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livro de Genesis big bang x criacionismo parte n.2
livro de Genesis big bang x criacionismo parte n.2

                O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo

                                  — Parte 4 5

 

Conforme o texto anterior, apesar de Stephen Hawking e o físico Jim Hartle terem criado um artifício para driblar o problema do início do Universo sem, contudo, abrir mão do modelo cosmológico da hipótese inflacionária, conhecido como Big Bang, outros físicos e cosmólogos — menos midiáticos e conhecidos do grande público —, partem de outra perspectiva para a existência de tudo. E não o fazem desprovidos de argumentos e hipóteses, muito exequíveis por sinal, para propor a tese de o Universo ser eterno e infinito, isto é, conforme popularmente se entende, sem início, limite ou possibilidade de fim.* Evidentemente que colocado dessa forma, têm-se a impressão de que se está falando de algo simples e que apela para uma fuga da evidência. Nada mais longe da verdade. A proposta apresentada pelo cosmólogo brasileiro Mário Novello, do Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica (ICRA) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), versa sobre a ideia de um “cenário” físico em que se tem um “Universo eterno dinâmico”. Em sua obra Do Big Bang ao Universo Eterno, na dedicatória ao físico José Martins Salim, com quem Novello diz ter tido a alegria de descobrir o modelo do Universo Eterno, o autor descreve — sucintamente — tal modelo da seguinte forma: “Somente no final da década de 1970 descobriu-se a primeira solução analítica das equações da teoria da relatividade geral de Einstein, representando uma cosmologia sem singularidade. Essa solução descreve um Universo eterno espacialmente homogêneo, colapsando a partir do vazio. Seu volume total diminui com o passar do tempo cósmico, até atingir um valor mínimo, e, a partir daí, entra na atual fase de expansão” (p.5). 

Pela hegemonia desfrutada popularmente, inclusive entre a comunidade científica, mal comparando, questionar o modelo da hipótese inflacionária na física equivale a questionar a evolução na biologia. Contudo, o problema fundamental que se impõe nessa discussão suscitada por Novello é o seguinte: “o Universo teve um começo em um tempo finito, ou ele é eterno?” (p.12). Para o público geral, a questão é atrativa e fundamental, muito embora para mentes pouco treinadas e não afeitas à discussão acadêmica pode também parecer pura perda de tempo embrenhar-se nessa discussão. Não obstante, como afirma Novello, “um detalhe [...] tem faltado às análises envolvidas na questão do big bang — e que vai além do simples exame deste modelo e de seu possível poder explicativo”. Trata-se da questão de que, “ao ser indagado se ‘o Universo é singular?’, ou se ‘existiu um momento único de criação deste nosso Universo?’, grande número de cosmólogos respondeu que ‘sim’ — embora com maior frequência nas duas últimas décadas do século passado” (p.17), ou seja, nem sempre foi assim. A despeito da evidente importância da questão, para Novello, tal pergunta foi “malformulada”. Ele defende que a indagação, nesses termos, não era adequada pelo fato de que, “para respondê-la, é necessário empreender uma extrapolação impossível de ser controlada pela observação direta”. Em outras palavras, é uma questão que escapa às possibilidades de resposta da ciência. Novello diz que a “boa questão — esta sim possuindo consequências científicas relevantes — é um pouco menos preciosa, menos exuberante, em aparência, menos abrangente, embora bem mais fundamental. A pergunta que deve ser feita é esta: pode a ciência produzir uma explicação racional para a evolução do Universo se o big bang for identificado com o começo de tudo que existe?” (p.18). 

Para pensar acerca da resposta a esta questão, é preciso que, de início se visualize as diferenças entre as duas propostas, isto é, no modelo do Big Bang (originado com uma singularidade) e do Universo Eterno (sem singularidade).** No cenário do primeiro, “o momento singular, caracterizado por uma condensação máxima pela qual o Universo passou há uns poucos bilhões de anos, é identificado ao ‘começo do Universo’ e não permite análise ulterior. Em oposição, no cenário não singular, o Universo não tem um ‘começo’ separado de nós por um tempo finito em nosso passado; aquele momento de condensação máxima nada mais é que um momento de passagem de uma fase anterior para a atual fase de expansão”. Apesar de o primeiro modelo parecer óbvio e o mais simplificado, do ponto de vista científico, com o “modelo cosmológico do Universo eterno, nesses cenários não singulares, dá-se um passo a mais, ao procurar uma explicação racional para a expansão do volume total do Universo”. Em outras palavras, diz o mesmo autor, “trata-se de retirar o limite que os cientistas se impuseram arbitrariamente, no século XX, rumo à análise do que teria ocorrido antes do momento de máxima condensação, produzindo aquele estado único, especial, a partir do qual o volume total do espaço aumentaria com o passar do tempo cósmico, exibindo uma expansão” (p.12). Não se decide qual desses modelos está certo por questão de preferência, mas de acordo com o modo como a física se organiza, ou seja, “a partir do princípio de Cauchy, que descreve o modo pelo qual se dá o concerto entre teoria e observação” (p.18). Como funciona a aplicação de tal princípio? Mário Novello explica que 

