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Ética cristã biblica (12) Moral
Ética cristã biblica (12) Moral

 

        A moralidade pessoal do crente (I Co 6:12-20).

 

A presente seção aborda diversas expressões éticas dos crentes. Paulo parece iniciar uma discussão sobre várias questões «indiferentes», como as questões de alimentos proibidos, observância de dias, etc, segundo encontramos nos capítulos décimo quarto e décimo quinto da epístola aos Romanos. Mas a seção anterior, que versa sobre a santidade necessária no reino de Deus, bem como sua reprimenda severa contra vários abusos de natureza sexual, não demora a fazê-lo voltar às suas considerações sobre esse tema, e em termos ainda mais severos e definidos do que antes. 

A introdução de Paulo a esta seção, que menciona as regras da «liberdade cristã», em relação a alimentos proibidos e observância de dias especiais, quesão questões indiferentes, mui provavelmente nos dá margem a entender que os crentes de Corinto tinham situado os vícios sexuais na mesma categoria das coisas indiferentes, no que, naturalmente, estavam redondamente enganados. Talvez a declaração doutrinária deles pudesse ser expressa da seguinte maneira: «É questão indiferente o que alguém faz com seu próprio corpo. O que importa é somente o espírito». E isso expressa uma boa doutrina gnóstica, ler em ebdareiabranca. Aqueles crentes tinham abusado do ensino paulino da «liberdade cristã», dando-lhe aplicações que não lhe pertenciam por direito. É por essa razão, pois, que Paulo esclarece: «Porém, o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo», no décimo terceiro versículo deste mesmo capítulo. 

A cidade de Corinto era um centro de vícios sexuais de vários tipos, talvez sem igual em qualquer outro lugar do mundo de então. E a igreja cristã ali existente quase não podia evitar ser contaminada por esse péssimo ambiente. A prostituição fazia parte das antigas religiões pagãs, sendo uma prática totalmente aprovada por elas. Estrabão calculava que em Corinto havia nada menos de mil prostitutas religiosas profissionais, as quais faziam parte ativa da suposta adoração aos deuses, em meio a ritos caracterizados pela sensualidade. Além disso, havia muitas outras prostitutas seculares, abundando por toda parte os lupanares. Por essa razão o termocorintinizar veio a ser usado para expressar os abusos sensuais de qualquer sorte. Não admira, portanto, que Paulo tenha sentido a necessidade de frisar continuamente quão condenável era esse abuso, nesta sua epístola, o que fez de diversas maneiras. Os povos antigos em geral, e não meramente os habitantes de Corinto, tinham um ponto de vista extremamente liberal acerca das relações sexuais anteriores ao matrimônio, não sendo muitos os que viam qualquer malefício nessa libertinagem. Mas de modo geral, a cultura greco-romana era totalmente incompatível com os ideais judaicos sobre essa questão; e o cristianismo na realidade aumentou ainda mais o abismo de diferença de atitudes ao invés de suavizá-lo. É interessante que na cultura judaica prevalecia um duplo padrão; porque um homem podia viver com uma mulher, estabele­cendo com ela alguma forma de contrato, por mais breve que fosse em sua duração, e assim podia ter relações sexuais com ela, com a sanção total da própria lei mosaica. Para a mulher, contudo, as coisas eram bem diferentes, visto que tal liberalidade não se aplicava a ela. Diz-se que certos rabinos estavam acostumados a dizer, quandochegavam a alguma nova cidade: «Quem quer ser minha esposa por um dia?» Sim, um homem podia agir dessa maneira, mas não uma mulher. 

Em violento contraste com essas práticas, o cristianismo, apesar de não haver denunciado ou ilegitimado a poligamia, ou mesmo o concubinato, na forma de contratos legais para efeito de relações sexuais, retornou ao princípio mais primitivo como o ideal e o principio que defendiam quanto a esse particular um homem para uma mulher. Outrossim, no seio da igreja cristã, todo o líder tinha de ser «esposo de uma mulher» (ver I Tm 3:12). No cristianismo, pois, a tendência, até mesmo dentro da cultura judaico-cristã, onde a poligamia continuava comum nos dias do Senhor Jesus, foi a de reestabelecer a ética mais antiga sobre essa questão, um princípio mais puro e espiritualmente mais edificante. Podemos estar certos, porém, que em Corinto não havia leis que regulamentassem a poligamia ou o concubinato, embora o vício fosse extremamente generalizado, sancionado até mesmo pelas religiões oficiais.

