduz esta frase com exatidão: “Sei o tipo de homem que escolhi”. A expressão traduzida por: para que se cumpra a Escritura é um pouco enganosa. O ensino claro das Escrituras é que as escolhas morais do homem são deixadas dentro de seu próprio campo de decisão. Barclay esclarece bem a questão quando comenta: “Toda esta tragédia que está acontecendo, de alguma maneira, está dentro do propósito de Deus... Foi como as Escrituras disseram que seria”. trecho das Escrituras que Jesus citou é Salmos 41.9: aquele que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar. Compartilhar o pão era uma promessa de amizade. Levantou... o seu calcanhar descreve um ato de violência brutal, como o coice repentino de um cavalo. Como foi profético! Em poucos momentos, Judas sairia, tendo ainda em sua boca o gosto do bocado da escolha que foi partilhado com Jesus. Ele então retornaria com uma turba de assassinos, perpetrando o ato violento e brutal jamais dantes praticado, nem sequer equiparado.

Jesus tinha uma razão especial para expor o problema básico diante dos discípulos. Isto se tornaria para eles mais uma evidência, a fim de que entendessem a sua verdadeira natureza. Ele lhes contou o evento da traição antes que acontecesse, e explicou a razão: para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou (19). O eu sou (ego eimi) é outra das declarações de Jesus de sua divindade (cf. 16.4; 14.29; Ez 24.24; Mt 24.25). Westcott diz a respeito do eu sou: "... em mim está a fonte da vida e luz e força; Eu vos apresento a majestade invisível de Deus; Eu uno a virtude do meu Ser essencial, o que se vê e o que não se vê, o finito e o infinito”.

Embora seja verdade que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou (16), Jesus assegura aos seus discípulos o relacionamento com Ele e com o Pai. Pois se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim recebe aquele que me enviou (20).

Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 116-118.

Jo 13.3-5 Jesus, o Filho de Deus, conhecia a sua origem e o seu destino. Ele sabia que em breve iria retomar ao seu Pai. Tendo a certeza de seu próprio destino, Ele concentrou a sua atenção nos discípulos, e mostrou-lhes o que significava para Ele tornar-se o Servo deles - e também mostrou que eles deveriam servir uns aos outros.

Em um momento tão próximo da revelação da verdadeira identidade e glória de Jesus, Ele separou aqueles que por direito eram seus, e expressou o seu caráter através de um ato de humildade. Ele levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se como um avental. Ele então pôs água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos.

Jesus era o exemplo de servo, e Ele mostrou a sua atitude de servo aos seus discípulos. Lavar os pés era um ato comum nos tempos bíblicos. A maioria das pessoas viajava a pé (calçando sandálias) pelas estradas empoeiradas da Judéia. Quando entravam em casa, era costume lavar os pés. Não se oferecer para lavar os pés de um convidado era considerado uma falta de hospitalidade (veja Lucas 7.44). Lavar os pés dos convidados era o trabalho de um dos servos mais simples da casa, e deveria ser realizado quando os convidados chegassem (1 Samuel 25.41). Esta era uma tarefa subserviente. O incomum sobre este ato era que Jesus, o Mestre e Instrutor, estava fazendo isto para os seus discípulos, como o escravo mais inferior faria.

Jo 13.12-16 O ato de Jesus de lavar os pés dos discípulos demonstrava amor em ação. Jesus era o seu Mestre e Senhor, significando que Ele estava em um nível mais elevado do que eles; contudo, o Senhor assumiu uma posição de humildade e serviço porque amava aqueles a quem servia. Jesus ordenou aos seus discípulos que lavassem os pés uns dos outros - que servissem uns aos outros em amor de acordo com o exemplo que Ele estabeleceu. Se recusar a servir aos outros, se recusar a se humilhar, não importa quão elevada seja a sua posição, é se colocar acima de Jesus. Tal orgulho arrogante não é o que Jesus ensinou. Estes discípulos logo seriam enviados como os mensageiros da igreja cristã. Eles seriam líderes em muitos lugares – na verdade, Tiago, João e Pedro se tornaram os líderes da igreja cristã em Jerusalém. Jesus ensinou a estes, que logo seriam líderes, que quando eles trabalhassem para divulgar o Evangelho, deveriam antes de tudo ser servos daqueles a quem ensinassem. Os discípulos devem ter se lembrado desta lição todas as vezes que enfrentaram problemas, lutas, e alegrias junto aos primeiros crentes.

Quantas vezes eles devem ter se lembrado de que foram chamados para servir. E que diferença isto fez! Imagine como teria sido difícil o crescimento (até mesmo a existência) da igreja primitiva, se estes discípulos tivessem continuado a competir por lugares de grandeza e importância! Felizmente para nós, eles mantiveram a lição de Jesus em seus corações.

Jo 13.17 Somos abençoados (felizes, alegres, realizados), não por causa do que sabemos, mas por causa do que fazemos com aquilo que sabemos. A graça de Deus a nós encontra a sua perfeição no serviço que nós, como vasos de sua graça, prestamos aos outros. Encontraremos a nossa maior bênção ao obedecermos a Cristo, servindo aos outros.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 565-566.

Jo 13. 3-5. O conhecimento especial de Jesus acerca da vontade de seu Pai para ele, articulado no versículo 1, é agora repetido, mas com duas adições significativas: ele não só sabia que o tempo tinha chegado para ele deixar esse mundo, mas também que viera de Deus e que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder. Com tal poder e status a sua disposição, poderíamos esperar que ele derrotasse o Diabo em um confronto imediato e flamejante e devastasse Judas com um irresistível golpe de ira divina. Em vez disso, ele lava os pés de seus discípulos, inclusive os pés do traidor.

Sem dúvida, os discípulos ficariam felizes em lavar os pés dele; eles não podiam conceber a ideia de lavar os pés uns dos outros, visto que essa era uma tarefa normalmente reservada para os servos mais inferiores. Pares não lavavam os pés uns dos outros, exceto muito raramente e como sinal de grande amor. Alguns judeus insistiam que não se devia exigir de escravos judeus que lavassem os pés de outros; esse trabalho devia ser reservado para escravos gentios, ou para mulheres, crianças e discípulos (Mekhilta 1 sobre Ex 21.2). Em uma história bem conhecida, quando rabi Ismael voltou para casa vindo da sinagoga e sua mãe quis lavar seus pés, ele recusou por considerar a tarefa muito humilhante. Ela levou a questão à corte rabínica com base no fato de que via essa tarefa como uma honra {cf. SB 1. 707). A relutância dos discípulos de Jesus em se oferecerem para essa tarefa é, para dizer o mínimo, culturalmente compreensível; o choque que sofreram quando ele se ofereceu não é somente resultado da vergonha que sentiram, mas também é uma reação ao esforço de entender a conveniência dessa alteração das coisas.11 Pois, aqui, Jesus inverte as funções normais. Seu ato de humildade é tão desnecessário quanto atordoante e é, ao mesmo tempo, uma demonstração de amor (v. 1), um símbolo de purificação salvadora (w. 6-9), e um modelo de conduta cristã (w. 12-17).

Podemos imaginar os discípulos reclinando-se sobre suas esteiras finas ao redor de uma mesa baixa. Cada um apoiando-se sobre o braço, geralmente o esquerdo; os pés espalhando-se da mesa para fora. Jesus levantou-se de sua esteira. Os detalhes são reveladores: Jesus tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura - adotando, assim, as vestes de um criado doméstico, vestes que eram desprezadas tanto em círculos judaicos quanto gentios (SB 2. 557; Suetônio, Calígula, 26). Assim, ele começou a lavar os pés de seus discípulos, demonstrando, dessa forma, sua declaração: “eu estou entre vocês como quem serve” (Lc 22.27; cf. Mc 10.45 par.). Aquele que “embora sendo Deus [...] esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo” (Fp 2.6,7). De fato, ele “foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2.8). O inigualável auto esvaziamento do Filho eterno, da Palavra eterna, alcança seu ápice na cruz. Isso não significa que a Palavra mude da forma de Deus para a forma de um servo; significa, ao contrário, que ele de tal forma veste nossa carne e vai de olhos bem abertos para a cruz que sua divindade é revelada em nossa carne, supremamente, no momento da maior fraqueza, do maior serviço (cf. notas sobre 1.14).

Jo 13. 12. As notas que servem como prefácio a essa seção, acima, argumentaram que não há motivo para pensar que a nova aplicação do episódio do lava-pés, introduzida logo a seguir no texto (w. 12-17), seja proveniente de outro escritor. Após vestir novamente sua capa e retornar a sua esteira (cf. v. 4), Jesus pergunta: Vocês entendem o que lhes fiz? A natureza exemplar do ato do lava-pés é revelada (w. 13-17). Mas os elos que ligam esses versículos ao tema da purificação, que domina os versículos precedentes, são mais acidentais. Mesmo quando dizem que o evento do lava-pés aponta, de várias formas, para a purificação espiritual baseada na morte de Cristo, ambos, o ato do lava-pés e aquela morte expiatória, são as revelações supremas do amor de Jesus pelos seus (v. lb). O episódio do lava-pés foi atordoante para os discípulos de Jesus, mas nada quando comparada à ideia de um Messias que sofreria a morte odiosa e vergonhosa na cruz, a morte do amaldiçoado. No entanto, os dois eventos - o lava-pés e a crucificação - são, na verdade, da mesma qualidade. O reverenciado e exaltado Messias assume a função do servo desprezado para o bem de outros. Isto, junto com a noção de purificação, explica por que o episódio do lava-pés pode apontar tão efetivamente para a cruz. Mas o serviço prestado a outros não pode se restringir a esse ato único. Se o evento do lava-pés e da cruz são propiciados pelo incrível amor de Jesus (v. 1), a comunidade dos purificados que ele está criando deve ser caracterizada pelo mesmo amor (w. 34,35) e, portanto, pela mesma abnegação no esforço de servir a outros. E isto significa que o ato do lava-pés é quase obrigado a ter um significado exemplar, assim como a morte de Cristo, embora única, tem o sentido de exemplo (e.g. Mc 10.35-45; Jo 12.24-26; IPe 2).

Jo 13. 13. Jesus responde agora à pergunta que ele fez no versículo 12: se seus seguidores tinham ou não entendido, ele vai explicar o que ele fez. Mestre (didaskalos) é o equivalente de ‘rabi’, o termo regularmente usado por discípulos ao se dirigirem a seus professores (como os seguidores de João Batista se dirigiam a ele, 3.26; cf. também 1.38,49; 3.2; 4.31; 6.25; 9.21; 11.8). Sem dúvida, Senhor (kyrios) foi primeiramente aplicado a Jesus como um sinal de respeito por sua função de ensino, equivalente à mar, do aramaico; a expressão é preservada no Novo Testamento em “Maranata!” (ARC) - literalmente “Vem, Senhor!” (lC o 16.22) - o que demonstra claramente a influência dos cristãos de fala aramaica ao projetar um de seus ditos favoritos no mundo de fala grega. Sabe-se que ‘rabi’ e ‘mari’ apareciam juntos nos lábios de discípulos rabínicos dirigindo-se a seus mestres (cf. SB 2. 558). Mas, nos lábios de cristãos após a ressurreição de Jesus Cristo, ‘Senhor’ assumiu um significado mais rico na medida em que as mais profundas reflexões sobre quem é Jesus se firmaram.

‘Senhor’ tornou-se uma das formas mais importantes de os cristãos se referirem a Jesus como alguém que Deus levantou e exaltou com “o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9-11; cf. At 2.36). De fato, leitores da LXX estavam acostumados a se referir ao próprio Deus como o ‘Senhor’. O evangelista entende isso; ninguém que reportou a confissão de 20.28 poderia deixar de entendê-lo. Assim, ele permanece fiel, simultaneamente, aos constrangimentos históricos daquela fatídica noite de Páscoa e à teologia que ele quer inculcar. De fato, leitores posteriores não poderiam deixar de encontrar nas palavras dramáticas de Jesus - e com razão, pois eu o sou - pelo menos um prenúncio de uma declaração que vai muito além do que um rabi poderia dizer. Em seu significado, o versículo faz eco a Lucas 6.46:

Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?

Jo 13. 14,15. Em uma sociedade estratificada, uma das formas que o orgulho humano se manifesta é a recusa de assumir as funções mais baixas. Mas agora que Jesus, o Senhor e Mestre deles, lavou os pés de seus discípulos — um ato impensável! — há motivo de sobra para que eles o façam, pois eles também devem lavar os pés uns dos outros, e nenhum motivo concebível para se recusar a fazer isso. Jesus diz: Eu lhes dei o exemplo (hypodeigma—a palavra sugere tanto ‘exemplo’ quanto ‘padrão’; (f. Hb 4.11; 8.5; 9.25; Tg 5.10; 2Pe 2.6) para que vocês façam como lhes fiz. Pouco convém aos seguidores de Jesus algo além da humildade. O zelo cristão divorciado da humildade transparente soa como vazio e até mesmo patético.

Nós podemos sensatamente perguntar se aquelas comunidades cristãs que praticam o ato do lava-pés como um sacramento cristão, igual ao batismo e a ceia do Senhor, entenderam essa passagem melhor que aqueles que acreditam não poder elevar o ato do lava-pés ao mesmo plano. Podemos perguntar algo semelhante acerca do ato formal do lava-pés na Quinta-feira Santa, quando papas, bispos, abades e outros lavam os pés de clérigos inferiores e algumas vezes de pobres. Dois fatores têm impedido, corretamente, a maioria dos cristãos de institucionalizar dessa maneira o ato do lava-pés. Primeiramente, em nenhuma outra passagem do Novo Testamento, ou mesmo nos mais antigos documentos extra bíblicos da igreja, o episódio do lava-pés é tratado como um rito eclesiástico, uma ordenança, um sacramento. A menção deste episódio em 1 Timóteo 5.10 não é exceção: ele não é apresentado como um rito universal, mas é colocado em uma lista das boas obras de hospitalidade de coração aberto, como a que qualifica uma viúva para ser incluída na lista de auxílio.

Teólogos e expositores sábios são sempre relutantes em elevar ao âmbito de rito universal algo que aparece somente uma vez nas Escrituras. Além disso, e talvez mais importante, a essência do mandamento de Jesus trata da humildade e préstimosidade para com irmãos e irmãs em Cristo, o que pode ser cruelmente parodiado por um mero ‘rito’ de lava-pés e que facilmente esconde um espírito indomado e um coração arrogante.

Jo 13. 16. Jesus reforça o ponto com um aforismo, que provavelmente era repetido frequentemente durante seu ministério e que podia ser facilmente usado para diversas aplicações diferentes (c f Mt 10.24; Lc 6.40; Jo 15.20). Após a forte declaração: Digo-lhes verdadeiramente(cf. notas sobre 1.51), Jesus aprofunda o contraste professor/aluno ao introduzir dois outros pares: senhor/servo (entendido como escravo) e superior (isto é, aquele que envia)/mensageiro. A palavra para ‘mensageiro’ é apóstolos, a única vez que a palavra aparece no quarto evangelho, e desta vez sem qualquer implicação aos ‘doze apóstolos’ oficiais: a palavra tinha um amplo campo de significado durante todo o período do Novo Testamento.

Isto não significa que o evangelista não tinha o conceito de um grupo especial de doze discípulos: em outro momento, ele refere-se repetidamente aos ‘Doze’ (6.67,70; 20.24). O sentido do aforismo neste contexto é, de qualquer forma, bastante claro: nenhum emissário tem o direito de pensar que está isento de tarefas empreendidas alegremente por aquele que o enviou, e nenhum escravo tem o direito de julgar qualquer tarefa indigna abaixo dele após seu senhor já ter realizadoa. Grande Deus, em Cristo tu chamas nosso nome e depois nos recebes como teus, não por algum mérito, direito ou reivindicação, mas por teu gracioso amor somente.

Nós lutamos para vislumbrar teu assento de misericórdia e te encontrar ajoelhado a nossos pés.

Depois pegas a toalha, partes o pão

E nos humilhas. E nos chamas de amigos.

Sofres e serves até que todos estejam saciados,

E mostras quão grandioso amor pretendes

Demonstrar até que toda a criação cante,

Para encher todos os mundos, para coroar todas as coisas.

Brian A. Wren (*1936 -)

Jo 13. 17. As palavras estas coisas provavelmente se referem aos versículos 14,15, e o versículo 16 opera como um tipo de parênteses aforístico. Há uma forma de piedade religiosa que pronuncia um ‘amém’, de coração, às mais fortes exigências do discipulado, mas que raramente faz qualquer coisa com elas. Jesus já havia condenado aqueles que ouvem suas palavras mas deixam de guardá-las (12.47,48; c f 8.31). Agora, ele enfatiza a verdade novamente, conforme uma ênfase repetida nos evangelhos (e.g. Mt 7.21-27; Mc 3-35; Lc 6.47,48) e em outras passagens {e.g. Hb 12.14; Tg 1.22-25).

  1. A. CARSON. O Comentário De João. Editora Shedd Publicações. pag. 462-469.
  2. O discípulo é um serviçal.

Mc 10.35-42. A repreensão que Ele fez a dois de seus discípulos, pelo ambicioso pedido que lhe fizeram. Essa história é muito semelhante à que lemos em Mateus 20.20. Mas ali está escrito que a mãe deles fez o pedido, aqui eles mesmos o fazem. Ela os apresentou e fez o pedido, e então eles a apoiaram, e concordaram com o pedido.

Observe: 1. Assim como, por um lado, existem alguns que não usam os grandes incentivos que Jesus nos deu em oração, por outro lado, também existem alguns que abusam deles. Ele tinha dito: “Pedi, e dar-se-vos-á”. E pedir as grandes coisas que Ele prometeu significa uma fé elogiável, mas era uma presunção condenável a desses discípulos, de fazer uma exigência tão ilimitada ao seu Mestre: “Queremos que nos faças o que pedirmos”.

Seria melhor que o deixássemos fazer por nós o que Ele julgar adequado, pois Ele “é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef 3.20).

  1. Nós devemos tomar muito cuidado com a maneira como fazemos promessas genéricas. Jesus não se comprometeu a fazer o que eles pedissem, mas quis saber deles o que desejavam: “Que quereis que vos faça?” Ele os deixaria prosseguir com o seu pedido, para que pudessem se envergonhar de tê-lo feito.
  2. Muitos foram levados a uma armadilha por falsas noções acerca do Reino de Deus, como se ele fosse deste mundo, e como os reinos das potestades deste mundo.

Tiago e João chegam à seguinte conclusão: se Jesus ressuscitar, Ele deverá ser um rei, e se Ele for um rei, os seus apóstolos deverão ser nobres, e um deles, de bom grado, será o Primus par regni - O primeiro dos nobres do reino, e outro estará ao seu lado, como José, na corte de Faraó, ou Daniel, na de Dario.

  1. A honra deste mundo é uma coisa cintilante, com a qual os olhos dos próprios discípulos de Cristo ficaram, muitas vezes, fascinados. Mas ser bons deveria ser a nossa preocupação, mais do que parecer grandiosos, ou ter alguma proeminência.
  2. A nossa fraqueza e falta de perspectiva aparecem tanto nas nossas orações quanto em qualquer outra coisa.

Não podemos dar ordens com as nossas palavras quando falamos com Deus, tanto a respeito dele quanto a nosso respeito. E loucura fazer exigências a Deus, mas nos submetermos a Ele é uma atitude sábia.

  1. É a vontade de Cristo que nós nos preparemos para os sofrimentos, e deixemos que Ele cuide de nos recompensar por eles. Ele não precisa ser lembrado, como precisou Assuero, dos serviços do seu povo, nem consegue esquecer a obra da sua fé e de seu trabalho de caridade.

A nossa preocupação deve ser a de termos sabedoria e graça para sabermos como sofrer com Ele, e então confiarmos que Ele possibilitará a melhor maneira de reinarmos com Ele. O Senhor também definirá quando, e onde, e quais serão os graus da nossa glória.

