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apocalipse e a nova criação e o estado eterno
apocalipse e a nova criação e o estado eterno

 

A Nova Criação e o Estado Eterno (21:1-8).

 Somente quando a nova criação substituir à antiga é que poderemos dizer que a influência e a obra de Satanás foram totalmente apagadas da existência, pelo que esta sétima visão relata como a criação inteira será libertada dos últimos vestígios do pecado, para sempre. Essa descrição é uma das mais belas de toda a Bíblia, apresentada com simplicidade e dignidade, sem os exageros retóricos e sem verbosidade. 

Na escatologia iraniana (Bunsahish 30:32) e nos apocalipses judaicos, juntamente com ideias similares do A.T., temos uma tradição que fala da nova criação, como se fora uma «renovação» do mundo antigo. (Ver Is 65:17 e 16:22 e contextos. Ver também II Baruque32:6; 44:12; 48:50; 51:3 e I Enoque 45:4,5). Mas também há a tradição de uma criação inteiramente nova, e não de mera renovação da antiga. (Ver I Enoque 72:1; 91:16 e II Esdras 7:30,75). Assim sendo, nos documentos cristãos às vezes há a ideia de «renovação», e às vezes há a ideia de uma «criação inteiramente nova». (Ver Mt 19:28 quanto à ideia da «renovação»; e ver II Pe 3:10,13, no tocante à ideia de uma criação inteiramente nova). Essa última passagem obviamente fala da total aniquilação da antiga criação por meio do fogo. Cientificamente, com base naquilo que sabemos, isso é totalmente possível. A matéria da criação poderia ser reduzida a mera energia mediante o mesmo processo que causa as explosões atômicas. Quanto ao ponto de vista do Apocalipse, é perfeitamente evidente que esse livro antecipa o total aniquilamento da antiga criação, havendo então um ato criador totalmente novo. Já vimos isso em Ap 20:11, e esse pensamento é reiterado agora, neste primeiro versículo do capítulo vinte e um.

 «Da fumaça, da dor e das chamas, é um alívio passar para a atmosfera clara e limpa da manhã eterna, onde o ar celeste é puro e a vasta cidade de Deus fulgura como um diamante na irradiação de sua presença. A ideia dominante da passagem é que o meio ambiente deve ser de acordo com o caráter e a antecipação; consequentemente, assim como o antigo universo estava inevitavelmente maculado pelo pecado, uma nova ordem de coisas deve ser formada, uma vez que a antiga cena de prova e fracasso seja posta de lado... A expectação (ver Rm 8:28 e ss.) de que a perda ocorrida por ocasião da queda de Adão seria revertida, dificilmente é a mesma coisa que essa transformação escatológica; esta última prevalece sempre que as inflexíveis exigências da era parecem exigir uma limpeza total do universo, e a atitude apocalíptica para com a natureza raramente tem algo a ver com a ternura e a paixão, por exemplo, de IV Esdras 8:42-48. A sequência de Ap 20:11 e ss. e 21:1 e ss., pois, segue o programa escatológico geral, como se vê, por exemplo, em Apocalipse de Baruque 21:23 e ss., onde, após terminada a morte, o novo mundo prometido por Deus aparece como habitação dos santos (comparar com Ap 21:1 e ss.). A Jerusalém terrestre é suficientemente boa para o milênio, mas não para a bem-aventurança final». (Moffatt, in loc.).

 «A palavra característica que atravessa a descrição é o termo ‘novo’. Todas as coisas se tornarão ‘novas’. Existem dois vocábulos traduzidos por ‘novo’ ...um deles (‘neos’) diz respeito ao tempo; o outro (‘kainos’) diz respeito à qualidade. O primeiro se aplica ao que recentemente veio à existência; o outro ao que demonstra características novas». (Carpenter, in loc).

 «Agora que todo o mal foi destruído para sempre, e que todos os agentes do mal foram lançados no lago do fogo, e que desapareceram os antigos céus e terra, e o juízo final é levado a bom termo, e a morte e o hades são destruídos, então Deus cria novos céus e nova terra, convocando à existência a Nova Jerusalém. Nessa cidade, que nunca conhecerá lágrimas, nem tristeza, nem choro, nem dor e nem maldição, Deus habitará com os homens em seu trono, que é também o do Cordeiro; e seus servos, cujo caráter, como possessão mesma de Deus, dali por diante serão marcados na fronte e o servirão, e eles o verão face a face. E Deus fará a luz de seu rosto brilhar sobre eles em bênção perpétua, e reinarão para todo o sempre». (Charles, in loc.).

 

21:1  E vi um novo céu e uma nova torra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra e o mar já não existe.

 «...Vi...» Em visão mística. 

«...novo céu...» As notas de introdução a esta seção têm mostrado que não haverá mera «renovação», e, sim, um céu inteiramente novo, parte de uma criação inteiramente nova. (Ver II Pe 3:10 e ss. quanto a detalhes acerca desse conceito que diz que o antigo desaparecerá de todo antes da nova criação tomar seu lugar. Ver Ap 20:11. Até mesmo o antigo «céu» fora contaminado pelo trabalho de Satanás, motivo por que não poderá ser eterno. (Ver Ap 12:4 e ss. Ver Cl 1:20, que mostra que até os céus estão sujeitos à missãoremidora de Deus). Deve-se observar, neste ponto, o uso do singular, o que é costume do autor sagrado, excetuando em Ap 12:12, onde é usado o plural, por tratar-se de uma citação. O antigo ponto de vista era o de uma multiplicidade de esferas, de céus em vários níveis, ou seja, «céus» ou «lugares celestiais». (Ver Ef 1:3 acerca desse conceito). 

«...nova terra...» Não se deve pensar aqui na renovação da antiga terra, através do fogo, e, sim, em algo completamente novo, parte de um novo ato criador. Este capítulo assinala um novo começo, tal como o primeiro capítulo do Gênesis marca o antigo começo. Ambas as coisas dizem respeito a atos criadores, e não a atos renovadores.

 «...primeiro céu...» Aqui há menção ao céu ou céus, às esferas celestiais, incluindo o nível mais elevado, onde Deus manifesta sua presença, onde está o seu trono. Isso não mais existirá. Os antigos céus fazem parte do antigo ato criador, descrito no primeiro capítulo do livro de Gênesis. Tudo isso é passado, agora. Não há vestígios dessa antiga criação, nem mais os lugares celestiais. Os capítulos que ora passamos a comentar mostram como as obras de Satanás serão totalmente aniquiladas, sendo estabelecida uma ordem eterna e completamente nova. Segundo a opinião do autor sagrado, isso não poderá suceder sem o total aniquilamento da antiga ordem, da antiga existência. 