 Foi para uma gente assim mal acostumada que Paulo escreveu esta epístola. Para muitos coríntios, o evangelho, embora tivesse sido ostensivamente recebido, na realidade não modificara os seus hábitos. Por essa razão é que Paulo lhes escreveu, a fim de repreendê-los e instruí-los. Sabiam quais eram as exigências que Cristo lhes impusera. Não ignoram essas exigências. Pois o apóstolo dos gentios estivera entre eles pelo espaço de dezoito meses (ver o décimo oitavo capítulo do livro de Atos), tendo recebido instruções minuciosas da parte dele. Mas simplesmente lhes faltava o caráter cristão necessário para saírem e se separarem do paganismo e de suas práticas aviltantes. 

6:12    Todos os coisas me são licitas, mas nem todos as coisas convém. Todas as coisas me são licitai; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 

Alguns daqueles membros da igreja cristã de Corinto haviam defendido a sua lassidão de costumes abusando da doutrina paulina da «liberdade cristã», o que contribuiu tão-somente para aumentar a gravidade de seus pecados. Paulo já havia mostrado um caso flagrante de «imoralidade» (no grego, «porneia», em I Co 5:1 e ss.); e agora aborda esse mesmo tema, com termos mais generalizados, aplicando-o aos muitos casos de imoralidade havidos na igreja cristã de Corinto.

 A menção das questões sexuais faz lembrar a Paulo a questão da liberdade cristã. O apóstolo dos gentios mostra que a sua doutrina da «liberdade cristã», contrariamente ao que pensavam certos, não dava apoio ao «partido dos libertinos». Paulo menciona os «slogans» desse partido, para em seguida refutá-los. Esse partido usava de chavões como «Todas as coisas me são lícitas». «O alimento é para o estômago, e o estômago para o alimento». É até mesmo possível que Paulo tivesse escrito declarações dessa ordem aos crentes de Corinto; mas eles as tinham distorcido em seu sentido tencionado, dando-lhes uma aplicação muito mais ampla do que qualquer interpretação cristã poderia suportar.

 «...Todas as cousas me são lícitas...» Podemos supor que o partido dos libertinos, na igreja cristã de Corinto, usava esse «slogan», entre outros, provavelmente utilizando-se de expressões paulinas, embora distorcidas.

 

Os Exageros Dos Coríntios 

  1. Alguns pervertiam os ensinamentos paulinos sobre a graça, de modo a não haver mais qualquer distinção moral. Tais homens tornavam-se totais pragmáticos, não percebendo mal algum em qualquer coisa, a menos que houvesse resultados adversos para o próprio indivíduo, resultantes de certos atos. Tudo o mais tornava-se matéria indiferente para eles, e não se deixavam guiar por qualquer lei moral. 
  2. O ensino de Paulo, neste ponto, fala sobre situações «não-morais». Com isso, Paulo não estava removendo a lei moral, pois existem atos que são malignos em si mesmos. Todavia, através das circunstâncias, há outras coisas que chegam a ser más. 
  3. Talvez alguma forma primitiva de gnosticismo (ver Cl 2:18) tivesse lançado raízes em Corinto. Essa doutrina ensinava que podemos praticar certos males morais que prejudicam ao corpo, porquanto isso resultaria no bem de destruir o corpo físico, o qual, juntamente com toda a matéria, é princípio mesmo do mal. Imaginavam tolamente que os males físicos não podem causar dano à alma imaterial.

 Mas Paulo responde como segue: «Todas as cousas me são lícitas, mas nem todas convém. Todas as cousas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas». Assim sendo, a resposta dada por Paulo é dupla: 