A repreensão de Jesus aos demais discípulos,

XX pelo desconforto deles com o pedido de Tiago e João. Eles começaram a ficar muito descontentes, a indignarem-se contra Tiago e João (v. 41). Eles ficaram irritados com os dois por pedirem preferência, não porque isto não fosse conveniente aos discípulos de Cristo, mas porque cada um deles esperava tê-la. Quando o cínico pisou sobre o jaez (manto do cavalo) de Alexandre, com a expressão: Calco fastum Alexandri - Agora eu piso sobre o orgulho de Alexandre, foi oportunamente repreendido com: Sed Majorifastu - Mas com um orgulho ainda maior do que o seu próprio. Assim eles descobriram a sua própria ambição, através do seu desagrado pela ambição de Tiago e João; e Jesus aproveitou essa ocasião para adverti-los quanto a isso, e a todos os seus sucessores, no ministério do Evangelho (w. 42-44). Ele os chamou a si de uma maneira familiar, para dar-lhes o exemplo de condescendência, mesmo quando estava reprovando a sua ambição, e para ensiná-los a nunca manter os seus discípulos à distância. Ele lhes mostra:

  1. Que o mundo geralmente abusa ou usa mal o domínio (v. 42): Que eles pareciam dominar os gentios, que têm o nome e o direito de governar; eles exercem soberania sobre outros, e este é o objetivo do seu estudo, não tanto para protegê-los e cuidar do seu bem-estar quanto para exercer autoridade sobre eles. Eles serão obedecidos, desejando ser arbitrários e ter a sua vontade realizada em todos os aspectos. Sic volo, sic jubeo, stat pro ratione voluntas - Assim eu desejo, assim eu ordeno; o meu prazer é a minha lei. A sua preocupação é o que os seus súditos farão para sustentar a sua própria pompa e grandeza, não o que eles farão pelos súditos.
  2. Que, portanto, isso não deve ser aceito na igreja: “Entre vós não será assim”; aqueles que estiverem aos seus cuidados deverão ser como ovelhas sob os cuidados do pastor, que deve guiá-las e alimentá-las, e deve ser um serviçal para elas, não como cavalos sob o comando do cocheiro, que os faz trabalhar e os espanca, e obtém os seus pagamentos com eles. Aquele que pretende ser grande e poderoso, ao invés de se lançar a uma dignidade e a uma dominação secular, deverá ser “servo de todos”.

Ele será humilde e desprezível aos olhos de todos os que são sábios e bons: “o que a si mesmo se exaltar será humilhado”. Ou, em outras palavras, aquele que desejar ser verdadeiramente grande e importante, deverá se entregar integralmente a fazer o bem a todos, deverá se curvar aos serviços mais humildes, e trabalhar nos serviços mais duros. Não somente serão mais honrados no futuro, como também são mais honrados agora, aqueles que são mais úteis. Para convencê-los disso, Jesus apresenta o seu próprio exemplo diante deles (v. 45). “O Filho do Homem se submete primeiro às maiores dificuldades e aos maiores perigos, e depois entra na sua glória, e vocês podem esperar conseguir algo tão elevado de outra maneira, ou tendo mais facilidade ou honra do que Ele?”. (1) Ele assume “a forma de servo”. Ele “não veio para ser servido”, e atendido, “mas para servir”, e conceder a sua graça. (2) Ele se apresenta de modo obediente à morte, e ao seu domínio, pois Ele dá “a sua vida em resgate de muitos”. Pois Ele morreu para o benefício de todas as pessoas que o aceitarem como Senhor e Salvador; e será que nós não deveremos nos esforçar para viver de um modo que beneficie os salvos?

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 463-464.

Mc 10.35,36 Dois dos discípulos de Jesus, Tiago e João (irmãos que juntamente com Pedro formavam o círculo íntimo de discípulos, 9.2) se aproximaram de Jesus. Eles pediram que o Senhor prometesse que lhes faria um favor. Eles podem ter compreendido erroneamente a promessa de Jesus de que os doze discípulos “se sentariam em doze tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Mateus 19.28). Jesus estava pensando no que iria enfrentar em Jerusalém, e na morte que Ele sabia que lhe aguardava ali. Contudo, o Senhor mostrou uma paciência notável com estes dois amados discípulos que apresentaram este pedido. Jesus não fez promessas, mas simplesmente perguntou o que eles queriam que Ele fizesse. Os discípulos, como a maioria dos judeus daquela época, tinham uma ideia errada do Reino do Messias, da maneira que este foi predito pelos profetas do Antigo Testamento. Eles pensavam que Jesus iria estabelecer um reino terreno que libertaria Israel da opressão de Roma. Enquanto os discípulos seguiam Jesus em direção a Jerusalém, eles perceberam que algo estava prestes a acontecer; eles certamente esperavam que Jesus fosse inaugurar o seu Reino. Tiago e João queriam se sentar em lugares de honra ao lado de Cristo em sua glória. Nas antigas cortes reais, as pessoas escolhidas para se sentar à direita e à esquerda do rei eram as pessoas mais poderosas do Reino.

Tiago e João estavam pedindo o equivalente a estas posições na corte de Jesus. Eles entendiam que Jesus teria um Reino; eles entendiam que Jesus seria glorificado (eles tinham visto a Transfiguração); e se dirigiram a Ele como súditos leais ao seu rei. No entanto, eles não entenderam que o Reino de Jesus não é deste mundo; ele não está centralizado em palácios e tronos, mas no coração e na vida de seus seguidores. Nenhum dos discípulos entendeu esta verdade antes da ressurreição de Jesus.

Mc 10.38 Jesus respondeu a Tiago e João que ao fazer tal pedido egocêntrico, eles não sabiam o que estavam pedindo. Pedir posições da mais elevada honra significava também pedir um profundo sofrimento, porque eles não poderiam ter um sem o outro. Portanto, o Senhor perguntou primeiro se eles poderiam beber o cálice amargo de tristeza que Ele iria beber. O “cálice” ao qual Jesus se referiu era o cálice de sofrimento que Ele teria que beber a fim de trazer a salvação aos pecadores. Então Jesus perguntou se eles eram capazes de ser batizados com o batismo de sofrimento que Ele enfrentaria. A referência a “batismo” é uma metáfora do Antigo Testamento em que uma pessoa é esmagada pelo sofrimento.

O “cálice” e o “batismo” se referem àquilo que Jesus iria enfrentar na cruz. Nas duas perguntas, Jesus estava perguntando a Tiago e a João se eles estavam prontos para sofrer por amor ao Reino.

Mc 10.39,40 Tiago e João responderam confiantemente a pergunta de Jesus. A resposta deles pode não ter revelado bravata ou orgulho; ela mostrou a disposição que eles tinham para seguir Jesus, qualquer que fosse o custo desta decisão. Eles disseram que estavam dispostos a enfrentar qualquer tribulação por amor a Cristo. Jesus respondeu que eles certamente seriam chamados a beber do cálice de Jesus, e seriam batizados com o seu batismo de sofrimento: Tiago morreu como um mártir (Atos 12.2); João viveu muitos anos passando por perseguições, antes de ser forçado a viver os últimos anos de sua vida no exílio, na ilha de Patmos (Apocalipse 1.9).

Embora estes dois discípulos fossem enfrentar grande sofrimento, isto ainda não significaria que Jesus iria conceder o pedido de grande honra que haviam feito. Jesus não tomaria esta decisáo; em vez disso, aqueles lugares estavam preparados... para aqueles a quem está reservado. A onisciência de Deus está revelada na declaração de Jesus; Ele já sabia quem receberá aqueles lugares de grande honra.

Mc 10.41,42 Os outros dez discípulos ficaram indignados, provavelmente porque todos os discípulos desejavam honra no Reino. As atitudes dos discípulos se degeneraram em puro ciúme e rivalidade. Jesus lhes explicou a diferença entre os reinos que eles viram no mundo e o Reino de Deus, que eles ainda não haviam experimentado. Os reinos do mundo (um exemplo óbvio era o próprio Império Romano) têm tiranos e altos oficiais que se assenhoreiam do povo, exercendo autoridade e exigindo submissão.

Mc 10.43-45 O Reino de Jesus já havia começado bem ali, em meio àquele grupo de doze discípulos. Mas o Reino não foi estabelecido com alguns que poderiam dominar sobre outros. Em vez disso, o maior seria o servo de todos. Um verdadeiro líder possui o coração de um servo, ajudando os outros com boa vontade, quando necessário. Os líderes servos apreciam o valor dos outros e percebem que não estão acima de nenhuma tarefa. Não são invejosos quanto aos dons de outra pessoa, mas cumprem alegremente as suas obrigações. Os discípulos não poderiam se enganar com a explicação de Jesus de que eles deveriam servir de uma forma sacrificial. Somente com tal atitude os discípulos seriam capazes de desempenhar a missão de compartilhar o Evangelho por todo o mundo.

Jesus era seu exemplo perfeito de um líder servo, porque Ele veio aqui não para ser servido, mas para servir os outros, e para dar a sua vida em resgate de muitos. A missão de Jesus era servir - em última análise dando a sua vida a fim de salvar a humanidade pecadora. Sua vida não foi “tirada”; Ele a “deu”, a ofereceu como um sacrifício pelos pecados do povo. Um resgate era o preço pago para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um resgate por nós, e o preço exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar; Ele morreu a morte que merecíamos.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 259- 261.

Ambição de Tiago e João (10.35-45)

Ao ler esses versículos ficamos chocados com a falta de espiritualidade dos discípulos - a memória curta (9.33-35) e o descarado egoísmo deles. Mas também ficamos impressionados com a incrível paciência e sabedoria do nosso Mestre. Jesus mal tinha acabado de lhes dar uma outra detalhada previsão de Sua paixão, que se aproximava, quando Tiago e João (35), evidentemente instigados pela mãe deles (Mt 20.20-21), aproximaram-se e fizeram uma pergunta digna de uma criança: Queremos que nos faças o que pedirmos. Era o mesmo que pedir para assinar um cheque com a quantia em branco! Pacientemente, Jesus perguntou: Que quereis que vos faça? (36).

Crendo que Jesus estava prestes a estabelecer o reino messiânico, os Filhos do Trovão pediram o máximo possível. Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda (37). “O grande vizir se colocava à mão direita de seu soberano, e o comandante-em-chefe à sua esquerda.” Eles estavam procurando ocupar as posições de maior autoridade. Que sofrimento isso deve ter causado ao Senhor!

Enquanto Ele estava pensando em uma cruz, eles estavam pensando em coroas. O fardo do Senhor se confrontava com a cegueira deles, e o seu sacrifício com o egoísmo que demonstravam. Ele só queria dar, mas eles só queriam receber. A motivação dele era servir; a deles era a própria satisfação pessoal.

Não sabeis o que pedis (38) foi a triste réplica de Jesus. Em seguida vieram perguntas para investigar a mente desses ambiciosos jovens e levá-los a um melhor entendimento do Reino. Podeis vós beber o cálice de um sofrimento interior e de uma agonia que eu bebo (cf. SI 75.8; Is 51.22; Jo 18.11) e vos submeter ao batismo de uma esmagadora tristeza (cf. Is 43.2; Lc 12.50) - ou de uma visível perseguição e aflição - com que eu sou batizado? Em outras palavras: “Podeis suportar ser atirados às provações que estão prestes a me esmagar?” Como futuros mártires, desde os dias dos Macabeus, Tiago e João disseram: Podemos (39). A impetuosidade deles é admirável e até espantosa. No entanto, eles estavam falando uma parte da verdade. Em seu devido tempo eles iriam realmente beber o cálice da agonia de Jesus e experimentar um pouco do Seu batismo de morte, como está confirmado em Atos 12.2 e Apocalipse 1.9.

Com respeito ao pedido de posições de autoridade, Jesus entendeu que “é o mérito, não o favor... nem a busca egoísta... que assegura a promoção no Reino de Deus”. O assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence, “mas isso é para aqueles a quem está reservado” (40). Lugares de honra - e sua correspondente responsabilidade - não são distribuídos a pedido. Eles ocorrem, na própria natureza do Reino, àqueles que estão preparados para eles por meio das qualidades de caráter e espírito (cf. SI 75.6).

Se os dois filhos de Zebedeu aparecem sob um aspecto pouco favorável, os dez discípulos restantes não eram melhores que eles, pois quando ouviram isso começaram a indignar-se contra Tiago e João (41). A discussão anterior sobre “qual era o maior” (9.34) surgiu novamente. Com incansável persistência, Jesus, chamando-os a si, procurou mostrar-lhes a Sua “escala de valores”.

Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes (literalmente, “aqueles que parecem governar”) delas se assenhoreiam (42). Os discípulos sentiram o aguilhão dessas palavras ao se lembrarem das táticas opressoras dos governadores das províncias. Mas entre vós não será assim (43). O grande entre os seguidores de Jesus será aquele que quiser ser um serviçal (ministro) e servo (escravo) de todos (44).

Os Reinos da terra passam Em púrpura e ouro;

Eles nascem, florescem e morrem,

E é tudo que se sabe da sua história.

Só um Reino é Divino,

E só uma bandeira ainda triunfa,

Aquele cujo Rei é um servo,

E, seu emblema, um patíbulo na colina.

Mas por que teria que ser assim? “Porque o próprio Filho do Homem não tinha vindo para ser servido, mas para servir” (45, Goodspeed). Nisto, Cristo nos deixou o exemplo que devemos imitar, seguindo as Suas pisadas (1 Pe 2.21).

A parte restante do versículo 45 é fundamental para a doutrina da expiação. O Filho do Homem... veio... para servir e dar a sua vida em resgate (lutron, “o dinheiro do resgate pago pela libertação de um escravo”)68 de muitos. A expressão de muitos, que literalmente significa “em lugar de” ou “em vez de” indica o elemento da substituição, essencial para o entendimento bíblico da expiação. Essa grande passagem “mostra claramente como Jesus sabia que havia sido chamado para fundir em Seu próprio destino os dois papéis de Filho do Homem (Dn 7) e de Servo do Senhor (Is 53)”.

Os versículos 32-45 podem ser assim esboçados: 1) Auto sacrifício, 32-34; 2) Busca interesseira, 35-40; 3) Serviço abnegado, 41-45.

Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 6. pag. 288-289.

II - A INSTITUIÇÃO DOS DIÁCONOS

  1. O conceito da função.

DIÁCONO Sua forma verbal (diakonein) significa "servir", particularmente "servir às mesas" (cf. Arndt, p. 183). Tem a conotação de um serviço muito pessoal, intimamente relacionado com servir por amor. Para os gregos, o serviço era raramente dignificado; o desenvolvimento próprio deveria ser a meta de uma pessoa ao invés da humilhação própria. Enquanto a LXX não usa a palavra diakonein ("servir"), o judaísmo conserva uma visão diferente sobre o serviço. Isso está exemplificado no segundo mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19.18; cf. Mc 12.31). Foi isso que o nosso Senhor ensinou quando lavou os pés de seus discípulos, acrescentando: "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13.15). O uso generalizado da palavra "diácono" no NT foi classificado por H. W. Beyer ("Diakoneo, etc", TDNT, II. 81-93) e foram sugeridas as seguintes formas adaptadas: (1) "o servente em uma refeição" (Jo 2.5,9); (2) "o servo de um mestre" (Mt 22.13; Jo 12.26); (3) "o servo de um poder espiritual", bom (Cl 1.23; 2 Co 3.6; Rm 15.8) ou mau (2 Co 11.14ss; Gl 2.17); (4) "o servo de Deus" (2 Co 6.3ss.) ou de Cristo (2 Co 11.23) como no caso de Paulo, ou como foi aplicado a seus companheiros de trabalho (1 Ts 3.1-3; 1 Timóteo 4.6; Cl 1.7; 4.7); (5) "os [gentios como] servos de Deus" (Rm 13.1-4); (6) "um servo da igreja" (Cl 1.24,25; 1 Co 3.5). Nos escritos gregos esse nome está relacionado muito de perto com o sentido do verbo. Ele descreve um atendente à mesa, um servo, um mensageiro, um garçom e ainda era usado com referência a ocupações específicas, como padeiro ou cozinheiro. O termo aparece poucas vezes na LXX e sempre comum sentido secular. Ele descreve os servos do rei em Ester 1.10; 2.2; 6.3,5. Em Provérbios 10.4 (na LXX) o tolo deve ser "servo" do sábio. Josefo, o historiador da nação judaica, caracterizou Eliseu como "discípulo e servo" de Elias".

Quando a palavra diaconato apareceu pela primeira vez na igreja primitiva? Foi em Atos 6.1-6? Na passagem que trata da escolha e nomeação dos sete, a palavra "diácono" não aparece. E enquanto os termos diakonia ("ministério" ou "serviço") e diakonein ("servir a uma mesa") realmente aparecem (At 6.1,2,4) eles são usados, segundo parece, em um sentido não técnico, isto é, eles se referem a trabalhadores e não aos ocupantes de um posto. Isso está indicado pela expressão "servir às mesas" e pela referência ao ministério da Palavra, onde o mesmo termo aplica-se a ambos os tipos de serviço. Lightfoot (na obra Philippians, pp. 188ss.) considera os sete como os primeiros diáconos, pois (1) seus deveres eram semelhantes àqueles que desde essa época haviam caracterizado o "diaconato"; por exemplo, o cuidado para com as viúvas e os órfãos, e a prática de atos de caridade. (2) Era uma função recém criada sem se igualar ao ministério levítico, nem ao ministro da Sinagoga (o Chazan). E, (3) o ministério de ensinar como, por exemplo, o de Estevão e Felipe, era um incidente do ofício introduzido apenas pela necessidade das circunstâncias. Rackam (na obra Acts, pp. 82-86) conclui que o "ofício" em Atos 6 era "único, isto é, único no mesmo sentido do apostolado". Os sete diáconos correspondem aos 12 discípulos, e a lista completa de seus nomes mostra essa relação. Portanto, nesses dois grupos estão os ancestrais dos presbíteros e dos diáconos. Em Romanos 16.1, Paulo refere-se a Febe como diakonon ("diaconisa" q.v.) da igreja de Cencréia. Seria ela uma ocupante do cargo ou a palavra simplesmente descreve seus serviços na comunidade? E impossível dizer. Por exemplo, no caso da referência às mulheres em 1 Timóteo 3.11 seriam elas esposas dos diáconos ou seriam "diaconisas"? Com referência a uma pessoa que ocupa um cargo específico na igreja, a palavra diakonos ("diácono") ocorre em apenas duas passagens do NT. Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8,12. O texto em Filipenses 1.1 contém a saudação de Paulo aos "bispos e diáconos". Embora nenhuma atividade esteja especificada aqui, elas representam duas funções existentes e relacionadas, consideradas como distintas no corpo dos santos em geral. Em 1 Timóteo 3.13, podemos observar a mesma relação: o "bispo" (w. 1-7) e o "diácono" (vv. 8-13). Os diáconos deviam ser homens de caráter disciplinado e de elevada reputação moral (w. 8,9), deviam estar qualificados para o cargo por se mostrarem "irrepreensíveis" (v. 10) e ter o controle de seus próprios

lares (v. 12). O fato de em seus ministérios de caridade e de auxílio entrarem em contato com o povo e com posses materiais, exigia qualidades especiais de caráter. Não deviam ser de "língua dobre" nem "cobiçosos de torpe ganância" (v. 8). Paulo não especifica como os diáconos deveriam ser escolhidos, no entanto eles deviam ser primeiramente "provados" e Timóteo esperava, certamente, estar capacitado a aprová-los. O desenvolvimento histórico do cargo do diácono está ligado ao do bispo. Veja Bispo para a questão da seleção. Em outras passagens do NT, Paulo usa o termo ministro para indicar a presença de seus companheiros no ministério do Evangelho -Timóteo (1 Ts 3.2), Tíquico (Cl 4.7), Epafras (Cl 1.7). O ministério do próprio Paulo (1 Co 3.5; 2 Co 3.6; 6.4; 11.15) assim como o ministério de Cristo (Em 15.8) também são designados dessa maneira. Essas últimas referências indicam que esse termo não era, de forma alguma, aplicado a serviços inferiores. W. M. D. e A. F. J.

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 552-553.

DIÁCONO

diakonos (em português, “diácono”), denota primariamente "criado", quer aquele que faz trabalhos servis, ou o ajudante que presta serviços voluntários, sem referência particular ao seu caráter.

A palavra está provavelmente relacionada com o verbo diõkõ. “apressar-se após, perseguir" (talvez dito originalmente acerca de um corredor). "Ocorre no Novo Testamento em alusão aos criados domésticos (Jo 2.5.9); ao governante civil (Rm 13.4); a Cristo (Rm 15.8; Gl 2.17); aos seguidores de Jesus em sua relação com o Senhor (Jo 12.26: Ef 6.21; Cl 1.7; 4.7); aos seguidores de Jesus em relação uns com os outros (Mt 20.26: 23.11: Mc 9.35; 10.43); aos servos de Cristo no trabalho de orar e ensinar (1 Co 3.5: 2 Co 3.6: 6.4; 11.23: Ef 3.7; Cl 1.23.25: 1 Ts 3.2; I Tm 4.6); àqueles que servem nas igrejas (Rm 16.1 [usado acerca de uma mulher só aqui no Novo Testamento]; Fp 1.1; 1 Tm 3.8.12); aos falsos apóstolos, servos de Satanás (2 Co 11.15).

O termo diakonos é usado uma vez onde. aparentemente, a referência é aos anjos (Mt 22.13); em Mt 22.3. onde a referência é aos homens, o termo doulos é usado** (extraído de Notes on Thessalonians, de Hogg e Vine. p. 91).

O termo diakonos deve. falando de modo geral, ser distinguido do termo doidos, "servo, escravo”: o lernio diakonos encara o servo em relação ao seu trabalho: o termo doidos o vê em relação ao seu mestre.