“Ao se realizar uma experiência, obtém-se certo número de informações sobre dado processo físico. Com a repetição desta ou de outras observações, amplia-se o conhecimento de diferentes propriedades associadas ao fenômeno em questão. Esse processo é então descrito por uma teoria que permite conhecer a evolução temporal do fenômeno e sobre ele inferir previsões. Novas observações permitem então verificar a validade ou não das previsões. O procedimento é bastante geral — e até uma história do Universo pode ser estabelecida segundo tal modo convencional de organização”. Em termos diretos, com esse princípio simples, “o cientista produz uma explicação dos fenômenos segundo o esquema ‘observação-teoria-observação’” (p.18). O que salta aos olhos nessa discussão é como obter material para se utilizar em cosmologia. Novello explica que, a fim de se “seguir o procedimento convencional na cosmologia, é indispensável obter observacionalmente informações sobre as características do Universo em dado momento. Só assim se poderiam elaborar e testar teorias globais a respeito de sua evolução. Se, por alguma razão, em determinado momento, não for possível medir quantidades físicas de natureza global associadas ao Universo como um todo, esse modo de proceder não pode ser adotado”. O mesmo autor esclarece que existem “várias condições para que o procedimento possa ser efetivado. A mais simples e fundamental delas requer que todas as grandezas envolvidas sejam descritas por quantidades finitas. Isso se deve ao caráter finito de toda observação, pois qualquer medida demanda um número de real e finito para caracterizá-la. Assim, ao identificar o começo de tudo a uma explosão inicial — como faz a proposta do cenário do big bang — em que quantidades a princípio observáveis atingiriam, segundo o modelo, o valor infinito (como a densidade de energia total do Universo), esta condição básica não estaria preenchida” (p.19). 

O mesmo autor completa, dizendo que a “consequência inevitável” desse problema “de construir uma ciência da natureza envolvendo a totalidade do que existe”, é que “não seria possível construir uma base teórica a partir da qual se estabeleceria uma história completa do Universo”. Isso pelo simples fato de que a “cosmologia não descreveria esta totalidade”. Dessa maneira, finaliza Novello, “no modelo big bang stricto sensu, a cosmologia não poderia se constituir como ciência” (p.19). É justamente por isso que, na segunda parte dessa discussão, ao finalizar o texto citando a definição de ciência do físico Marcelo Gleiser (e exposto acima no princípio de Cauchy explicado por Novello), o matemático John Lennox, disse que se essa definição, ou visão do conhecimento científico, fosse mesmo “sustentada, ela não aceitaria a maior parte da cosmologia contemporânea como ciência”, pois é complicado ver, por exemplo, “como o modelo padrão*** para a origem do Universo pode descrever alguma coisa além de acontecimentos únicos — [em termos diretos] a origem do Universo não é (facilmente) replicável” (Por que a ciência não consegue enterrar Deus, p.44). A questão que agora se impõe é a seguinte: Por que, apesar de tais objeções, o modelo cosmológico do Big Bang prevaleceu e ainda prevalece? Novello diz que há duas razões principais, sendo uma teórica e outra de “natureza observacional”. A última foi amplamente discutida nos três textos anteriores, pois refere-se à experiência dos radioastrônomos americanos, Arno Penzias e Robert Wilson. A outra razão, mais formal, se deu com a “utilização simples da lei de conservação de energia [que] permitiu concluir, a partir da observação, que a temperatura de equilíbrio desse gás de fótons foi maior no passado” (p.21). Assim, a associação daquilo que foi captado, e que seriam “ecos da criação”, com a ideia de um Big Bang, só aconteceu por causa de “uma evolução formal, consubstanciada em alguns teoremas que, a partir de considerações gerais envolvendo a evolução de processos descritos pela interação gravitacional, levaram à interpretação de que uma singularidade inicial — imediatamente associada ao big bang — seria uma característica típica do Universo” (p.22). 