  1. Nem todas as coisas me são convenientes, nem pessoal e nem socialmente, sem dúvida. Em outras palavras, devo ter cuidado com as minhas ações, para que não venha a prejudicar a outros. (Com isso se podem comparar os trechos de I Co 7:35; 10:23 e 12:7). Ao invés de «...convém...» poderíamos traduzir «são expedientes», «são úteis», são dignas, porquanto, no original grego, temos um verbo que indica algo que resulta em «bem», em seu funcionamento. O argumento de Paulo é que até mesmo no caso das questões moralmente indiferentes, as quais poderiam ser reputadas «legítimas», isto é, não contraditórias com qualquer conceito moral, até mesmo nesses casos nem todas as coisas podem ser praticadas de qualquer modo, visto que nem tudo contribui para o bem-estar espiritual dos crentes, nem para o próprio indivíduo e nem para a comunidade cristã. Dentro dessa categoria poderíamos situar os capítulos catorze e quinze da epístola aos Romanos, bem como o oitavo capítulo da presente epístola, que envolvem questões como alimentos proibidos, observância de dias especiais, dieta vegetariana, o uso geral da liberdade cristã, a prática ou não das cerimônias religiosas do judaísmo, a escolha das diversões, etc. Pois quando a nossa liberdade exerce mau efeito sobre os nossos semelhantes, é que já entramos no terreno das coisas que não são moralmente indiferentes, ainda que aquilo que é praticado não é mau por si mesmo. 
  1. Todas as coisas são legítimas, isto é, «estão em meu poder» de serem praticadas, mas «...eu não me deixarei dominar por nenhuma delas». Pode-se notar o jogo de palavras, porquanto a palavra básica, em cada caso, é a mesma, no original grego. Assim sendo, todas as coisas podem ser praticadas dentro dos limites do padrão de autoridade que me serve de orientação; porém, quando qualquer ação começa a «fazer-me exigências autoritárias», procurando «dominar-me», então tal ação não é mais moralmente indiferente. Porque comomeu Senhor reconheço unicamente a Jesus Cristo. Não posso tornar-me escravo de qualquer outro princípio. Não posso ser escravizado por princípios de dieta vegetariana, pela necessidade de observar determinados dias especiais, nem insistindo sobre a necessidade dessas coisas e nem combatendo contra a sua conveniência. Simplesmente não posso deixar-me dominar pelo que quer que seja, e nem por quem quer que seja, exceto pelo Senhor Jesus. Poderia tornar-me escravizado até mesmo pelo uso excessivo da minha liberdade cristã, ou então pelo temor de usar de qualquer liberdade cristã. Quando eu não mais for liberto de Deus, em minha expressão ou vida diária, então terei perdido a minha liberdade em Cristo, e terei sido dominado por algo; e assim sendo, terei cometido um grave pecado, contra mim mesmo e contra meus semelhantes. 

A palavra «...eu...» é enfática aqui. É como se Paulo tivesse declarado: «Quanto a mim, tenho limitações em minha liberdade cristã, pelas duas razões acima declaradas». 

«Abusamos da nossa liberdade cristã quando a usamos para debilitar nosso caráter e diminuir nossa faculdade de autocontrole...Devemos usar de cautela para que não usemos dessa liberdade de tal modo que a percamos, como, por exemplo, quando nos tornamos escravos de hábitos sobre coisas que, por si mesmas, são legítimas». (Robertson e Plummer, in loc). 

Ora, exatamente isso é que os legalistas tinham feito, em sua insistência sobre a observância das leis cerimoniais mosaicas. E aqueles que defendiam o ponto de vista oposto, também se tinham deixado escravizar, devido à sua insistência sobre uma maneira de viver mais livre. Ambos os grupos tinham prejudicado um ao outro, não tendo buscado o bem-estar e a vantagem espirituais uns dos outros; pelo contrário, haviam desobedecido à injunção paulina de nada fazerem que não seja «benéfico» e «expediente» em suas tendências e resultados. 

A verdadeira liberdade consiste no modo como e na maneira pela qual escolhemos um determinado senhor ou dominador. No caso dos crentes, o único Senhor só pode ser Jesus Cristo. Ora, se assim é o caso, até mesmo quanto às questões moralmente indiferentes, certamente não podemos aplicar a doutrina paulina da «liberdade cristã» visando abusar do corpo, na forma de perversões sexuais; e isso porque tal coisa nem ao menos se trata de uma questão indiferente, mas antes, envolve um princípio moral bem real e vital, conforme Paulo passa a demonstrar em seguida. (Uma exposição completa sobre o tema da liberdade cristã se encontra nos capítulos décimo quarto e décimo quinto da epístola aos Romanos, bem como no oitavo capítulo da presente epístola). Paulo lança mão aqui desse conceito a fim de introduzir seu severíssimo estudo sobre as coisas não indiferentes, e também a fim de negar enfaticamente que aquilo que é «moralmente indiferente» pode ser um princípio aplicado a uma conduta sexual frouxa, conforme vários crentes coríntios de inclinações libertinas vinham fazendo. 

Se sacrificarmos a capacidade de escolha, implícita no pensamento da liberdade, deixaremos de ser livres; e passaremos a ficar sujeitos ao poder que deveria estar debaixo do nosso poder. 