Veja. por exemplo. Mt 22.2-14; aqueles que chamam os convidados e os trazem (Mt 22.3.4.6.8.10) são os douloi: aqueles que executam a sentença do rei (Mt 22.13) são os diakonoi. Nota: Quanto aos termos sinônimos, leitourgos denota "aquele que executa deveres públicos"; misthios e misthôtos, “servo contratado"; oiketes, “servo doméstico**; huperetes. “funcionário subordinado que serve seu superior" (designava, originalmente. o remador da fileira de baixo numa galera de guerra); therapon, aquele CUJO serviço é O de liberdade e dignidade. Veja MINISTRO. SERVO.

Os denominados “sete diáconos" em At 6 não são mencionados por esse nome. embora o tipo de serviço no qual estavam engajados era do caráter daquele consignado para tal.

  1. E. VINE; Merril F. UNGER; Wllliam WHITE Jr. Dicionário VINE. Editora CPAD. pag. 563.
  2. Origem do diaconato.

O ministério ou serviço dos diáconos surgiu a partir de uma bênção, de um problema e de uma murmuração. A bênção foi o crescimento extraordinário dos que criam em Jesus e o aceitavam como Salvador, deixando o judaísmo e outras religiões e tornavam-se cristãos. O problema foi causado pela situação social de muitos que aceitavam a fé, especialmente envolvendo viúvas dos gregos ou gentios, que aceitavam o evangelho. A murmuração foi a reclamação desses, que se julgavam discriminados pelos líderes da Igreja, em relação ao atendimento de suas necessidades básicas. Diz o texto:

“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (At 6.1-7 — grifo nosso).

Mas os líderes da Igreja foram sábios. Não procuraram resolver tamanha questão sozinhos. Reuniram a multidão, em assembleia, a eclésia, e elegeram sete homens com qualidades exemplares sobre aquele “importante negócio”, para que os líderes pudessem perseverar “na oração e no ministério da palavra”. Na maioria das igrejas, os diáconos estão desviados da função para que foram instituídos, que foi cuidar da assistência social dos carentes. Mas sua escolha é de grande valor para o funcionamento ministerial das igrejas cristãs.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 141.

A instituição do diaconato

O diácono é o único ministério cristão a originar-se de um fato social; surgiu de uma premente necessidade da Igreja Primitiva: o socorro às viúvas helenistas. Atenhamo-nos no que diz o texto que escreveu Lucas (At 6.1-7). Do texto sagrado, apontemos alguma das razões que levaram os apóstolos a instituírem o diaconato:

  1. a) O crescimento da Igreja

Do Pentecostes à instituição do diaconato, a Igreja Primitiva cresceu de três mil convertidos, a cinco mil; a partir daí, o rebanho do Senhor não mais parou de multiplicar-se (At 2.41; 4.4). De forma que, em atos capítulo seis, o número de discípulos já havia superado a capacidade estrutural da Igreja (At 6.1). Crescendo o número de fiéis, cresceram também os problemas. Tivesse a Igreja se limitado aos cento e vinte, certamente nenhuma dificuldade teriam os primitivos cristãos. Não haveriam de precisar de diáconos, nem de pastores, e até os mesmos apóstolos seriam prescindíveis. Acontece que as grandes igrejas enfrentam grandes desafios, e demandam, por conseguinte, grandes soluções. Com a chegada das ovelhas, vai o aprisco deixando sua rotina, vai o pastoreio desdobrando-se em cuidados e desvelos pelas almas, e o Reino de Deus vai alargando suas fronteiras e descortinando os mais promissores horizontes.

  1. b) O descontentamento social

Relata-nos Lucas que “houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Tal contingência não podia esperar; exigia imediata solução. Caso não houvesse uma alternativa urgente e satisfatória, a situação deteriorar-se-ia, agravando a injustiça social, e aprofundando a fissura entre os dois principais segmentos culturais da igreja em Jerusalém: os hebreus e os helenistas.

A situação que se desdenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade social eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11).

  1. c) O comprometimento do ministério apostólico

Continuassem os apóstolos a suprir as necessidades dos órfãos e das viúvas, haveriam de comprometer de forma irremediável as principais funções de seu ministério (At 6.2-4). Por isso deliberaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At 6.2-4). Como seria maravilhoso se os pastores seguissem o exemplo dos apóstolos! Infelizmente, não são poucos os que se acham de tal forma empenhados com os negócios materiais do rebanho, que já não têm tempo de orar, nem mais ligam importância à exposição da Palavra. Transformaram-se em meros executivos. Vivem mais preocupados com os rendimentos financeiros do redil do que com o bem-estar das ovelhas. Será que ainda não perceberam ter sido o diaconato instituído justamente para que os pastores nos entregassem amorosamente à oração e à proclamação dos conselhos de Deus? Queira o Senhor que, no termino de nosso ministério, possamos dizer como o apostolo Paulo: “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).

  1. d) A organização ministerial da Igreja

Até a instituição dos diáconos, a Igreja conhecia apenas o ministerial apostólico. Eram os apóstolos responsáveis inclusive pelo socorro cotidiano. E isto, como vimos, por pouco não compromete o desempenho do principal magistério da Igreja. Com a instituição dos diáconos, porém, formou-se a base do ministério eclesiástico. Levemos em conta também os anciãos; estavam eles sempre prontos a secundar os apóstolos. Mais tarde, o termo ancião (ou presbítero) passaria a ser sinônimo de pastor e bispo. Desde então, apesar das várias formas de governo eclesiásticos, a Igreja vem funcionando a contendo, cumprindo suas varias tarefas, tendo como base o modelo de Atos dos Apóstolos.

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

A discordância infeliz entre alguns membros da igreja, a qual poderia ter trazido consequências maléficas, mas foi prudentemente apaziguada e repreendida a tempo: Crescendo o número dos discípulos (pois assim eram chamados os cristãos no princípio: os aprendizes de Cristo) a muitos milhares em Jerusalém, houve -uma murmuração (v. 1).

  1. Nosso coração se sente bem ao descobrir que cresceu o número dos discípulos (v. 1), à proporção inversa que, sem dúvida, irritou o coração dos sacerdotes e saduceus (cap. 4.1; 5.17) pelo mesmo motivo. A oposição que a pregação do evangelho enfrentou, em vez de deter seu progresso, contribuiu para o seu sucesso. Quanto mais afligiam os membros da igreja cristã incipiente, como fizeram com os membros da igreja judaica infante no Egito, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam (Ex 1.12). Os pregadores eram surrados, ameaçados e maltratados, mas, mesmo assim, as pessoas recebiam sua doutrina. Eram atraídas, sem dúvida, pela maravilhosa paciência e alegria nas provações que demonstravam. Esse comportamento convencia as pessoas de que eles tinham e eram sustentados por um espírito melhor que o deles próprio.
  2. Causa-nos desalento descobrir que o crescimento do número dos discípulos (v. 1) dá oportunidade para discórdias. Até agora, todos eles eram unânimes em uma mesma opinião. Esta. observação frequente significava uma honra para eles. Mas agora que cresciam em número, começaram a murmurar, semelhantemente ao que ocorreu no velho mundo. Quando os homens começaram a multiplicar-se, eles se corromperam (Gn 6.1,12). Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste (Is 9.3). Quando as famílias de Abraão e Ló aumentaram, houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló (Gn 13.7). O mesmo estava ocorrendo aqui: Houve urna murmuração, não uma desavença aberta, mas um ressentimento secreto. (1) Os queixosos eram os gregos, ou helenistas, contra os hebreus (v. 1). Os gregos eram os judeus que se espalharam pela Grécia e outras regiões, falavam comumente a língua grega e liam o Antigo Testamento na versão grega, não no original hebraico. Muitos deles estavam em Jerusalém para a festa quando aceitaram a fé cristã e foram acrescentados à igreja. Estes murmuraram contra os hebreus, que eram os judeus nativos que usavam o original hebraico do Antigo Testamento. Alguns pertencentes a cada um desses grupos se tornaram cristãos, mas, pelo visto, essa aceitação conjunta da fé não teve sucesso, como deveria, em extinguir os poucos ciúmes que tinham uns dos outros antes da conversão. Eles retiveram um pouco do fermento velho e não entenderam ou não se lembraram de que em Cristo Jesus não há nem grego nem judeu (Cl 3.9). Portanto, não há distinção entre hebreus e helenistas, mas todos são igualmente acolhidos em Cristo, e deveriam ser, por causa dele, queridos uns dos outros.

(2) A murmuração destes gregos era que as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano (v. 1), quer dizei; na distribuição dos fundos de caridade pública, e as viúvas hebreias eram mais bem cuidadas. Veja que a primeira controvérsia na igreja cristã envolveu finanças. E pena que as pequenas coisas deste mundo sejam pontos de discórdia entre os que admitem ter relações com as grandes coisas do outro mundo. Juntaram muito dinheiro para a assistência social aos pobres, mas, como frequentemente ocorre em tais casos, era impossível agradar a todos na distribuição do montante. Os apóstolos, a cujos pés o dinheiro foi depositado (cap. 4.34), fizeram o que puderam para distribuí-lo de modo a atender as expectativas dos doadores. Fizeram a distribuição, obviamente, com a mais absoluta imparcialidade, e nem de longe intentaram respeitar os hebreus mais que os gregos.

Contudo, houve queixa deles, que diziam estarem as viúvas gregas sendo desprezadas. Embora elas fossem aptas a receber esse tipo de assistência social, os apóstolos não lhes deram o suficiente, ou não contemplaram todas, ou não deram exatamente a mesma soma oferecida às viúvas hebréias. [1] Talvez esta murmuração (v. 1) fosse infundada e injusta, sem motivo algum. Mas aqueles que, por qualquer razão, se encontram em situação desfavorável (como estavam os judeus gregos em comparação com os que eram hebreus de hebreus), são susceptíveis a, por ciúme, acharem que estão sendo desprezados quando na verdade não estão. É erro comum de pessoas pobres que, em vez de serem gratas pelo que recebem, se queixem e reclamem. Tendem a pensar que recebem pouco, ou que os outros ganham mais que elas. Há inveja e cobiça, raízes de amargura que se encontram tanto entre os pobres quanto entre os ricos, apesar das situações humilhantes em que estão e às quais devem se adaptar. [2] Partamos do pressuposto de que havia motivo para a murmuração. Em primeiro lugar, certos estudiosos sugerem que os outros pobres no grupo dos gregos tinham a subsistência provida, embora as suas viúvas fossem desprezadas (v. 1). Essa falha acontecia porque os gerentes administravam de acordo com uma regra antiga observada entre os hebreus: a viúva deve ser sustentada pelos filhos do seu marido (veja 1 Tm 5.4). Em segundo lugar, as viúvas, ao meu ver, são citadas no lugar de todos os pobres, porque muitos desses que estavam nos registros da igreja e recebiam esmolas, eram viúvas que tinham sido fartamente sustentadas pelas atividades dos seus maridos enquanto estavam vivos, mas que caíram em grandes dificuldades financeiras quando faleceram. Os que administram a justiça pública devem de uma maneira particular proteger as viúvas de injustiças (Is 1.17; Lc 18.3), assim os que administram os fundos da caridade pública devem de uma maneira particular sustentar as viúvas no que for necessário (veja 1 Tm 5.3). Perceba que estas viúvas e os outros pobres recebiam uma ajuda diária (v. 1). Talvez, após um cálculo prévio, sabiam que não podiam acumular sua porção para o futuro. Então os administradores dos fundos, num gesto de bondade, davam-lhes dia a dia o pão necessário. Eles dependiam do quinhão do dia para viver. Pelo visto, as viúvas gregas foram, comparativamente, desprezadas.

Talvez os que distribuíam o dinheiro consideraram que os hebreus ricos contribuíam mais para o fundo do que os gregos ricos, que não tinham propriedades para vender, como os hebreus. Por conseguinte, os gregos pobres deveriam ter menos direito ao fundo. Embora houvesse certa dose de tolerância, tratava-se de procedimento cruel e injusto. Veja que mesmo na igreja mais bem organizada do mundo sempre haverá algo impróprio, administração incompetente, queixas ou, pelo menos, algumas reclamações.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 59-60.

A palavra discípulos (1) aparece aqui pela primeira vez no livro de Atos (ver os comentários sobre 1.15). Ela significa, literalmente, “aprendizes”. É usada nos Evangelhos para referir-se aos seguidores de João Batista (e.g., Mt 9.14), dos fariseus (e.g., Mc 2.18), de Moisés (Jo 9.28) e de Jesus (e.g., Lc 6.17). A sua aplicação mais frequente é em relação aos doze apóstolos. No livro de Atos (vinte e oito vezes), normalmente refere-se aos cristãos em geral. Nas outras partes deste livro, eles são chamados “santos” (9.13), “irmãos” (1.15, em algumas versões; 9.30), “nazarenos” (24.5). Mas discípulos é “talvez a palavra mais característica dos cristãos no livro de Atos”.159

Crescendo o número dos discípulos significa literalmente “enquanto os discípulos se multiplicavam” (particípio presente, indicando um crescimento contínuo). Quanto mais membros uma igreja tem, mais problemas em potencial ela apresentará. Agora, iniciava-se uma murmuração — o som da palavra grega sugere o zumbir das abelhas — por parte dos gregos. A palavra grega é hellenistes, que deveria ser traduzida como “helénicos”. Diz-se que esta foi “a primeira aparição desta palavra na literatura grega”.160 Ela é encontrada somente duas outras vezes no Novo Testamento (9.29; 11.20). Aparentemente, significa pessoas “de língua grega”. Bruce escreve: “O contexto irá então determinar mais exatamente que tipo de pessoas de língua grega são elas: aqui, cristãos judeus de língua grega; em 9.29, provavelmente judeus de língua grega nas sinagogas; em 11.20, provavelmente gentios”.

Em contraste com os helénicos, estavam os hebreus. Isto parece querer dizer “judeus de língua hebraica ou aramaica”.162 No Novo Testamento, a palavra aparece novamente somente em 2 Coríntios 11.22, e em Filipenses 3.5. Em ambos os casos, Paulo aplica-a a si mesmo, como um rígido observador da lei — ou possivelmente como um judeu de puro sangue.

A causa desse murmúrio era que as suas viúvas eram desprezadas — “negligenciadas” (somente aqui no NT) — no ministério cotidiano. Com respeito a viúvas, Lake e Cadbury afirmam: “Em geral, o termo ‘viúvas’ vem a ter um duplo sentido: (a) todas as mulheres que tinham perdido os seus maridos; (b) um número seleto de classe elevada, que era indicado a uma posição definida dentro da organização da igreja como parte do ‘clero’” (cf. clérigos). O significado anterior provavelmente aplica-se às viúvas aqui, e o último àquelas de 1 Timóteo 5.9-10.

A palavra grega para ministério é traduzida como “socorro” em 11.29. Esta é, evidentemente, a idéia aqui. Com os fundos que os cristãos tornavam disponíveis (cf. 2.44- 45; 4.32-37), os pobres e os necessitados eram cuidados no cotidiano com uma doação de alimentos. Knowling faz esta sugestão significativa: “E bem possível que as viúvas helénicas tivessem sido ajudadas anteriormente com o tesouro do Templo, e que essa ajuda tenha cessado, visto que elas se uniram à comunidade cristã”.

A palavra chera, viúva, aparece nove vezes no Evangelho de Lucas — somente três vezes nos demais Evangelhos juntos — e três vezes no livro de Atos. Ela está de acordo com a ênfase de Lucas sobre as mulheres (ver a introdução do Evangelho de Lucas). Em outras passagens do Novo Testamento, a palavra é encontrada com maior frequência na primeira carta a Timóteo (oito vezes). Poderia ser um dos diversos itens menores que indicam a possibilidade de que Lucas foi o escrevente de Paulo para as epístolas pastorais (cf. 2 Tm 4.11)?

Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 247-248.

Atos 6.1. Lucas foi criticado porque estaria traçando uma imagem ideal demais do primeiro cristianismo. Nesse trecho, no entanto, ele relata tranquilamente as consideráveis mazelas que levaram a uma tensão na jovem igreja e à murmuração explícita. A igreja era perpassada por uma diferença natural: havia “helenistas”, i. é, judeus dos países ocidentais, que falavam grego, e “hebreus”, os judeus de língua aramaica da Palestina (e do Oriente propriamente dito). Diferenças assim nunca deixam de ser significativas. A unidade da igreja de Jesus não se estabelece pelo fato de que as diferenças são simplesmente ignoradas. Os grupos de língua grega passavam por dificuldades nos encontros cristãos, nos quais se falava – inclusive por parte dos apóstolos – o aramaico. Deve ter surgido rapidamente uma tendência para realizar reuniões próprias no idioma familiar grego. Por outro lado, a beneficência da igreja, que de acordo com At 4.35 não podia mais ser um empreendimento meramente pessoal em vista do crescente número de cristãos, mas acontecia pela mediação dos apóstolos, não alcançou de maneira plena esses grupos “helenistas”. As viúvas “estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Mais uma vez notamos como toda a narrativa de Lucas é sucinta. “E se distribuía a cada um segundo a necessidade da pessoa” (At 4.35). Assim ele escrevera, sintetizando brevemente o essencial. Para ele deve ter sido evidente que entre os “necessitados” estavam em primeiro lugar as “viúvas”. De 1Tm 5.3-16 depreendemos que a previdência para as viúvas continuou sendo uma área central do serviço da igreja. Na Antiguidade simplesmente não havia uma possibilidade de ganho próprio para mulheres. Se uma viúva não tinha filhos que providenciassem seu sustento, ela se encontrava em grande aflição. Nessa situação, porém, estavam sobretudo as viúvas dos “helenistas”. Depois de velhos, casais haviam se mudado do exterior para a Terra Santa, sobretudo para Jerusalém. Estando morto o marido, e vivendo os filhos numa terra longínqua, o que seria da esposa agora? Começou o serviço beneficente da igreja, inicialmente da judaica, e agora também da cristã. Consequentemente, as diferenças linguísticas e a grande extensão da igreja transformaram-se em empecilhos. Naquele tempo as viúvas viviam uma vida sossegada e recatada. Provavelmente os apóstolos conheciam melhor as viúvas do grupo aramaico e viam-nas com mais frequência. As viúvas helenistas eram “esquecidas”. Tampouco Lucas relatou que essa “distribuição para cada um de acordo com sua necessidade” já levara a uma forma de ajuda regular. Uma atividade dessas se consolida inesperadamente numa instituição. Ao que parece, portanto, desenvolveu-se a prática de alimentar regularmente os necessitados, de realizar refeições diárias para as quais as viúvas helenistas não eram convidadas. Porém, a circunstância de que determinadas pessoas não apenas se viam excluídas de uma doação livre e eventual, mas de uma assistência regular, que parecia conceder também a elas um “direito” a determinados benefícios, gera especial tristeza e amargura. Todos sabemos com que rapidez nos sentimos magoados, com que facilidade suspeitamos de “intenções” por trás de esquecimentos que na realidade se explicam por razões bem inofensivas. Rapidamente generalizamos casos isolados, e o egoísmo coletivo acaba exacerbando tudo. “Houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.”

Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.

  1. A escolha dos diáconos.

O diaconato como ministério

Ministério é um trabalho, ou função eclesiástica, exercida por aqueles que são biblicamente ordenados. Da leitura de Atos 6.6, concluímos: os diáconos são também ministros. Apontemos algumas razões que nos argúem serem os diáconos integrantes do ministério cristão:

  1. a) A instituição do diaconato foi inspirada pelo Espírito Santo

Assim como os apóstolos haviam sido chamados para auxiliar a Jesus, foram os diáconos separados para assistir aos apóstolos e pastores. Não se admite, pois, que os diáconos façam oposição ao pastor; foram eles chamados justamente para ajudar o anjo da igreja (At 6).

  1. b) A instituição do diaconato foi eclesiasticamente acordada

Contou com o apoio de toda a Igreja de Jerusalém que, em seu nascedouro, representava toda a assembléia dos santos. E, de conformidade com as instruções do próprio Cristo (Mt 18.9). Logo, o diaconato surgiu com o pleno apoio da Igreja de Cristo.

  1. c) Os diáconos foram formalmente ordenados

Não foram os sete separados em segredo, mas consagrados ante a congregação. Contaram eles, consequentemente, com o apoio tanto da Igreja quanto do magistério apostólico.

  1. d) Os diáconos receberam formalmente a imposição de mãos

Ai está a prova cabal de seu ministério. À semelhança dos apóstolos Barnabé e Saulo, foram os diáconos santificados ao ministério através desse ato tão significativo: “orando, lhes impuseram as mãos” (At 6.6; 13.1-3). Se não são ministros os diáconos, porque a oração e a imposição de mãos?

  1. e) A real dimensão do diaconato

Convém ao diácono entender que, embora ministro, jamais deve ignorar a autoridade que tem o pastor sobre todos os ministérios, órgãos e departamentos da igreja. Que ele reconheça sempre a verdadeira dimensão de seu cargo e a exata razão de sua chamada, e coloque-se à inteira disposição de seu pastor. Seja amigo e companheiro deste. Cabe aqui lembrar o que disse Otis Bardwell, experimentadíssimo diácono: “O diácono não foi chamado para receber honrarias, mas para servir a Deus e à Igreja”.

