O valor da temperança 11
“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).
A Igreja de Cristo sempre primou pela temperança. A vida de seus membros tem de ser um eloquente protesto contra as inconsequências e vícios.
Jeremias utilizou vários métodos para apresentar a Palavra de Deus ao povo de Judá. Na lição de hoje veremos que ele usou uma tribo inteira para ensinar aos israelitas acerca da importância de se respeitar às ordenanças divinas. Os recabitas se recusavam a beber vinho, porque o patriarca da família havia determinado que seus descendentes não bebessem vinho de forma alguma (35.1-11). Os recabitas foram obedientes e demonstraram respeito às tradições de seus pais. Deus queria que o povo de Judá compreendesse que eles não estavam respeitando suas leis e ordenanças. Eles desobedeciam a Deus persistentemente e, por isso, seriam disciplinados. Se quisermos agradar ao Senhor, precisamos obedecer-Lhe. A obediência é uma prova do nosso amor ao Pai.
Legaram-nos os recabitas um exemplo tão marcante que, passados vinte e seis séculos, ainda nos inspiramos em seu equilíbrio e temperança. E Deus levou-lhes em conta a piedade. Quando da destruição de Jerusalém, o Senhor deu-lhes suas almas como despojo; foram preservados do mal enquanto os intemperantes e viciosos eram entregues à ruína.
O mundo está sendo destruído. Como estamos a nos comportar? Agimos como os recabitas? Ou nos chafurdamos nos vícios e prazeres mundanos? Neste domingo, ordena-nos o Senhor que visitemos a casa dos recabitas.
A ORIGEM DOS RECABITAS
O ESTILO DE VIDA DOS RECABITAS
Foi exatamente entre as trevas e as apostasias de Israel, que Jonadabe sentiu-se impulsionado a fundar uma sociedade que tinha por base a temperança, a modéstia, a frugalidade e, principalmente, o temor a Deus. Vejamos, pois, qual o seu estilo de vida.
Tem você vivido de maneira sóbria? Ou tem-se entregado aos vícios? Lembre-se: Deus há de julgar também nossa intemperança.
Ainda nos consideramos peregrinos do Senhor? Não podemos assimilar a cultura pecaminosa do presente século (Rm 12.1,2; Hb 11.13).
Eles se houveram com denodo e zelo em relação às tradições dos ancestrais. E, quantas vezes, nós, ignorante e tolamente, não buscamos destruir tudo o que nos legaram os antigos? As tradições que têm como alvo a pureza do corpo de Cristo e a integridade moral dos filhos de Deus têm de ser mantidas: “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Ts 2.15). Sobre o assunto, pronuncia-se o conceituadíssimo comentarista Warren W. Wiersbe: “A tradição humana não é necessariamente má, a não ser que contradiga ou se arvore para substituir a Palavra de Deus”.
Tem você guardado as recomendações de seus pais? Ou acha que o conselho dos antigos é algo que pode ser descartado em nome de uma modernidade duvidosa e perversa?
O EXEMPLO DOS RECABITAS
A fim de realçar a fidelidade dos recabitas, o profeta os conduz ao Santo Templo. E, aqui, na câmara de Hanã, oferece-lhes taças cheias de vinho, e ordena-lhes que o bebam. Mas o chefe do clã de Recabe, recusa-se a fazê-lo. Com esta demonstração de indômita coragem,Jazanias, o maioral dos recabitas, deixa bem patente a todos, principalmente aos ministros do altar, porque eles não se davam ao vinho.
O interessante é que o vinho fora posto diante dos recabitas exatamente no interior da Casa de Deus. E os sacerdotes, pelo que inferimos do texto, achavam-se tão presos aos vícios quanto o povo. Os levitas não mais primavam pela temperança! Sem o perceber,estavam comprometendo todo o seu ministério.
Você é conhecido pela temperança? Pelo autocontrole? Ou já não liga mais para a sobriedade? Não são poucos os que se acham destruídos pelas bebidas alcoólicas e por outros vícios, hábitos e costumes igualmente nocivos. Não abra nenhum precedente. Não se deixe contaminar seja pelo ambiente social seja pela herança cultural. Lembre-se: Noé e Ló eram muito mais piedosos e firmes do que nós. Todavia, induzidos pelo vinho, portaram-se inconvenientemente.