Até mesmo de acordo com o princípio da liberdade cristã, e quanto mais segundo o princípio daquilo que convém ou não, a fornicação, a imoralidade de todas as variedades, são atitudes errôneas. Porquanto aquele que comete fornicação é posto sob o poder de uma prostituta, e não mais é um crente livre. O crente que cai nesse pecado somente debilitou seu próprio poder, bem como o poder de Cristo sobre ele, tendo, entregue as rédeas de sua vida às forças tenebrosas da maldade. Tal crente deixou de ser senhor de si mesmo, tendo rejeitado o domínio de Cristo Jesus. (Ver os trechos de Jo 8:34-36; Gl 5:13; I Pe 2:16 e II Pe 2:19). 

«Somos senhores de todas as coisas; tão-somente não devemos abusar desse senhorio de modo a sermos arrastados para a mais miserável servidão, ficando sujeitos às coisas externas, através da falta de controle e dos desejos desordenados, que antes deveriam estar sujeitos a nós». (Calvino, in loc). 

«O corpo foi designado para ser o órgão do Espírito Santo, para dominar a natureza, e não para ser o órgão da natureza para dominar o Espírito». (Kling, in loc). 

«'Não me deixarei dominar por nenhuma delas...' são palavras que se referem sobretudo à sensualidade no comer e no beber, através do que, aquele que cede a tais tentações, perde o domínio sobre si mesmo, que ele entregara às mãos de Deus, tornando-se o mais vil de todos os escravos. Com isso comparar o final do sétimo capítulo da epístola aos Romanos». (Bloomfield, in loc).

 

6:13    Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará, tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. 

Paulo admite aqui que existem realmente questões indiferentes, que não têm ligação alguma com a fé, com a vida eterna e com a esperança do crente, mas que pertencem inteiramente a esta esfera física e transitória. O Senhor Jesus declarou algo similar a respeito dos alimentos indiferentes e de outras coisas da mesma natureza, no trecho de Mc 7:18,19. Os alimentos foram criados para serem comidos, e a ingestão de alimentos serve para sustento do corpo físico. Não há qualquer moralidade envolvida no ato de comer, nos alimentos, no estômago e nos processos digestivos. Nessa área, o indivíduo pode fazer o que melhor lhe parecer. (Ver Rm 14:2,3,14,15). Mas o apóstolo dos gentios nega aqui que o próprio corpo seja uma questão indiferente, como se o mesmo pudesse ser usado ao bel-prazer do crente. E isso porque a contaminação do corpo afeta o espírito e corrompe a pessoa inteira. A imoralidade não pode ser situada dentro da mesma categoria dos alimentos para sustento do corpo, porquanto há algo de aviltante e degradante nas relações sexuais ilícitas, que afeta a própria alma e o seu bem-estar espiritual. 

«O seu argumento é que há uma lei de adaptação que percorre a natureza inteira, ilustrada pela adaptação mútua dos alimentos e dos órgãos da digestão. Mas essa lei é violada pela prostituição do corpo, na fornicação, para o que, segundo a ordem determinada por Deus, o corpo não foi adaptado». (Vincent, in loc). 

Os crentes de Corinto, por conseguinte, misturavam a questão dos alimentos para o corpo, como algo que é indiferente, com o corpo entregue a práticas sensuais, um assunto inteiramente diferente daquele, embora aqueles crentes não pudessem ou não quisessem perceber tal distinção. Os filósofos gnósticos pensavam que o corpo físico já é inevitavelmente a sede mesma do princípio do mal, visto que o pecado é material, e eles imaginavam que a matéria é má e que o espírito é bom. E daí concluíam que aquilo que acontece ao corpo é inteiramente indiferente, visto que o espírito humano só seria libertado desse princípio do mal por ocasião da morte física. Mas Paulo salientou que se o homem abusar de seu corpo, mediante práticas pecaminosas, também estará prejudicando a sua alma, em sua espiritualidade e progresso. (Com isso se pode confrontar o trecho de I Pe 2:11, onde se lê: «Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma»). Isso expressa com precisão o pensamento de Paulo neste ponto. 

O fato de que a filosofia pagã, ao tratar das questões morais, com frequência classificava coisas não-essenciais, como os alimentos, paralela­mente a pecados morais supostamente não-prejudiciais, também pode ser visto no trecho de At 15:23-29, —onde as exigências impostas aos primitivos gentios convertidos ao cristianismo incluíam ambos esses aspectos, como se ambos fossem igualmente importantes. 