«...primeira terra...» Também faz parte do antigo ato criador. Quando a matéria se transformar em energia, como se dá nas explosões atômicas, a antiga terra desaparecerá. Então será criada uma nova terra.

 «...o mar já não existe... » Isso é um tanto difícil de entender, pois, naturalmente, se a antiga terra não mais existir, não poderá mais haver mar. Portanto, na opinião de alguns, essa expressão parece bastante supérflua. Supérflua a menos que esse «mar» seja usado de modo figurado, conforme se vê noutros trechos (ver Ap 13:1). Pensamos que esse é o caso, dando a entender que a antiga ordem de civilização, as nações e seu sistema, desaparecerão. Tudo isso desaparecerá, dando lugar a uma criação inteiramente nova. Haverá uma raça nova, embora de natureza celestial, moldada segundo o próprio Filho, participante de sua natureza e de seus atributos (ver II Co 3:18). Há uma alusão ao desaparecimento do «mar» em Testamento de Levi (109 A.C.), bem como na Ascensão de Moisés 10:6, que diz: «E o mar se retirará para o abismo, e as fontes de águas falharão, e os rios se secarão». (Ver também Oráculos Sibilinos v.159,160,447).

 Charles (in loc.) sugere que os povos semitas, não sendo povos marítimos, tinham horror ao mar. É possível, seguindo-se essa linha de pensamento, que a «ausência do mar» não é mera alusão aos literais «antigos oceanos», mas à total ausência de um oceano sobre a nova terra. Uma mente semita gostaria disso, e, além disso, ficaríamos livres de más associações marítimas, como dragões, serpentes marinhas, etc. Assim é que Plutarco, em seu De Iside et Osiride 7, considera o mar como algo estranho na natureza.

 

Outras ideias sobre o primeiro versículo deste capitulo: 

1.      Moffatt (in loc.) supõe que a «ausência do mar», na nova terra, se deve ao conhecimento do autor sagrado (e sua aparente depreciação) acerca de mitos vinculados ao mar, como o do «dragão» que faz oposição a Deus, etc. Já que não haverá mar, também não poderá haver dragão, pelo que o bem e a paz haverão de reinar sobre a nova terra. (Ver Is 27:1 quanto ao «dragão do mar»).

 2.      O mar é símbolo da turbulência dos ímpios e dos sistemas mundanos. O testamento de Levi 4 e Is 57:20 nos dão a entender isso. O mar espumeja sujeira (ver Is 57:21). Tais elementos não poderão conspurcar a nova criação.

 3.      Babilônia aparece entronizada sobre as águas; a besta dominará o mar e dele provirá (ver Ap 13:1 e 17:1).

 4.      O mar separava terras de terras e dividia povos, servindo, assim, como agente de desunião. A nova criação não terá nada disso.

 5.      O mar e as grandes águas foram antes o instrumento da destruição da terra. A nova criação será indestrutível.

 6.      «Os astrônomos dizem que durante as poucas centenas de anos, dúzias de mundos se têm incendiado perante os olhos mesmos dos cientistas. Mundos que antes atravessavam majestosamente o espaço e então repentinamente explodiram e desapareceram. Sob toda esta velha terra existem os vulcões, fontes termais, rios de lava e gêiseres de vapor de água, lembrando-nos que dentro da mesma há um mar de fogo, e que Pedro falava disso quando declarou, por inspiração do Espírito Santo: ‘Ora, os céus que agora existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios’. Perguntamos, pois, por que este velho mundo já não explodiu antes. Quando alguém considera esses fatos, com base tanto nas Escrituras como na ciência, estremece ao pensar sobre o lugar precário em que vive» (De Haan, in loc.).

 7.      A «nova criação», naturalmente, contrariamente ao que dizem alguns intérpretes, será tanto física quanto espiritual, e isso pela eternidade. Este texto nada tem a ver com o triunfo da igreja sobre a terra antiga, nos últimos dias.

 21:2  E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o teu noivo.

 

«...Vi...» Em visão mística de Ap 1:10. 

«...a cidade santa, a nova Jerusalém...» Assim como a antiga Jerusalém se tornara a capital da terra durante o milênio, assim também agora, no estado eterno, haverá uma capital, lar da Noiva, a igreja. A palavra «cidade» talvez aluda aos «ocupantes» de um determinado lugar, ou então à própria cidade física. Portanto, presumimos que a «nova Jerusalém» é tanto a «noiva» (os habitantes) como também a cidade literal. Pelo menos parece ser esse o ponto de vista do autor. Se se trata de uma cidade literal, ela é apresentada como um imenso cubo, tão vasto que João teve de ser postado em uma altíssima montanha para poder contemplá-la. Calcula-se suas dimensões em duzentos e quarenta quilômetros de comprimento, outro tanto de largura, e outro tanto de altura! Presumivelmente seria uma cidade de muitos níveis, com ruas superpostas umas às outras. João prossegue a fim de descrever seu «material». Os estudiosos dividem-se em literalistas e simbolistas. Alguém vê nisso uma cidade e materiais literais. Outros enxergam em cada item o símbolo de alguma realidade espiritual que nada tem a ver com a substância física.

 Uma Jerusalém restaurada com seu templo, etc., era uma expectação messiânica e judaica (ver Is 54-55; Ez 40-48; Oráculos Sibilinos5:423-426; II Baruque 6:9). O Testamento de Daniel 5:12 prediz a restauração tanto do jardim do Éden como da cidade de Jerusalém. Alguns judeus supunham que haveria uma Jerusalém celestial e preexistente, que descria dos céus no dia do Messias (ver II Esdras13:36 e II Baruque 4:2-7). Em II Esdras há uma espécie de parábola de ensinamento místico, na qual uma mulher lamenta por seu filho morto. Ela é a antiga Jerusalém, a chorar seu filho (os habitantes de Jerusalém), destruído pelos romanos. Subitamente, a mulher é tomada de alegria triunfante, resplandecendo de luz; a terra estremece e ela desaparece, deixando em seu lugar a Jerusalém celestial. A literatura apocalíptica, por igual modo, desenvolve uma doutrina da Nova Jerusalém; e em alguns pontos, tal como se vê neste livro, trata-se de algo celestial, pertencente à era eterna, e não ao antigo sistema mundano. A antiga Jerusalém será suficientemente boa para o milênio; mas, para o estado eterno, terá de haver uma nova e celestial Jerusalém, o lar dos justos. Os trechos de I Enoque 90:28,29; II Esdras 7:26 e 8:52 contam a história dessa expectação. Assim, no neo-hebraico Apocalipse de Elias, tanto um novo Éden como uma Nova Jerusalém caracterizarão a bem-aventurança da nova era. Ambos descerão dos céus, tal como no Apocalipse. Lembremo-nos de que os rabinos compartilhavam da noção platônica de como as esferas celestiais ou espirituais são os «arquétipos» de tudo quanto existe na terra, como paralelos celestes, e segundo o molde dos quais as coisas terrenas foram criadas como imitações. Assim, todas as coisas terrenas têm seus paralelos celestiais. Desse modo, a Jerusalém terrestre seria pequeno quadro de uma outra cidade, seu paralelo eterno. O estado eterno será a realidade, e não uma mera imitação.

