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estudo e comentario de 1 Timótio (parte n.4)
estudo e comentario de 1 Timótio (parte n.4)

 

                   ESTUDO E COMENTARIO DE 1 TIMÓTIO PARTE N.4

 

A HONRA DEVIDA AO PASTOR (5.17-25) 

1. Recompensa Adequada pelo Serviço Fiel (5.17,18)

 

As palavras "anciãos" (1) e presbíteros (17; aqui quer dizer "pastores", cf. BV) são tradução da mesma palavra grega; os significados, embora distintos, estão correlacionados. No versículo 1, significa os membros mais idosos da congregação; mas aqui diz respeito aos indivíduos separados para a obra do ministério: Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina (17). Há comentaristas que entendem que este versículo antecipa a distinção entre "pastores" que governam e "pastores que ensinam", que é a prática em certas igrejas reformadas. Mas isso é improvável, quando lem­bramos que Paulo já havia declarado especificamente que todo bispo (ou pastor) tem de ser "apto para ensinar"(3.2).

O apóstolo está estipulando a Timóteo que o pastor que combina a capacidade de líder da igreja com o serviço fiel e talentoso como pregador e professor deve receber duplicada honra. É difícil acreditar que signifique "pagamento em dobro" (NTLH; cf. BAB, BJ, RA). Lógico que incluiu o aspecto monetário, como as observações adicionais de Paulo deixam claro; mas junto do honorário deve ser incluída a honra. Ainda não havia chegado o dia em que os ministros da igreja seriam totalmente sustentados. O costume que então vigorava era que os líderes da igreja se sustentassem, da mesma maneira que; o apóstolo o fazia. Na opinião de Paulo, o bom serviço merece reconhecimento e recompensa. Aquele cujo tempo era tomado quase todo pelo trabalho da igreja deveria receber maior compensação.

Paulo sustenta seu conselho com um argumento que lembra 1 Coríntios 9.9: Por­que diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário (18). A primeira destas passagens é um preceito do Antigo Testamento encontrado em Deuteronômio 15.4, e em sua situação original é unia ordenação humani­tária. Mas em outro texto Paulo argumenta que tem um significado mais profundo: "Porventura, tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós?" (1 Co 9.9,10). O apóstolo também cita outra passagem para a qual dá importância igual: Digno é o obreiro do seu salário. Esta é declaração de nosso Senhor registrada em Lucas 10.7. O fato surpreendente é que os estudiosos do Novo Testamento não conseguem achar evi­dências para provar que o Evangelho de Lucas tinha acesso geral quando estas palavras foram escritas. Alguns expositores, claro, concluem imediatamente que as Epístolas Pas­torais devem ter sido escritas muito depois que a data que lhes designamos. Mas o mais provável é que o Evangelho de Lucas fosse conhecido por Paulo e também por Timóteo. E. K. Simpson assume a posição, junto com B. B. Warfield, de que "temos aqui uma citação verbalmente exata do Evangelho de Lucas, tratada como porção integrante das Santas Escrituras". Nesta passagem, o apóstolo deixa clara sua opinião de que o serviço fiel e eficaz merece reconhecimento e remuneração adequada. É óbvio que a igreja come­çava a mudar rumando para um ministério assalariado.

 

2. Disciplina Justa e Imparcial (5.19-21)

 

Da remuneração adequada daqueles que servem bem a igreja, Paulo agora se dedica à questão de censurar os remissos. O versículo 19 é muito significativo: Não aceites acusação contra presbítero (aqui quer dizer "pastor", cf. BV), senão com duas ou três testemunhas. Aqui é citado um dos princípios mais básicos da jurisprudência ju­daica: "Uma só testemunha contra ninguém se levantará por qualquer iniqüidade ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que pecasse; pela boca de duas ou três testemu­nhas, se estabelecerá o negócio" (Dt 19.15). Nosso Senhor apela para este princípio legal em Mateus 18.16, e Paulo em 2 Coríntios 13.1. Se a igreja seguisse este princípio rigoro­samente, nenhum membro ou ministro jamais se tornariam vítima, de um indivíduo vin­gativo. Trata-se de um princípio que toda denominação responsável incorpora em seus procedimentos disciplinares.

O apóstolo vai mais a fundo no versículo 20: Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor. Se e quando a falta for comprovada pela boca de duas ou três testemunhas independentes, o culpado tem de sofrer as conseqüências do seu pecado, por mais dolorosas e humilhantes que sejam. O pecado não pode ser abafado, mas deve ser exposto e reprovado "em público" (NVI; cf. CH, NTLH). Na ótica de Paulo, tal procedimento ressaltaria o fato de que ninguém, nem mesmo o ministro da igreja, pode pecar impunemente.

Há uma nota extraordinariamente solene no versículo 21: Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos ("escolhidos", NASB; "santos", BV, CH, NTLH), que, sem prevenção, guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade. O tom desta passagem dá a entender que no passado houvera escândalos por causa de tratamento preferencial aos infratores, e com esta determinação o apóstolo eliminaria definitivamente tamanha injustiça. Moffatt traduz assim o trecho final do versículo: "Não sejas preconceituoso na execução destas ordens; sê absolutamente im­parcial" (cf. BJ, CH, NTLH, NVI). E. F. Scott comenta: "A exortação é dupla: 'Não pré-julgar um caso, aceitando acusações duvidosas, porque você não gosta do indivíduo; e não ser brando em qualquer base pessoal, quando o caso for comprovado".