CONCLUINDO
Estamos nos últimos dias. O momento requer sobriedade e vigilância. À semelhança dos recabitas, primemos pela excelência das virtudes cristãs. Caso contrário: seremos tidos como profanos quando da volta do Senhor Jesus.
E que jamais nos esqueçamos: a Igreja de Cristo tem um forte compromisso com a temperança, com a sobriedade, com a prudência, com os bons costumes e com a excelência moral tanto de seus membros quanto dos que a cercam. Afinal, somos a luz do mundo e o sal da terra (Mt 5.13-16; Ef 5.8-13).
Para evitar alguns vícios medite em:
Dn 1.5-9; 6.4 Como deve o servo de Deus andar
Gn 9.20-22 O vício traz a vergonha
Gn 19.31-38 O vício leva à devassidão
Pv 31.4,5 O vício não convém aos nobres
Dn 5.23 O vício leva a blasfêmia
Rm 14.21 O vício leva ao escândalo
“O pai de Jonadabe e fundador da família dos recabitas Recabe pode ter sido de uma das famílias de queneus que entraram na Palestina com os israelitas (1 Cr 2.55). Nos dias do reino dividido, Recabe determinou que a causa da apostasia e da imoralidade do povo era a cultura palestina, e comandou seus filhos a voltarem ao seu antigo modo nômade de vida com toda sua simplicidade. Nos dias de Jeú, Jonadabe, o líder dos recabitas, auxiliou aquele rei em sua destruição ao culto a Baal (2 Rs 10.15,23). Nos dias de Jeremias, o profeta usou os recabitas como uma lição objetiva. Ele os levou até a Casa do Senhor, e lhes ofereceu vinho. Eles recusaram por causa de sua lealdade para com o seu ancestral. Jeremias usou a fidelidade deles como uma censura à infidelidade de Israel para com o Senhor. Por causa de sua fidelidade, o Senhor lhes prometeu: ‘Nunca faltará varão... que assista perante a minha face todos os dias’ (Jr 35.19). Diz-se que Rab Judah registrou que as filhas recabitas se casaram com os levitas, e assim esta linda promessa foi cumprida. Hegessippus disse que ‘sacerdotes recabitas’ intercederam por Tiago, o irmão do Senhor Jesus Cristo, mas não conseguiram salvar sua vida.
Malquias, o ‘filho de Recabe’, reparou a Porta do Monturo de Jerusalém sob o governo de Neemias (Ne 3.14). Ele pode ter sido o líder dos recabitas depois do exílio”. (Wycliffe Dicionário Bíblico. 1.ed. RJ: CPAD, 2006, p.1653)
O Senhor Jesus advertiu seus discípulos contra a embriaguez, a fim de que não fossem considerados despreparados para se encontrar com Ele na ocasião de sua volta (Lc 21.34). Paulo repreendeu severamente os cristãos coríntios por beberem em excesso na Ceia do Senhor (1 Co 11.20,21), e advertiu os crentes de Roma em relação à embriaguez (Rm 13.13). Ele ensinou sem rodeios que a continuidade no alcoolismo impede as pessoas de entrarem no reino de Deus (1 Co 6.9-11; Gl 5.21). Sua advertência é clara e direta. ‘Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda [ou dissolução]’ (Ef 5.18)” (Wycliffe Dicionário Bíblico. 1.ed. RJ: CPAD, 2006, p.638).
Bibliografia Claudionor de Andrade,comentário de efésios,cpad,2010
A justiça do cristão:
Fidelidade no casamento e honestidade nas palavras Mt 5:31-37
A terceira antítese (sobre o divórcio) é uma sequência natural da segunda (sobre o adultério). Pois, em determinadas circunstâncias, Jesus diz agora, um novo casamento de uma pessoa divorciada, ou com uma pessoa divorciada, é equivalente a adultério. Esta terceira antítese é essencialmente um chamamento à fidelidade matrimonial.