 «...ataviada como noiva...» A Nova Jerusalém também é a «noiva» de Cristo. (Ver Ap 19:7-10 quanto às «bodas do Cordeiro». Ver Ef 5:23 acerca do manuseio teológico desse símbolo). Ali há comunhão, amor e partilha íntima. Em Gl 4:26, o apóstolo Paulo personifica a cidade celestial como mãe do verdadeiro Israel. Isso pode ser contrastado com a personificação de Roma como a «meretriz». Agora, Jerusalém, a pura, a santa e a eterna, toma conta da cena, da qual desaparecera Roma, a prostituta.

 A promessa feita aos mártires. Lembremo-nos que o Apocalipse foi escrito para consolar e fortalecer aos mártires cristãos. O fato que eles estarão e habitarão na Nova Jerusalém, talvez seja a promessa e o consolo finais deste livro. A própria morte será extinta, e os santos, ainda que tenham sido mortos violentamente, às mãos de homens ímpios e desvairados, triunfarão finalmente. Quão grande será o triunfo dos santos!

 A Noiva foi ataviada e agora é digna do Noivo. Está adornada com a santidade de Deus, a qual foi duplicada nela (ver Mt 5:48); também está adornada com a natureza divina (ver II Pe 1:4), pelo que é digna de ser a Noiva de Cristo; e está adornada com toda a plenitude de Deus, participando de seus atributos (ver Ef 3:19 e Cl 2:10). A própria cidade está adornada (o que é frisado aqui); mas seus habitantes também estão adornados (o que é enfatizado em Ap 21:9 e ss).

 

Outras ideias sobre o segundo versículo: 

1.      «Uma noiva». (Comparar com Is 61:10 e 62:5)

 

2.      Trata-se de uma «cidade santa». Todos os males que corromperam os antigos céus e a antiga terra, e que exigiram, finalmente, sua própria extinção, agora já não existem. Somente a santidade agora habita ali. (Ver Hb 12:14, que ensina que sem a santificação ninguém verá a Deus). A noiva participará a santidade do próprio Deus (ver Rm 3:21) como também de suas virtudes morais positivas (ver Mt 5:48). E, por causa disso, possuirá a própria natureza metafísica de Cristo (ver II Co 3:18). 

3.      «Não haverá mais apenas um paraíso, como no Éden (embora também haverá isso; ver Ap 2:7) um mero jardim, mas agora haverá a ‘cidade de Deus', muito mais valiosa e imponente, que exigiu um labor muito mais vasto que no caso de qualquer homem que cuidasse do jardim de Éden. As ‘pedras vivas’, com o tempo, foram laboriosamente moldadas, segundo o modelo da ‘principal pedra angular’, preparando-as para o lugar que preencherão para sempre na Jerusalém celestial». (Fausset, in loc.). Ele faz aqui alusão aos trechos de I Pe 2:5 e ss., e talvez também Ef 2:19 e ss.

 4.      «O Deus santo e bendito renovará o mundo e edificará Jerusalém, e a fará descer dos céus». (Midrash Hanaalem, Sohar, Gen. foi. 69, col. 271).

 5.      «A noiva aparecerá, a saber, a cidade que surgirá, e será vista aquela que agora está oculta da terra». (IV Esdras 6:26).

 6.      «A nova Jerusalém deverá descer da parte de Deus. O verdadeiro modelo, o único capaz de satisfazer aos mais elevados anelos do homem, é o padrão que houve no monte de Deus (ver At 7:44)» (Carpenter, in loc.).

 7.      A maior parte dos eruditos pensa que essa cidade é a «Noiva», ou seja, uma descrição da eterna bem-aventurança da igreja, não se tratando de qualquer coisa física. E isso significa que nenhuma «cidade» literal é antecipada pela maioria deles. Mas alguns, naturalmente, se opõem a tal interpretação. Suspeitamos que o vidente João tinha ambos os pontos de vista.

 21:3  E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homem, pois com ele habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.

 

«...ouvi...» Porquanto as visões místicas também podem ser audíveis. Por todo o Apocalipse há grandes vozes de anjos, que narram ahistória do juízo e da glória finais.

 «...grande voz...» Uma expressão comum neste livro, para chamar-nos a atenção. Ela é alta e forte, exigindo que ouçamos e aprendamos. (Ver Ap 1:10; 5:2; 6:10 e 7:2, quanto à mesma expressão). Algumas vezes está em foco a voz de um anjo, ou então de Cristo ou de Deus; e algumas vezes é uma voz não identificada, como aqui. Também há uma voz que sai do altar ou do trono, nos quais casos, como é óbvio, esses objetos são «personificados». (Ver Ap 16:7 quanto a isso). Em Ap 19:5 temos uma voz saída do «trono». A voz soa como um cântico de glória e de louvor. Isso pode ser contrastado ao lamento por causa da queda de Roma (ver Ap 18:21-24). Esse «hino» se alicerça principalmente sobre a fraseologia da A.T. (Ver Ez 37:27 quanto ao pano de fundo literário. Ver também Is 25:8, quanto a alguns dos detalhes aqui incluídos).

 «...trono...» (Quanto ao «trono» e seu simbolismo, ver Ap 4:2). A voz emana da autoridade máxima, investida do maior poder, a saber, o trono de Deus, onde o Senhor manifesta seu poder ilimitado. Portanto, o que aqui é dito deve ser veraz e inevitavelmente terá cumprimento.

 «...tabernáculo de Deus com os homens...» Assim como o antigo tabernáculo provia um meio para Deus manifestar-se entre os homens, embora de baixa qualidade espiritual, pois isso é tudo quanto os homens podem resistir enquanto são mortais, assim também agora, no estado eterno. Deus armará «tenda» entre os homens, de modo apropriado ao estado eterno e à pura imortalidade. O trecho de Ez 37:27diz: «O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo». Deus estabelecerá sua residência entre os homens, pois agora são seus filhos imortais e pertencem à sua família. Deus será imanente, em contraste com o era mortal, quando os pecados dos homens o forçaram a ser distantes.