 

3. Não Tenha Pressa nas Ordenações (5.22-25)

 

A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos peca­dos alheios (22). É quase certo que esta deliberação do apóstolo se refere à imposição de mãos no ritual da ordenação ao ministério cristão. Há excelentes razões para o candidato ser provado ao longo de um período de anos até que sua aptidão ao cargo de pastor se torne devidamente perceptível. Mesmo quando a igreja toma as mais rigorosas precauções, há na maioria das vezes erros administrativos neste ponto. A demora nesses assuntos pode ser cansativa e frustrante para o candidato, mas é importante. O ministro que trai a con­fiança e cai em pecado traz repreensão sobre si e sobre a igreja, cuja confiança ele traiu. Paulo chega a ponto de dizer que, de certo modo, os que impuseram as mãos no homem que se comprovou indigno do cargo, tornam-se participantes dos pecados de outras pes­soas. Lógico que isto não acarreta culpabilidade, mas pode causar-lhes sofrimento e afli­ção. Paulo deixa a determinação muito clara com a ordem concisa: Conserva-te a ti mes­mo puro (22). A respeito disso, Rolston observa que "o ministro tem de ter muito cuidado para não transigir com a justiça ao aprovar homens que não são dignos de confiança".

O apóstolo interrompe a linha de pensamento injetando conselhos puramente pes­soais: Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago ("da tua digestão", NEB) e das tuas freqüentes enfermidades (23). Este é reconhecidamente um versículo difícil de interpretar por causa de nossa atual ênfase cristã na abstinência total. Não há leitor atencioso da Bíblia que não deixe de notar que a atitude para com o uso do vinho no Novo e no Antigo Testamento difere distintamente da crença cristã hodierna. D. Miall Edwards mostra que "a questão da bebida é mais complexa e crítica atualmente do que nos tempos bíblicos, e que as condições do mundo moderno deram origem a problemas que não estavam no horizonte dos escritores do Novo Testamento". Ainda que a prática da abstinência não seja estipulada formalmen­te no Novo Testamento, há vastos princípios de responsabilidade cristã que, em virtude das condições modernas, exigem a abstenção de todas as bebidas alcoólicas (cf. Rm 14.13-21; 1 Co 8.13). Como comenta Barclay, o conselho de Paulo a Timóteo meramente "apro­va o uso de vinho em situações em que o vinho pode ser medicinalmente útil".

Tendo aconselhado Timóteo, Paulo retorna ao assunto geral sob análise: Os peca­dos de alguns homens são manifestos... e em alguns manifestam-se depois (24). O significado é que os pecados de alguns homens são tão públicos e óbvios que nin­guém sonharia em promovê-los a cargo de pastor na igreja; ao passo que, com outros homens, os pecados são tão secretos e sutis, que só quando os conhecemos de perto e pessoalmente é que descobrimos as desqualificações ocultas ao cargo. Em todo caso, Ti­móteo é aconselhado a agir com muita cautela quando se tratar de aprovar homens para lugares de liderança na igreja.

No versículo 25, o apóstolo trata do oposto do versículo 24: Assim mesmo também as boas obras são manifestas, e as que sãodoutra maneira não podem ocultar-se. Phillips esclarece o texto confuso deste versículo assim: "De maneira semelhante, algumas virtudes são fáceis de ver, ao passo que outras, embora de modo algum visíveis, no fim se tornarão conhecidas" (CH). Os pecados e as virtudes ocultas acabarão apare­cendo visivelmente. Estes fatos dão impressividade ao conselho do apóstolo de Timóteo ser extremamente cauteloso e prudente no importante assunto de selecionar líderes.

 

Bibliografia G. Gould

 

 

O Verdadeiro Ganho da Piedade (6.6-8)

 

Ao expor os falsos mestres, que não só corromperam a fé cristã, mas estipularam um preço para suas deturpações, o apóstolo é inspirado a dar uma palavra de sabedoria infinita: Mas é grande ganho a piedade com contentamento (6). A fé cristã é alta­mente rentável para quem a aceita com humildade e por inteiro e descobre para si a satisfação infinita que é viver para Cristo. Servir a Deus e aceitar alegremente tudo que ele enviar é a vida mais feliz que podemos imaginar. O contentamento não vem quan­do todos os nossos desejos e caprichos são satisfeitos, mas quando restringimos nossos desejos às coisas essenciais. Não há verdade que fale mais diretamente com a condição de nossa geração empanturrada do que esta. Quando perguntaram a Epicuro o segredo do contentamento, ele respondeu: "Não acrescente nada às posses de um homem, mas leve-o para longe do que ele deseja". O próprio Paulo confirmou este segredo quando disse: "Já aprendi a contentar-me com o que tenho" (Fp 4.11). A palavra grega traduzida por contentamento denota esta independência das circunstâncias, que é exatamente o que o apóstolo atesta com sua vida.

O versículo 7 é uma declaração bem conhecida, que ocorre em outras passagens bíblicas (Jó 1.21; Ec 5.15) e na literatura antiga:Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Barrett comenta com propriedade que "a nudez final da morte mostra e sublinha a nudez inicial do nascimento". Entre estes dois pontos da história, podemos juntar muito ou pouco, mas na hora final teremos de deixar tudo. Podemos levar para a eternidade somente os valores inerentes ao nosso espírito, e só estes constarão na coluna crédito do livro-razão no dia de nossa prestação de contas final.