A despeito de essas “duas descobertas” terem sido cruciais no sentido de criar as “condições para o estabelecimento e ascensão do modelo explosivo de Universo”, como revela Novello, na verdade, não foram elas que induziram “os físicos a pensar que teria havido um instante de ‘criação do Universo’”. Ele afirma que a “verdadeira responsável por isso foi a ideologia que estava além das observações, e que os levou a concluir abruptamente que, se o Universo tivesse sido mais quente no passado, não deveria haver limite superior à sua temperatura. Consequentemente, ela teria atingido o valor infinito em um tempo separado de nós por um valor finito — uns poucos bilhões de anos. Teria havido uma grande explosão inicial dando origem a tudo que existe!” (p.22). O que está se dizendo é que havia um clima cultural e teórico propício para que tal modelo, à época, se sustentasse. Tal se dá por duas questões principais. A primeira delas vem do que Thomas Kuhn chama de paradigmas, isto é, “as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (A estrutura das revoluções científicas, p.13). Segue-se ainda o fato de que, diz Kuhn, “para ser aceita como um paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras, mas não precisa (e de fato isso nunca acontece) explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada” (p.38). A segunda questão está intimamente ligada a esse último argumento de Kuhn, e é explicada por Novello em um excelente artigo, publicado na Scientific American, intitulado “Sob o Espectro de Ptolomeu”, onde o autor critica a “Ideia de que a cosmologia não traz novidades sobre as leis fundamentais da Natureza” e diz que tal argumento “retoma princípios que geraram o geocentrismo”. Ele inicia sua discussão dizendo que o “matemático francês Henri Poincaré argumentava que o papel dos astrônomos na certeza de que a Terra gira sobre o seu eixo e em torno do Sol não era indispensável”. Novello afirma que Poincaré “se convencera disso através do exame dos argumentos, cada vez mais complexos e mirabolantes, que haviam sido criados para explicar os movimentos nos céus”. Ele diz que, após “testar inúmeras hipóteses e ampliá-las cada vez mais com propriedades inusitadas e complexas, algum cientista — diz Poincaré — haveria de ter chegado à certeza de que a Terra não é o centro do Universo por uma única razão: ela é a hipótese mais simples!” (ano 13, n° 147, agosto de 2014, p.20). Novello afirma que esse “exercício de construção teórica contado pelo filósofo alemão Hans Blumenberg (1920-1996) nada mais é do que um exemplo particular de uma atitude bastante disseminada entre os cientistas do que se convencionou chamar ‘a navalha de Occam’. A escolha do modo mais simples, do caminho menos tortuoso, daquilo que parece ser a forma natural de construir uma explicação para os fenômenos: é esse processo que se costuma atribuir ao procedimento de Occam” (Ibid.).

Além da obviedade do modelo, havia ainda uma aceitação irrestrita da sociedade pelo fato de que milenarmente, tal pensamento coadunava com as descrições gerais acerca da totalidade, isto é, a “aceitação da existência de um momento singular — o instante de criação (identificado com a explosão) —, por exemplo, está intimamente relacionada ao imaginário de várias sociedades arcaicas” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.24). Do ponto de vista da aceitação popular da ideia, não havia apenas essa vantagem, Novello diz que tal “modo de descrever a criação, os momentos iniciais do Universo, tem seu análogo em diversas religiões que identificam em suas cosmogonias o tempo mítico/mágico no qual os deuses se debruçaram para além de suas atividades usuais a fim de empreender a criação do mundo” (p.24). O cosmólogo afirma que, na “comunidade judaico-cristã, em particular, a ideia de um começo único e singular pareceu a muitos — incluindo o papa Pio XII — uma descrição científica da criação do Universo bastante aceitável e até desejável, posto que de fácil adaptação aos ensinamentos de livros religiosos fundamentais, como a Bíblia” (pp.24-25). A respeito desse ponto, Novello informa que, “Curiosamente, as civilizações antigas elaboraram também mitos cosmogônicos que podemos associar a universos eternos, nos quais a criação ocorreu ‘em uma época tão remota que não podemos sequer contar quanto tempo se teria passado desde então’” (p.25). O fato é que “Modelos alternativos sustentando a ideia de que o momento de condensação máxima não é uma barreira intransponível e pode ser analisado como resultado da existência de uma fase anterior só passaram a ser considerados competitivos com o modelo big bang, por parte do establishment, na virada do século XXI”. A ideia dos defensores desses cenários é, basicamente, a seguinte: “a extensão de duração do Universo não é mensurável, arrastando o que poderíamos chamar de ‘momento de criação’ para o infinito passado”. Evidentemente que, como parece, o momento que marca o start inicial não se resolve facilmente e nem pode ser negado, pois, como reconhece o próprio Novello, “Tanto o modelo big bang quanto os diferentes modelos de Universo eterno produzem dificuldades de compreensão que vão além da simples questão técnica” (p.25). Mesmo ciente disso, é interessante conhecer a proposta do modelo sem singularidade, chamado de Universo Eterno. Antes, porém, é prudente lembrar que, assim como há vários modelos de Big Bang, também existem muitos modelos de Universo Eterno.. 