 «...Deus mesmo...» Isso é o máximo do «teísmo». O teísmo ensina que Deus não somente criou a tudo, mas também mantém contato com este mundo, intervindo, recompensando e punindo. Já o deísmo, em contraste, apesar de admitir a existência de uma força criadora, ou mesmo de um criador, um ser pessoal, nega que ele tenha qualquer interesse por sua criação. Assim, não faria intervenção e nem castigaria ao mal (exceto através das leis naturais, que ele pôs em ordem), e nem recompensaria ao bem. O N.T. é um documento altamente teísta, e em ponto algum isso se destaca tanto quanto aqui.

 «...Eles serão povos de Deus...» Terão sido conduzidos à verdadeira imortalidade, como filhos em quem o Filho é duplicado, no tocante à sua natureza e atributos; e assim poderão habitar nas mais altas esferas de glória. Somente assim o homem poderá habitar na presença mesma de Deus. Naturalmente, a participação na natureza e nos atributos divinos sempre se manifestará de forma secundária no homem, e o processo, de crescimento espiritual é eterno. Já que há uma infinitude com que seremos cheios, deverá haver também um preenchimento infinito. Ef 3:19 mostra que existe essa infinitude.

 «Com notável franqueza é dito que a habitação de Deus está com os homens. A fim de que não haja engano, as palavras são repetidas: ‘Deus habitará com eles'. E então o pensamento é expresso em um verdadeiro clímax de esperança: ‘Eles serão povos de Deus’. E há outra repetição: ‘Deus mesmo estará com eles’. Quanto à plenitude e à propulsão de declaração, essa série de declarações dificilmente tem um paralelo nas Escrituras. Temos aqui o contraste final entre o cristianismo e o panteísmo. No panteísmo os homens são pelo menos visto como unidos em essência com o divino. No cristianismo são vistos em comunhão moral e espiritual com o divino. Os dois conceitos pertencem a dois mundos que nunca poderão conviver juntos harmoniosamente. No panteísmo desaparecem as distinções morais; no cristianismo são vistas como algo gloriosamente permanente. A comunhão moral e espiritual é a característica mesma do cumprimento celestial». (Hough, in loc.).

 Variante Textual: Ao invés de «trono», os mss P, 046 e a maioria dos manuscritos e versões dizem «céu». Porém, os manuscritos mais antigos apoiam a forma «trono», a saber, os mss Aleph, A, 94, A Vg, Irineu(lat), Ticônio, Ambrósio e Haimo. A forma «da parte do céu» parece ser uma assimilação com base no segundo versículo deste capítulo. (Quanto à «voz do céu», ver também Ap 10:4 e 14:2).

 

Outras ideias sobre o terceiro versículo: 

1.      A visão é recebida da parte do «antigo templo celestial», conforme se vê por todo o Apocalipse, e não do «novo céu». Pois no novo céu não haverá templo e nem sala do trono (ver Ap 21:22). Mas, naturalmente, há menção a um «trono», em Ap 22:1.

 

2.      O antigo «tabernáculo» tinha o shekinah de Deus ou resplendor divino; e na nova criação isso sucederá supremamente. O próprio tabernáculo fora construído de modo a permitir certa manifestação de Deus entre os homens. Mas isso será elevado a um alto nível de poder no estado eterno. Berach 17a fala de como os homens se deleitam na gloria da «shekinah». Quanto mais será o caso na manifestação celestial de Deus entre os homens.

 3.      Haverá um só rebanho e um só pastor (ver Jo 10:16) na forma mais elevada e idealista possível, no estado eterno, quando os homens se tornarem «povos de Deus». Haverá extrema alegria e comunhão, quando os homens se tornarem Noiva de Cristo.

 Variante Textual: A palavra povo, no singular, é a forma que aparece nos mss EP, na maioria dos manuscritos minúsculos e nas versões. Mas o plural é a forma que aparece em Aleph, A, 046 e 2053, o que é uma evidência objetiva um tanto mais forte. Com igual facilidade, os escribas teriam feito modificação para o singular ou para o plural, e as referências bíblicas ou o simples descuido poderiam explicar uma ou outra coisa Não há meio para determinar com certeza qual era a forma original, e nem isso se reveste de grande importância.

 4.      As palavras «Deus mesmo» refletem um uso enfático, salientando a glória da comunhão divina que haverá no estado eterno.

 5.      «Deus estará com eles» é a forma que se vê no ms A e em alguns poucos outros manuscritos. Mas os mss Aleph, 046 e a maioria dos manuscritos minúsculos adicionam «e (será) o Deus deles». Normalmente, a forma mais breve é a correta, porquanto seria muito mais natural que os escribas adornassem uma passagem, ao invés de abreviá-la. Contudo, a «adição» pode ter sido a forma original, descontinuada por algum escriba como uma declaração supérflua. Mas isso é menos provável.

 6.      «Deus é accessível, e os homens são consolados com eterno conforto. (Conferir Enoque 10:22)» (Moffatt, in loc.).

 7.      «Deus agora é realmente o Emanuel, tal como sucedera a Cristo (ver Mt 1:23)» (Robertson, in loc.). Emanuel significa «Deus conosco». (Ver também Jo 1:14, onde se lê sobre a encarnação de Deus, o que, de modo preliminar mas importante, possibilitou a presença de Deus conosco).

 8.      Notemos o progresso nessa «habitação». A principio era algo mais oculto e menos poderoso, no deserto, no tabernáculo original, através da «shekinah». Então se manifestou quando da encarnação do Filho de Deus, o que trouxe esperança para todos os homens. Finalmente, será uma presença pessoal.

 9.      Pode-se perceber que antigas promessas divinas serão cumpridas em tudo isso. (Ver Êx 29:45; Lv 26:11 e Ez 27:27).

 10. A promessa é feita aos mártires, com base na vitória ou derrota deles. Mas também se reveste de um aspecto universal, envolvendo a todos os remidos.

 21:4  Ela enxugará de seus olhas toda lagrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.

 

O pano de fundo literário deste trecho é Is 25:8. Aos mártires fora prometido (ver Ap 7:17) que Deus enxugaria de seus olhos toda a lágrima. A terra não tem tristeza que os céus não possam curar. (Ver as promessas feitas aos mártires, em Ap 7:15-17, algumas das quais são agora distintamente cumpridas). O Cordeiro aguarda sua noiva, recebe sua Nova Jerusalém e começa tudo de novo. Nenhummal terreno poderá apegar-se àqueles que agora estão glorificados e adornados nos lugares celestiais.