O apóstolo agora indica a que ponto tem de ir nosso "despojamento" para prestar­mos serviço total a Cristo: Tendo, porém,sustento e com que nos cobrirmos, este­jamos com isso contentes (8). João Wesley, no sermão "O Perigo das Riquezas", faz a pergunta: "O que é ser rico?" e responde: "'Tendo [...] sustento e com que nos cobrirmos' (lit., coberturas; a palavra grega diz respeito a alojamento e roupa) 'estejamos com isso contentes'. 'Mas os que querem ser ricos' [...] [significa aqueles] que terão mais que isso; mais alimentos ecoberturas. A conclusão óbvia é que tudo que for mais que estes, que, no sentido do apóstolo, são riquezas; tudo que estiver acima das coisas necessárias míni­mas, ou no máximo das conveniências, para a subsistência da vida. Quem tem suficiente comida para comer e roupa para vestir, com um lugar onde pôr a cabeça e com algo para pôr acima [teto] é rico". Este é um padrão rigoroso, e por ele muitos de nós seríamos considerados ricos. Claro que a vida é infinitamente mais complexa hoje do que no século XVIII, e a prudência sensata requer que tenhamos uma visão um pouco mais ampla. Mesmo assim, temos de vigiar para não tornar o ganho financeiro a preocupação supre­ma da vida. Nunca devemos perder de perspectiva o aviso de nosso Senhor contra a "sedução das riquezas" (Mt 13.22).

 

 O Perigo da Ganância (6.9,10)

 

Nestes versículos, o apóstolo aprofunda sua exortação: Mas os que querem ser ri­cos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências ("desejos", BAB, BJ, CH, NTLH, NYI) loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (9). É verdade que nada ataca o homem com maior impetuosidade que o desejo de ganho financeiro, assim que der lugar em sua alma para este demônio da ganância. Os homens são ludibriados para pontos cada vez mais distantes dos princípios da honestidade e honra pelo prospecto de lucros fáceis. Quantos na vida pública se acham impotentes em resistir à tentação de obter vantagens ilícitas em fragorosa violação de escrúpulos outrora honra­dos! Paulo não exagerou os perigos que aguardam os que trilham esse caminho, quando disse que os tais afundarão num pântano de iniqüidade, acabando em ruína total.

O versículo 10 é igualmente mordaz na apresentação desta verdade: Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desvia­ram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. O apóstolo quer dizer que o amor do dinheiro é a raiz de males de todos os tipos. É lógico que nem toda espé­cie de males tem sua origem no amor do dinheiro. Não obstante, temos razão em afirmar que o amor do dinheiro é uma das fontes mais prolíficas do mal. Paulo não foi o primeiro a sentenciar o amor do dinheiro; este conceito ressoava em grande parte da literatura ética judaica e gentia do século I. Mas a exortação do apóstolo elucida a ame­aça especial à fé cristã. Sua análise relembra a advertência de Jesus: "Não podeis servir a Deus e a Mamom" (Lc 16.13).

 

METAS E RECOMPENSAS DA VIDA PIEDOSA (6.11-16)

 

Fuja e Siga (6.11)

 

Depois de pintar em cores tão sombrias os males do desejo de lucro, o apóstolo volta a lidar com o bem-estar espiritual de Timóteo: Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade ("o amor", ACF, AEC, BJ, CH, NTLH, RA), a paciência, a mansidão. Paulo não poderia ter feito apelo mais eloqüente que este no qual ele distingue Timóteo comohomem de Deus. Esta era a descrição habitual dos servos de Deus no Antigo Testamento. Ao usar esse título, o apóstolo fala da dignidade, da responsabilidade sublime e solene do cargo que Timóteo mantinha e que é mantido igualmente por todo líder cristão. A determinação de Paulo é: Foge destas coisas. O significado não é fugir somente da sedução das riquezas, mas de todas as atitudes más que foram expressas desde o capítulo 4. Há uma antítese interessante na ordem de fugir destas coisas e, de outro lado, seguir as virtudes particularmente designadas. É uma lista notável de virtudes que Paulo quer infundir. A lista começa com justiça, a mais inclusiva das virtudes; significa dar a Deus e aos homens o que lhes é devido. As três virtudes seguintes formam um grupo dirigido a Deus. Piedade é a cons­ciência reverente que tudo na vida é vivido na presença e sob os olhos de Deus. Fé é a fidelidade que nos mantêm firmes, mostrando lealdade a Deus em todas as situações. Amor (agape) é a expressão de gratidão e louvor de nossa alma pela maravilha da graça redentora. Por fim, Paulo infunde paciência e mansidão, que podem ser traduzidas por "firmeza" (CH; "constância", BAB, RA; "perseverança", NVI); e "bondade" (RSV). Estas são as características da vida cristã conforme é vivida em contato e companheirismo com as pessoas. O contraste entre estas virtudes e os males que Paulo denuncia não podia ser mais impressionante.

 

Milite a Boa Milícia (6.12)

 

Este versículo nos traz a imagem mental de um treinador instilando coragem e espí­rito de luta em seu time pouco antes do início de um jogo decisivo: Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas (12). A figura de linguagem que o apóstolo usa é derivada mais das competições esportivas do século I do que da vida militar. Devemos entender que o verbo milita é a luta agonizante requerida caso a pes­soa quisesse vencer uma partida de luta romana. Paulo se servia de analogias visuais, tanto da vida do soldado quanto da do atleta. Todo cristão é chamado a batalhar a luta pessoal contra o mal em todas as suas formas. E, como destaca Kelly, "é de propósito que o imperativo está no presente, indicando que a luta é um processo contínuo. Por outro lado", continua Kelly, "o imperativo aoristo 'toma posse' sugere que Timóteo pode tomar posse da vida eterna (aqui concebida como o prêmio para o evento esportivo) imediata­mente e em um único ato". Assim, o atleta cristão desfruta do prêmio ao mesmo tempo em que ainda se engaja na competição.