 

O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo — Parte 5

 

O fato de ter havido modelos de Universo Eterno que não foram bem elaborados, segundo Novello, certamente favoreceu o modelo de singularidade. Uma dessas primeiras propostas que defendia a ideia de que o Universo não teve um começo foi o cenário steady state. Por ter proposto um Universo estacionário, informa Novello, quando a partir da segunda metade da década de 60 foi ficando cada vez mais evidente “para a comunidade científica que o Universo era um processo, que suas características variavam com o tempo e que havia diferenças sensíveis entre o presente e o passado, o cenário steady state começou a ser severamente criticado, e hoje está praticamente abandonado” (p.72). Apesar de o conhecimento de que o Universo está em expansão datar de 1930, foi justamente a confirmação da radiação cósmica de fundo que consagrou tal hipótese aventada trinta anos antes. Não obstante, como revela Novello, em “1998, observações efetuadas em certos tipos de estrelas (supernovas) levaram à proposta — imediatamente aceita pela maioria dos cientistas envolvidos — de que o Universo estaria sendo acelerado”. Tal hipótese, ou conclusão, “mesmo que provisória criou uma dificuldade enorme, incapaz de ser conciliada com o modelo-padrão da cosmologia” (p.73). Em termos diretos, criou-se um conflito com o estabelecido e, até então, inquestionável modelo do Big Bang. Apesar de tal aceleração não ter sido completamente confirmada, tal hipótese “produziu uma verdadeira revolução nas ideias que sustentavam o modelo big bang, pois significava — em linhas gerais — que sua descrição do conteúdo material do Universo estava errada ou, na melhor das hipóteses, incompleta” (p.74). O que motivou essa conclusão? Justamente as hipóteses do modelo-padrão, entre elas a de que “a relatividade geral é a boa teoria da gravitação e que a fonte de curvatura do espaço-tempo é um fluido perfeito”. Para Novello, ocorre nesse momento “uma catástrofe teórica, pois, no interior desse quadro formal, a aceleração do Universo só é possível se a pressão for negativa”. Não apenas isso, “ela teria de ser muito negativa”. Sendo “rigoroso”, diz o cosmólogo, “isso significa que a pressão deveria ser, em valor absoluto, pelo menos três vezes maior que a densidade de energia correspondente”. Restavam então duas possibilidades: “uma configuração material que se pode atribuir a alguma propriedade nova ainda desconhecida; ou aceitar que o nosso conhecimento da interação gravitacional está errado” (p.74). Essas duas opções instaurou uma crise no modelo-padrão. 

Novello relata que, “Entre substituir a equação de Einstein ou admitir que o fluido cósmico tenha uma característica muito especial, desconhecida até então, os cientistas escolheram a segunda opção” (p.74). Ele explica que, com isso, admitiu-se “que a aceleração do Universo deveria estar associada a uma fonte de curvatura do espaço-tempo constituída por algum tipo de matéria ou energia que admite a interpretação em termos de um fluido perfeito, descrito por uma densidade de energia E e pressão P negativa, onde a equação de estado P = s E é tal que seu triplo 3s é menor do que – 1 (3s ˂ – 1). Essa substância recebeu o nome de energia escura. Ela não seria identificável a forma alguma de matéria-energia conhecida nem facilmente observável — a não ser indiretamente, pelo comportamento de aceleração de expansão do Universo” (pp.74-75). Uma vez que, como explica Novello, “a relação que envolve a energia e a pressão é precisamente a propriedade necessária para a violação das condições de energia que haviam sido postuladas como naturais e que tinham sido utilizadas para demonstrar os teoremas de singularidade”, o resultado não poderia ser outro em relação ao modelo-padrão, ou seja, “a nova constituição material possui propriedades semelhantes àquelas necessárias para evitar um colapso gravitacional de uma fase em contração para produzir um bouncing”. A consequência inevitável dessa conclusão é que ao mesmo tempo em que os teoremas da singularidade se mostraram inadequados, diz Novello, as “condições para ir além do big bang e produzir um Universo eterno passaram a ser aceitas, pois não seria mais possível usar as restrições dos teoremas de singularidade — posto que as condições de sua aplicação ao nosso Universo não seriam preenchidas”. O cosmólogo esclarece que, a fim de se “gerar um exemplo concreto do cenário acelerado, postulou-se a existência de uma estrutura material identificada com um campo escalar possuindo propriedades muito particulares” (p.75). Tal foi possível graças à física quântica, pois ela transformou de tal maneira “a ideia de corpos materiais que foi possível associar a cada partícula um campo”. Novello diz que “Perdeu-se assim a característica localizada de um corpo clássico, ganhando-se uma extensão no espaço-tempo”. Além disso, como observa o mesmo autor, tais “campos possuem diferentes propriedades” (p.76). 