 O fim do choro. O poeta Virgílio entrevia lágrimas nas coisas. As lágrimas acompanham todos os atos dos homens. As lágrimas afloram-nos aos olhos pelas tristezas, pelos ideais perdidos ou frustrados, pelos defeitos e pelas vitórias que não foram obtidas. As lágrimas descem como a chuva, não menos abundantemente que as chuvas do céu. As lágrimas falam das fraquezas humanas, do desespero, da perversidade e do abuso. «A última tristeza traspassadora já foi experimentada, a última lágrima já foi derramada, pois as lágrimas humanas caem sobre o coração de Deus e ali produzem a tristeza. Mas essa tristeza será transformada em uma serenidade que redundará em uma dádiva aos homens, não deixando lugar para lágrimas». (Hough, in loc.).

 

Os mártires estão afeitos às lágrimas; seus familiares conhecem a dor da tragédia, a amargura da perversidade humana, a qual mata por um ideal pervertido. Mas no estado eterno não poderá haver nada disso.

 «...a morte já não existirá...» É-nos difícil aproximar da morte. Ficamos assustados ante a morte de algum amigo íntimo ou parente chegado. Nossa fé fraqueja na hora da perda, e perguntamos: «Se um homem morrer, viverá novamente?» Paulo respondeu a essa pergunta: «Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade... Tragada foi a morte pela vitória» (I Co 15:53-54). Nesta vida terrena, a morte põe ponto final a muitas histórias tristes. A morte abusa da fé e da esperança, e aparentemente é um fim para o amor. Mas o mérito humano aqui perdido tão-somente nos conduz a um mundo superior. Na grande cidade de Deus, não haverá mais cortejos fúnebres, nem viúva chorosa, nem criança atônita, a contemplar o rosto de sua mãe morta. Conta-se a história de um homem, mortalmente enfermo, que sabia que o fim estava próximo, e que então clamou: «Quero meu Pai celeste». Ele invocava a comunhão da era eterna, que ele podia ver mal a mal, a despeito do fato que a, dor lhe traspassava o corpo mortal. Paulo ensinou: «O último inimigo a ser destruído é a morte» (I Co 15:26). O Apocalipse (em 20:14) promete o fim do princípio da morte.

 «...não haverá mais luto...» Esse é o companheiro da morte, que se expressa por algum tempo, o espanto que se sente diante da morte, o desamparo que experimentamos na presença da mão temível da solene colhedeira. A palavra grega aqui usada é de sentido geral, que indica qualquer tristeza manifestada, mas, com frequência aponta para a lamentação pelos mortos.

 «A tristeza não atinge aos mortos» (Oedipus Coloneus, 955).

 

Sófocles fez essa observação estando em conforto. Mas a lição bíblica é maior: «A tristeza não atinge os verdadeiramente vivos».

 «Os mortos, sem lágrimas, se esquecem de suas dores». (Troades, 606).

 Eurípedes consolava. Mas a lição bíblica é maior: «Os verdadeiramente. vivos, sem lágrimas, se esquecem de suas dores».

 «...nem pranto...» Não haverá choro em altas vozes, por causa de tristeza ou dor. Trata-se de um vocábulo de profundo significado e paixão, de desespero, porquanto é o «clamor humano».

 «...nem dor...» O corpo mortal, a condição mortal está sujeita a mil dores. Ninguém está isento disso. A tristeza e a dor nos atinge a todos, finalmente, embora alguns escapem por mais tempo que outros. Mas não somente a dor é inevitável, mas inevitável também é a vitória final e a própria eliminação de toda a dor da criação.

 As almas dos homens «migram para o invisível e se põem a contemplar a Ele, sem jamais se cansarem, anelando por aquela beleza indizível e indescritível». (Plutarco, De Iside, 79).

 «...porque as primeiras cousas passaram...» Em outras palavras, tudo quanto tem algo a ver com a vida anterior, a vida da terra antiga, as coisas enumeradas saturavam aquela vida, mas pereceram com a destruição do mundo antigo, e o novo mundo não poderá admitir tais coisas.

 «Não haverá mais labor, nem tristeza, nem enfermidade, nem necessidade, nem ansiedade, nem noite, nem trevas, mas uma grande luz». (Enoque Eslavo 56:9).

 «As promessas do A.T. se cumprem; Deu torna-se accessível, e os homens são consolados com consolo eterno». (Moffatt, in loc.).

 Outras ideias sobre o quarto versículo:

 1.      «Porque as primeiras coisas...são palavras que devem ser compreendidas em sentido enfático, como o primeiro homem (ver I Co 15:4)—o presente aeon. De acordo com a massa inteira das Santas Escrituras, o mundo está designado a ser uma sucessão de dois mundos». (Lange, in loc.).

 

2.      «O esplêndido cortejo de negativas surge como arautos de paz positiva da Nova Jerusalém; não haverá mar, nem lágrimas, nem morte, nem lamentação, nem pranto e nem dor; juntamente com as coisas anteriores, essas seis sombras desaparecerão da vida». (Carpenter, in loc.).

 21:5  E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.

 «...aquele que está assentado no trono...» Uma maneira indireta e bastante comum de referir-se a Deus, no Apocalipse. (Ver Ap 4:2,9,10; 5:1,7; 6:2; 19:4 e 20:11).

 «...Eis que faço novas todas as cousas...» Essa é a nota principal do capítulo: todas as coisas novas. (Ver Ap 21:1 sobre os novos céus e a nova terra; ver Ap 21:2 sobre a «nova Jerusalém»). O quarto versículo mostra que as coisas «antigas» devem ceder lugar à «nova» ordem; onde tudo será novo.

 «A era antiga de Satanás terá se acabado para sempre, juntamente com o próprio Satanás. A nova era de Deus terá sido, finalmente, estabelecida. Os pecadores terão sido devidamente castigados, tendo sido lançados no lago do fogo para sempre, ao mesmo tempo queos remidos haverão de desfrutar uma eternidade de bem-aventurança, na Nova Jerusalém, junto a Deus e ao Cordeiro. É estranho que Elias e Moisés, a mulher vestida do sol, os quatro seres viventes, os vinte e quatro anciãos e os exércitos celestiais (salvo um anjo-guia e doze guardas angelicais dos portões) não parecem participar das felicidades da nova era. Evidentemente seu papel está terminado, e nessas cenas finais do grande drama, todos foram esquecidos». (Rist, in loc.).