Paulo diz que Timóteo foi chamado para esta campanha vitalícia. Na verdade, ele possuía um chamado duplo: o chamado para seguir a Cristo, que foi selado na confis­são pública de fé no batismo; e o chamado para pregar o evangelho, a cuja tarefa ele fora ordenado pelo próprio apóstolo e colegas que o ajudavam. Muitos intérpretes acham difícil determinar a qual destes chamados se refere afrase final do versículo. Esta tradu­ção interpreta que o chamado ocorreu "quando você deu o seu belo testemunho de fé na presença de muitas testemunhas" (12, NTLH). Contudo, seria mais adequado conside­rar que essa frase final é outra alusão que o apóstolo faz à ordenação que ele freqüentemente menciona (e.g., 4.14).

 

Incumbência Sagrada (6.13-16)

 

Estes versículos estão investidos de alto grau de solenidade: Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento ("seu chama­do", CH; "sua missão", NTLH) sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo (13,14). Paulo deseja estampar na mente e consciência de Timó­teo a importância de ser fiel à responsabilidade impressionante que está sobre ele na função de homem de Deus e líder de sua santa igreja. Temos de considerar esta obrigação inviolável, na expectativa momentânea da volta de Cristo para julgar e recompensar. O apóstolo sempre se prendia ferrenhamente à esperança de que ele estaria vivo naquele glorioso Dia do Senhor. Mas aqui, diante de Timóteo, sua esperança é que o mais jovem possa estar vivo na ocasião para testemunhar essa consumação maravilhosa. Paulo nun­ca vacilou em sua certeza do retorno de Cristo; só a esperança de estar vivo no momento daquele evento é que lhe parece improvável agora. Mas bem que Timóteo poderia teste­munhar a vinda daquele Dia. A ele, o apóstolo diz: "Eu o encarrego de viver e trabalhar sempre mantendo nitidamente em vista aquele Dia".

Há solenidade na ordem do apóstolo, quando ele ressalta que todos os trabalhos e serviços de Timóteo são feitos sob os olhos deDeus, "que dá vida a todas as coisas" (13, CH; cf. BJ), e de Cristo, que não titubeou em sua confissão quando estava na presença dePilatos. A consciência de que os olhos de Deus estão nele e a inspiração do exemplo corajoso do Senhor na hora da suprema prova dariam força ao coração e mãos do jovem. Há certo tom litúrgico nestes versículos. O apelo de Paulo à boa confissão que Cristo testemunhou diante de Pôncio Pilatos parece muito semelhante a uma frase no Cre­do Apostólico: "Sofreu diante de Pôncio Pilatos". Esta linguagem estabelece o tom apro­priado para a doxologia que se segue imediatamente.

A doxologia abrange os versículos 15 e 16: A qual, a seu tempo, mostrará o bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém. A primeira frase do versículo 15, a qual, a seu tempo, refere-se obviamente à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo do versículo 14. "Essa aparição Deus mostrará no devi­do tempo, que só Deus, na bem-aventurança eterna, domina" (NEB). Nosso Senhor de­clarou que estes grandiosos acontecimentos que se darão na consumação final são inter­calados pelo próprio poder do Pai (At 1.7). E é onde têm de ficar.

Scott disse que esta doxologia é "mais semelhante aos hinos de louvor do Apocalipse do que às doxologias de Paulo. A sugestão pouco improvável é que se trata de um hino cristão moldado na liturgia da sinagoga". Mas seja qual for a origem, é indiscutivelmente magní­fica. Rei dos reis e Senhor dos senhores (15) pode ser um ataque sutil ao ato de cultuar o imperador, prática que fazia parte do paganismo crescente que a igreja foi forçada a resistir. Aquele que tem, ele só, a imortalidade (16) "não a nega a outrem, mas apre­sentaa singularidade da imortalidade divina no ponto em que só Deus a possui inerente­mente, sendo ele mesmo a fonte de toda vida". Esta é afirmação clara de sua transcendência e invisibilidade eterna — "aquele que vive em luz inatingível" (CH). Quando nos colocamos na presença de Deus, que palavras proferir? Paulo conclui este peã de louvor com a atri­buição de honra e poder, em lugar do mais habitual "honra e glória" (cf. 1.17).

 

A ADMINISTRAÇÃO ADEQUADA DAS RIQUEZAS (6.17-19)

 

O Perigo das Riquezas (6.17)

 O Cristão e a Riqueza

 

É Errado o Cristão Ser Rico? E Viver Atolado em Dívidas?

Eu recomendo muito o uso do dinheiro, pois é um bem sem o qual é muito difícil viver! E, ao contrário do que muitos cristãos acreditam, o dinheiro não é absolutamente a raiz de todos os males. "Mas pastor Ron, a Bíblia diz que o dinheiro é a raiz de todos os males!" Você está enganado. Em 1 Timóteo 6:10, a Bíblia diz:

"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores."