Não obstante, e indo direto ao ponto, “o campo escalar que se procura na cosmologia é de outra natureza”, isto é, “Ele não possui massa, o que torna sua detecção em laboratório terrestre muito difícil”. Contudo, a possibilidade de sua “existência vem sendo intensamente examinada em termos globais, nas últimas duas décadas, em particular na questão da aceleração do Universo” (p.76). O autor aventa, porém, a hipótese de que “outras formas de matéria poderiam estar presentes no mecanismo de aceleração”, por isso, afirma que justamente no momento em que estava escrevendo, não se poderia ainda “afirmar [que], dentre as diferentes formas de energia examinadas, qual deve ser identificada com a chamada energia escura e reconhecida como a verdadeira responsável pela aceleração do Universo” (pp.76-77). Finalmente, Novello apresenta, dentre as várias propostas de modelo sem singularidade, as quatro delas mais estudadas em que, segundo diz, “as causas da ausência de um ponto singular na história da evolução do Universo têm diferentes origens”:

  

 

               1. Mudança nas equações da dinâmica do campo gravitacional.

               2. Universo magnético.

               3. Quantização do campo gravitacional.

               4. Novas formas de matéria. 

 

Das quatro, ele apenas aborda algumas questões da proposta do chamado Universo magnético, tendo como finalidade demonstrar como “elas geram cenários sem singularidade constituindo um Universo eterno” (p.78). Sem poder negar o fato de o Universo estar se expandindo, ou evoluindo, Novello afirma que dentre os novos cenários propostos, “o que possui maior consistência e embasamento teórico consiste no chamado Universo eterno dinâmico, no qual teria ocorrido uma fase de colapso gravitacional anterior à atual expansão”. Segundo o mesmo autor, tal é possível concluir pelo fato de que a “análise da evolução de estruturas materiais em grande escala — como por exemplo, as galáxias — permite distinguir propriedades do Universo associadas a uma fase colapsante anterior à atual fase de expansão” (p.90). Não obstante tal defesa, Novello afirma aquilo que, por vezes, já disse: “não devemos perder de vista que a ciência produz verdades provisórias”, sendo assim, como se sabe, em “alguns momentos de sua história, uma dada explicação se mostra tão eficiente que os cientistas caem na tentação de considerá-la a verdadeira descrição da realidade, quando se trata somente de uma representação. Com a cosmologia não é diferente. Como se ocupa da totalidade maior, e que a ela é atribuída a função de construir um pano de fundo, o espaço-tempo, ao qual todo o resto da física deve se adaptar, a cosmologia adquire a especificidade que a singulariza, tornando-a fundamento de toda a descrição do real” (p.91). Assim, provisoriamente pode-se afirmar “que o modelo explosivo foi transcendido” e o “cenário de um Universo eterno dinâmico veio a tomar o lugar que o big bang havia inadvertidamente ocupado durante os últimos 30 anos”. Novello afirma que a “ciência foi além daquele momento de condensação máxima”, porém, isso fez com que ela se visse “às voltas com outras questões”. São elas: “se houve uma fase colapsante anterior, o que teria colapsado e por quê? E qual a razão para, depois de atingir um estágio de altíssima condensação, transformar a fase colapsante na fase de expansão em que vivemos?” (Ibid.). O cosmólogo brasileiro diz que a “cosmologia tem produzido respostas para essas questões que estão ainda no terreno teórico, formal”. Isso significa que para decidir qual dentre elas é a mais provável, será necessário “esperar que novas observações cósmicas confirmem as previsões” (Ibidem). 