 Assim também, na consumação da Divina Comédia, de Dante, há a eterna novidade da rosa de amor e fogo, a perfeição da florescência, a beleza que transcende ao poder da linguagem.

 «...Escreve...» A ordem é de escrever, porque a revelação é importante. Seu sentido deve ser preservado e concretizado, porquanto devia ser distribuída entre as igrejas locais. João não recebeu nenhuma visão particular; não devia ser ocultada, e, sim revelada. Em apenas uma instância deste livro qualquer coisa dita é selada, em Ap 10:4. (Quanto à ordem de escrever, ver Ap 1:11,19; 2:1,8,13,18; 3:1,7,12,14; 10:13; 14:13 e 19:9).

 «...estas palavras são fiéis e verdadeiras... » Também já vimos essa expressão. Ela é usada como solene afirmativa da verdade do que foi declarado; e, na maioria dos casos, ela importa em consolo. (Ver Ap 3:14 e 19:11). Em ambas essas referências, o próprio Jesus tem esse titulo. Supomos, pois, que essas são palavras apoiadas pela veracidade e fidelidade de sua própria pessoa. (Ver Ap 19:9 e 22:6 naquilo que essas palavras se aplicam às «declarações»). O autor sagrado, pois, autentica importantes declarações dessa maneira. É bem possível que as palavras ditas aqui, apesar de se aplicarem especificamente ao que acabara de ser dito, também visem autenticar o livro inteiro, já que agora João nos está dando as últimas cenas de sua visão. Certamente o trecho de Ap 22:6 tem essa função.

 

Outras ideias sobre o quinto versículo:

 1.      «Essa é a primeira e única vez em que Deus se dirige ao vidente, ou, de fato (à parte de Ap 1:8), ao menos fala. O silêncio quase inquebrantável atribuído a Deus, no Apocalipse, corresponde à ideia egípcia da razão divina sem precisar de dizer palavras, mas a dirigir as coisas mortais para meio da retidão (ver Plutarco, de Iside, 75). Por isso é que a deidade era simbolizada pelo crocodilo, que se acreditava ser o único animal sem língua» (Moffatt, in loc.).

 2.      «Esta mensagem não foi dirigida a João (ver Ap 7:14; 17:7; 21:6 e 22:6) mas ao mundo inteiro dos abençoados. (Ver Is 43:18 e ss. quanto às palavras: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. A ideia dos novos céus e da nova terra figuram em Is 65:18; 66:22 e Sl 102:25 e ss.» (Robertson, in loc.).

 3.      «A verdade diz respeito à promessa dessas modificações; fidelidade ao cumprimento dessas promessas» (Adam Clarke, in loc.).

 Variante Textual. As palavras «me diz» figuram nos mss Aleph, P, 051, na maioria dos manuscritos minúsculos, no Si(pn), no Cop(sa,bo), no Ara e no Eti. Mas a forma mais simples, «...disse...», é a forma que aparece em A, 046 e em cerca de oitenta manuscritos minúsculos, como também no It(gig), na Vg, no Si(h) e nos escritos latinos de Irineu. Esta última forma é preferível, por ser a forma mais breve, não havendo razão por que o objeto indireto viesse a ser omitido, se fosse o original.

 21:6  Disse-me ainda: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o Ômega, o principio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida.

 Comparar com a expressão de Ap 16:17 quanto à expressão «Feito está!» embora esteja em foco uma questão muito diferente. Contudo, é uma das obras de Deus, levada a bom termo, que está em foco aqui. Deus tanto termina como aprova a sua obra, declarando:«Sucedeu!» Provavelmente o significado é «palavras tanto fiéis quanto verazes», as quais declaram que tudo será feito «novo» e agora se cumpre. Por conseguinte, tanto as obras como as palavras estão em foco. A declaração de Deus vale tanto como algo já feito, assegura-nos o profeta. Não podemos deixar de pensar em duas outras instâncias bíblicas acerca disso. A criação original foi terminada e aprovada. Deus disse: «Tudo é muito bom». A obra de redenção sobre a cruz também foi assinalada pelas palavras: «Está consumado». Tudo isso serve de prova de como Deus faz intervenção na história humana, visando seu aprimoramento, um fato do qual dependem nossa própria existência e nosso bem-estar. A «certeza» de que assim é e sempre será, nos é transmitida nas palavras seguintes: «Deus é o Alfa e o Ômega da criação, o iniciador e o consumador, o controlador, sustentador e guia de tudo. Nele tudo vive, se movimenta e tem seu ser». (Ver At 17:28).

 «...o Alfa e o Ômega...» Em Ap 1:8 esse título é dado a Deus. Em Ap 22:13 é aplicado a Cristo. Sua «interpretação», isto é, «o primeiro e o último», é usado como título de Cristo em Ap 1:17 e 2:8. Deus, por meio de Cristo é a «causa primária» de tudo, mas também é a «causa final». Nele tudo tem origem, material e espiritual, e nele tudo encontra realização e propósito, destino e cumprimento. (Ver Cl 1:16acerca da criação como algo feito «em Cristo», «por Cristo» e «para Cristo», no tocante a notas expositivas completas. Nas páginas do N.T., a vida eterna nunca consiste de mera sobrevivência da alma ante a morte biológica. Trata-se de uma «modalidade de vida», da participação na vida divina, segundo se vê em João 5:25,26 e 6:57. (Ver também II Pe 1:4, que fala da participação na divindade, e II Co 3:18, que fala sobre a transformação segundo a imagem de Cristo). Todas essas passagens bíblicas nos ensinam como Deus é o «Ômega» para nós. Nele existe a potencialidade de toda a vida e bem-estar. Nele também se acha o cumprimento desses objetivos. É claro, pois, que a nova criação é possível, porque as palavras que a predizem são «fiéis e verdadeiras».

 «...fonte da água da vida...» (Comparar com Ap 7:17). Os mártires e fiéis recebem a promessa do direito de participarem do «manancial da água viva». Naturalmente, esse é um ensinamento joanino, que ilustra a ligação entre o Apocalipse e o evangelho de João, se não mesmo uma só autoria. Ap 22:17 é trecho que repete esse simbolismo. (Comparar com João 4:10,11,13; 14 e 7:38, onde Jesus—e o Espírito Santo—aparecem como a «água viva»), A água mata a sede física, sendo algo absolutamente necessário para a vida. Assim também há uma água espiritual absolutamente necessária para a vida espiritual, e essa é mediada por meio de Cristo, em seu Santo Espírito. Este versículo, é óbvio, faz o Pai aparecer como o manancial primário da vida e da satisfação espirituais.