Veja, o dinheiro é uma parte necessária a vida e certamente não é intrinsecamente mau nem bom. Ele é uma das muitas "coisas" na vida de um cristão das quais o Senhor, na verdade, é o dono, mas permite que usemos como seus mordomos. Quando utilizamos corretamente as "coisas" que ele coloca ao nosso dispor, e mantemos uma atitude correta com relação a elas, ele freqüentemente as multiplica. Quando adotamos a atitude errada com relação às "coisas" é que entramos em problemas. Se desenvolvermos um amor, um desejo desordenado por essas "coisas", isso torna-se um pecado em nossas vidas. Novamente, o dinheiro e os outros bens materiais não são pecaminosos em si mesmos. Na verdade, são muito bons e, se nos comportarmos e praticarmos a boa mordomia, Deus pode achar adequado permitir que usemos parte deles! No entanto, deixe-me dizer logo que não existem garantias. O "evangelho da prosperidade" que alguns estão pregando é tão falso e vazio quanto uma nota de três reais. É um fato que Deus prometeu no prosperidade espiritual e financeira aos israelitas no Antigo Testamento, mas ambas eram condicionadas à obediência a ele. Em nenhum lugar você encontrará uma promessa semelhante para os cristãos no Novo Testamento. Na verdade, a Bíblia nos diz que nosso caminhar com Cristo será duro e quanto mais perto procurarmos estar dele, mais difícil ficará essa caminhada. Neste aspecto, o cristianismo é absolutamente diferente em comparação com todas as religiões do mundo.

Em 2 Timóteo 3:12, a Bíblia diz, "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos."

Embora seja verdade que a riqueza é uma bênção de Deus, a pobreza não deve ser vista como desfavor, pois, em certo sentido, liberta o indivíduo de tremendas responsabilidades e tentações. Lucas 12:48b, diz: "...Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão." O ensino do Novo Testamento tem muito a dizer sobre qual deve ser nossa atitude com relação às coisas que Deus confiou aos nossos cuidados. Vejamos:

Na parábola do Semeador, em Lucas 8:14, o Senhor diz isto sobre a semente que cai entre espinhos:

"A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer."

Nesse verso, o Senhor nos diz que a semente é a Palavra de Deus e quando as pessoas a ouvem e permitem que as ansiedades, cuidados, riquezas e deleites desta vida diluam a mensagem, deixam de amadurecer na fé. Como cristãos, se quisermos fazer progressos no nosso caminhar com Cristo, a Palavra de Deus precisa ser mais preciosa para nós do que qualquer coisa que o mundo tenha para nos oferecer.

Em Mateus 6:19-21, o Senhor disse isto sobre os "tesouros" terreais:

"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração."

A eternidade é para sempre (!) e é tolice demais sacrificar os tesouros do céu pelas riquezas deste mundo. No entanto, é exatamente isso que muitos cristãos fazem rotineiramente quando ficam enamorados com os bens materiais. Estou convencido que nosso Deus atribui soberamente a cada um de nós uma posição relativa na vida - nosso status financeiro e material, juntamente com as capacidades co-relacionadas (ou a falta de capacidades) pertinentes a essa posição. Sejamos francos, nem todos têm o intelecto ou a capacidade de acumular riqueza e lidar com ela da forma correta. Alguns têm essa capacidade e graças a Deus por eles poderem gozar os frutos de seu trabalho. Outros irmãos fazem o melhor que podem, mas passam a vida inteira lutando apenas para satisfazerem suas necessidades básicas de alimentação e vestuário. Experimentamos a verdadeira felicidade e o contentamento espiritual quando descobrimos qual é nosso nicho respectivo na vida e então fazemos o melhor que pudermos, enquanto pudermos! Entramos em problemas quando não estamos satisfeitos com a provisão de Deus e cobiçamos mais do que ele sabe que é melhor para nós. Ambição e desejo de progresso material somente são naturais e corretos quando não forçamos a coisa. Se Deus quiser que prosperemos em nossos empregos e ganhemos mais dinheiro, ele fará isso acontecer.

Quando ele abrir as portas, poderemos passar por elas. Infelizmente, muitos cristãos não compreendem isso e quebram a cara ao tentarem passar por portas que estão fechadas! Isso é enfatizado pelas palavras de Cristo em Lucas 12:15: "Então lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui."

O perigo espiritual subjacente que está associado com o dinheiro e com os bens materiais é que eles podem facilmente se transformar em ídolos em nossas vidas. Muitas pessoas acham que um ídolo é somente uma figura feita de madeira ou de pedra que é colocada em um templo e que é adorada. Não, um ídolo é qualquer coisa que fique entre nós e Deus! Deus quer nossa total fidelidade a ele, exatamente como marido e mulher requerem um do outro. Ele fica ofendido quando desviamos nosso amor e atenção dele para qualquer outra coisa.

Esse conceito é delineado em Mateus 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas."

O apóstolo Paulo também falou sobre o dinheiro e os bens materiais e, em sua primeira carta a Timóteo, adverte os cristãos, particularmente os pregadores, sobre o uso incorreto do dinheiro. Em 1 Timóteo 6, começamos nossa leitura no meio do verso 5 e continuamos até o verso 9, depois no verso 17:

"...homens cuja mente é pervertida, e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores."

"Exorta aos ricos do presente século, que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento."

Nossa sociedade valoriza excessivamente a riqueza e os bens materiais. As pessoas são classificadas de acordo com a renda: classe baixa, classe média e classe alta, ou, às vezes, em classes A, B, C, D e E. Somos constantemente bombardeados com propagandas que procuram despertar o desejo da pessoa de "subir na escala social". Isso tornou-se parte da realidade cotidiana. Algumas propagandas recorrem ao tema: "Você merece...." ou "Você deve isso a si mesmo..." As agências de propaganda conhecem bem a natureza humana e a exploram habilmente para promover os produtos e serviços. Nós, criaturas pecadoras, temos uma fraqueza natural com relação aos prazeres e aos bens materiais e eles a exploram para seu ganho financeiro! Como cristãos, precisamos estar vigilantes contra esses estímulos.