Assim, continua Novello, as implicações dessas novas propostas e/ou cenários cosmológicos, fizeram com que o “big bang, esse estágio de condensação máxima pelo qual o Universo passou, deix[asse] de ser identificado com o seu ‘momento de criação’ para se transformar — agora, de modo racional — em nada mais que um momento de passagem na história da evolução do Universo” (p.92). O que se percebe pela argumentação de Novello, é que o Big Bang não deixa de existir no cenário de um Universo Eterno dinâmico, mas que deixa de ser a resposta científica para tudo que existe e, paradigmaticamente falando ou, em termos kuhnianos, não mais responde satisfatoriamente os problemas levantados pelas novas descobertas da física. Por isso, atualmente, “ao examinar as propriedades do programa do Universo eterno dinâmico e entendermos o processo físico que permitiu interromper o colapso gravitacional e penetrar na fase atual de expansão, percorrendo os caminhos que antecederam ao big bang, estamos realizando a função de retirar desse momento o início da história do Universo, projetando-a para um passado bem mais longínquo”. Isso significa dizer que será preciso “uma mudança nos hábitos de pensar a totalidade maior”. De acordo com o cosmólogo brasileiro, tal não se dá por um capricho, e sim porque as “propriedades não convencionais da matéria e do espaço-tempo descobertas no cosmo estão produzindo uma revolução fantástica na ciência, que lembra aquela que ocorreu lá atrás, no começo da ciência moderna, há mais de 300 anos, quando cientistas como Tycho Brahe, Kepler, Galileu, Newton e seus companheiros nos proporcionaram uma leitura fascinante do mundo supralunar”. Apesar do destaque do autor a estas personagens e o reconhecimento da importância delas para a ciência, ele garante que a revolução que está acontecendo na cosmologia nos dias atuais “está produzindo um momento maravilhoso de encantamento e de novidades no comportamento da matéria que está muito além do que eles realizaram”. Na realidade, ele diz que, “para além da questão da origem do Universo, a cosmologia, ao promover a refundação da física e a destruição do que pareciam ser sólidos paradigmas da ciência, produz mudanças radicais na descrição do real que inevitavelmente se difunde por todo o pensamento moderno”. Novello questiona então: “como esse modo de pensar o Universo afeta o discurso contemporâneo para além da ciência?” (p.92).

 

O cientista afirma que a liberdade do peso de ter de forçar os estudos em cosmologia, submetendo-os ao paradigma do modelo-padrão ou do cenário com singularidade, já é um avanço. Porém, é preciso iniciar uma reflexão acerca dessa “eternidade que nos é estranha, para incorporá-la a nossos hábitos mentais”. Tal processo não se dá de uma hora para outra. Sobretudo, pelo fato de que tal conhecimento só é acessível através de literatura especializada e não conta com cobertura midiática, visto não ser tão atraente aos olhos do público leigo. O que chama atenção em Novello, é sua honestidade intelectual em almejar que as pessoas resistam “à tentação de considerar esse novo modelo a verdadeira história da criação do Universo” (p.93). Em outras palavras, o cosmólogo brasileiro quer apenas que a proposta do Universo Eterno dinâmico seja considerada, à luz dos dados científicos atuais, como a proposta mais exequível no momento. Só isso, nada mais. Tal postura fará com que se dê mais um passo na descoberta científica da origem do Universo, sem o compromisso de restringir o pensamento a esta ou aquela proposta cosmológica. Mas, se o interesse é tão puro e honesto, algumas perguntas se impõem: A quem interessa a insistência na proposta de um cenário com singularidade, ainda que este não mais responda aos pontos elementares da física? Quais interesses estão em jogo e, por isso mesmo, podem obliterar o conhecimento divergente do que até então se propôs, ainda que a proposta de um Universo Eterno dinâmico conte, nos dias atuais, com mais respaldo do método clássico da física de “observação-teoria-observação”? Os financiamentos estatais e da iniciativa privada que mantêm os laboratórios dos cenários com singularidade, há décadas, seria uma resposta? Ainda não sabemos. Entretanto, a resposta provisória mais óbvia está sendo seriamente questionada e, ao que tudo indica, novos ares científicos ameaçam, mais uma vez, abalar as acomodações teológicas que se fizeram ao utilizar-se o Big Bang como a derradeira e definitiva explicação científica para o surgimento do Universo.

fonte cpad news

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