O diaconato como um importante negócio

Na versão Revista e Corrigida de Almeida, lemos: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões (...) aos quais constituamos sobre este importante negócio” (At 6.3). A versão atualizada, porém, buscando maior aproximação com o grego, usa a seguinte expressão: “aos quais encarreguemos deste serviço”. É o diaconato, afinal, um serviço ou um importante negócio?  Ambas as coisas, pois estão certas ambas as versões. A palavra grega chréia tanto pode ser traduzida como serviço quanto como negócio. Ela pode ser compreendida, ainda, como “um serviço para suprir auxilio em caso de necessidade”. Portanto, nenhum erro cometeu os revisores dessas versões. Servir a Igreja, a Noiva do Cordeiro, é de fato um importante negócio! Pense nisso, diácono, e conscientize-se de sua responsabilidade.

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

A solução satisfatória da questão, e o expediente escolhido para acabar com a causa desta murmuração. Até aqui, os apóstolos dirigiam a atividade assistencial. As pessoas lhes faziam pedidos e apelavam em casos de rixas e injustiças. Eles eram obrigados a empregar pessoas menos responsáveis, que não tomariam todo o cuidado que deveria ser tomado, nem estariam tão firmes quanto deveriam estar contra a tentação da parcialidade. A solução era escolher algumas pessoas para administrar este negócio, pois estavam sem tempo.

Tais pessoas deviam possuir tempo e serem mais bem qualificadas para essa incumbência do que aquelas escolhidas pelos apóstolos.

  1. Como o método foi proposto pelos apóstolos: Eles convocaram a multidão dos discípulos (v. 2), os diligentes das congregações de cristãos de Jerusalém, os homens em posição de liderança. Os doze sozinhos não determinariam nada sem eles, pois há vitória na multidão dos conselheiros (Pv 24.6). Em assuntos dessa natureza, os discípulos, que eram mais entendidos nos negócios desta vida, dariam melhor conselho do que os apóstolos. (1) Os apóstolos ressaltaram veementemente que de jeito nenhum admitiriam tão grande mudança de função, deixando de lado a grande obra que faziam: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas (v. 2). Servir às mesas era receber dinheiro e fazer pagamentos, tarefa muito semelhante ao que se realizava às mesas dos cambistas no templo. Isso era avesso às responsabilidades para as quais foram chamados. Seu dever era pregar a palavra de Deus. Eles não tiveram a oportunidade de estudar para ser pregador como acontece conosco (eles recebiam a palavra no momento em que a proferiam, Mt 10.19). Acharam que era muita atividade para uma pessoa só empregar todas as suas reflexões, cuidados e tempo, embora um desses homens valesse mais que dez de nós, mais do que dez mil. Se fossem servir às mesas, deveriam, em certa medida, deixar a palavra de Deus. Não haveria como atender a obra da pregação com o zelo e atenção devidas. Pectora nostra duas non admittentia que curas - Estas nossas mentes não admitem dois empregos ansiosos e distintos. Este serviço às mesas tinha fins piedosos, e servindo à caridade dos cristãos ricos e à necessidade dos pobres estava-se servindo ao próprio Jesus. Contudo, os apóstolos não tirariam tanto tempo da pregação como esse serviço requereria. Eles não se afastarão mais da pregação pelo dinheiro depositado aos seus pés do que serão impelidos à pregação pelas chicotadas recebidas nas costas. Enquanto o número dos discípulos era pequeno, os apóstolos conseguiam administrar o negócio sem fazer interrupções importantes em sua atividade principal. Mas agora que o número dos discípulos estava aumentando, não mais seria possível proceder dessa forma. Não é razoável, ouk areston estin não é conveniente, ou não é recomendável (v. 2), que negligenciemos o negócio de alimentar almas com o pão da vida para atendermos o negócio (v. 3) de socorrer os corpos dos pobres. Veja que a pregação do evangelho é a melhor obra, a mais apropriada e necessária com a qual o ministro pode se envolver e com a qual deve se ocupar inteiramente (1 Tm 4.15). Para realizá-la, ele não deve se embaraçar com negócio desta vida (2 Tm 2.4), e nem mesmo com a obra de fora da Casa de Deus (Ne 11.16).

(2) Os apóstolos pediram aos irmãos que fossem escolhidos sete varões (v. 3), bem qualificados para o objetivo em vista, cujo negócio seria servir às mesas, diakonein trapezais - ser diáconos às mesas (v. 2). 0 negócio tinha de ser bem cuidado, mais bem administrado do que fora até o momento pelos apóstolos. Logo, pessoas apropriadas eram inseridas ocasionalmente no ministério da palavra e da oração, mas não tão dedicadas a essas funções como eram os apóstolos. Elas deviam cuidar das provisões da igreja, ou seja, inspecionar, pagar e manter as contas. Tinham de comprar o que fosse necessário para a festa (Jo 13.29) e atender tudo que fosse necessário in ordine ad spiritualia - para os exercícios espirituais, a fim de que tudo fosse feito com decência e ordem, e ninguém fosse negligenciado. [1] Os candidatos tinham de ser devidamente qualificados. Os irmãos da congregação deviam escolher, e os apóstolos, ordenar. Mas os irmãos da congregação não tinham autoridade para escolher, nem os apóstolos para ordenar homens totalmente impróprios para o ofício: Escolhei [...] sete varões (v. 3), tantos quantos julgarem que bastariam por ora; mas depois o número poderia ser maior caso houvesse necessidade. Estes deviam ser, em primeiro lugar, homens de boa reputação (v. 3), livres de escândalo, considerados pelos vizinhos como homens íntegros e fiéis, de bom testemunho, em quem se pode confiar, sem a marca de vícios e maus hábitos, mas, ao contrário, reputados por tudo que seja virtuoso e louvável, martyroumenoics - homens que produzam bons testemunhos em seu convívio social. Veja que os que são postos em qualquer ofício na igreja devem ser homens de boa reputação, irrepreensíveis. E não só isso, mas de caráter admirável, requisito indispensável ao ofício e sua execução. Em segundo lugar, eles deviam ser homens cheios do Espírito Santo (v. 3), cheios dos dons e da graça do Espírito Santo, que são necessários para a administração correta deste cargo. Tinham de ser honestos, hábeis e ousados, como eram os juízes em Israel: Homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza (Ex 18.21). Por meio dessas qualidades, mostravam estar cheios do Espírito Santo. Em terceiro lugar, eles deviam ser homens cheios [...] d,e sabedoria (v. 3). Não bastava que fiassem homens honestos e bons, deviam também ser homens discretos e de bom siso, que não pudessem ser enganados e que organizassem as tarefas com disciplina. Deviam ser homens cheios do Espírito Santo e de sabedoria, quer dizer, do Espírito Santo como Espírito de sabedoria. Encontramos a palavra da sabedoria dada pelo Espírito como forma distinta da palavra da ciência, conhecimento doado pelo mesmo Espírito (1 Co 12.8). Os que recebem a incumbência de tratar do dinheiro público devem ser cheios [...] de sabedoria para que o distribuam não só com fidelidade, mas com comedimento. [2] Os candidatos tinham de ser nomeados pelos ir mãos da congregação:

Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões (v. 3). Considerai entre vós quem são os mais adequados para tal função e em quem podeis confiar de modo mais satisfatório” . Presumia-se que os irmãos da congregação soubessem melhor que os apóstolos, ou pelo menos fossem mais aptos para se informar do caráter desses homens. Por conseguinte, cabia-lhes o privilégio da escolha.

[3] Os apóstolos ordenariam os escolhidos ao serviço e lhes dariam o cargo para que soubessem o que fazer e tivessem consciência de fazê-lo. Os apóstolos lhes dariam autoridade para que as pessoas interessadas soubessem a quem fazer solicitações e se submeter em assuntos dessa natureza: Homens aos quais constituamos sobre este importante negócio (v. 3) para assumir essa responsabilidade e cuidar para que não haja desperdício ou falta.

(3) Os apóstolos se entregaram inteiramente à obra como ministros, agindo com a maior cautela possível para desobrigar-se convenientemente desse ofício laborioso: Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra (v. 4). Veja aqui: [1] Quais são os dois grandes meios de graça do evangelho: a palavra e a oração (v. 4). Por meio deles, a comunhão entre Deus e o seu povo é mantida e preservada. Pela palavra, Deus fala com o povo e, pela oração, o povo fala com Deus. Essas práticas têm uma ligação mútua entre si. Por intermédio desses dois meios de graça, o Reino de Cristo é promovido e lhe ocorrem acréscimos. Temos de profetizar sobre os ossos secos e orar para que o espírito de vida de Deus entre neles (Ez 37.4-10). Pela palavra e pela oração, os outros meios de graça são santificados, e os sacramentos tornam-se eficazes (1 Tm 4.5). [2] Qual é o grande negócio dos ministros do evangelho: dedicar-se continuamente à oração e ao ministério da palavra (v. 4). Eles ainda têm de ser adequados ou aparelhados para esses serviços, ou se dedicar a esses serviços de modo público ou particular, em tempos determinados ou fora deles. Eles devem ser a boca de Deus para o povo no ministério da palavra, e a boca do povo para Deus na oração. Para a convicção e conversão dos pecadores e para a edificação e consolação dos santos, temos de oferecer nossas orações por eles e lhes ministrar a palavra, reforçando nossas orações com nossos esforços no uso dos meios designados. Não devemos só ministrar a palavra, temos também de orar por eles para que essa ministração seja eficaz. A graça de Deus pode fazer tudo sem a nossa oração, mas a nossa oração não pode fazer nada sem a graça de Deus. Os apóstolos foram capacitados com dons extraordinários do Espírito Santo, línguas e milagres. Contudo, as práticas às quais eles se dedicavam continuamente era pregar e orar, para, por meio delas, edificar a igreja. Esses ministros, sem dúvida, são os sucessores dos apóstolos (não na plenitude do poder apostólico - os que têm tal pretensão são usurpadores ousados mas na melhor e mais excelente das obras apostólicas), que se dão continuamente à oração e ao ministério da palavra. Jesus sempre estará com esses até à consumação dos séculos (Mt 28.20).

  1. Como esta proposta foi aceita e posta em execução pelos discípulos. Os apóstolos não impuseram a proposta por poder absoluto, embora tivessem o direito de exigir o que se deveria fazer (Fm 8). Mas propuseram como algo altamente conveniente, e este parecer contentou a toda, a multidão (v. 5) dos discípulos (v. 2). A multidão [...] dos discípulos alegrou-se ao ver os apóstolos se desincumbirem voluntariamente da intervenção em assuntos seculares e transmiti-los a outros. A multidão [...] dos discípulos se agradou em saber que eles se dedicariam à palavra e à oração. Eles não contestaram a proposta, nem adiaram sua implementação.

(1) A multidão [...] dos discípulos elegeu as pessoas (v. 5). Não é provável que todos tivessem escolhido os mesmos homens. Todo o mundo tinha o amigo de quem pensava bem. Mas a maioria dos votos caiu nas pessoas aqui nomeadas, tendo o consentimento tanto dos candidatos quanto dos eleitores. Não houve perturbação como fazem comumente os membros de sociedades em tais casos.

Um apóstolo, que era funcionário notável, era escolhido por sorte, que é mais imediatamente o ato de Deus. Mas os inspetores dos pobres eram escolhidos pelo voto da multidão [...] dos discípulos. Esse método deve ser reputado à providência de Deus, que tem o coração e a boca de todos os homens em seu poder. Há uma lista dos indivíduos escolhidos. Certos estudiosos pensam que eles eram componentes dos setenta discípulos. Mas isso não é provável. Há muito tempo os setenta foram ordenados pelo próprio Cristo para pregar o evangelho, e não havia mais razão para eles deixarem a palavra de Deus e servirem às mesas. É mais provável que se encontrassem entre os que se converteram desde o derramamento do Espírito até a presente hora. A promessa afirmava que todos os que fossem batizados receberiam o dom do Espírito Santo (cap. 2.38), e o dom, de acordo com essa promessa, é o enchimento do Espírito Santo. Esse enchimento era um dos requisitos para todos aqueles que fossem escolhidos para este serviço. Reflitamos acerca destes sete varões. [1] Estes sete varões estavam entre os que venderam suas propriedades e depositaram o dinheiro no fundo assistencial.

Porque caeteris paribus - outras coisas sendo iguais, estes varões eram os mais aptos para receber a incumbência da distribuição daquilo para o que tinham sido mais generosos em contribuir. [2] Estes sete varões eram todos do grupo dos gregos ou judeus helenistas, porque todos têm nomes gregos. Esta medida seria provável para silenciar a murmuração dos gregos (a qual ocasionou essa decisão) e para garantir que os estrangeiros não fossem negligenciados visto que a responsabilidade foi colocada em estrangeiros. Nicolau (v. 5), é óbvio, foi um deles, porque era prosélito de Antioquia. Alguns estudiosos defendem que este modo de expressão indica que os outros seis eram prosélitos de Jerusalém, como ele era de Antioquia. O primeiro nomeado é Estêvão, que é a glória destes septemviri, homem cheio de fé e do Espírito Santo. Ele tinha muita fé na doutrina de Cristo e a possuía mais do que os outros. “Cheio de fidelidade, cheio de coragem” (conforme traduzem alguns), porque estava cheio [...1 do Espirito Santo, dos seus dons e graças. Ele era homem extraordinário e de destaque em tudo o que era bom. Seu nome significa “coroa”. Filipe é o segundo nomeado, porque ele, tendo servido bem como diácono, adquiriu para si boa posição (1 Tm 3.13), e depois foi ordenado ao ofício de evangelista. Ele era companheiro e cooperador dos apóstolos (cap. 21.8; compare com Ef 4.11). E óbvio que a pregação e o batismo, serviços que ele desempenhava (lemos no capítulo 8.12), não eram funções de diácono (já que esse ofício era servir às mesas em oposição ao ministério da palavra), mas de evangelista. E quando ele foi designado para ser evangelista, temos razão para pensar que renunciou ao diaconato por ser incompatível com aquele ofício. Quanto a Estêvão, nada encontramos que prove que seja um pregador do evangelho, porque ele só debate nas escolas e pleiteia por sua vida no julgamento (v. 9; cap. 8.2). O último nomeado é Nicolau, que, segundo certos estudiosos, mais tarde se desviou (sendo o Judas entre estes sete varões) e fundou a seita dos nicolaítas mencionada em Apocalipse 2.6,15, onde Jesus diz, repetidamente, que essa era uma facção abominada por Ele. Alguns dos antigos, todavia, o inocentam dessa acusação. Dizem que, embora essa seita impura e vil fosse denominada conforme seu nome, isso ocorrera injustamente.

Afirmam que somente pelo fato de ele insistir que também os que têm mulheres sejam como se as não tivessem (1 Co 7.29), maldosamente, deduziram que os que tivessem mulheres deveriam tê-las em comum. Por isso, Tertuliano, quando trata da comunidade de bens, cita uma exceção particular: Omnia indiscreta; apud nos, praeter uxores - Todas as coisas são comuns entre nós, exceto nossas esposas. Apol., cap. 39. (2) Os apóstolos designaram estes sete varões para o trabalho de servir às mesas por ora (v. 6). A multidão [...] dos discípulos os apresentou aos apóstolos (v. 6), que aprovaram os candidatos e os ordenaram. [1] Os apóstolos oraram (v. 6) com os sete varões e por eles, para que Deus lhes desse cada vez mais do Espírito Santo e sabedoria e para que os qualificasse para o serviço ao qual foram chamados. Oraram ainda a fim de que Deus fizesse deles uma bênção para a igreja e, particularmente, para os pobres do rebanho. Todos que são envolvidos no serviço da igreja devem ser entregues à direção da graça divina por suas orações. [2] Os apóstolos impuseram as mãos (v. 6) sobre os sete varões, quer dizer, eles os abençoaram em nome do Senhor (SI 129.8), pois a imposição de mãos era usada para esse fim. Assim Jacó [...] abençoou cada um dos filhos de José (Hb 11.21), e, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo mcdor (Hb 7.7).

Os diáconos são abençoados pelos apóstolos, e os ajudadores dos pobres são abençoados pelos pastores da congregação. Tendo implorado por uma bênção sobre os sete varões, por meio da imposição de mãos, os apóstolos lhes asseguraram que essa bênção fora dada como resposta. Dessa maneira, eles estavam autorizando os sete varões a exercerem seu ofício e colocando sobre os membros da congregação a obrigação de observarem os diáconos nesse particular.

IT T O avanço da igreja depois disto. Quando as coisas foram postas em ordem na igreja (queixas atendidas e inquietações acalmadas), a religião se firmou (v. 7). l.A palavra de Deus [...] crescia, (v. 7). Agora que os apóstolos resolveram manter-se mais do que nunca restritos à pregação, o evangelho espalhou-se mais e ocasionou mais poder. Os ministros que se desembaraçam de empregos seculares e se dedicam completa e vigorosamente à obra, contribuem muito para o sucesso do evangelho. A palavra de Deus cresce como a semente plantada, que produz trinta, sessenta ou cem vezes mais (Me 4.8). 2. Os cristãos cresceram a cântaros: Em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos (v. 7). Quando Jesus estava na terra, o seu ministério teve pouco sucesso em Jerusalém. Agora essa cidade proporciona a maioria dos convertidos. Deus tem seus remanescentes até nos piores lugares. 3. Grande parte dos sacerdotes obedecia, à fé (v. 7). A palavra e a graça de Deus são grandemente glorificadas, quando as pessoas menos prováveis são influenciadas pelo evangelho, como ocorre aqui com os sacerdotes, que ou se opuseram ou pelo menos se uniram com os que se opunham à mensagem evangelística. Os sacerdotes, cujo cargo honorífico surgiu da lei de Moisés, estavam propensos a serem conduzidos pelo evangelho de Cristo. Pelo visto, eles vieram em massa. Muitos deles concordaram em unir-se e entregar, de uma só vez, seus nomes a Jesus Cristo para continuarem tendo o crédito uns dos outros e para fortalecerem as mãos uns dos outros: polis ochlos - uma grande multidão de sacerdotes foi, pela graça de Deus, ajudada a vencer seus preconceitos e a obedecer à fé, assim é descrita conversão dos sacerdotes. (1) Os sacerdotes adotaram a doutrina do evangelho. Seus entendimentos foram levados cativos ao poder da verdade de Cristo, e todo pensamento contestador e oponente foi conduzido à obediência de Cristo (2 Co 10.4,5). As pessoas conhecem o evangelho para a obediência da f é (Rm 16.26). A fé é um ato da obediência, pois este é o mandamento de Deus: que creiamos (1 Jo 3.23). (2) Os sacerdotes evidenciaram a sinceridade de terem crido no evangelho de Cristo através de uma submissão alegre a todas as suas regras e preceitos. O desígnio do evangelho é refinar e reformar nosso coração e nossa vida. A fé nos dá a lei, e devemos ser-lhe obedientes.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 60-63.

Os doze (2) — uma citação encontrada somente aqui no livro de Atos — convocaram uma reunião da igreja: a multidão dos discípulos. Com santificado bom senso, os apóstolos declararam que não era razoável (adequado) que eles deixassem a palavra de Deus — ensinassem e anunciassem — e servissem às mesas. “Servir” é o verbo diakoneo. O substantivo cognato diakonia é traduzido como “ministério” no versículo 1. Como “diácono” vem de diakonos, os homens aqui escolhidos são frequentemente mencionados como “os sete diáconos”, mas esta designação não lhes é dada no texto. Provavelmente, não havia um cargo técnico como o dos diáconos neste estágio primitivo da igreja.

“Servir às mesas” normalmente é interpretado como servir comida. Mas a palavra trapeza era usada para as mesas dos cambistas (e.g., Mt 21.12). Em Atenas, hoje, pode-se ver uma Trapeza em cada banco. Também trapezeites (somente em Mt 25.27) significa “banqueiro”, ou “cambista”. Lumby comenta aqui: “Servir às mesas significa dirigir a mesa ou o balcão onde o dinheiro era distribuído”. E possível que a frase fosse interpretada com o sentido mais amplo de administrar os assuntos financeiros da igreja, da qual uma parte importante era a provisão de comida para os necessitados. Não é provável que os doze apóstolos realmente servissem às mesas de comida, embora tivessem servido pão e peixes, com as próprias mãos, aos cinco mil e aos quatro mil. De qualquer forma, o verbo forte traduzido como deixemos (ou “abandonemos”) implica que todo o tempo dos doze estava sendo tomado por estes cuidados com as necessidades temporais dos irmãos”. Quando ministros ordenados passam a maior parte do tempo cuidando dos assuntos materiais da igreja, a vida espiritual do povo fica prejudicada.

O curso da ação que os apóstolos prescreviam era sábio. Uma divisão de trabalho era a única solução satisfatória. Sete bons homens leigos seriam indicados para cuidar dos assuntos materiais da congregação enquanto os apóstolos perseverariam na oração e no ministério da palavra (4).