É também triste observar cristãos que não têm a força de vontade para praticar a mordomia correta daquilo que Deus lhes deu. O desejo de ter, de obter e de usar cresceu até um ponto em que milhões de pessoas encontram-se endividadas, e alguns cristãos certamente também se enquadram nessa situação. Satanás fez com que o crédito facilitado arruinasse o testemunho de inúmeros cristãos. Ninguém deveria se endividar além da sua capacidade financeira de pagar, especialmente aqueles que professam o nome de Jesus Cristo. Fazer isso é trazer reprovação sobre si mesmo e sobre seu Salvador. Aqueles pequenos cartões de plástico são muito fáceis de se obter, mas certamente atuam como um narcótico para algumas pessoas e, sem que percebam, as dívidas e os juros começam a se acumular. Pessoas que nunca jogariam em um cassino contraem dívidas com seus cartões de crédito e isso nos faz perguntar qual é a diferença essencial? Saber que você não poderá pagar depois e precisará rolar a dívida, pagando juros extorsivos, é pecaminoso se foi por falta de autocontrole que você contraiu aquela dívida. Quando considerarmos o fato que somos mordomos do Senhor e que estamos fazendo mal uso do dinheiro dele, isso deve colocar as coisas sob a perspectiva correta.

Meu conselho a você que está em dívidas é sair dessa situação o mais rápido que puder - mesmo que para isso precise se desfazer de algumas coisas que o levaram a essa situação. (Não estamos falando aqui de financiamentos imobiliários e outras dívidas dessa natureza, pois elas têm a garantia do próprio imóvel). Ao enfrentar uma situação de dívida além da capacidade financeira, o modo mais fácil de sair é declarar falência pessoal e deixar os credores a ver navios. No entanto, Deus não permite que um de seus filhos faça uma coisas dessas! Sim, pode ser legal juridicamente, mas certamente não é ético para o cristão. Se você estiver enfrentando uma situação dessas, faça a coisa certa e procure renegociar a dívida com os credores, alargando os prazos ou reduzindo os juros - mesmo que precise passar o resto da vida trabalhando em dois empregos para corrigir a situação! Eles não torceram seu braço, obrigando-o a contrair as dívidas; a culpa pelos gastos excessivos foi sua. Agora, o mínimo que você precisa fazer é um esforço honesto para pagar o que deve. Agir de forma contrária é arruinar completamente seu testemunho e envergonhar o nome do Senhor Jesus Cristo.

O Espírito Santo, falando por intermédio do apóstolo Paulo, tem este maravilhoso conselho para nós:

"De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." [1 Timóteo 6:6-10]

Quando a ênfase em nossa vida for colocada corretamente na piedade, obteremos o contentamento pessoal como resultado. Afinal, o que pode ser melhor que ter nossas necessidades atendidas e dormir com uma consciência tranqüila?

 

Autor: Pr. Ron Riffe

Tradução: Jeremias R D P dos Santos

 

 

 

 

A primeira vista, estes versículos parecem uma queda súbita da sublimidade à trivialidade. Logo após a magnífica doxologia de Paulo, ele imediatamente se volta a problemas práticos e mundanos: Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abun­dantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos(17). Esta descida abrup­ta do tom apostólico, esta intrusão aparente de coisas terrenas, não é absolutamente intrusão. Na verdade, a intrusão são os versículos 11 a 16. No versículo 10, Paulo estava falando das riquezas mundanas e seus perigos potenciais. Mas nos versículos 11 a 16 ele divaga de modo totalmente paulino — e que esplêndida divagação! Agora, no versículo 17, ele retoma o tema que os parênteses inspirados tinham posto de lado.

Quando tratou este assunto pouco antes neste capítulo, o apóstolo tinha em mente as pessoas que almejavam riquezas. Aqui ele se dirige aos que já são ricos. Esta é revelação interessante sobre a situação econômica de pelo menos alguns membros da igreja em Efeso.Nem todos os cristãos primitivos eram escravos e artesãos humildes. Havia homens de posse e boa situação financeira entre eles — e há perigo no aumento das riquezas. A sobriedade, empenho e prudência que o evangelho introduz na vida do crente têm de conduzir inevitavelmente ao aumento da prosperidade; e a prosperidade pode arruinar a fé cristã que é a base dessas novas disciplinas. Assim, asriquezas tornam-se inimiga da alma. E, como Paulo vê claramente, o principal perigo são os homens ficarem altivos ("arrogantes", NVI; "orgulhosos", BAB, BJ, NTLH, RA). Há algo relacionado às riquezas que promove um falso senso de segurança; é difícil ter muitasriquezas sem deixar de confiar nelas em certa medida. Paulo mostra discernimento ao se referir às riquezas, chamando-as incerteza das riquezas (ou "instabilidade da riqueza", BAB, BJ, RA).

Outra razão para evitarmos o orgulho relacionado às riquezas é que Deus... nos dá todas as coisas para delas gozarmos (17). Tudo é de Deus, tanto as riquezas quanto a capacidade de adquiri-las. Na realidade, tudo que o homem desfruta das satisfações da vida, sejam quais forem as formas em que se apresentem, vem da gene­rosidade de Deus.