Confesso minha relutância básica em tentar fazer a exposição destes versículos. Parcialmente porque o divórcio é um assunto complexo e controvertido, mas muito mais porque é um assunto que afeta profundamente as emoções das pessoas. Pode-se dizer que talvez não haja infelicidade tão pungente quanto a de um casamento infeliz. Talvez não haja tragédia maior que a degeneração, numa separação de amargura, discórdia e desespero, do relacionamento que Deus pretendia que fosse cheio de amor e satisfação. Embora eu creia que o caminho divino, em muitos casos, não é o divórcio, espero escrever com sensibilidade, pois conheço a dor de muitos e não desejo contribuir ainda para o seu desespero. Mas, como estou convencido de que o ensinamento de Jesus sobre este assunto, como sobre qualquer outro, é bom, intrinsecamente bom, tanto para cada indivíduo como para a sociedade, encho-me de coragem para escrever.
Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 32Eu, porém, vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de adultério, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada, comete adultério.
Estes dois versículos dificilmente poderiam ser considerados como a totalidade das instruções dadas por nosso Senhor a respeito do divórcio, ali no monte. Parece serem um sumário abreviado dos seus ensinamentos, dos quais Mateus registra uma versão mais completa no capítulo 19. É melhor reunir as duas passagens para interpretar a mais curta à luz da mais longa. Foi assim que, mais tarde, aconteceu o debate de Cristo com os fariseus:
19:3 Vieram a ele alguns fariseus, e o experimentavam, perguntando: E lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?4Então respondeu ele: Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, 5e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? 6De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. 7Replicaram-lhe: Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar?8Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio. 9Eu, porém, vos digo: Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério.
Sabemos que havia uma controvérsia sobre o divórcio entre as duas escolas rabínicas rivais de Hillel e de Shammai. O Rabi Shammaiadotava uma linha rigorosa e ensinava, com base em Deuteronômio 24:1, que a única base para o divórcio era grave ofensa matrimonial, algo evidentemente "impróprio" ou "indecente". O Rabi Hillel, por outro lado, defendia um ponto de vista muito relaxado. Se é que podemos confiar no historiador judeu Josefo, esta era a atitude comum, pois ele aplicava a provisão mosaica a um homem que "deseja divorciar-se de sua esposa por qualquer motivo". Do mesmo modo, Hillel, argumentando que a base para o divórcio era alguma coisa "imprópria", interpretava este termo da maneira mais ampla possível para incluir as mais triviais ofensas de uma esposa. Se ela se ordem de toda a passagem; naturalmente não há ordem alguma para o marido divorciar-se de sua esposa, nem qualquer incentivo para que o faça. Tudo o que temos, por outro lado, é uma referência a certos procedimentos necessários se o divórcio acontecer; e, consequentemente, uma permissão muito relutante fica implícita e uma prática costumeira é tolerada.
Como, então, Jesus respondeu à pergunta dos fariseus sobre a regulamentação de Moisés? Ele a atribuiu à dureza dos corações das pessoas. Fazendo assim, não negou que a regulamentação vinha de Deus. Deu a entender, entretanto, que não era uma instrução divina, mas apenas uma concessão de Deus por causa da fraqueza humana. Foi por isso que "Moisés vos permitiu repudiar . . .", disse ele (v. 8). Mas, então, imediatamente referiu-se de novo ao propósito original de Deus, dizendo: "Entretanto, não foi assim desde o princípio." Assim, até mesmo a própria concessão divina era, em princípio, incoerente com a divina instituição.
Os fariseus tratavam o divórcio com leviandade; Jesus o considerou tão seriamente que, com uma única exceção, chamou a todo novo casamento depois do divórcio de adultério.
Esta foi a conclusão da sua discussão com os fariseus, e isto é o que se registrou no Sermão do Monte. Talvez seja conveniente ver os seus dois argumentos conjuntamente.
5:32 Eu porém, vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada, comete adultério. 19:9 Eu, porém, vos digo: Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério.
Parece que se presume que o divórcio levava ao novo casamento das partes divorciadas. Só esta presunção explica a declaração de que um homem que se divorcia de sua esposa sem motivo "a expõe a tornar-se adúltera". Sua ação teria tal resultado apenas se ela se casasse novamente. Além disso, uma separação sem divórcio — em termos legais, a mensa et toro (de mesa e cama) mas não a vinculo(dos laços matrimoniais) — é um arranjo moderno desconhecido no mundo antigo.