«...Deus destruirá...» isto é, tanto os alimentos como os estômagos ou órgãos de digestão, tudo o que está sujeito à decadência, começando e terminando dentro do tempo. Porque essas coisas pertencem, estritamente, à ordem das coisas temporais. Mas não acontece assim com a alma, que participa da eternidade. (Ver décimo sétimo versículo deste mesmo capítulo). Moralmente falando, essas coisas temporais são indiferentes, a menos, naturalmente, que certos alimentos sejam prejudiciais para o corpo, motivo pelo qual devem ser evitados, a fim de não causar dano ao templo do Espírito Santo. (Ver I Co 3:16 e ss.). É possível que aqui haja certa referência ao tempo, já no estado futuro, especialmente na eternidade, quando não mais precisaremos de qualquer alimento físico. Então esse tipo de coisas temporais desaparecerá inteiramente. 

«...Porém, o corpo não é para a impureza...» Embora o corpo seja temporal, material, como o é o estômago, tem uma missão mais alta do que aqueles crentes de Corinto suspeitavam. O corpo do crente é templo do Espírito Santo, uma casa santa, que deve ser usada como instrumento do Espírito de Deus para o bem, e não para o mal. (Ver I Co 3:16 e ss. e 6:19). 

A metafísica de Paulo, aqui abordada, é tipicamente hebraica. Paulo não separava corpo e espírito como duas entidades separadas, conforme ele faz no quinto capítulo da sua segunda epístola aos Coríntios, que é nosso melhor capítulo acerca da «imortalidade». Para os hebreus, o corpo físico era um objeto psiquicamente animado. E segundo esse ponto de vista não é algo transitório, passageiro, visto estar sujeito à ressurreição e à vida eterna, quando o crente será transformado para possuir um corpo espiritual.

 

A Metafísica De Paulo

 

  1. Paulo seguia a linha de pensamento dos hebreus, não distinguindo claramente entre o corpo e o espírito, mas antes, encarando o princípio físico como a condição natural e necessária do homem, agora e para sempre. No estado eterno, o espírito será revestido de um corpo, presumivelmente o corpo terreno ressurreto. 
  2. Portanto, é de extrema importância aquilo que um homem fizer através do seu corpo. Além disso, dificilmente se pode imaginar que o corpo, por si mesmo, seja maligno (conforme os gnósticos pensavam). Todavia, o corpo físico torna-se uma vítima fácil do mal. 
  3. A espiritualidade, portanto, dificilmente poderá ser atingida enquanto o indivíduo abusa de seu corpo por meio da imoralidade. 

«...impureza...» O vocábulo grego por detrás dessa tradução é o mesmo que vem sendo usado desde I Co 5:1, isto é, «porneia», palavra essa que indica toda a forma de «imoralidade». 

«Paulo mostra aqui ousadamente a falácia existente no paralelo que alguns faziam entre o apetite do estômago para com os alimentos e a imoralidade. O corpo humano possui uma missão muito mais elevada do que a mera satisfação dos apetites sensuais desordenados.O sexo foi criado por Deus para a propagação da raça, e jamais para a prostituição. E Paulo já havia asseverado que Deus habita em nós como santuário do Espírito Santo. (Ver I Co 3:16 e ss.).» (Robertson, in loc). 

Paulo ensinava aqui que de alguma maneira, que ele não explana, tanto o corpo como a alma têm um destino eterno. Sem importar se os átomos deste corpo físico terão ou não tal futuro, ou se o «corpo» será uma nova criação, de material distinto da alma, e como veículo de expressão da alma, o fato é que o corpo também tem um elevado destino, embora Paulo não esclareça de que modo. Não obstante, o apóstolo dos gentios declara que aquilo que é feito através deste corpo físico tem reflexos sobre a personalidade inteira do indivíduo, afetando o seu destino, e degradando ou elevando toda a pessoa. Por conseguinte, é muitíssimo importante aquilo que fazemos com os nossos corpos. 