Praticamente todas as palavras ou frases dos versículos 3 e 4 estão cheias de significado. O termo irmãos é aplicado aqui pela primeira vez aos cristãos como irmãos espirituais em Cristo. Este uso ocorre trinta e quatro vezes no livro de Atos e frequentemente nas epístolas.

Escolhei literalmente quer dizer “procurar, visitar ou inspecionar, com o objetivo de encontrar as qualificações necessárias”. Dentre vós — literalmente “no seu meio” — enfatiza o fato de que deveria haver cuidado na seleção dos encarregados da igreja.

A escolha de sete varões tem sido explicada de várias maneiras. Sugeriu-se que Jerusalém pode ter sido dividida em sete distritos, ou que havia sete congregações cristãs que se reuniam em casas particulares. A razão mais provável é a mais simples — sete era um número sagrado para os judeus, significando perfeição.

As qualificações destes homens deviam ser três: 1. Boa reputação; 2. Cheios do Espírito Santo; 3. Cheios... de sabedoria — “sabedoria prática” ou tato. Essas ainda são as três qualificações principais para os trabalhadores cristãos.

Os sete candidatos deveriam ser escolhidos por toda a congregação. Este procedimento democrático era um primeiro passo importante para neutralizar reclamações. Os apóstolos então constituiriam os homens escolhidos sobre este importante negócio — literalmente “necessidade”. Mas aqui esta atividade pode ser traduzida como “ofício”.

O resultado desta indicação pode ser que os apóstolos poderiam dedicar todo o seu tempo ao trabalho para o qual foram chamados, e para o qual estavam qualificados. Com respeito à oração, Bruce diz: “A adoração regular da igreja é o que isso significa”. A realização da adoração pública (oração) e pregação (o ministério da palavra) deviam ser as suas principais tarefas.

A proposta feita pelos apóstolos contentou a toda a multidão (5). Eles elegeram

— lit., “escolheram por si mesmos” — sete homens do seu meio. O primeiro foi Estêvão. Este é descrito adicionalmente como um homem cheio de fé e do Espírito Santo. Para a sua difícil tarefa de satisfazer os murmuradores helenistas, ele precisaria do otimismo da fé, da bondade e sabedoria do Espírito. O fato de Estêvão ser destacado com uma menção especial se deve, talvez, ao fato de que este incidente forma um prelúdio para o seu martírio. Estêvão significa “coroa”, e ele foi o primeiro cristão a receber a coroa de mártir.

Filipe tornou-se um pregador e evangelista depois da morte de Estêvão (8.5-40; 21.8). Dos demais homens, não se faz outra menção no Novo Testamento. Sobre Prócoro, Lake e Cadbury dizem: “Segundo uma lenda largamente encontrada na arte bizantina, ele era o escriba a quem João ditou o quarto Evangelho”.171 Nicolau é identificado como prosélito de Antioquia. A menção a esta cidade reflete o interesse especial de Lucas no lugar, talvez devido ao fato de que Lucas nasceu ali. A região tem um papel importante na narrativa dos Atos (cf. 11.19-30; 13.1-3; etc.).

O fato de Nicolau ser especificado como um prosélito — gentio convertido ao judaísmo — não implica necessariamente que os outros seis fossem todos judeus. Freqüentemente, ressalta-se que eles podem ter pertencido ao grupo helenista da igreja. Neste caso, eles teriam sido mais aceitáveis para os helénicos que reclamavam e também mais solícitos às necessidades desse grupo minoritário. Era uma manobra de tato.

Depois de os sete homens serem selecionados pela congregação, eles foram apresentados ante os apóstolos (6), provavelmente em uma importante reunião que teve a participação de toda a igreja. Os apóstolos, orando, lhes impuseram as mãos. Isto sugere uma ordenação oficial destes homens para o seu ministério especial. O padrão já tinha sido estabelecido pelos judeus.

Ramsay descreve assim a importância deste evento: “Um passo distinto em direção à igreja universalizada foi tomado aqui; já era conhecido que a igreja era maior que a raça judaica pura; e o elemento não judeu era elevado a um posto oficial”.

Aqui temos alguma ajuda sobre “como solucionar problemas”: 1. Reconhecer o problema (1-2a); 2. Recusar-se a subordinar o que é essencial (26); 3. Remover as causas de reclamações (3-6); 4. Colher os resultados de uma solução sensata (7).

  1. Cresce o Número de Convertidos (6.7)

O resultado desta manobra tática que libertou os apóstolos para um ministério espiritual de tempo integral tinha três partes: 1. A palavra de Deus crescia em poder e em publicidade; 2. Multiplicava-se muito o número dos discípulos em Jerusalém, devido tanto às necessidades materiais quanto às espirituais da congregação que estava sendo cuidada adequadamente; 3. O crescimento de grande parte dos sacerdotes que obedecia à fé — Josefo diz que havia vinte mil sacerdotes nessa época. Aqui, o uso da expressão a fé, significando o cristianismo, antecipa o seu uso nas epístolas pastorais e mostra que este fator não pode ser usado como um argumento a favor da data posterior daquelas cartas.

Por que a menção especial à conversão de grande número de sacerdotes? Lumby sugere: “Para estes homens, o sacrifício seria maior do que para os israelitas comuns, pois eles sentiam o peso completo do ódio contra os cristãos, e perdiam o seu status e apoio, assim como os seus amigos”.

Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 248-250.

At 6.2 Que bom que essa murmuração chega até os apóstolos! Representava uma acusação também contra eles, em cujas mãos estavam a aplicação e a distribuição das dádivas. Mas os apóstolos não reagem melindrados, e sim objetivamente. Não tomam simplesmente uma decisão por conta própria, mas envolvem a igreja toda na dificuldade que emergiu (como já fizeram em At 1.15ss e tornarão a fazer em At 15.4,22). “Convocam a multidão dos discípulos”, e os “Doze” dão a declaração unânime: “Não é agradável a Deus que nós negligenciemos a palavra de Deus para servir às mesas.” Que palavra cheia de clareza do Espírito Santo! Os apóstolos não estão primeiramente comovidos com a murmuração e as acusações. Não se desculpam nem prometem trazer uma solução imediata. Tampouco olham primeiro para a carência existente, por mais “cristã” que essa atitude poderia parecer. Imediatamente levantam os olhos para o Senhor e perguntam pela vontade dele. Isso é viver “com fé”! Esse olhar torna a pessoa livre e objetiva! Pois é evidente que “negligenciar a palavra” não pode ser a vontade e incumbência de Deus. Os apóstolos realmente honram a Deus como Deus, e confirmam que o ser humano não vive somente do pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus, e que a mensagem que lhes foi confiada compõe-se literalmente de “palavras desta vida” (At 5.20), das quais depende a vida eterna das pessoas. Essa mensagem precisa, pois, ser comunicada de qualquer maneira. A esse ministério precisam ser devotados todo o tempo e toda a energia dos mensageiros.

At 6.3 No entanto, os Doze não estavam menosprezando a assistência material. Não se pode simplesmente tolerar que viúvas padeçam fome. É preciso providenciar uma solução cabal. Porém – aí está a igreja! “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos dessa tarefa”. Hoje escolheríamos mulheres da igreja para uma tarefa assim. A princípio, naquele tempo isso era impossível, ainda que a ruptura com os costumes da época tenha acontecido de maneira relativamente rápida justamente nesse ponto (Febe!). Para esse momento, portanto, é preciso escolher homens capazes. As pessoas a quem se confia dinheiro precisam ter “boa reputação”. Os apóstolos não dizem por que devem ser justamente “sete”. Contudo, nas comunidades judaicas a diretoria local geralmente era formada por sete homens, os quais eram chamados “os sete da cidade”. Por isso os apóstolos podem ter pensado involuntariamente nesse número. Seja como for, esses homens depois são denominados “os Sete” (At 21.8), mas não “diáconos”, como muitas vezes dizemos sem conferir as fontes. Agora é mencionado o pré-requisito interior: “cheios do Espírito e de sabedoria.” Também esse “serviço à mesa” é, numa igreja de Jesus, um “ministério espiritual”, e não mera “questão administrativa” que pudesse ser enfrentada simplesmente com forças e dons mundanos. Nessa circunstância fica singularmente claro como a frase dos apóstolos sobre seu próprio trabalho era de fato “objetiva”. Ela não significava, p. ex., que: pessoas mais insignificantes também podem cuidar de coisas tão simples, nós apóstolos somos grandes demais para isso. Não, a beneficência na igreja demandava homens primorosos, “cheios do Espírito e de sabedoria”. Na narrativa de Lucas ainda não existe qualquer escalonamento dos “cargos”, com o qual a igreja em breve se adequou ao “esquema” deste mundo, dando assim vazão a todas as pulsões da natureza humana que contradizem profundamente a palavra e essência de Jesus, a saber, a ambição, a ânsia por direitos e privilégios, a insistência em posições exteriores. Lucas não está descrevendo como um cargo “inferior”, o da “diaconia”, é criado ao lado do cargo mais alto de “apóstolo”. Não contribui para o “surgimento da constituição eclesiástica”. Pelo contrário, está mostrando como uma igreja viva sabe tomar providências práticas quando aparecem dificuldades e carências, vendo também em atividades dessa natureza repercussões do Espírito de Deus que nela habita.

At 6.4 Agora também apreciaremos a frase seguinte com sua límpida objetividade: “Quanto a nós, porém, perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” Aliás, é com essa objetividade que também deveríamos ouvir essa frase para a situação atual! Teríamos muitas formulações edificantes para contradizer os apóstolos e lhes mostrar que de fato teriam cumprido a incumbência do Mestre se tivessem “servido às mesas” de modo humilde e amoroso. Essa teria sido a melhor e mais eficaz pregação! Pelo menos grande parte de nós pensa que hoje a ação de ajuda seria a única proclamação que de fato ainda “chega” nas pessoas, porque a “palavra” estaria esvaziada e impotente. Com toda a naturalidade esperamos que os “servos da palavra” dediquem considerável parcela de seu tempo e suas energias em “servir às mesas”. Para isso não carecemos de justificativas teológicas cristãs convenientes. Na verdade, o resultado desse sistema já deveria ter nos despertado há tempo. Deveríamos ouvir de forma nova o que os apóstolos expressam com tanta clareza e determinação. Em primeiro lugar citam a necessidade da oração! De fato, quanto tempo e quantas energias requer a vida de oração do servo da palavra, se tiver o propósito de corresponder pelo menos satisfatoriamente a tudo que está diante dele apenas na congregação que lhe foi confiada! Será que a flagrante impotência de nossa igreja não tem como raiz o fato de que nossos ministros não conseguem mais “perseverar na oração” por causa de tantas sobrecargas? Mais uma vez admiramos a força de formulação do Espírito Santo quando Pedro acrescenta à oração o “serviço da palavra”. Os apóstolos não visam esquivar-se do “servir” e assim manter-se aristocraticamente em altitudes edificantes. Estão conscientes de que Jesus os chamou para “servir”. Não querem servir menos do que os Sete que a seguir serão eleitos, não querem ser menos “diáconos” que eles. Porém seu serviço se realiza em outra área, exigindo tudo deles. O “serviço da palavra” simplesmente não deixa sobrar tempo e força para outro ministério. Será que isso realmente seria diferente nos dias de hoje?

At 6.5 “A palavra agradou a toda a multidão.” Lucas emprega uma expressão do AT conforme a encontrava em sua Bíblia grega (p. ex., em 2Sm 3.36). O AT já chamava toda a comunidade de Israel de “toda a multidão” (2Cr 31.18). “E elegeram…”; a multidão “elegeu”, sem que obtenhamos informação sobre o procedimento usado. Os nomes dos eleitos têm uma entonação grega. Devem ter sido nomeados justamente “helenistas” porque a negligência em relação às viúvas deles havia sido a causa de toda essa ação. Nicolau é chamado expressamente de “prosélito de Antioquia”. Pela primeira vez aparece

um grego de nascença, um “gentio” no âmbito da igreja de Jesus, ainda que pela via do ingresso na cidadania israelita. Pela primeira vez soa também o nome “Antioquia”, que mais tarde se torna tão importante em Atos dos Apóstolos. Sendo o próprio Lucas originário de Antioquia, ele dispunha de conhecimentos especialmente precisos. Em contrapartida, uma pessoa como Filipe, apesar do nome grego, dificilmente seria um helenista. Mais tarde, atuou intensamente na Samaria, ou seja, numa área de língua aramaica.

No caso desses homens ocorre algo semelhante como no caso dos apóstolos. Na sequência ouviremos mais somente sobre Estêvão e Filipe; os demais não são mais citados em Atos dos Apóstolos. Prestaram o serviço para o qual foram eleitos neste momento, e isso basta. Porém descobrimos Estêvão e Filipe no serviço de evangelistas! Isso somente nos causará espécie enquanto ainda permanecermos presos à ideia dos “cargos”. Mas Schlatter tem razão: “Atos dos Apóstolos nos mostra que os encarregados que assumiam compromissos concretos junto com determinada incumbência não perdiam nada de seu direito de cristãos, e de forma alguma se pensava que Estêvão prepararia o sopão, e deixaria a palavra por conta dos outros. Pelo contrário, ele continua sendo o que é, servo da igreja, membro do corpo do Senhor, e por isso testemunha de sua graça, lutador pelo direito dele, e morre sem que fosse alvo da crítica: „Teu diaconato te enviou para a cozinha, e não ao posto de mártir‟.”

6 “Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.” Cabe-nos observar ambos os aspectos. Por um lado são os apóstolos que investem os eleitos no serviço. A imposição das mãos mediante oração não é apenas uma confirmação formal da eleição. Para as pessoas do pensamento bíblico, desde o AT a imposição das mãos era uma transferência real de plenos poderes e força para o ministério (Nm 27.18-23; Dt 34.9), o que é enfatizado seriamente pela imagem negativa oposta, de transmissão real da culpa pela imposição das mãos (Êx 29.15; Lv 16.21; Nm 8.12). Nesse ato não apenas se indica simbolicamente, mas se age de modo eficaz. Por outro lado, porém, como mostra At 13.3, esse ato não tinha o sentido oficial e hierárquico de uma “função” puramente “apostólica”.

At 6.7 “E crescia a palavra de Deus.” Como também em 2Ts 3.1, “a palavra” é considerada como uma grandeza independente com vitalidade e poder vivificador próprios. Realmente não somos mais que “servos” dessa palavra, que não precisamos tornar grande e eficaz com base no nosso empenho e no nosso esforço. A Deus seja rendida sincera gratidão porque também nós podemos presenciar como a própria palavra “corre” e “cresce”. Isso nos compromete ainda mais a dedicar todo o nosso amor e energia no serviço, libertando ao mesmo tempo nosso serviço de qualquer supertensão temerosa.

“E, em Jerusalém, aumentava muito o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.” Lucas nos havia mostrado que a categoria dos sacerdotes era a verdadeira adversária de Jesus e depois também da mensagem de Jesus. Contudo, agora acontece o milagre (Jo 7.48s!) de que a palavra invade até as fileiras desse adversário. Justamente aqui Lucas formula de forma precisa: “Obedeciam à fé.” Esses sacerdotes não eram atraídos a Jesus por um entusiasmo súbito. A fé tinha de mostrar-se a eles com seu direito divino e sua necessidade interior, de sorte que davam o passo até Jesus como um passo de obediência, contrariando toda a sua postura anterior e todas as dificuldades. No idioma grego o imperfeito novamente assinala que esse “tornar-se obediente” diante da fé aconteceu apenas aos poucos, passo a passo. Nesse processo também a “multidão de sacerdotes” pode ter sido grande apenas em relação à atitude geral da categoria sacerdotal, e não um contingente numericamente “grande”. Porém no caso dos sacerdotes torna-se especialmente explícito o que é inerente à fé genuína. A fé autêntica não é arbitrária, não é “sentimento”; tampouco é apenas aceitar uma grande felicidade. Do contrário, com que rapidez poderíamos nos tornar novamente inseguros quando os sentimentos desaparecem ou quando, em lugar da felicidade, grandes aflições decorrem de nossa fé. A fé somente será clara e firme quando ela se submeter obedientemente a uma verdade que está diante de nós de modo irrefutável na ação de Deus em Jesus. Ao mesmo tempo, no entanto, a expressão também mostra que nunca chegamos à fé de forma mecânica, através de uma “subjugação” qualquer. Nosso coração acomodado muitas vezes deseja ser subjugado, de modo que ficaríamos isentos de crer. A verdade de Deus nos é mostrada com clareza; essa é a obra de Deus. Agora, porém, é a nossa tarefa “obedecer” pessoalmente à fé, superando consideráveis resistências em nós e em torno de nós.

Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.

III - O PERFIL E FUNÇÃO DO DIÁCONO

  1. Qualificações do diácono.

Os diáconos tiveram papel muito honroso nos primórdios da Igreja. Os bispos e os diáconos eram líderes da igreja. Paulo usou o termo diáconos como favorito para si e para seus cooperadores (cf. Rm 16.1; 1 Co 3.5 — “ministros”; Cl 1.23 — “ministro”; Cl 4.7 — “fiel ministro”). Todos esses termos correspondem a “diácono”. Além das qualidades exigidas em Atos 6.1-7, Paulo indica outros importantes requisitos para o diaconato. Após enumerar as qualificações para bispo ou presbítero, Paulo aproveita o ensino para discorrer sobre as qualificações dos diáconos ou ministros que serviam nas igrejas. E o faz de modo imediato, sem lacuna ou pausa em sua ministração, dizendo que os diáconos, “da mesma sorte” que os bispos ou presbíteros, deveriam ter as seguintes qualificações (1 Tm 3.8-10, 11-13):

1) “Sejam honestos”. Isso significa que devem ser “honrados, dignos, corretos, íntegros”. Corresponde à “boa reputação”, indispensável ao indicado para diácono, quando houve sua instituição (At 6.3); nas igrejas, hoje, os diáconos recolhem dízimos e ofertas; alguns são tesoureiros, em congregações ou igrejas. Se forem desonestos, podem cair no laço do Diabo de roubarem até os dízimos, como já aconteceu em várias ocasiões. Para sua maldição (Zc 5.3,4).

2) “Não de língua dobre”. Isto é, que não sejam homens de duas palavras, ou de “duas caras”; que diz uma coisa sobre um assunto, e diz outra coisa sobre o mesmo problema. Jesus disse: Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna (Mt 5.37). Um animal que tem língua dobre (dupla) é a serpente.

3) “Não dados a muito vinho”. No tempo de Paulo, a exemplo do que ocorria no tempo de Jesus, o vinho era uma bebida familiar. Havia o vinho fermentado e o não fermentado, o suco da uva (gr. guenematos tês ampèlou), que Jesus tomou na instituição da Ceia. Não fica bem para o diácono (ministro, servo), ser habituado a tomar vinho ou qualquer bebida alcoólica.

4) “Não cobiçosos de torpe ganância”. Um diácono não deve ser ganancioso, ou seja, cobiçoso, ávido por dinheiro, ou qualquer outro tipo de vantagem ou lucro pessoal, na obra do Senhor, ou em sua vida pessoal. Muitos têm afundado moralmente, por causa da desonestidade, que resulta da ganância por riquezas materiais (1 Tm 6.10).

5) “Guardando o mistério da fé em uma pura consciência”. Esse “mistério” é a revelação de Deus, através de Cristo (cf. Rm 16.25). E “a sabedoria de Deus oculta em mistério”, “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam. “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Co 2.9,10). O diácono deve ter consciência de que não é um serviçal qualquer, mas um “servo de Deus” a serviço da sua Igreja.

6) “Que sejam primeiro provados”. Só deve ser indicado para ser diácono pessoa que seja avaliada pelo ministério, ou pela liderança. “Depois sirvam, se forem irrepreensíveis”. Tal recomendação demonstra a responsabilidade de quem indica um crente para o diaconato. Ele não vai fazer um trabalho qualquer, mas um “importante negócio” (At 6.3). Deve ser “irrepreensível” (íntegro, fiel).

7) “Maridos de uma mulher”. A interpretação para esta qualificação é a mesma que foi feita para os bispos ou presbíteros. Os diáconos devem ser homens fiéis às suas esposas. Não significa que está inapto para o ministério ou diaconia, se foi vítima de uma infidelidade conjugal. Se for o causador da infidelidade fica desqualificado para o diaconato. O radicalismo não constrói bom entendimento das Escrituras. Um diácono não pode ser bígamo ou infiel.

8) Que ‘‘governem bem seus filhos e suas próprias casas”. A exemplo dos bispos ou presbíteros, os diáconos também devem ser bons donos de casa, bons esposos e bons pais; que saibam cuidar de seus filhos, para poderem cuidar das atividades que lhes forem confiadas na casa de Deus.

Após enumerar essas qualificações para o diaconato, Paulo conclui, dizendo que os que as possuírem alcançam uma avaliação positiva para servirem na igreja: “Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 142-144.

Tenho um amigo, cuja vocação é ser diácono. Neste ministério, não lhe foi difícil alcançar a excelência. Pois sempre reconheceu, com profunda humildade, ter sido ungido para servir à mesa de Cristo, à mesa da Igreja e a mesa de seu pastor. Para esse meu amigo, é a diaconia uma raríssima oportunidade de agradar ao Senhor Jesus.