Considerando que Deus instituiu o casamento como uma união exclusiva e permanente, uma união que ele faz e que o homem não deve quebrar, Jesus chega à inevitável conclusão de que divorciar-se de um parceiro e casar-se com outro, ou casar-se com uma pessoa divorciada, é assumir um relacionamento proibido, adúltero, pois a pessoa, que conseguiu um divórcio aos olhos da lei humana, ainda está casada, aos olhos de Deus, com o seu primeiro parceiro.
Apenas uma única exceção foi feita a este princípio: exceto em caso de relações sexuais ilícitas (5:32) ou sendo por causa de relações sexuais ilícitas (19:9). A chamada "cláusula de exceção" é um enigma muito conhecido. Os comentaristas não são unânimes quanto à sua autenticidade ou quanto ao seu significado.
Em primeiro lugar, esta cláusula é autêntica. Eu gostaria de argumentar, como o fazem quase todos os comentaristas conservadores, que temos de aceitar esta cláusula não só como parte genuína do Evangelho de Mateus (pois nenhum manuscrito a omite), mas também como palavra autêntica de Jesus. O motivo por que muitos a rejeitaram, considerando-a como uma interpolação de Mateus, é que está ausente de passagens paralelas nos evangelhos de Marcos e Lucas. Mas Plummer estava certo quando taxou de "hipótese violenta" essa rejeição apressada da cláusula de exceção, considerando-a um acréscimo editorial. Parece muito mais provável que a sua ausência em Marcos e Lucas deve-se não à ignorância deles, mas por pressuporem que esta cláusula fosse assunto do conhecimento de todos. Afinal de contas, sob a lei mosaica o adultério era punido com a morte (embora a pena de morte para esta transgressão possivelmente tenha caído em desuso no tempo de Jesus) [Dt 22:22; Jo 8:1-11. G. E. Ladd escreve: "O Velho Testamento condenou o adultério com a penalidade de morte. O Novo Testamento diz que um adúltero deve ser considerado como morto, e a parte inocente fica livre dos seus votos matrimoniais como se o seu cônjuge estivesse morto" — The Gospel of the Kingdom, (Eerdmans, 1959) p. 85.]; portanto, ninguém teria duvidado que a infidelidade conjugai fosse motivo para o divórcio. Até mesmo os rabinos rivais, Shammaie Hillel, concordavam com isso. Só discordavam quanto à amplitude com que esta expressão "alguma coisa indecente" em Deuteronômio 24:1 poderia ser interpretada.
A segunda dúvida sobre a cláusula de exceção refere-se ao que significa por causa de relações sexuais ilícitas, conforme traduz a Edição Revista e Atualizada. A palavra grega é porneia. Normalmente é traduzida por "fornicação", indicando a imoralidade dos que não são casados, e frequentemente distingue-se de moicheia ("adultério"), a imoralidade dos casados. Por causa disto, alguns têm argumentado que a cláusula de exceção permite o divórcio no caso de descobrir-se algum pecado sexual pré-marital. Alguns acham que "a coisa indecente" de Deuteronômio 24:1 tem o mesmo significado. Mas a palavra grega não é bastante precisa para ficar assim limitada. Ponteia deriva de ponte, prostituta, sem especificar se esta é casada ou solteira. Também não especifica o estado civil do seu cliente. Mais ainda, foi usada na Septuaginta referindo-se à infidelidade de Israel, a esposa de Jeová, conforme exemplificado emGomer, esposa de Oséias (Os 1:2,3; 2:2,4.). Devemos, então, concordar com R. V. G. Tasker, que concluiu que ponteia é um "termo abrangente, incluindo adultério, fornicação e perversão sexual". Ao mesmo tempo, não temos liberdade de cair no extremo oposto e argumentar que ponteia abranja toda e qualquer ofensa que tenha de alguma forma até mesmo vaga, qualquer coisa a ver com o sexo. Isto seria praticamente o mesmo que igualar porneia com "incompatibilidade", e não temos apoio etimológico para isso. Não; porneiasignifica "falta de castidade", algum ato de imoralidade sexual física.