 Os apetites. Esses representam uma escala ascendente quanto ao valor e à necessidade. O homem pode viver sem satisfazer muitos de seus apetites. Mas alguns deles estão absolutamente vinculados ao sustento da própria vida, como é o caso da água e do alimento. Um homem pode viver sem alimentos durante quarenta dias, mas é impossível que ele resista sem água pelo mesmo tempo. Um homem pode tentar viver sem a realização espiritual de seu próprio ser em Deus, mas isso é impossível. A alma que não estiver centralizada em Deus terá de perecer, ainda que conserve, por algum tempo, uma semelhança de vida. Há uma sede pela eternidade e pelo Deus eterno. Deus é a vida, a beleza, a justiça e a bondade finais. A alma é atraída por essas qualidades e, finalmente, deverá repousar nelas, ou jamais terá descanso.

 

Outras ideias sobre o sexto versículo:

 1.      Quanto à «água da vida», ver Ap 7:17 e 22:1,17, passagens baseadas em Is 55:1. Deus dá «livremente» (ver Mt 10:8; Jo 4:10; Rm 3:24; At 8:20 e Ap 22:17).

 2.      Deus dá livremente. Essa é a lição moral a ser seguida: «...de graça recebestes, de graça dai» (Mt 10:8). A generosidade é uma qualidade divina, bem como uma obra do Espírito na vida da pessoa. A maioria esmagadora dos homens se mostra por demais egoísta e egocêntrica para dar livre e voluntariamente, quando dão e se dão.

 3.      Essa é uma «liberal promessa de santificação de todos os desejos espirituais, e as três ideias de consolo, refrigério eterno e comunhão divina são assim vinculadas, tal como em Ap 7:14-17. Com isso se pode comparar uma passagem em Filo, de migrat. Abr. 6. Essa promessa subentende o trecho de Is 44:3 e não Is 55:1, onde se lê que a sede é acompanhada pela prontidão e pela ansiedade de aceitar a bênção, que é gratuita (ver o sexto versículo.), plena e filial (ver o sétimo versículo). A sede de Deus se opõe à incredulidade e ao vicio, que a abafam, da mesma forma que a vida vitoriosa é contrastada com o espirito mesquinho, que procura evitar as dificuldades e exigências da fé. Mediante um toque raro (desde Ap 3:22) no Apocalipse, o crente individual é destacado. Usualmente o escritor se interessava pelo grupo em geral dos cristãos, mas aqui, tal como nos capítulos segundo e terceiro, o individualismo religioso segue devidamente à ideia da promessa pessoal e ao encorajamento individual (comparar com Ap 22:17) como algo que virá depois do juízo (ver Ap 22:11,12)» (Moffatt, in loc.).

 4.      Os rabinos concebiam a fonte da vida como algo que pertencia especificamente ao outro mundo. «Ele lhes mostrará a excelência da fonte do mundo futuro...» (Sanh. Aboth R. Nathan, cap. 31).

 21:7  Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será o meu filho.

 «...O vencedor...» Já vimos esse termo por várias vezes. (Ver Ap 2:7,11,17:26; 3:5,12,21). Em cada caso é prometida alguma bênção celeste ao perseverante, que obtém a vitória neste presente mundo mal. As promessas, como é claro, se dirigem especificamente aos «mártires», pois o Apocalipse foi escrito como «manual dos mártires», e do começo ao fim procura consolá-los e fortalecê-los.

 

«..herdará...» Por ser um dos «filhos» de Deus, conforme o versículo passa a dizer-nos. Ele receberá todas essas «coisas novas», todas as imensas bênçãos e as vantagens eternas prometidas no contexto. É claro que sua grande vitória e empreendimento terão lugar em seu próprio ser, na riqueza espiritual da sua transformação segundo a imagem e a natureza do próprio Cristo (ver II Co 3:18), na participação na «plenitude de Deus» (ver Ef 3:18 e Cl 2:10), e na própria natureza divina (ver II Pe 1:4). A consulta a essas referências e às respectivas notas expositivas darão ao leitor melhor compreensão sobre a imensidade de nossa salvação, o que transcende em muito às «coisas» que possamos vir a herdar.

 «...eu lhe serei Deus e ele me será filho...» Todas as bênçãos da salvação estão contidas na filiação. Já tivemos ocasião de frisar isso por repetidas vezes, neste comentário. Há uma comunidade da natureza divina (ver Hb 2:10 e ss.), de tal modo que um crente virá a participar da natureza e dos atributos de Deus, ainda que de maneira secundária ou finita, pois Deus é infinito. Contudo, o propósito é eterno e nunca poderá ser relaxado, pelo que haverá um enchimento eterno e infinito, por parte do infinito. (Ver Hb 2:3 quanto à «salvação»; e também Hb 8:29). Nossa predestinação tem por intuito levar-nos à participação na natureza e imagem do Filho. Somos Cristo em formação, pois Cristo está sendo duplicado em nós.

 A sede de Deus, pelo que é eterno, e que nos satisfará tão gratuitamente, será realizada quando da plena «filiação», conforme este versículo nos informa.

 Outras ideias sobre o sétimo versículo:

 1.      Comparar este versículo com João 1:12, acerca da promessa de plena «filiação».

 2.  No Apocalipse, essa é a única instância em que a bem-aventurança eterna é expressa em termos de «filiação»; mas em outros trechos do N.T., sobretudo nos escritos de Paulo, essa e a ideia comum, sendo o conceito realmente dominante de toda a salvação. A salvação é definida naquilo que significa ser um filho, um filho de Deus «conduzido à glória» (ver Hb 2:10).

 3.      «Filho de Deus» era um título assumido pelos imperadores romanos que requeriam adoração à sua pessoa. Era um título blasfemo e vão. Mas há uma promessa válida de que os homens tornar-se-ão autênticos filhos de Deus, uma bênção incomensurável. Os mártires fiéis recebem essa promessa, mas isso envolve todos os crentes de todas as eras. Não há como sobrestimar a grandeza dessa promessa. Esse é o alvo todo-consumidor da vida.

 4.      Quanto à promessa de filiação especial neste versículo, comparar com II Sm 7:14 (feita a Salomão) mais tarde e aplicada a Davi (ver Sl 89:26 e ss).

 5.      Guerra e conquista são ideias inerentes a este versículo. A vida é séria e deve ser vista como um campo de batalha, onde nos é exigido que sejamos soldados aptos bastante para «vencer». Há um conflito espiritual. E somente os espiritualmente fortes vencerão. Conquistamos pela fé em Cristo, em seu sangue, pela palavra de nosso testemunho (ver Ap 12:11 e I Jo 5:4). Há muitos inimigos espirituais.