 

A Verdadeira Mordomia das Riquezas (6.18,19)

 

Que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis ("generosos em dar e prontos a repartir", AEC, RA; cf. BAB); que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que pos­sam alcançar a vida eterna (18,19). Esta é a orientação cristã sobre o uso adequado das riquezas. Lembramos o conselho triplo de João Wesley dado aos metodistas que estavam prosperando: "Ganhem tudo que puderem, economizem tudo que puderem e dêem tudo que puderem". O dinheiro nunca compra a salvação; mas o uso adequado e cristão do dinheiro contribui para a formação do caráter cristão e nos capacita a agarrar a vida eterna com mais firmeza. Phillips traduz o versículo 19 claramente: "A segurança deles deve ser investida na vida vindoura, a fim de se certificarem de que terão parte na vida que é real e permanente" (CH).

 

Bbliografia J. Gould

 

 

Sobre o dinheiro (6:6-10).

 

Esta pequena secção é uma homilia sobre o assunto do dinheiro, no que se relaciona a uma vida séria e santa. Recomenda-nos a moderação no desejo pelo dinheiro. É melhor abafar tal desejo do que tentar satisfazê-lo, conforme Epícuro dizia. As riquezas materiais, por si mesmas, não constituem vantagem real; antes, elas constituem um perigo, pois, ao invés de serem um privilégio e oportunidade, podem tornar-se ameaças espirituais. Dão maior conforto ao corpo, mas servem de empecilho para a alma, pois levam os homens a se deixarem arrastar por suas vantagens, olvidando-se do valor e das necessidades da alma eterna. Essa atitude foi denunciada pelo Senhor Jesus (ver Mt 6:19 e ss.), sendo atitude comum no estoicismo e tradicional nas religiões, tendo invadido até mesmo o cristianismo. A denúncia de Cristo, entretanto, não tem impedido que muitas pessoas religiosas, que figuram nas fileiras do cristianismo, tomem essa atitude; mas fazem-no somente para seu próprio detrimento.

O intuito da presente secção é afastar os ministros do evangelho, mas igualmente todos os crentes, da atitude dos falsos ministros, que transformam a fé religiosa em um comércio. Um homem verdadeiramente piedoso não se preocupará demasiadamente com o lucro material; mas haverá de buscar as riquezas materiais somente até ao ponto em que isso é mister para sustentar a si mesmo e aos seus familiares, mas não com um valor primário. Pois sabe que as verdadeiras riquezas se encontram nas realidades espirituais, e que o mundo verdadeiramente rico e aquele do porvir, no qual ele se interessa devido à sua genuína lealdade a Cristo. O interesse da presente secção, pois, ultrapassa o que é meramente polêmico (na argumentação contra os gnósticos), procurando estabelecer um princípio ético relativo às riquezas, em relação à fé religiosa. Esta secção inclui vários epigramas que um provavelmente eram bem conhecidos no mundo grego, em sistemas éticos como o estoicismo, o que, em sua forma tipicamente romana, recomendava a moderação em todas as ações.

 

6:6: e, de fato, é grande fonte de lucro a piedade com o contentamento.

 

A tradução inglesa de Williams diz aqui: «Ora, o fato é que a religião, com o contentamento, é um meio de grande lucro». A tradução inglesa RSV diz: «Há um grande lucro na piedade com contentamento». O original grego não tem nada que equivalha às palavras «...de fato...» Essas palavras foram supridas como uma interpretação.

«...lucro...» No grego é «porismos», «meio de ganho», «capacidade de prover», «abundância de recursos». A raiz é «poros», que significa «meio de atravessar um rio», «travessia», «vereda», ou então algum «recurso», «jeito». Nos escritos clássicos, quando esse vocábulo estava vinculado à idéia do dinheiro, indicava «meio de levantar fundos». A forma verbal, «perao», significa «atravessar». A piedade, que é a fé religiosa sincera, é vista aqui como meio de autêntico benefício e vantagem. Naturalmente, esse «...lucro...» não é nem material e nem financeiro. Não obstante, é real, porquanto beneficia às almas eternas, tanto nesta esfera terrena como no mundo futuro. Isso pode ser confrontado com I Tm 4:8, onde a mesma idéia está contida: «Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser». A tradução inglesa de Williams diz: «... areligiosidade é de utilidade em tudo, pois contém uma promessa para a vida presente, como também para a futura».

«...piedade...» No grego é «eusebeia», tal como no versículo anterior. Esse termo aponta para a autêntica fé religiosa, com seu acompanhamento de santidade prática. Focaliza a santidade prática da fé cristã, mediante o que o crente é moralmente transformado segundo a imagem de Cristo. Quando alguém realmente está sendo transformado conforme a imagem de Cristo, adquirindo assim a sua natureza moral, desse modo virá a compartilhar de todas as suas perfeições e atributos (ver Gl 5:22,23 e Ef 1:23).

«...contentamento...» No grego temos «autarkeia», que significa «suficiência», «competência», de onde lhe veio a idéia de «contentamento», de «auto-suficiênçia», de «possuir o bastante». Essa era uma das virtudes favoritas dos estóicos. (Ver Epict., Stob. III, pág. 101,16; Diog. L. 10,130; Sextus 98). Envolve o sentimento que tudo está correndo bem no mundo, pelo menos até onde o próprio indivíduo está envolvido, a alma está contente e em descanso, com o que possui; o conflito cessou, reinam a paz e a harmonia no íntimo. «Bem-aventurado é o homem de quem Deus se lembra com uma suficiência que lhe é conveniente» (Salmos de Salomão5:18).                                                                                            

A autêntica fé religiosa ou piedade cria no indivíduo certa riqueza de autodomínio, mediante o que ele vive no contentamento. Esse é um benefício muito maior que aquele conferido pelas riquezas materiais, que servem somente para gerar a contenda, o temor e até mesmo a violência. As riquezas materiais criam apenas uma «carga», imposta aos piedosos. Pois estes já são verdadeiramente ricos. Além disso, o crente piedoso é «independente» do buliço louco do mundo, que corre atrás dos bens materiais, visto que já encontrou o seu grande tesouro, na fé religiosa e na dedicação a princípios espirituais elevados. O apóstolo dos gentios aprendera a achar-se contente em qualquer circunstância em que se achasse. (Ver Fp 4:11, que usa uma palavra correlata à deste texto). Conforme diz Sir H. Wotton: «Senhor de si mesmo, embora não dono de terras».