O que, então, Jesus ensinou? N. B. Stonehouse oferece uma boa paráfrase da primeira parte da antítese do Sermão do Monte: "Vocês ouviram a apelação dos mestres judeus sobre Deuteronômio 24:1, com a intenção de consubstanciar uma prática que permita aos maridos divorciar-se, livremente e a seu bel-prazer, de suas esposas, fornecendo-lhes simplesmente um estúpido documento legal de transação." "Mas eu digo a vocês", continuou Jesus, que tal comportamento irresponsável da parte do marido fará com que ele, sua esposa e os novos parceiros tenham uniões que não constituem casamentos, mas adultérios. Neste princípio geral, temos uma exceção. A única situação em que o divórcio e o novo casamento são possíveis sem transgredir o sétimo mandamento é quando o casamento já foi quebrado por algum sério pecado sexual. Neste caso, e só neste caso, Jesus parece ter ensinado que o divórcio seria permissível, ou pelo menos poderia ser obtido sem que a parte inocente adquirisse mais tarde o estigma do adultério. A tendência moderna dos países ocidentais de estruturar a legislação para o divórcio com base, antes, na "separação irrecuperável" ou "morte" do casamento e não na "ofensa matrimonial" precisa de leis melhores e mais justas; não se pode dizer que seja compatível com os ensinamentos de Jesus.
Não obstante, o assunto não pode ser abandonado aqui, pois esta relutante permissão de Jesus continua precisando ser considerada pelo que é, a saber, uma acomodação sustentada por causa da dureza dos corações humanos. Além disso, deve-se sempre ler no contexto imediato (o endosso enfático de Cristo à permanência do casamento no propósito de Deus) e também no contexto mais amplo do Sermão do Monte e de toda a Bíblia, que proclama um evangelho de reconciliação. Não significa muito o fato de que o Amante Divino estivesse sempre pronto a atrair novamente Israel, sua esposa adúltera? (Jr 2:1; 3:1; 4:1; Os 2:1-23.) Portanto, que ninguém comece uma discussão sobre este assunto, indagando sobre a legitimidade do divórcio. Estar preocupado com os motivos para o divórcio é ser culpado daquele mesmo farisaísmo que Jesus condenou. Toda a sua ênfase na discussão com os rabinos foi positiva, isto é, foi colocada sobre a instituição original divina do casamento como um relacionamento exclusivo e permanente, no qual Deus junta duas pessoas numa união que nenhum homem pode interromper; e (é preciso acrescentar) ele enfatizou a sua ordem dada a seus seguidores para amarem-se e se perdoarem uns aos outros, e para serem pacificadores em cada situação de luta e discórdia. Crisóstomo reuniu, adequadamente, esta passagem às bem-aventuranças e comentou em sua homília: "Pois aquele que é manso, pacificador, humilde de espírito e misericordioso, como poderia repudiar sua esposa?
Aquele que está acostumado a reconciliar os outros, como poderia discordar daquela que é a sua própria carne?” Com este ideal, propósito e chamamento divinos, o divórcio só pode ser considerado uma trágica deterioração.
Portanto, falando pessoalmente como pastor cristão, sempre que alguém me pede para conversar sobre o divórcio, já há alguns anos me recuso firmemente a fazê-lo. Adotei como regra não falar com ninguém sobre o divórcio, sem antes falar sobre dois outros assuntos, isto é, casamento e reconciliação. Às vezes, uma discussão destes tópicos torna desnecessária a outra. Finalmente, apenas depois de se ter compreendido e aceitado o ponto de vista divino do casamento e o chamamento divino à reconciliação, é que há a possibilidade de se criar um contexto dentro do qual se possa falar com pesar sobre o divórcio. Acho que este princípio de prioridades pastorais é coerente com os ensinamentos de Jesus.
Os rabinos não só pendiam para a permissividade em sua atitude para com o divórcio, mas também eram permissivos em seus ensinamentos sobre o juramento. É outro exemplo de como se desviaram das Escrituras do Velho Testamento, a fim de as tornarem mais fáceis de serem obedecidas. Precisamos primeiro examinar a lei mosaica, depois a distorção farisaica e, finalmente, as verdadeiras aplicações da lei sobre as quais Jesus insistiu.
Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos.
Esta não é uma citação exata de nenhuma lei de Moisés. Ao mesmo tempo, não se trata de um resumo impreciso de diversos preceitos do Velho Testamento, de preceitos que exigem das pessoas o cumprimento dos votos que fizeram. E tais votos são, estritamente falando, "juramentos" nos quais a pessoa invoca a Deus como testemunha do seu voto para puni-lo se não o cumprir. Moisés frequentemente parecia enfatizar o perigo do juramento falso e o dever de cumprir os votos feitos ao Senhor. Eis alguns exemplos:
"Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão" (Ex. 20:7, o terceiro mandamento). "Não jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus" (Lv 19:12). "Quando um homem fizer voto ao Senhor, . . . não violará a sua palavra'' (Nm 30:2). "Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo" (Dt 23:21).
Até mesmo uma leitura superficial destes mandamentos torna clara a sua intenção. Proíbem o juramento falso ou perjúrio, isto é, fazer um voto e, depois, quebrá-lo.
Mas os fariseus casuístas trabalhavam sobre estas proibições incômodas e tentavam limitá-las. Afastavam a atenção das pessoas do voto propriamente dito e da necessidade de cumpri-lo, destacando a fórmula usada no voto. Argumentavam que o que a lei realmente proibia não era tomar o nome do Senhor em vão, mas tomar o nome do Senhor em vão. "Jurar falsamente", eles concluíram, significava profanação (um uso profano do nome divino), não perjúrio (empenhar a palavra desonestamente). Por isso, desenvolveram regras elaboradas para fazer votos. Fizeram listas de quais fórmulas eram permissíveis, e acrescentaram que apenas aquelas fórmulas que incluíam o nome de Deus tornavam o voto obrigatório. Ninguém precisa ser tão cuidadoso, diziam, sobre a guarda de votos nos quais o nome de Deus não fora usado.
Jesus expressou o seu desprezo por esse tipo de sofisticaria num dos "ais" contra os fariseus ("guias cegos", ele os chamou) que Mateus registrou mais tarde (23:16-22):
Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou. 17Insensatos e cegos! Pois, qual é maior: o ouro, ou o santuário que santifica o ouro? 16E dizeis: Quem jurar pelo altar, isso é nada; quem, porém, jurar pela oferta que está sobre o altar, fica obrigado pelo que jurou. 19Cegos! Pois, qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? 20Portanto, quem jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está. 21Quem jurar pelo santuário, jura por ele e por aquele que nele habita; 22e quem jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que no trono está sentado.
Os ensinamentos de nosso Senhor no Sermão do Monte são semelhantes. A segunda parte de sua antítese, na qual ele apresenta os seus ensinamentos em oposição aos dos rabinos, diz o seguinte::34 Eu, porém, vos digo: De modo algum jureis: Nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 35nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.37Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar, vem do maligno.
Ele começa argumentando que a pergunta sobre a fórmula usada para se fazer votos é totalmente irrelevante e, particularmente, que a diferença feita pelos fariseus entre a fórmula que menciona Deus e aquelas que não o mencionam é inteiramente artificial. Contudo, por mais que vocês tentem, disse Jesus, não podem evitar alguma referência a Deus, pois o mundo todo é mundo de Deus e vocês não O podem eliminar, de modo algum. Se vocês jurarem pelo "céu", é o trono de Deus; se pela "terra", é o estrado dos seus pés; se por "Jerusalém", é a sua cidade, cidade do grande Rei. Se vocês jurarem por sua cabeça, na verdade é sua no sentido de não pertencer a qualquer outra pessoa, mas ainda assim é criação de Deus e está sob o seu controle. Você não pode sequer mudar a cor natural de um simples fio de cabelo, preto na juventude e branco na velhice.