«...mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo...» Quando da ressurreição, o corpo de Cristo foi ressurreto e espiritualizado. Ele levantou-se dentre os mortos e posteriormente ascendeu aos céus como o primeiro homem verdadeiramente imortal de Deus. O espírito de Jesus não foi deixado despido do corpo, mas foi revestido de um corpo glorificado, transcendental. Assim também sucederá no caso de todos os crentes. A ressurreição dos crentes será a recomposição da personalidade inteira dos remidos. A alma humana é imortal; mas também existe aquele revestimento da alma por meio do corpo já glorificado, que terá por modelo a semelhança do corpo glorioso de Jesus Cristo. Não sabemos dizer, contudo, se o «corpo glorificado» incorporará os átomos do nosso antigo corpo ou não; mas isso é inteiramente destituído de importância para o argumento aqui apresentado por Paulo. (Ver o trecho de Fp 3:21 quanto ao «corpo glorioso de Cristo», do qual também participaremos). Seja como for, o corpo é «para o Senhor», tendo seu destino e propósito, seu uso próprio, visando a glória do Senhor, não se destinando certamente à «imoralidade», à satisfação dos desejos sensuais desordenados. 

«...Senhor...», neste caso, como na maioria das ocorrências do termo, indica o Senhor Jesus Cristo, o Salvador dos homens.Referindo-se à mensagem geral deste versículo, Faucett (in loc.) comenta como segue: «Temos aqui o gérmen dos três assuntos abordados nas seções subsequentes: 1. A relação entre os sexos; 2. A questão dos alimentos oferecidos aos ídolos; 3. A ressurreição do corpo. Uma essência real subjaz os fenômenos superficiais da presente organização do corpo; esse gérmen, quando todas as partículas são espalhadas, envolve a ressurreição de um corpo incorruptível». 

É possível que Paulo tenha usado aqui o termo corpo, a fim de subentender o próprio «eu». Os pecados do corpo prejudicam ao «eu», à pessoa inteira. Jesus Cristo veio para redimir a pessoa inteira, incluindo o corpo, que deve ser considerado como o veículo físico, que será transformado e espiritualizado quando da ressurreição. Por conseguinte, o corpo deve ser redimido, e não sujeito à imoralidade. Nesse sentido, a salvação envolve igualmente o corpo. (Ver Rm 8:23). 

«O Senhor Jesus e a 'porneia' lutam pelo domínio dos corpos dos crentes; se quiserem ser leais a ele, precisam renunciar àquilo; se cederem àquilo, terão de renunciar a ele». (Findlay, in loc). 

Visto que o corpo é «para o Senhor» em sentido final, isto é, pertencente a ele por toda a eternidade, tendo sido redimido por ele, é lógico que agora mesmo os crentes usem os seus respectivos corpos para serem usados no serviço de Cristo e para sua glória, e não para fins de degradação moral. Cristo comprou nosso corpo, e é a ele que o corpo pertence, tal como um escravo pertence totalmente ao seu senhor. (Ver o vigésimo versículo deste capítulo).

 

6:14    Ora, Deus não somente ressuscitou ao Senhor, mas também nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 

Consideremos o exemplo de Cristo Jesus. Durante toda a sua vida terrena ele viveu com pureza, e ninguém podia convencê-lo de pecado. Não corrompeu ao seu corpo. Outrossim, após a morte física, seu corpo foi ressuscitado pelo poder de Deus, tendo sido espiritualizado. Dessa maneira ele ascendeu aos céus e está ocupado em um serviço celestial, para glória de Deus. Assim também sucederá a todos os crentes. O corpo dos crentes é passível de ressurreição, estando destinado aos lugares celestiais, razão pela qual não pode ser usado para o serviço da maldade. Portanto, a moralidade não é uma questão indiferente, como indiferentes são as questões dos tipos de alimento e dos órgãos digestivos, tudo o que não demorará a perecer, jamais tendo sido criados para caracterizarem a natureza do estado futuro. 

«Já que o corpo está destinado a compartilhar, juntamente com o corpo de Cristo, da ressurreição, quando será erguido incorruptível, está sujeito a uma mais elevada adaptação, com o que a fornicação é incompatível». (Vincent, in loc). 

Dessa maneira, pois, Paulo empresta maior peso ao seu argumento, acerca da sua dignidade e elevados propósitos, bem como acerca do alto destino do corpo do crente. 

É frisada aqui a primeira ressurreição. (Ver Ap 20:5). A esperança escatológica tem elevado a importância do corpo do crente muito além das inadequadas filosofias que alguns crentes de Corinto aplicavam. 

A ressurreição se verificará mediante o «...poder...» de Deus, o que é frase comum vinculada à ideia da ressurreição, embora não envolva qualquer sentido comum, mas antes, um significado elevadíssimo. A ressurreição é a demonstração mesma do poder de Deus, visto que os homens não podem realizar tal coisa, e muito menos ainda a grande espiritualização dos corpos ressuscitados que se seguirá. A ressurreição dos crentes, pois, inclui a ideia da espiritualização, como também, usualmente a ascensão aos lugares celestiais, com a glorificação resultante. Ora, isso pode ser realizado exclusivamente por Deus, através do poder sem igual que ele possui. (Comparar com os trechos de At 2:27,30,31,33; Ef 1:19 e ss.). 