Com que solicitude, serve ele a Igreja de Cristo! Sabe lidar com as crianças. É tolerante com os jovens. Trata os idosos com paciência. Socorre os necessitados. Evangeliza. E está sempre à disposição dos que se afadigam na Palavra. Tão especial é esse meu amigo que o ministério achou por bem, certa vez, homenageá-lo. Mas como premiar alguém que tão eficazmente vinha desempenhando o diaconato? Que ao presbitério seja promovido! E, assim, foi. De um dia para o outro, perdemos um excelente diácono, e não ganhamos um presbítero. Tempos depois, lá estava o meu amigo importunando o pastor a fim de voltar às lides diaconais. E a sua importância era tão oportuna, que não havia como desconsiderá-la. A fim de remediar a situação, houveram por bem “removê-lo” à função para qual fora vocacionado.

  1. AS QUALIFICAÇÕES DO DIÁCONO

As qualificações diaconais são os requisitos imprescindíveis que tornam o obreiro cristão apto a exercer o ministério de socorro aos necessitados e de serviço aos santos. Tais qualificações acham-se compreendidas em Atos 6.3 e na primeira Epístola de Paulo a Timóteo 3.8-13. Em ambas as passagens, há um elenco de virtudes e requisitos, que só encontraremos em homens de valor. Por que tais qualificações fazem-se tão necessárias?

A resposta é obvia. Diferentemente do escravo do AT, de quem era requerida apenas uma cega subserviência, o diácono do NT viria a ocupar um lugar de honrado destaque na Igreja de Cristo. Não seria ele um servo comum; erguer-se-ia como ministro. Eis a seguir os requisitos exigidos:

  1. De boa reputação

Afirmou Publílio Siro que a reputação é um segundo patrimônio. Se o admirável poeta latino estivesse a reviver os passos iniciais da Igreja de Cristo, certamente haveria se içar a reputação à mais alta das grandezas sociais. Pois a primeira virtude que os cristãos primitivos reclamaram dos postulantes ao diaconato foi justamente a boa reputação: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação...” (At 6.3).

  1. a) O que é a reputação

Originaria do vocábulo latino reputatione, a palavra reputação significa fama, celebridade e renome. O erudito evangélico Samuel Vila realça quão significativo é este termo: “Reputação é uma das vozes mais sábias que tem a nossa língua. É a nossa fama ou credito pessoal; é algo que se submete ao julgamento público todos os dias. Reputar, pois, é julgar repetidamente a uma pessoa ante o fórum da moral pública”.

De conformidade com o étimo da palavra, os sete primeiros diáconos já vinham sendo observados e rigorosamente julgados tanto pelo colégio apostólico quanto pela igreja. E, nesse julgamento, foram todos eles aprovados com o máximo louvor. Por conseguinte, antes de separarmos um obreiro ao diaconato, exijamos tenha ele uma boa reputação. Se não for bem conceituado diante da igreja e do ministério, que não seja aceito. E que sua reputação seja também comprovada pela família e pela sociedade.

O diácono haverá de ser um esposo exemplar, um pai responsável e prestimoso, um cidadão honesto e cumpridor de seus deveres. Se a sua reputação não transcender a tais limites, reprovemo-lo. Doutra forma, trará somente aborrecimentos à igreja, e transtornos à obra de Deus.

  1. b) O significado grego da palavra reputação

No original, temos o vocábulo marturouménous que significa não somente reputação como também testemunho. Devem os diáconos portanto, desfrutar de um inconfundível atestado público. Que todos lhe comprovem a idoneidade do caráter e a fé sábia e experimentada nas boas obras. Você tem zelado por sua reputação? Como obreiros de Cristo, somos submetidos a julgamentos diários. Somos julgados em casa, na sociedade e na igreja. Até mesmo em nosso íntimo, somos nós julgados. É com base em tais julgamentos que seremos chamados a ocupar as maiores responsabilidades no Reino de Deus. Você tem um nome a zelar; cuide de sua reputação. E que não ocorra conosco o que se deu com um dos personagens de Shakespeare: “Reputação, reputação, reputação! Ah, perdi a reputação! Perdi o que em mim havia de mortal, e o que fica é bestial”.

  1. Cheios do Espírito Santo

O ser cheio do Espírito Santo é o mesmo que ser batizado? Não quero, aqui, perder-me em discussões acerca desse binômio. Se desprezarmos nossas raízes, diremos tratarem-se de coisas completamente distintas. Se nos voltarmos, todavia, aos primeiros dias da Igreja, constataremos: os discípulos só eram considerados cheios do Espírito Santo somente depois de haverem passado pela experiência pentecostal (At 2.4; 10.47; 19.6). Sobre a controvérsia, pronuncia-se o Dr. George E. Ladd: “Quando o Espírito Santo foi dado aos homens, os discípulos foram batizados e ao mesmo tempo cheios do Espírito Santo”. Stanley M. Horton também é bastante taxativo; não admite réplicas: “Todos os 120 presentes foram cheios, todos falaram em novas línguas, e o som das línguas foi publicamente notório” (Grifos nossos).

O saudoso pastor Estevão Ângelo de Souza, um de nossos maiores teólogos, não faz separação entre o ser cheio e ser batizado no Espírito Santo: “O batismo com o Espírito Santo é um ato de Deus pelo qual o Espírito vem sobre o crente e o enche plenamente. É a vinda do Espírito Santo para encher e apoderar-se do filho de Deus como propriedade exclusivamente sua”. É nos oportuno aqui recorda o que disse Hopkins: “Devemos reconhecer o fato de que ter o Espírito Santo é uma coisa, e ficar cheio (batizado) do Espírito é bem outra”. Diante do exposto, como entender Efésios 5.18? Leiamos esta passagem:

“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”. Como harmonizar essa recomendação de Paulo com a reivindicação feita aos sete diáconos? Em primeiro lugar, há que se entender que, em todos os episódios de Atos dos Apóstolos, onde se menciona o “encher do Espírito Santo”, temos um ato soberano e instantâneo de Deus. É algo que se dá de fora para dentro, de cima para baixo.

Temos, aqui, pois, a efusão ou derramamento do Espírito Santo. Ao passo que, em Efésios, deparamo-nos não com um ato, mas com um processo de enchimento que se dá de dentro para fora. E este processo, ao contrario daquele, depende da vontade do crente. Se este não seguir a recomendação bíblica, e desprezar o exercício da piedade, não poderá conservar o enchimento do Espírito Santo.

Vejamos como, no original, o verbo grego é usado em Efésios 5.18: allá plerousthe em pneúmati. “Mais enchei-vos do Espírito Santo”. O verbo plerousthe acha-se no presente do imperativo passivo da segunda pessoa do plural. Neste caso, o tempo presente exige uma ação habitual continuada. É como se o apóstolo Paulo estivesse recomendando aos irmãos de Eféso: “Deveis, constante e permanentemente, permite que o Espírito Santo domine vossas vidas”. Deve o diácono, por conseguinte, não apenas ser batizado no Espírito Santo como também manter a plenitude do Espírito através do cultivo da piedade e do fruto do Espírito Santo. É uma ordem a ser cumprida hoje e por todo o crente, seja este obreiro ou não.

Conclui-se, pois, que os diáconos têm de ser não somente batizados no Espírito Santo como se manter na plenitude do Espírito. Sua experiência haverá de ser completa; da conversão ao batismo no Espírito Santo, mais do que plena. Os pentecostais, mercê de Deus, temos nos pautado por esta regra de ouro.

É por isso que separamos para o ministério somente os que, além de sua comprovada conversão, já receberam o batismo com o Espírito, e na plenitude do Espírito Santo, perseveram. Hoje, porém, não são poucas as igrejas que, alegando ser o diácono um mero cargo local, vêm consagrando a esse ofício homens que ainda não experimentaram o batismo no Espírito Santo. Isso é mui temerário! Pois estaremos, dessa maneira, abrindo um perigoso precedente nas fileiras de nossos obreiros que, desde o inicio da Obra Pentecostal, vêm pautando-se por uma vida espiritual singularmente plena. Além do mais, consideremos as dificuldades que envolvem o diaconato. Por ser um ministério que se põe na linha de frente, exige de quem o exerce um poder sobrenatural. Já pensou se Estevão ou Felipe não desfrutassem de semelhante virtude? Como se haveriam naqueles dias tão difíceis?

  1. Cheio de sabedoria

Alguém já disse, mui apropriadamente, que este é o século do conhecimento, mas não da sabedoria. Embora tenhamos avançado tanto, em todas as áreas da tecnologia, espiritualmente pouco, ou quase nada logramos. Se para obter conhecimento, bastam os estudos e a pesquisa, o mesmo não acontece com a sabedoria. Para se conquista-lá, demanda-se o exercício contínuo e pessoal da piedade; o temor do Senhor é o seu principio (Pv 1.7).

De acordo com a ótica Bíblica, a sabedoria é a forma como vivemos, agimos e reagimos às circunstâncias; é o reflexo da natureza divina em nossa existência. Traduz-se a sabedoria num viver irrepreensível e santo. Esse era o tipo de sabedoria que os apóstolos esperavam encontrar nos diáconos. Não buscavam necessariamente homens ilustrados e cultos. Mesmo porque, como diria Chaucer, nem sempre são os mais eruditos igualmente os mais sábios. Os diáconos, porém, não deveriam eles de ser plenos. A expressão grega não deixa dúvidas: pléreis sphías. Cheios de sabedoria! É o que se impunha a cada um dos diáconos.

  1. a) O que é sabedoria

W.C. Taylor explica-nos qual o seu significado no grego do NT: “O mais elevado dom intelectual, de compreensiva intuição nos caminhos e propósitos de Deus; sabedoria prática, os dotes do coração e mente que são necessários a conduta reta da vida”.

Afirma Souter que a sabedoria é “o variado conhecimento de coisas humanas e divinas adquirido pela agudez e experiência, e resumida em máximas e provérbios; perícia na direção de afazeres; prudência nas relações com homens incrédulos; discrição e aptidão em ensinar a verdade; o conhecimento e a prática dos requisitos de uma vida reta e piedosa; conhecimento do plano divino, outrora velado, de prover a salvação para os homens pela morte expiatória de Cristo”. Por conseguinte, a sabedoria que as Sagradas Escrituras estão a exigir dos diáconos não é a cultura livresca e acadêmica. É a experiência que nos advém de uma vida de intima comunhão com o Senhor.

  1. b) Como adquirir semelhante sabedoria

A verdadeira sabedoria é adquirida através da:

- Leitura diária da Bíblia Sagrada: quanto não temos de aprender dos profetas e apóstolos! Foram estes sábios divinamente inspirados a espargir luz onde só havia trevas. E todas as vezes que, com eles nos privamos, tornamo-nos mais sábios.

- Orando e chorando: faz bem o diácono que se dedica diariamente a oração. É um exercício que requer perseverança e Constância. Quanto mais buscar a Deus, mais municiado sentir-se-á. E, com o passar dos tempos, haverá você de constatar que o seu ministério será de tal forma honrado, que, naturalmente (ou sobrenaturalmente?), estará a realizar outras tarefas ao seu Senhor? Haja vista o que aconteceu a Estevão e a Felipe.

- Cultivando o temor do Senhor: a Bíblia é muito clara: o principio da sabedoria é o temor a Deus (Pv 1.7). Esse temor, que pode ser interpretado como a mais profunda e singular reverência ao Todo-Poderoso, força-nos a cultivar uma vida de intensa piedade. A partir daí, tudo faremos para jamais desagradar ao Único e Verdadeiro Deus (Ap 14.7).

  1. Sejam honestos

Depois de haver discorrido acerca dos requisitos acerca dos requisitos ao episcopado, Paulo põe-se a considerar o ofício diaconal. Pelas as expressões que usa, tinha ele os diáconos em elevada consideração. Destes, exige o apóstolo promovidas qualificações: “Da mesma sorte os diáconos” (1 Tm 3.8). No original, tal expressão é mui significativa: Diakónous hosaútos.

O vocábulo hosaútos equivale a de igual modo, da mesma maneira. Wilbur B. Wallis lembra que “o pensamento principal parece ser que deveria haver o mesmo tipo e grau de dons e qualificações para os diáconos, segundo o padrão dos anciãos”. Devem ser os diáconos, portanto, ser tão qualificados quanto os bispos.

  1. a) O que é honestidade

Probidade, decência, decoro. É a qualidade de quem é íntegro e digno. A palavra grega para honestidade é semnótes: seriedade, honradez, respeito. Barret é de opinião que esse versículo pode ser assim traduzido: “Da mesma forma sejam os diáconos homens de princípios elevados”.

  1. b) A razão da honestidade

Em virtude de suas obrigações administrativas, o diácono tem de se mostrar incorruptível. É ele quem estará a lidar com os tesouros dos santos. Em muitas igrejas, além de recolher os dízimos e ofertas, estará também administrando os recursos captados aos homens, mulheres, jovens e crianças que vêm ao santuário adorar ao Criador com as suas fazendas e haveres. Caso não seja honesto, agirá o diácono como Judas: lançara mão de quanto se deposita na bolsa do Cristo (Jo 12.6).

A honestidade também é sinônima de seriedade. Como estará o diácono a tratar como povo, é imperativo inspire ele respeito. Como seria lamentável se as senhoras o evitasse por causa de sua postura lasciva! Na casa de Deus, tem o diácono um elevado papel a representar. Honestidade é um de nossos maiores legados. Que jamais a percamos. Se dela abrirmos mão, o que nos restará? Perguntava o romancista inglês John Lyly do século XVI.

  1. Não de língua dobre

O portador desse aleijão moral, não pode ser depositário de confiança alguma. É alguém que não consegue manter a própria palavra; jamais serve como testemunha. Tem sempre duas palavras uma para cada ocasião. Versões? Muitas! Depende da circunstancia. Ele é falso, caluniador, peçonhento. Vive para difamar e difama para viver. Está sempre pronto a trair os melhores amigos, e a semear inimizades entre os companheiros. Terá ele, por ventura algum companheiro ou amigo?

Por força das reivindicações diaconais, terão os candidatos ao cargo uma só palavra. O seu dizer será: sim, sim, e não, não. O que disto passar virá certamente do maligno. No original, a Expressão língua dobre é mui significativa. Dialógous significa língua-dupla. O que detém semelhante deformidade moral dá a um mesmo fato as mais variadas versões. Pouco lhe importa se a honradez do próximo será ou não comprometida. O homem de língua dobre, de acordo com o grego, é também o fofoqueiro. É aquele que não sabe guarda segredo; está sempre a arruinar a reputação alheia. É uma tragédia para o povo de Deus o diácono de língua dobre. Compromete o seu pastor e a honradez de cada uma das ovelhas. Vê coisas que jamais existiram; fala daquilo que nunca houve. Inventa, fantasia e está sempre a mentir. Pouco lhe importa se vidas forem enlameadas, ou lares, destruídos.

O bom diácono é discreto; sabe guarda segredo. Possui ele o suficiente despacho para resolver as mais embaraçosas situações sem comprometer o caráter de seus conservos. Ele tem uma só palavra; não se preocupa em ser politicamente correto conquanto seja justo, fiel e leal.

  1. Não dados a muito vinho

Afinal, é licito ao crente ingerir álcool? Se lermos as Sagradas Escrituras, deparar-nos-emos com homens e mulheres piedosos que o beberam. Todavia, há que se responder a uma outra pergunta: é conveniente? Responde Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12). Entre a licitude e a conveniência, optemos por esta; aquela acarreta-nos, não raro, dificuldades e amargores.

Era lícito a Noé beber do fruto da vide? Certamente. Mas descobriu-se inconveniente em sua tenda (Gn 9.20-29). E as filhas de Ló? Era-lhes lícito dar vinho ao pai? Só que um abismo chamou outro abismo até que o incesto para sempre manchou a família desse patriarca (Gn 19.30-38).

Como diria Salomão, o vinho é escarnecedor (Pv 20.1). Escarnece o vinho de tudo; jamais se farta de escarnecer. Conscientizemo-nos de que o Senhor Jesus nos chamou para sermos uma sociedade de temperança. Por isso, temos de optar pela conveniência, e da licitude, em certos casos, abrir mão. Se bebermos moderadamente estaremos pecando? Todavia, bem faremos se, das bebidas fortes, nos abstivermos. Pois não são poucos os que se contaminaram com álcool. Levavam os recabitas tão a sério as recomendações divinas e as tradições paternas, que vieram até a renunciar os mais legítimos direitos.

Num momento particularmente difícil em Judá, quando os filhos de Abraão quebrantavam abertamente a Lei de Moisés, ignoravam sua cultura e os mais santos legados, os descendentes de Recabe aferraram-se ainda mais ao seu compromisso. Instados a tomar vinho, redargüiram: “Não beberemos vinho, por que Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou dizendo: Nunca bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos” (Jr 35.6).

Se devemos pautar-nos como sociedade de temperança, como encarar a presente recomendação de Paulo? Claramente recomenda o apóstolo que os diáconos não sejam dados a muito vinho (1 Tm 3.8). Como nos haveremos diante dessa aparente contradição? Em primeiro lugar, entendamos o contexto cultural em que a epístola foi escrita. Tanto a sociedade grega quanto a hebréia encaravam com naturalidade o vinho; tinham-nos como benção dos céus. Eurípides chegou a afirmar que, onde não há vinho, não existe amor. Todavia, com o aprimoramento consuetudinário da Igreja, foi esta assumindo sua vocação como agência de temperança. Até que, em Efésios, recomenda o apóstolo: “E não vos embriagues com vinho em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

A expressão grega Já em 1 Timóteo, Paulo é ainda mais explicito. Segundo deixa bem patente, o candidato ao ministério pastoral não pode ser dado ao vinho (1 Tm 3.3). Com respeito aos diáconos, parece haver certa tolerância. A expressão grega é piedosamente esclarecedora: mé oino pollo proséchontas.

A ideia, no original, retrata alguém com a mente voltada para o vinho; não pode livrar-se dessa obsessão. É alguém dominado pelas bebidas fortes. Por conseguinte, como pode um diácono, nessas condições, servir a obra de Deus e zelar pelo bem estar dos santos? Como pode ser um ministro se não ministra o próprio ser? Ainda que haja nessa recomendação paulina uma aparente abertura para se beber moderadamente, a experiência alerta-nos: a abstinência ainda é o melhor caminho. Willbur B. Wallis é categórico: “O testemunho da Bíblia é consistentemente contra o uso da bebida forte. A aplicação prática do princípio na sociedade moderna é de total abstinência”. Que os diáconos sejam comedidos. Ou melhor: que primem eles pela abstemia. Se não beberem, estarão livres de cometer aqueles pequenos desatinos e lapsos que tanto mancham o homem de Deus.

Sejamos mais explícitos: que jamais se deem ao vinho; o exercício de seu oficio exige em tudo sobriedade. Estejam sempre atentos às reivindicações de seu ministério; não se deixem levar pela alegria fútil e irresponsável das bebidas fortes.

O exemplo de Noé é uma seriíssima advertência. Embora piedoso, expôs-se vergonhosamente; trouxe a maldição sobre a família. Maldição esta que, ainda hoje, vem desafiando o concerto das nações do Médio Oriente.

  1. Não cobiçosos de torpe ganância

Como esquecer a Balaão? Este profeta bem que poderia haver entrado para a história sagrada com as honras do misterioso Melquisedeque, ou com as deferências do avisado e sábio Jetro. Ambos, estrangeiros e gentios como ele. Desventuradamente, Balaão não buscou sublimar tal privilégio. Deixou-se induzir pelo prêmio da corrupção. Corrupto e corruptor, viveu para corromper, e, corrompido, pereceu ele. Balaão era um típico cobiçoso de torpe ganância. Vendeu-se para amaldiçoar e fazer tropeçar a Israel (Nm 22.1-7). E como foi lutuoso o seu fim! Nas Sagradas Escrituras, Balaão não é visto apenas como avaro e ganancioso. É visto também como o inaugurador de um caminho maldoso e de uma doutrina que, por pouco, não destrói a Israel (2 Pe 2.15; Ap 2.14).

Até onde conduz a torpe ganância! O que começou em ambição, termina em heresias; em gravíssimos pecados, acaba-se. A torpe ganância, pelo que depreendemos das escrituras apostólicas, também levou um diácono a cometer os mesmos desatinos de Balaão. Refiro-me a Nicolau (At 6.5).

Se de fato foi este o famigerado heresiarca da Ásia Menor, temos aqui Balaão do Novo Testamento. A obra de sua seita tornou-se de tal forma repugnante, que Jesus por pouco não antecipa o dia da ira (Ap 2.6). Esse heresiarca, como todos os demais, permitiram-se embriagar pela usura. E já tudo cobiçando, deturpando e tudo corrompendo-se até o inferno. Grande desgraçã operou ele no seio da Igreja Primitiva! Não é sem razão que Paulo exige seja o diácono despojado da torpe ganância: “Não cobiçoso de torpe ganância” (1 Tm 3.8).