 21:8  Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.

 O vidente João agora faz contraste entre os bem-aventurados, que herdarão a todas as coisas novas, e que «vencerão», com o resto da humanidade, que é permanentemente arrastada pela iniquidade, vivendo no vício e merecendo a eterna punição. Esses são seguidores de Satanás, e com justiça merecem sua sorte. Todos os vícios desta lista de algum modo estão relacionados ao «culto ao imperador», conforme se verá na exposição; mas, naturalmente, fornecem-nos uma excelente descrição sobre os viciados de todos os séculos. Era comum, nas escolas filosóficas de moral, entre os gregos, usar «listas de vícios» como meios de instrução, algo parecido ao uso dos dez mandamentos da cultura hebraica.

 «..covardes...» Sem dúvida é uma alusão aos «crentes acovardados», os quais, em tempo de tribulação, abandonam à fé e a Cristo, a fim de salvarem a pele. Nos dias de João, esses, subsequentemente, davam lealdade ao «culto ao imperador». A inclusão desse vocábulo nesta lista de vícios é cortante e solene. Faz-nos lembrar de como os homens falham, mesmo quando têm as melhores intenções. Faz-nos lembrar da grande agonia da perseguição pela qual passou a igreja, e prevê como os homens reagirão quando o anticristo começar sua maior de todas as perseguições religiosas. Nós, e especialmente nossos filhos, teremos de ser muito corajosos; de outra maneira, nós e eles nos tornaremos covardes. Haveremos de abjurar de Cristo, sob a perseguição?

 «...incrédulos...» Aqueles que se recusavam a crer na missão de Cristo e aceitá-la, preferindo elevar um mero homem ,à posição de divindade, adorando-o, tal como se dava no «culto ao imperador». Cristo é o fiel. (Ver Ap 1:5. Ver também Ap 2:10,13; 3:14; 17:14). Os verdadeiramente «fiéis» participarão de algo da natureza e dos atributos de Cristo; os demais serão os comprovadamente infiéis.

 «...abomináveis...» Aqueles que praticavam a idolatria e seus vícios acompanhantes. Todos aqueles eram maculados e contaminados pelas práticas do culto pagão.

 «...assassinos...» Aqueles que matavam aos cristãos, por ordem e em cooperação com as autoridades civis; aqueles que faziam mártires entre os cristãos. Este livro foi escrito para fortalecer e consolar. Jesus mostrou-nos que alguém pode tornar-se homicida, até mesmo sem matar a outrem (ver Mt 5:21,22).

 «...impuros...» Essa palavra alude a qualquer impureza sexual. Os cultos pagãos faziam da prostituição um meio de financiar aos templos e seus sacerdotes. Na época de Paulo, Corinto contava pelo menos com mil prostitutas religiosas profissionais. A cultura pagã estava permeada de vícios sexuais de toda a espécie, e as sociedades modernas não têm melhorado quanto a isso, exceto que poucas religiões a tornam oficial como parte de seu culto. «Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação...» (I Ts 4:3). Essas palavras foram escritas dentro do conceito dos vícios sexuais. Nas listas de vícios que indicam distorções sexuais, estas são numerosas e predominantes. (Ver, por exemplo, Ap 3:5). Entre as «obras da carne», vários vícios sexuais aparecem em Gl 5:19, os quais encabeçam a lista. O vocábulo que figura neste texto aparece em primeiro lugar naquela lista. (Ver também Ap 22:15).

 «...feiticeiros...» Isso vem de um termo grego que significa «droga», porque as drogas desempenhavam papel importante na feitiçaria. (VerAp 9:21 e 18:23). O «culto ao imperador» era promovido pelas artes da magia negra.

 «...idólatras...» O culto ao imperador era a forma mais vil de idolatria, já que elevava um homem à posição de divindade, adorando-o como tal. Nos últimos dias, o anticristo será assim adorado. (Ver Ap 13:4). (Ver a «idolatria» na lista de vícios em Gl 5:20, e em Cl 3:5. Comparar também com At 17:16 e I Co 10:14).

 «...mentirosos...» (Contra a «mentira» e a «desonestidade», ver Cl 3:9). O «culto ao imperador» era uma mentira satânica, e a futura adoração ao anticristo será forte ilusão e grande mentira (ver II Ts 2:9-11). Crê-se em uma «mentira» quando se repele a «verdade» que há em Cristo, conforme aquela passagem nos informa, «...os mentirosos são aqueles que negam a Cristo. Mediante sua conduta, tornam-se completamente diferentes dos mártires, e merecem a sorte que os atingiu». (Rist, in loc.).

 «...lago... fogo...» Quanto ao «lago do fogo», antes descrito como o destino dos ímpios, ver em Ap 19:20. Essa será a herança dos iníquos, ao invés dos novos e benditos céus, o lar dos justos.

 «...a segunda morte...» Aqui, tal como em Ap 20:15, o lago do fogo é definido como a «segunda morte». (Ver também Ap 2:11 quanto a essa expressão).

 Outras ideias sobre o oitavo versículo: 

1.      Este versículo apresenta o lado reverso do quadro. O autor sagrado vinha se concentrando em apresentar a bem-aventurança da eternidade. Mas agora ele faz uma digressão a fim de mostrar que nem todos participam disso. Alguns estão perdidos, e terrível é o seu estado. (Ver Ap 14:11 sobre o «julgamento divino»), Isso importa em uma perda infinita, sem importar o que pensemos que Deus fará, em favor dos perdidos, a fim de conferir-lhes algum propósito em Cristo, em sua existência.

 2.      Este versículo tem como sua função mais importante o propósito de mostrar que os perdidos merecem sua sorte, pois consideremos o tipo de pessoas que elas são.

 3.      Não há qualquer referência aos «pecados de omissão», à falta de justiça, gentileza, benevolência, misericórdia e amor, por causa dos quais pecados os homens também serão condenados com justiça. O autor sagrado contenta-se em descrever os atos mais desabridos dos pecadores, suficientes para condená-los.

 4.      «Esses se desvencilharam do reino de Deus» (Charles, in loc.).

 5.      Notemos a forte ênfase, dada no Apocalipse, ao pecado da mentira, embora isso sempre esteja tão em voga na sociedade. (Ver também Ap 2:2; 3:9; 14:5; 21:8,27 e 22:15). A mentira nunca é «pequena» ou leve, pelo menos biblicamente falando, sem importar o que os homens pensem.

 FONTE Bibliografia R. N. Champlin, comentário do novo testamento 2003