Deus abolirá os alimentos e os estômagos, visto que são coisas que pertencem à ordem temporal de coisas. Mas Deus ressuscitou a Jesus Cristo (seu corpo), e assim também fará conosco, utilizando-se do seu mesmo poder divino. Portanto, o corpo do crente é para o Senhor, e não para a imoralidade. 

Paulo não se refere aqui à sua esperança de escapar inteiramente da morte física, o que era uma esperança real para ele, conforme se aprende em I Co 15:51. Esse aspecto de sua esperança é omitido porque ele abordava um assunto que requer o concurso da ressurreição. Por causa de seu argumento, ele deixou passar ao largo uma doutrina que faria alguns crentes negligenciarem a realidade da morte física. 

Variante Textual: Existem várias modificações, nos manuscritos antigos, do tempo do verbo que expressa a ressurreição dos homens. O futuro, «ressuscitará» se encontra nos mss P(46) (primeiro corretor), Aleph, D(c),

vg(s cl w), Sa (pt) Bo e os manuscritos gregos mais recentes (minúsculos). O aoristo, «ressuscitou», aparece também nos mss P(46) (segundo corretor), B, 1739, nas versões latinas r,t, vg(pt), Sa(pt) e nos escritos de Orígenes. O tempo presente «ressuscita», aparece nos mss p(ll) século V d.C.) e pela mão original de P(46) (o documento mais antigo que possuímos, dos escritos paulinos, século III d.C), como também em A,D (mão original), 69 e alguns pontos outros manuscritos de menor importância. 

O tempo futuro dá a entender a ressurreição escatológica, sendo esse o prisma preferido pelos escribas. Mas é bem provável que isso seja uma emenda feita no aoristo, que mui provavelmente representa o original. Se o aoristo foi realmente usado por Paulo, então está em foco aqui a ressurreição espiritual dos crentes, em Cristo Jesus, o que é um acontecimento passado, tal como lemos também no trecho de Rm 6:4. Porém, mesmo que Paulo realmente tenha usado o tempo aoristo, ainda assim a ressurreição escatológica pode estar em vista, visto que, quando da ressurreição de Jesus Cristo, também fomos realmente «ressuscitados», numa potencialidade certa, que aguarda tão-somente a ocasião própria para que tal acontecimento se realize. Alguns estudiosos, entretanto, supõem que o tempo aoristo aparece aqui como assimilação do verbo que aparece neste mesmo versículo e que alude à ressurreição de Cristo, verbo esse que também está no tempo aoristo. Nesse caso, o original poderia estar no tempo presente ou no tempo futuro. Porém, o mais provável mesmo é que o tempo aoristo represente o original, o qual sofreu diversas modificações, conforme é esclarecido neste parágrafo. Sendo esse o texto «mais difícil», também é o mais provável, de acordo com as regras textuais. A modificação mais óbvia é aquela feita para o futuro. Alguns bons editores, entretanto, preferem realmente o futuro. Todavia não há maneira indiscutivelmente certa de dar solução a esse problema.

 

6:15    Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum. 

Paulo dá início aqui a um outro argumento, visando mostrar que a polução do corpo dificilmente pode ser classificada dentro da mesma categoria dos alimentos para o estômago, conforme alguns crentes coríntios entendiam. Cada crente, individualmente, faz parte do corpo místico de Cristo. (Ver Rm 12:4,5 acerca desse tema. Ver também I Co 12:13). Cada membro é dotado de uma função toda especial, o que significa que cada crente é um membro sem igual, importante, ainda que não independente dos demais membros do corpo, e muito menos ainda, da Cabeça, que é Cristo Jesus. Ora, tudo isso fala da nossa «intimidade mística» com Cristo, em que há união de espíritos, conforme também lemos no décimo sétimo versículo deste mesmo capítulo. Há, portanto, uma união espiritualíntima, a participação dos crentes na mesma natureza espiritual de Cristo, mediante o poder transformador do Espírito Santo. E como poderiam, por conseguinte, aqueles que estão nessa comunhão mística com Cristo, terem também intimidade, no nível físico, com uma prostituta, através de atos imorais? Tais ações são mortíferas para o espírito do crente, detrimentos em extremo para a sua comunhão com Cristo, a sufocação mesma da espiritualidade. Ora, isso é algo totalmente contrário ao progresso espiritual, o que só pode ocorrer mediante a comunhão com Jesus Cristo, através de seu Santo Espírito. Tais concupiscências «guerreiam contra a alma», no dizer de IPe 2:11. 