No grego: mé aischokerdeis. A expressão pode ser entendida também como: não amante do lucro, não mercenário. Por que não podem os diáconos ser gananciosos? Em primeiro lugar, exige-se tenha o homem de Deus uma postura íntegra e santa. Ele tem de ser, no mínimo, incorruptível. Pois estará a lidar com os bens econômicos e financeiros da Igreja. Se incorrupto e reto, jamais cairá em torpes ganâncias.

Saberá como encaminhar devidamente as ofertas e os dízimos dos fiéis. Não são poucos, desgraçadamente, os que têm desviado o dinheiro do tesouro sagrado. É um abismo que sempre acaba por atrair outros abismos. Que o diácono administre correta, sabia e piedosamente os próprios bens. Se for avaro, não haverá de permitir sejam os recursos dos santos empregados em favor dos necessitados. Quererá tudo para si. Não fazia assim Iscariotes? Tecnicamente, foi Judas o primeiro diácono. E que péssimo diácono foi ele! Amou tanto o dinheiro, que pelo dinheiro foi arruinado. A única coisa que logrou com tudo o que roubara foi a própria sepultura (At 1.18.19).

  1. Guardando o ministério da fé em uma pura consciência

Além das qualidades morais e sociais, exige-se seja o diácono são na fé. Que esteja de conformidade com as Sagradas Escrituras, e as tenha como única regra de fé e prática. Que sustente a sã doutrina, e não evidencie quaisquer desvios no que tange à ortodoxia. Estejamos atentos a recomendação de Paulo: “Guardando o ministério da fé em uma pura consciência” (1 Tm 3.9).

O que deseja o apóstolo aprendamos aqui? Que só poderemos qualificarmos como guardiões dos mistérios da fé se pura estiver nossa consciência. Requer-se, pois, do diácono obediência ativa e reverente. Doutra forma, cairá na tentação do diabo; e não demora muito, eis mais um heresiarca egresso das fileiras diaconais. Somente uma consciência purificada pelo sangue de Jesus pode debelar a virulência da heresia. Por conseguinte, é inadmissível um diácono que, embora social e moralmente correto, ostente aleijões doutrinais. Tem de ser ele um expoente incorruptível da Palavra de Deus. Haja vista Estevão. Diante do sinédrio, expôs este com tanta mestria a história da salvação, que deixou a todos assombrados (At 7).

Seu discurso é o pronunciamento de uma autoridade incontestável das Sagradas Escrituras. E Filipe? Não se revelaria ele um abalizado evangelista? O plano da salvação que expôs ao eunuco de Candace foi tão eficaz, que levou o etíope a converte-se radicalmente ao Senhor Jesus (At 8.26-40).

Se Estevão e Felipe destacaram-se pela correção doutrinária, o mesmo não aconteceria a Nicolau. Foi este um escândalo para a Igreja de Cristo. Não demorou muito, e já estava revelando suas deformidades doutrinárias e comportamentais. A muitos corrompeu; e, da verdade, desviou várias igrejas. No próximo capítulo, quando estivermos a discorrer sobre a prova dos diáconos, veremos como aferir a sua pureza doutrinária. Por enquanto, que estes conselhos sejam piedosamente observados:

  1. a) Leitura diária da Bíblia

Deve o diácono ser um assíduo leitor das Escrituras Sagradas. Quanto mais estudar a Bíblia, mais livre estará de cair em heresias e enganos. A recomendação de Paulo é mui taxativa: “Persiste em ler” (1 Tm 4.13).

  1. b) Estudo sistemático da Bíblia

Além do estudo diário e devocional das Sagradas Escrituras, deve o diácono também estudar sistematicamente a Palavra de Deus. Faria bem o diácono se cursar um seminário que zele pela ortodoxia. Em suma: Primando pelo estudo sistemático e sempre piedoso da Bíblia, o diácono jamais se contaminará com os engodos doutrinários. Pois estará a guardar o mistério da fé numa pura consciência.

  1. Os diáconos sejam maridos de uma mulher

A vida conjugal do diácono tem de ser um exemplo. Atenhamo-nos à recomendação do apóstolo: “sejam maridos de uma mulher” (1 Tm 3.12). O que Paulo aqui demanda é que o candidato ao oficio diaconal tenha uma vida conjugal sem embaraço ou equívocos. Nada deve prendê-lo ao passado; todos os seus problemas sentimentais têm de estar bem resolvidos. Nada de casos pretéritos, nem episódios que estejam a reclamar explicações e desdobramentos. O seu comportamento em relação às mulheres deve evidenciar um homem comprovadamente de Deus. Com as jovens, seja um irmão mais velho; respeitador e cortês. Com as mais idosas, um filho querido e solícito. Com as crianças, um pai cuidadoso e atento. Se não se contiver diante do sexo oposto, seja vetada sua indicação ao diaconato. O diácono tem de ser fiel à esposa. E que jamais se dê aos namoricos e flertes!

  1. Governem bem seus filhos

A advertência de Paulo não admite evasivas: “e governem bem seus filhos” (1 Tm 3.12). Busquemos a expressão no grego: téknõn kalõs proistámenoi. O verbo proístemi, aqui na primeira pessoa do indicativo singular, é riquíssimo em acepções. Etimologicamente, significa: tomo posição em frente, assumo a direção, a liderança e o governo. Significa também: sou cuidadoso, sou atencioso, e aplico-me aos meus deveres. Da expressão paulina, somos instados a concluir: o pai cristão não é um mero educador; é antes de tudo o administrador de seus filhos. Nessa condição, tudo fará a fim de que estes sejam bem sucedidos tanto diante de Deus quanto diante dos homens. Não foi educado assim o menino Samuel? E, nessa tarefa, a disciplina é de fundamental importância.

Se há um obreiro que necessita trazer os filhos sob disciplina, é o diácono. Pela natureza mesma de seu cargo, seus filhos têm de ser um consumado exemplo de vida cristã. Isto não significa, porém, que estes devam abdicar da infância e das coisas próprias de sua idade. Doutra forma, haveriam eles de nascer já adultos. Haja vista o que Paulo confessa aos coríntios. Quando menino, falava como menino e, como menino, agia. Mas chegando a maturidade, já se comportava como adulto e, como adulto, já discorria (1 Co 13.11).

Se por um lado, não podemos violentar a pueril natureza de nossos filhos; por outro, não devemos deixá-los entregues à própria vontade. Em seus provérbios, exorta-nos Salomão a educar a criança no caminho em que deve andar porque, mesmo grande, jamais apartar-se-á dele (Pv 22.6). Isto significa que, mesmo disciplinada, uma criança jamais deixará de ser criança... feliz, educada e bem orientada quanto ao futuro. Faça culto domestico todos os dias. Ore com os seus filhos; leia a Bíblia com eles. Ouça-os em seus dilemas. Admoeste-os na Palavra. Leve-os à Escola Dominical. Procure saber quem são os seus amigos e colegas. Interrogue-os acerca de seus lazeres.

Na casa de Deus, que eles se portem com decência e profundo temor. Crianças, adolescentes ou jovens, podem os nossos filhos ter uma postura reconhecidamente cristã, e nem por isso deixarão de ser eles mesmos. Que exemplo maravilhoso viu Paulo na casa de Filipe! Em sua viagem a Jerusalém, visitou Paulo esse antigo diácono, e ficou impressionado pela maneira como agora evangelista dirigia o lar. Tinha este quatro filhas virgens, e todas elas profetizavam (At 21.9). Se conseguirmos ordenar assim o nosso lar, que maravilha não haverá de ser!

  1. Governem bem suas próprias casas

Governar a casa não é somente trazer os filhos sob disciplina nem manter perfeita sintonia com a esposa. É gerir os negócios do lar de tal forma que este venha a funcionar produtiva e eficazmente. Aliás, a palavra economia tem uma etimologia bastante interessante. Ela é formada por dois vocábulos gregos: oikos, casa, e nomos, lei.

Se fosse necessário, daríamos a esta palavra a seguinte definição: Conjunto das leis que regulam o funcionamento de uma casa, com o objetivo de suprir-lhe todas as necessidades, e equilibrar suas receitas e despesas. Talvez tivesse Paulo este vocábulo em mente ao recomendar: “que governe (...) bem a sua casa” (1 Tm 3.12).

Em grego: proistámenoi kai ton idíon oikon. Governar a casa implica em contemplar-lhe e suprir-lhes todas as carências e demandas; saldar-lhe os compromissos; fazer com que as rendas da família sejam bem empregadas. Governar bem a casa implica em equilibrar-lhe as receitas e as despesas. Afinal, terá o diácono de, em algumas igrejas, administrar os bens materiais destas. Se não tem ele o governo de sua casa, como haverá de agir a casa de Deus? Se não sabe lidar com o próprio dinheiro, como lidará com o dinheiro dos santos? Que esta pergunta seja respondida com sinceridade por todos os diáconos.

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

  1. O Cargo de Diácono (3.8)

Agora Paulo trata da ordem dos diáconos e delineia as qualificações que devem caracterizá-los. Quando se busca entender o diaconato na igreja primitiva, é comum reportar-se ao início dessa função na congregação em Jerusalém. Lá, conforme registrado em Atos 6.1-6, a igreja escolheu “sete varões” que deveriam “servir às mesas” para que os apóstolos não fossem forçados a “deixar a palavra de Deus”. Esta foi divisão clara de responsabilidades entre os apóstolos, que eram os líderes espirituais da igreja, e os “sete varões” (em nenhum texto bíblico eles são chamados diáconos), que eram os responsáveis em cuidar das necessidades temporais dos crentes. Não há como comprovar que a ordem dos diáconos encontrada nas igrejas paulinas (e.g., Fp 1.1) esteja em sequência linear desta ação da igreja em Jerusalém. Mas pouca dúvida resta de que este precedente estabelecido em Jerusalém exerceu tremenda influência no desenvolvimento do diaconato mais tarde na igreja.

A função mais antiga dos diáconos era cuidar da distribuição dos fundos de caridade da igreja. Como ressalta B. S. Easton: “Ainda que o substantivo grego transliterado por ‘diácono’ signifique ‘servo’ ou ‘assistente’, qualquer tradução é enganosa, porque os diáconos não eram assistentes dos administradores, mas despenseiros das obras de caridade da igreja; eles ‘serviam’ os pobres e os doentes”. O termo “diácono” que vigora na igreja de hoje perdeu grande parte de sua denotação original. Em certas igrejas, o diaconato é a ordem inicial do ministério ordenado, levando normalmente ao sacerdócio ou presbitério, ao passo que em outras, trata-se de um cargo ocupado por crentes leigos. Mas na igreja do século I, os diáconos mantinham lugar de dignidade e influência comparável à dos bispos, e vemos que as qualificações que Paulo detalha para este ofício não são menos exigentes.

  1. Diáconos Disciplinados (3.8)

Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância (8). Identificamos aqui algumas expressões empregadas pelo apóstolo quando estabeleceu o padrão para os bispos: A mesma exigência de serem honestos, “homens de altos princípios” (NEB); o mesmo requisito de terem temperança autodisciplinada; a mesma advertência de não se deixarem ser corrompidos pela ganância. Mas nova nota é soada nas estipulações do apóstolo para os diáconos não se permitirem ser de língua dobre. Kelly traduz a palavra grega por “consistente com o que dizem”, e observa que esta expressão passou a “significar ‘não mexeriqueiro’, sendo referência às oportunidades de conversa fiada que os diáconos tinham em seu trabalho pastoral de casa em casa. Uma tradução literal seria ‘não usuários de frases de duplo sentido’, abrindo a probabilidade de que o verdadeiro sentido é ‘não dizer uma coisa enquanto se pensa em outra’ ou (mais provavelmente) ‘não dizer uma coisa a uma pessoa e uma coisa diferente à seguinte”’.

Todos conhecemos o mal da “fofoca”, que tem a fácil propensão de se tornar boato maldoso. Em sua forma mais extrema, torna-se o ato ignóbil conhecido por difamação. Ninguém que se considera seguidor de Cristo se entregaria conscientemente à conduta que ocasionasse essa consequência. O tipo incoerente de fofoca que leva a tais resultados horríveis parece inofensivo e até agradável. Mas Paulo vê as coisas como elas são, e nos avisa solenemente acerca disso. Não fica bem os crentes, sem falar os crentes líderes, condescenderem com este passatempo “inocente”, mas mortal.

  1. Homens de Integridade Espiritual (3.9)

A seguir, como qualificação para o cargo de diácono, o apóstolo estipula um quesito que não consta em suas exigências aos bispos: Guardando o mistério da fé em uma pura consciência (9). Em prol da imparcialidade, devemos destacar que em Tito 1.9 o apóstolo inclui nas qualificações aos bispos ou pastores uma especificação bem parecida com esta estipulada aos diáconos na passagem sob estudo. O que significa mistério da fé? “Mistério”, segundo Guthrie, “é uma expressão paulina que conota não o que está fora do conhecimento, mas o que, estando outrora escondido, agora é revelado às pessoas de discernimento espiritual.”8 Mais adiante, neste mesmo capítulo, o apóstolo faz um resumo mais interessante acerca do “mistério da piedade” (ver comentários no v. 16). Este é o âmago do ensino cristão, fora do qual não há como haver fé cristã distintiva. Os homens que ocupam o cargo de diácono têm de guardar a fé em uma pura consciência. Isto significa com sinceridade absoluta e sem reservas mentais.

  1. Homens de Valor Comprovado (3.10)

O versículo 10 amplia a tendência paulina de entender que os candidatos ao cargo de diácono devem passar por escrutínio mais rigoroso que os bispos: E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis (10). Hoje em dia, poderíamos tratar como algo muito importante os discrepantes graus de rigor impostos nos candidatos para estes ofícios na igreja primitiva. De fato, as funções de ambas as categorias, seja bispado ou diaconato, estão incorporadas na obra do ministério para a igreja de hoje. Tudo que Paulo diz a esse respeito, quer dirigido a bispos ou a diáconos, está dizendo a todo aquele que se sente conduzido pelo Espírito para a obra do ministério. Hoje reconhecemos a necessidade de provar por testes práticos os homens que são candidatos à ordenação. Insistimos na maturidade espiritual e em qualificações educacionais; mas também insistimos que o homem deva ter exercido, com certa medida promissora de sucesso, alguma fase prática do ofício ministerial. E nenhum candidato deve receber a ordenação da igreja caso não seja, na palavra do apóstolo, irrepreensível.

  1. Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 472-474.

I Tm 3. 8-10. Lemos aqui acerca do caráter dos diáconos: esses eram os responsáveis pelos interesses temporais da igreja, isto é, a manutenção dos ministros e a provisão pelos pobres. Eles serviam às mesas, enquanto os ministros ou bispos se dedicavam somente ao ministério da palavra e da oração (At 6.2,4). Atos 6.1-7 relata a instituição desse ofício e o motivo que o ocasionou. Um requisito necessário para ser diácono era ter bom caráter, porque auxiliavam os ministros, apareciam e agiam publicamente, e carregavam uma grande responsabilidade em seu serviço. Eles deveriam ser honestos (modestos, sóbrios). Sobriedade é dever de todo cristão, mas, especialmente daqueles que têm algum ofício na igreja. Não de língua dobre, ou seja, dizer uma coisa para uma pessoa e uma coisa diferente para outra, de acordo com os interesses do momento: uma língua dobre surge de um coração dobre. Bajuladores e difamadores têm uma língua dobre. Não dados a muito vinho, porque isso gera um descrédito muito grande para qualquer homem, especialmente para um cristão, ainda mais quando ocupa um ministério. Essa pessoa acaba se desqualificando para o serviço e abre a porta para muitas tentações. Não cobiçosos de torpe ganância.

Isso seria especialmente mau para os diáconos, que tinham a responsabilidade de cuidar do dinheiro da igreja, e, se fossem avarentos e cobiçosos de torpe ganância, seriam tentados a apropriar-se fraudulentamente do dinheiro que deveria ser destinado para o serviço público. Guardando o mistério da fé em uma pura consciência (v. 9). Observe: O mistério da fé é mais bem mantido em uma consciência pura. O amor prático da verdade é o conservante mais poderoso contra o erro e a ilusão. Se mantivermos uma consciência pura (cuidado com tudo aquilo que corrompe a consciência e nos afasta de Deus), preservaremos o mistério da fé em nossa alma. Também estes sejam primeiro provados (v 10). Não é saudável que os bens públicos sejam depositados nas mãos de qualquer pessoa, sem primeiro ser provada, e encontrada apta para o serviço que deve realizar.

A integridade de seus julgamentos, o zelo por Cristo e a irrepreensibilidade da sua conversão devem ser provados. Suas esposas, semelhantemente, devem ter um bom caráter (v. 11); elas devem ser respeitáveis, não maldizentes, não mexeriqueiras, não devem contar histórias injuriosas nem semear discórdia. Elas devem ser, sim, sóbrias e fiéis em tudo. Não dadas a nenhum tipo de excesso, mas leais em tudo que lhes é confiado.

Todos que estão envolvidos em algum ministério devem dobrar seu cuidado para caminhar de maneira digna em relação ao evangelho de Cristo. Assim, não caminharão de maneira desordenada, nem mancharão o ministério.

O que o apóstolo já havia dito a respeito dos bispos ou ministros, repete aos diáconos, ou seja: o diácono deve ter somente uma esposa. Ele não pode ter se separado de sua esposa, por desafeição, e se casado com outra. Os diáconos devem governar bem seus filhos e suas próprias casas. As famílias dos diáconos deveriam ser exemplos às outras famílias. E o motivo para essa qualificação (v. 13) é que, embora o ofício de um diácono fosse de uma hierarquia inferior, ele poderia ser um passo para um grau maior e, esses que serviram mesas com propriedade, poderiam mais tarde servir na pregação da palavra e na oração. Talvez o apóstolo também esteja se referindo à boa reputação que esse diácono receberia pela sua fidelidade nesse ministério: eles adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus. Observe: 1. Na Igreja Primitiva havia somente duas ordens de ministros ou oficiais: bispos e diáconos (Fp 1.1). Os períodos subsequentes inventaram o resto. O ofício do bispo, do presbítero, do pastor, ou do ministro se restringia à oração e ao ministério da palavra; e o ofício do diácono se limitava basicamente a servir às mesas. Clemente Romano, em sua epístola aos cristãos (cap. 42; 44), fala muito detalhadamente e claramente a esse respeito, de que os apóstolos, advertidos pelo nosso Senhor Jesus Cristo, sabiam que surgiria na Igreja cristã uma controvérsia acerca do episcopado, por isso nomearam as ordens supracitadas, bispos e diáconos. 2. O trabalho principal dos diáconos, de acordo com as Escrituras, era servir às mesas e não pregar e batizar. E verdade, no entanto, que Filipe pregou e batizou em Samaria (At 8), mas lemos que ele era um evangelista (At 21.8), e ele pode ter pregado e batizado, e realizado qualquer outra parte do ofício ministerial, debaixo dessa condição; ainda assim, o ofício de diácono visava cuidar dos interesses temporais da Igreja, como os salários dos ministros e prover para os pobres. 3. Diversas qualificações eram muito necessárias, mesmo para esses cargos inferiores: Os diáconos sejam honestos (“respeitáveis”, versão RA) etc. 4. Algumas provas eram necessárias quanto às qualificações das pessoas antes de serem admitidas num cargo da igreja, ou, antes de terem sua confiança provada: E também estes sejam primeiro provados.

  1. A integridade e a retidão em um ofício inferior são o caminho para se alcançar uma posição mais elevada na igreja: Os diáconos adquirirão para si uma boa posição. 6. Isso também resultará em grande ousadia na fé, enquanto a falta de integridade e retidão tornará uma pessoa tímida e pronta a tremer diante da própria sombra. Fogem os ímpios, sem que ninguém os persiga; mas qualquer justo está confiado como o filho do leão (Pv 28.1).

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 692.

I Tm 3.8 Qual é a relação entre diáconos e presidentes? Alguns comentaristas atribuem aos diáconos uma posição subordinada. Preliminarmente está claro que na verdade ambos os serviços são pressupostos, mas que a relação entre eles não é regulamentada. Não se fala de uma subordinação hierárquica dos diáconos a um “bispo”, nem se pode falar disso quando se leva em conta as declarações do NT sobre a diaconia. Em Rm 12.6ss Paulo cita, imediatamente depois da profecia, a diaconia (prestação de serviço) e, entre os dons da graça, menciona-a até mesmo antes do dom de ensinar.