Portanto, sendo irrelevante o enunciado preciso de uma fórmula para fazer votos, então a preocupação com as fórmulas não é ponto importante da lei. Na verdade, considerando que todo aquele que faz um voto deve cumpri-lo (seja qual for a fórmula usada para sua confirmação), falando estritamente todas as fórmulas são supérfluas, pois a fórmula nada acrescenta à solenidade do voto. Um voto é obrigatório, independentemente da fórmula utilizada. Sendo assim, a verdadeira implicação da lei é que devemos cumprir as nossas promessas e ser pessoas de palavra. Então os votos se tornam desnecessários. De modo algum jureis (v. 34), seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não (v. 37). Como diria mais tarde o apóstolo Tiago: "Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não (Tg5:12.)." E o que disto passar, Jesus acrescentou, vem do maligno, tanto da maldade dos nossos corações com o seu grande engano, como do maligno, que Jesus descreveu como "mentiroso e pai da mentira (Jo 8:44.)". Assim como o divórcio é devido à dureza do coração humano, os juramentos se devem à falsidade humana. Ambos foram permitidos por lei; nenhum foi ordenado (cf. Dt 23:22); nem seriam necessários.
Duas perguntas podem surgir em nossas mentes, a esta altura. Primeira, se os juramentos são proibidos, por que Deus mesmo usou juramentos nas Escrituras? Por que, por exemplo, ele disse a Abraão: "Jurei por mim mesmo . . . que deveras te abençoarei .. ."? (Gn22:16,17. cf. Hb 6:13-18.). A isto creio que devemos responder que o propósito dos votos divinos não foi aumentar a sua credibilidade (considerando que 'Deus não é homem para que minta') [Nm 23:19.], mas sim despertar e confirmar a nossa fé. A falha que levou Deus a condescender com o nível humano não se deve a qualquer falsidade da parte dele, mas da nossa incredulidade.
Em segundo lugar, se os juramentos ficam proibidos, esta proibição é absoluta? Por exemplo, deveriam os cristãos, a fim de sercoerentes em sua obediência, abster-se de jurar em alguma declaração juramentada diante de um oficial da justiça, e testemunhar sob juramento num tribunal legal? Os anabatistas adotavam esta linha de comportamento, no século dezesseis, e a maioria dos quakersainda o faz hoje em dia. Embora admiremos o seu desejo de não transigir, surge a questão: tal interpretação não é excessivamente literal? Afinal nem mesmo Jesus, Mateus registra mais tarde, se recusou a responder quando o principal dos sacerdotes o colocou sob juramento, dizendo: "Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus." Jesus confessou que era e que, mais tarde, eles o veriam entronizado à direita de Deus (Mt 26:63, 64.). O que Jesus enfatizou em seus ensinamentos foi que os homens honestos não precisam recorrer a juramentos; não que eles devam recusar-se a prestar juramento, se tal coisa for exigida por alguma autoridade externa.
A aplicação moderna não é difícil de se achar, pois os ensinamentos de Jesus são eternos. Jurar (isto é, assumir votos) é realmente uma confissão patética de nossa própria desonestidade. Por que achamos necessário introduzir nossas promessas com alguma fórmula tremenda: "eu juro pelo arcanjo Gabriel e todo o exército dos céus", ou "eu juro pela Santa Bíblia"? O único motivo é que sabemos que as nossas simples palavras não são dignas de crédito. Por isso, tentamos induzir as pessoas a acreditarem em nós, acrescentando um juramento solene. Interessante é notar que os essênios (uma seita judaica contemporânea de Jesus) tinham altos padrões neste ponto. Josefo escreveu sobre eles: "São conhecidos pela fidelidade e são ministros da paz. Qualquer coisa que digam é mais firme que um juramento. Mas eles evitam o juramento e o consideram pior que o perjúrio, pois dizem que aquele em quem não se pode crer sem (jurar por) Deus, já está condenado." O mesmo acontece com todas as formas de exagero, hipérboles e o uso de superlativos. Nós não nos contentamos em dizer que passamos horas agradáveis; temos de descrevê-las como "fantásticas" ou "fabulosas" ou até mesmo "fantabulosas" ou qualquer outra invenção. Mas quanto mais recorremos a tais expressões, mais desvalorizamos a linguagem e as promessas humanas. Os cristãos deveriam dizer o que pretendem e pretender o que dizem. Nosso "sim" e "não" sem adornos deveria ser o suficiente. E quando um monossílabo é suficiente, por que perder tempo e fôlego acrescentando algo mais?