O corpo é «...para o Senhor...», para glória do Senhor, para seu serviço, para ser glorificado segundo o corpo glorificado de Jesus, para seu serviço eterno; mas também é «adaptado» para ele, em comunhão mística, do que também se deriva o nosso poder espiritual. Ora, ter qualquer contato com a imoralidade é sufocar essa intimidade e arruinar essa adaptabilidade da personalidade humana para com Cristo. Por essa razão é que a palavra «...corpo...», neste versículo, certamente envolve a ideia da «pessoa inteira», tema esse que atravessa todo o texto, ainda que o corpo físico literal também esteja em foco como algo sujeito à ressurreição, quando então a personalidade inteira será restaurada em Cristo e glorificada nele. Ora, essa «adaptação» (ver o décimo terceiro versículo deste capítulo) vem através da comunhão mística com o Senhor. E deveríamos estar interessados no aprimoramento dessa comunhão, ao invés de estarmos interessados no pioramento dessa intimidade, que é exatamente o que a prostituição efetua.

 

O ponto de vista pagão sobre o corpo sempre fazia com que o homem fosse reduzido ao nível dos animais; e, em um sentido totalmente físico, isso é uma verdade. Mas o «corpo», sem importar se está em foco apenas a entidade física, ou se queremos dar a entender a «pessoa inteira», tem algo em comum com o Cristo glorificado, e não com os animais irracionais, razão pela qual deve ser tratado com respeito, e não como se fosse apenas um organismo animal. Outrossim, o corpo do crente, quando da glorificação, juntamente com o «eu inteiro», torna-se membro de Cristo, desfrutando de comunhão mística com ele. Essa é outra razão poderosa pela qual o corpo (a entidade física e o eu inteiro) não pode ser entregue à prostituição. Agostinho observava: «Não podem eles ser, ao mesmo tempo, membros de Cristo e membros de uma prostituta». (De Civ. Dei xxi.25). 

«...e os faria membros de meretriz?...» Poderia Paulo, do alto de sua autoridade apostólica na igreja, mediante ensinamentos frouxos, dizer aos crentes que lhes é facultado participar da imoralidade, assim prejudicando a sua comunhão com o Senhor Jesus? Nunca, responde Paulo. «Deus o proíba». «Longe de nós tal pensamento». 

«...Absolutamente, não...» Literalmente traduzidas, essas palavras diriam: «Que não seja assim». Têm sido variegadamente traduzidas como «Deus proíba» (não literalmente, mas demonstrando o espírito de aversão), «Longe de nós tal pensamento», ou, mais simplesmente,Jamais! No original grego, temos «me genoito», uma das poucas ocorrências do modo optativo, nos escritos de Paulo. Essa expressão é de uso frequente na epístola aos Romanos, mas, nesta primeira epístola aos Coríntios figura somente aqui. Sempre que Paulo usa tal expressão, queria rejeitar vigorosamente a ideia anteriormente expressa, como que tocado por grande sentimento de repulsa. E isso mostrava como Paulo encarava a questão dos costumes sexuais lassos, que eram tão comuns em Corinto e por todo o mundo pagão daquela época. 

«Segundo o ponto de vista helenista, o corpo era o envelope perecível da alma; segundo o ponto de vista das Escrituras, é o veículo permanente do seu espírito. Devotar o próprio corpo a uma prostituta é retirá-lo, antes de tudo, da possessão de Cristo; e fazer 'isso', e 'com tal propósito', basta a declaração (sem elaboração), para mostrar a infâmia de tal proposição». (Findlay, in loc). 

A declaração de repulsa do apóstolo Paulo contra a ideia da entrega do corpo à prostituição (no grego, «me genoito», conforme foi comentado mais acima), também foi utilizada por outros autores antigos, como Epicteto (ver Odisséia, vii.316). Por conseguinte, não era expressão original de Paulo, mas mui provavelmente podia ser ouvida comumente nos seus dias, mais ou menos da mesma maneira como ele a usou.(notas coment. biblico , Normam R. Champlin, novo testamento)

fonte www.avivamentonosul21.comunidades.net