Enquanto o mundo grego e judaico tinha do “ministério” a concepção de dominação, Jesus mostrou por meio de sua vida e morte que não veio para que fosse servido, mas para servir. O cristianismo primitivo reconheceu a realidade nova e incomparável que tivera início em Jesus. Ao falar de diaconia, introduziu um termo numa acepção desconhecida tanto entre os judeus como entre os gregos. A diaconia não designa simplesmente a assistência a pobres e doentes, como se acredita poder deduzir de At 6.1. Os sete diáconos não são “servidores da igreja”, mas dirigentes da igreja dos judeus cristãos helenistas em Jerusalém. Os “diáconos” eram evangelistas, realizavam batismos. A atividade informada sobre Estêvão não combina com a ideia que projetamos de um diácono como “servidor da igreja”. Conforme precisamos depreender das tensões, uma parcela excessivamente grande da liderança da igreja estava nas mãos de judeus cristãos palestinos. Visto que cada vez mais judeus de Roma e da Ásia Menor (residentes em Jerusalém) se tornavam cristãos, havia necessidade de ter também judeus cristãos helenistas como co-responsáveis na direção.

A influência de Estêvão era tão grande na opinião pública, e sua defesa do evangelho no poder do Espírito Santo era tão convincente, que os oponentes precisaram eliminá-lo. Será que Estêvão havia negligenciado seu serviço às mesas de cuidado das viúvas, para se tornar um evangelista – ou será que havia sido chamado, como dirigente corresponsável da igreja, a fim de zelar para que o alimento corporal e espiritual fosse distribuído?

Uma coisa é certa: o “diácono” Estêvão se tornou a primeira testemunha de sangue (mártir) mencionada no NT.

As premissas para a incumbência do diácono não são “inferiores” do que para o presidente; pelo contrário, pode-se reconhecer uma ênfase maior nas “aptidões” espirituais.

Digno: o termo ocorre ainda em Fp 4.8, onde a palavra igualmente aparece no âmbito de uma lista de virtudes. Em 1Tm 2.2 a honradez é combinada com a devoção; “honrado”, “digno” designa predominantemente o comportamento dirigido a Deus, enquanto “irrepreensível” (1Tm 3.2) se refere mais ao julgamento do mundo.

Não de língua dobre pode ter tanto o sentido de “não caluniador” (v. 11) como de “insubornável”, “puro”. Não se deve nem pode dizer a todos tudo o que se pensa, mas também não se deve dizer nada que seja diferente do que se pensa.

Não entregues desmedidamente ao vinho: a abstinência total não é exigida nem do diácono nem do presidente. A tentativa radical de rejeitar ou reprimir qualquer prazer não é suficiente para levar à libertação do prazer excessivo viciado. Uma proibição do álcool até mesmo viria ao encontro das tendências ascéticas de auto-redenção dos hereges, com os quais o próprio Timóteo se defrontava.

Não visando o lucro injusto: Tanto o presidente como também o diácono precisam administrar dinheiro e bens. Embora Timóteo seja um bom diácono – serviu com Paulo ao evangelho e não buscou o interesse próprio – também ele precisa da repetida exortação de fugir da ganância. Pode alegar que está servindo a outros, tentando enriquecer às custas deles, seja em bens materiais, seja em aumento de poder.

I Tm 3.9 Que guardam o mistério da fé em uma consciência pura.

O mistério (mysterion) da fé ou da devoção (1Tm 3.16) pode ser equiparado com o mistério de Cristo ou mistério do evangelho. Ao contrário dos cultos de mistérios do mundo helenista, o mistério de Cristo não deve permanecer oculto da maioria e reservado a apenas poucos iniciados – deve ser anunciado a todos. Verdade é que a razão humana não consegue sondar o mistério de Deus, mas o próprio Espírito de Deus precisa revelá-lo ao espírito humano. Consequentemente o mistério de Cristo só pode ser proclamado e captado no poder do Espírito Santo e preservado unicamente em uma consciência pura. A consciência pura não é simplesmente uma “consciência limpa” no sentido superficial burguês. Somente por meio do feito reconciliador do Crucificado a consciência pode ser purificada das obras mortas. Nos cultos e ceias da igreja os homens devem elevar mãos santas para a oração (1Tm 2.8) e os diáconos servir a Deus de consciência pura.

I Tm 3.10 Também eles devem primeiramente ser examinados e somente depois admitidos ao serviço, se forem irrepreensíveis.

Paulo examina (o mesmo verbo do v. 10) a igreja em Corinto para ver se seu amor é genuíno. Ele exorta os cristãos que vêm à ceia do Senhor a que primeiro examinem a si mesmos, e por fim lhes diz: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé”. O exame dos diáconos deve ser interpretado menos como exame ou tempo probatório antes da contratação definitiva, e mais no sentido corrente em Paulo, de uma aprovação geral. É para isso que aponta a locução: “também eles”, ou seja, como os presidentes, devem gozar de um bom testemunho dentro e fora da igreja. Não temos nenhuma in-formação mais exata sobre como o exame pode ter acontecido. Decisivo é que a aprovação em si é considerara indispensável para todos (congregação, presidentes, diáconos). A fé precisa ser provada e purificada. O sentido da tentação não consiste em que o ser humano seja seduzido para o pecado, mas em que na tentação seja provado e aprovado pela perseverança. Todos se defrontam com o próprio Deus, que conhece e examina os corações de todos, e que por isso se dá a entender a quem ele chamou e para que.

Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo. Editora Evangélica Esperança.

  1. A função dos diáconos em Atos 6.

Mostra-nos a historia do Cristianismo não terem sido poucos os diáconos que se destacaram nas lides e amanhos eclesiásticos. Não descure o diácono, portanto, de suas responsabilidades. Se antes os seus deveres circunscreviam-se à congregação, suas obrigações, agora, vão mais além. Manter-se-á ele atento, desde já as necessidades de seu pastor, às exigências do ministério e aos reclamos do credo e dos estatutos de sua igreja e denominação.

  1. RESPONSABILIDADES DO DIÁCONO EM RELAÇÃO AO SEU PASTOR

É o diácono o auxiliar mais direto de que dispõe o pastor. Ou pelo menos deveria sê-lo. Na Igreja Primitiva, foram os diáconos constituídos justamente para que os apóstolos se mantivessem efeitos aos ofícios de seu ministério: a oração e a palavra. Disso ciente, estará o diácono sempre vigilante quanto aos reclamos de seu pastor. Jamais permitirá venha este a negligenciar o espiritual a fim de envolver-se com o material. Pois quem deve lidar com o material é o diácono; pelo espiritual consumir-se-á o pastor. Como seria lamentável se viesse o pastor a deixar de lado o sermão de domingo por causa da bancada do templo que não foi alinhada, ou porque os elementos de Santa Ceia não foram ainda preparados! Que os diáconos se encarreguem dessas providências. E, que no momento da adoração, esteja o santuário devidamente arrumado. Infelizmente, estão os diáconos tão absolvidos em pregar, acham-se tão entretidos em disputar os primeiros lugares, que acabam por se esquecer de seu pastor. Não estou insinuando deva o diácono privar-se do púlpito. Se houver oportunidade, aproveite-a. Eu também fui diácono, e jamais deixei de ocupar a sagrada tribuna. Pregava e ministrava estudos bíblicos. Escola Dominical. Todavia, não me lembro de haver descurado uma vez sequer de minhas responsabilidades. Felipe e Estevão eram doutores a serviço dos santos. Diácono seja cuidadoso com o seu pastor. Propicie-lhe as necessárias condições a fim de que possa ele dedicar-se às lides: orar pelo rebanho e alimentar os santos com a Palavra de Deus. Por que abandoná-lo às preocupações materiais do redil? Você foi separado para auxiliá-lo a conduzir o rebanho de Deus através dos campos sempre verdejantes. Pode haver trabalho mais glorioso?

  1. RESPONSABILIDADE DO DIÁCONO EM RELAÇÃO AO MINISTÉRIO

Você já pertence ao ministério eclesiástico. Esteja, pois, em perfeita sintonia com os integrantes deste. Veja-os como companheiros de luta. Jamais intente uma carreira solo. Os obreiros de Deus somos vistos sempre em equipe. São os setenta que saem de dois em dois; os doze que se afainam e repousam ao lado do Senhor; os cento e vinte que, em perseverante oração, aguardam, no cenáculo, o pentecostes. E o que dizer de Paulo?

Embora o maior missionário, jamais deixou de ter os seus assistentes. Lendo-lhe as cartas, deparamo-nos de contínuo com os integrantes de sua operosa equipe. Os que se isolam, diz Salomão, estão a rebuscar os próprios interesses. Participe das reuniões de ministério. Inteire-se dos assuntos tratados. Com humildade e sempre reconhecendo o seu lugar, opine, sugira, ofereça subsídios. Seja amigo de todos; de cada um em particular, um cooperador sempre querido. Não se ausente. Cultive aquele companheirismo tão próprio dos cristãos primitivos. Esteja atento às orientações de seu pastor. Agindo assim, você se surpreenderá com êxitos de seu ministério. Isolado, ninguém poderá crescer; em equipe, todo avanço é possível.

Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

DIACONOS ORIGINAIS

Por que Me diáconos? Por que foi escolhido tal número de diáconos? As seguintes sugestões tem sido apresentadas como explicação desse fato: 1. Por ser esse o número dos dons do Espirito Santo (ver Isa, 11:2 e Apo. 1:4).

  1. Porque sete talvez fosse a representação equitativa dos diversos grupos de que se compunha a comunidade cristã, isto é. três representantes do grupo hebraico, três representantes do grupo helenista e um representante dos prosélitos. Contudo, essa explicação não justifica o número «sete». porque a representação poderia ser feita de outro modo, em que se chegasse a um total bem diferente.
  2. Alguns têm suposto que tal número foi regulado pela circunstância de que a cidade de Jerusalém, naquela época, estava dividida em sete distritos. Porém, acerca disso não há qualquer evidência comprobatória.
  3. Talvez esse número tenha sido escolhido por ser considerado um número sagrado segundo o pensamento dos hebreus, jamais esteve sujeito a alterações, em face mesmo das condições exigidas para tal oficio, que era as de terem visto ao Senhor Jesus ressurreto e de terem lido pessoalmente nomeados por ele. Uma prova disso que as qualificações para qualquer oficial eclesiástico subordinado eram praticamente idênticas, como também muitas de suas funções eram parecidas, pois quase tudo quanto uns podiam fazer, os outros também podiam.

«Posto que Paulo considerava a igreja Cristo como o verdadeiro 'Israel de Deus', é perfeitamente' natural que ele tenha planejado a organização embrionia das igrejas cristãs segundo as normas da concreção judaica, caso em que os anciãos da igreja podem ser comparados, em termos latos, com os 'lideres' das sinagogas judaicas. A palavra ancião é comumente utilizada para descrever a terceira seção dos conciliadores, os quais, juntamente com os sumos sacerdotes e com os escribas, compunham o sinédrio, e, de conformidade com o parecer de algumas autoridades sobre o assunto, eram os membros ni04egais desse concl1io. Finalmente, a mesma palavra parece ter sido usada, na Ásia Menor, como titulo dos chefes de diversas corporações, ao passo que, no Egito, era usada para indicar tanto oficiais religiosos como civis.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag.135.

  1. A função dos diáconos hoje.

A ÉTICA DIACONAL

Olinto era um velho diácono de minha primeira igreja. Homem alto, forte, barrigudo. De minha quase segunda infância, cuidava eu tratar-se de um gigante. O velho Olinto não falava; trovejava.

Sua voz parecia percorrer não somente o templo, como os campos todos de São Bernardo, aquela outrora pacata e graciosa cidade paulista. Não preciso dizer que os meus amigos e eu não gostávamos dele. Pois estava constantemente a surpreender-nos em peralvilhices. Ele chegava ao absurdo de não permitir que ficássemos correndo pelo templo, nem que fossemos à rua . Onde já viu tal coisa? Quantos ralhos não levei do velho Olinto! E a carranca daquele italiano? E o seu sotaque carregado? Aquelas palavras que não entendíamos.

Aquelas frases – meio toscanas, meio portuguesas – soavam como se fossem broncas, ecoavam corretivas e disciplinadoras. Francamente, as crianças não gostávamos do velho Olinto. Mas ali, na lateral esquerda daquele templo querido e sempre benfazejo, onde presenciei, ainda em minha peraltice, tantas manifestações da glória de Deus, achava-se um diácono ético e santo. Um homem que gozava da inteira confiança de seu pastor. Um dia o Senhor Jesus achou por bem recolher o velho Olinto. Ele foi-se embora! Mas a sua imagem, guardo-a no coração. Hoje, fosse escrever-lhe o epitáfio, escolheria esta inscrição: “Aqui jaz um diácono que soube ser ético”. O velho Olinto sabia que, além das qualificações que a Palavra de Deus demanda de cada candidato ao diaconato, todos precisam observar um código de ética. Sem ética, nenhum ministério cristão é possível.

  1. O QUE É A ÉTICA DIACONAL

Antes de entrarmos a ver o que é a ética diaconal, é necessário que busquemos uma definição de ética.

  1. O que é ética

Numa primeira instancia, podemos dizer que a ética é o: “Estudo sistemático dos deveres e obrigações do individuo, da sociedade e do governo. Seu objetivo: estabelecer o que é certo e o que é errado. Ela tem como fonte a consciência, o direito natural, a tradição e as legislações escritas; mas, acima de tudo, o que Deus estabeleceu em Sua Palavra – a Ética das éticas. A essência da ética acha-se registrada nos Dez Mandamentos – a única legislação capaz de substituir a todas as legislações humanas”. Dicionário Teológico, Edições CPAD.

  1. O que é a ética diaconal

Ética diaconal, por conseguinte, é a norma de conduta que o diácono deve observar no desempenho de seu ministério. Através desse código de procedimento, terá ele condições de discernir entre o que é certo e o que é errado. Para que jamais venha a ferir as normas de conduta de seu ministério, é imprescindível tenha ele sempre consigo as fontes da ética diaconal.

  1. FONTES DA ÉTICA DIACONAL

Do que já vimos até ao presente instante, não nos é difícil inferir quais as fontes da ética diaconal. São estas a Bíblia, os regulamentos da igreja local e a consciência do próprio diácono.

  1. A Bíblia

Os evangélicos temos a Bíblia como a infalível e inspirada Palavra de Deus. É a nossa inapelável regra de norma e conduta. Quais quer estatutos ou regulamento eclesiásticos têm de emanar da Bíblia, e não pode, sob hipótese alguma, contrariar a esta.

O diácono, portanto, orientar-se-á espiritual e eticamente através da Bíblia. Quanto ao seu cargo especifico, terá em conta as seguintes passagens: Atos 6.1-6; 1 Timóteo 3.8-13. Leia sempre esses textos; tenha-os em mente; inscreva-os na tábua do seu coração. Agindo assim, jamais tropeçará.

  1. Regulamento da igreja local

Além das Sagradas Escrituras, estará o diácono atento aos regulamentos, estatutos e convenções da igreja local. É claro que, conforme já dissemos, têm de estar estes em perfeita consonância com a Palavra de Deus. Esteja atento, pois, às particulares culturais e estatutárias de sua igreja. Aja de conformidade com estas; não as despreze nem as fira. Se não contrariam a Palavra de Deus, por que não observá-las? Lembre-se: é melhor obedecer do que sacrificar. Tenha a necessária sabedoria para não ferir as convenções locais. Quem no-lo recomenda é a lei do amor.

  1. A consciência do próprio diácono

É a consciência aquela voz secreta que temos na alma que, de conformidade com os nossos atos, aprova-nos ou reprova-nos.

O apóstolo Paulo dá como válido o testemunho da consciência: “Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei (porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmo são lei, pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os)” (Rm 2.13-15). Por conseguinte, mantenha sempre a consciência em absoluta consonância com a Palavra De Deus. Não a deixe cauterizar-se. Permita que o Espírito Santo domine-a por completo. E, todas às vezes que, quer em sua vida particular, quer no exercício do ministério, sentir que ela o acusa, dobre os joelhos, e ore como o rei Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno”(Sl 139.23,24). O Senhor, então, mostrar-lhe-á como agir e corrigir-se se for necessário. Lembre-se: a sua consciência, posto que necessária, não é autoridade última de sua vida. Ela somente será valida se estiver em conformidade com os reclamos e demandas da Palavra de Deus.

Já que sabemos quais as fontes da ética diaconal, vejamos a seguir quais os principais direcionamentos éticos que deve o diácono observar no exercício de seu ministério.

III. SÍNTESE DA CONDUTA ÉTICA DO DIÁCONO

Por conduta ética do diácono, entendemos o seu irrepreensível proceder de conformidade com a Palavra de Deus, conforme os regulamentos, estatutos e visão cultural da igreja em que ele estiver lotado, e segundo o testemunho de sua consciência que, em hipótese alguma, pode contrariar as Sagradas Escrituras. Em linhas gerais, estes são os procedimentos éticos que deve o diácono observar no exercício de seu ministério.

  1. Quanto ao seu oficio

Conscientize-se de que foi separado para servir a mesa de Cristo, a mesa da igreja de Cristo e a mesa do anjo da igreja de Cristo. Portanto, exerça o seu ministério de acordo com a ordenança que lhe confiou o Senhor Jesus. O seu principal mister é servir e não pregar. Ainda que você pregue melhor que seu pastor, não se prevaleça disso. Dê-lhe todo o suporte a fim de que ele se dedique à oração e a exposição da Palavra.

Caso tenha você outra chamada especifica, não se exaspere; no devido tempo ela acontecerá. Até lá, cumpra rigorosamente o seu diaconato. Se houver oportunidade para pregar, pregue. Mas não se esqueça, por enquanto, sua obrigação é servir à mesa. Não se ausente para pregar; esteja presente para servir.

  1. Quanto à sua lealdade

Lembre-se: é você, como diácono, o melhor amigo de seu pastor. Portanto, não se junte aos revoltosos nem faça oposição ao anjo da igreja. Antes, ore por ele, sirva-o amorosa e sacrificialmente.

Se o seu pastor equivocar-se em alguma coisa, converse com ele, mostrando-lhe, humildemente, porque acha você estar ele errado. Não se esqueça de que ele pode estar certo. Por isso, saiba com falar-lhe. E que ninguém mais saiba do teor dessa conversa.

  1. Quanto às críticas

Não critique o seu pastor nem os membros de seu ministério. Quando alguém o fizer, desestimule-o. Mostre aos críticos acérrimos e pertinazes que, ao invés das críticas, ocupem-se em orar pelo anjo da igreja e pela expansão do Reino de Deus.

  1. Quanto à ministração particular da Ceia

Se designado a levar a Ceia para alguém do sexo feminino, no domicilio deste, faça-se acompanhar de sua esposa ou de outra pessoa. Jamais entre na casa de um membro da igreja a menos que lá esteja o pai de família. Seja prudente e vigilante. Fuja sempre da aparência do mal. Não brinque com o pecado.

  1. Quanto ao dinheiro

O ideal é que todos os dízimos e ofertas sejam entregues na casa do tesouro. Se alguém quiser entregar-lhe o dízimo, ou a oferta, peça-lhe gentilmente que o faça na tesouraria da igreja. Se for imprescindível que receba a oferta e o dízimo, leve-os imediatamente a igreja. Não os esqueça consigo nem tome-os emprestados. O dinheiro não é seu; pertence a Jesus.

  1. Quanto à discrição

A discrição é uma das qualidades essenciais para o exercício do diaconato. É a qualidade de quem é prudente, sensato e que sabe guardar segredo. O homem discreto é alguém em quem se pode confiar. No exercício do diaconato, você certamente presenciará muitos casos graves e comprometedores. Se você não for prudente, poderá arruinar preciosas vidas e reputações que vêm sendo construídas há décadas. Portanto, saiba controlar a própria língua.

Em casos graves, procure diretamente o seu pastor. Não vá sair por aí segredando, pois o segredo quando compartilhando com pessoas erradas deixa de ser segredo para tornar-se notícia. Leia o Livro de Provérbios diariamente, e certifique-se de quão valiosa é a discrição.

  1. Quanto às arbitrariedades

Exerça o seu ministério no poder do Espírito Santo. Deixe de lado as ameaças e arbitrariedades. Você não precisa lembrar a ninguém de que é diácono, mas todos precisam saber que você é, de fato, um homem de Deus.

  1. Quanto à pontualidade

Chegue no horário do culto; não se apresse a sair. O seu pastor está sempre a precisa de sua ajuda.

  1. Quanto à obediência

Não discuta as ordens do seu pastor. Se não estiver de acordo com elas, indague sobre as razões destas. Se não puder cumpri-las, justifique-se. Mas não saia resmungando nem murmurando.

Lembre-se: é melhor obedecer do que sacrificar. 

  1. Quanto ao amor

Se você exercer o seu ministério com amor, estará cumprindo a Lei, os Profetas e todo o Novo Testamento. E será, em todas as coisas, bíblica e eticamente correto. Portanto, não se esqueça da Palavra de Deus. Tem-na bem junto de si!

Conclusão

À semelhança do velho Olinto, pode você exercer um diaconato irrepreensível. Aja, portanto, de acordo com a Palavra de Deus. Observe as normas de sua igreja, e jamais desdenhe da visão cultural desta. Prime pela ética. Não deixe que nada venha a macular o seu ministério. Não basta ser eficiente; é necessário que ajamos de conformidade com a Palavra de Deus.

fonte estudaalicao.blogspot.com

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