«Basta bem pouco dos bens deste mundo para satisfazer ao indivíduo que se sente cidadão de outra pátria, e que sabe que nesta não está o seu descanso». (Adam Clarke, in loc). Ora, esse é o maior de todos os «lucros» que se possa imaginar. A verdadeira «piedade» nos confere tal atitude, pois a salvação mesma é medida através da «santificação» (ver II Ts 2:13).

«Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém, aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará» (Sl 34:10).

«Quem é rico? Aquele que se contenta com a sua sorte». (Talmude, Pirke Aboth iv.3).

«O treinamento de um rabino judeu pode ser ainda mais exigente. Essa é a vereda da lei. Um pouco de pão comerás com sal, e também beberás água por medida e dormirás no chão, e viverás em tribulação, enquanto labutas na lei. Se assim fizeres, feliz serás, e tudo te será bem no mundo vindouro». (Pirke Aboth, vi.4).

«...Considera como as riquezas acrescentam lenha às concupiscências, fornecendo nutrição ao seu orgulho; como elas removem para longe os meios da esperança de salvação, e quão freqüentemente servem elas de passaporte para os portais da morte. As riquezassão um privilégio quando desfrutadas e usadas como é preciso ser. Mas eu temeria orar, pedindo riquezas, ou para mim mesmo ou para os meus filhos... a observação mostra-nos que grandes possessões materiais servem muito mais para prejudicar-nos e destruir-nos, do que nós mesmos gostamos de devotá-las a Deus». (Gardner Spring).

 

6:7: Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar;

 

É possível que esta declaração esteja alicerçada em Jó 1:21. Mas a verdade é que ela se acha em diferentes culturas, sob formas variegadas. (ver Phil. de Off. Vict., par. 265, que diz: «Nada trouxeste ao mundo, senão a ti próprio; vieste nu, e dele sairás nu». E isso pode ser confrontado com Eclesiástico 5:14, onde há declaração similar). Sêneca dizia: «Ninguém nasce rico. Todo aquele que vem ao mundo recebe ordens de contentar-se com o alimento e com o vestuário». (Epist. xx). E também: «A natureza, ao retornar, sacode todas as excrescências, ficando como começo: não poderás levar mais do que aquilo que trouxeste». (Episto. cap. ii). Insiste o mesmo autor (em Epist. 102): «Não é permitido levar mais do que aquilo que se trouxe». Tal afirmativa sem dúvida era muito comum entre os estóicos romanos, a julgar pela variedade com que a mesma figura nos escritos de Sêneca, que era um filósofo estóico romano.

A vida é uma espécie de peregrinação. As condições que acompanham o nascimento são paralelas às condições da morte física, pois ambas se caracterizam pela total ausência de possessões materiais. Posto que o nascimento e a morte são dessa natureza, mostrando o que um homem «realmente é, então nos deveríamos contentar por permitir que a vida inteira tenha esse caráter. E isso concorda com a «natureza»; e Deus estabeleceu o padrão da natureza.

Policarpo citou essa declaração em sua epístola aos Filipenses, o que, evidentemente, comprova uma data antiga para as «epístolas pastorais», mais do que alguns estudiosos têm pensado.

As riquezas materiais, portanto, são apenas acompanhamentos por um breve período, para esta vida física e inferior, não caracterizando a verdadeira vida. Assim sendo, não deveríamos buscá-las como algo primário; pelo contrário, a nossa inquirição deveria envolver o cultivo da verdadeira vida, a vida eterna, os interesses do reino de Deus. Ovídio (Trist. v.14.12) diz: «Nilferet ad manesdivitis umbra suos», que quer dizer: «Um espírito, partido deste mundo, nada leva de suas riquezas para o outro mundo».

 

6:8: tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentos.

 

(Ver a citação extraída dos escritos de Sêneca, nas notas expositivas sobre o versículo anterior, que é similar a esta). Paulo nasceu em Tarso, um dos centros do estoicismo romano. Seus escritos se alicerçam bastante nas declarações e ilustrações dos estóicos, sendo perfeitamente possível que as afirmações deste e do versículo anterior tenham sido tomadas por empréstimo dessa fonte, ainda que os sentimentos expressos nestes dois versículos tenham sido encontrados nos escritos de muitos autores, que representam várias escolas religiosas e filosóficas.

«...sustento...» No grego é «diatrophe», que significa «sustento», «alimento», «nutrição». Epicteto, em Ench. 12:1, usa esse termo para indicar o alimento necessário para nosso sustento físico.

«...com que nos vestir...» No grego é «skepasma», que significa «cobertura», «abrigo», dando a idéia de «casa» ou de «vestuário». O mais provável é que esteja aqui em pauta a idéia de «vestuário», pois, conforme observou von Soden, uma «habitação» não era considerada uma das necessidades básicas no oriente. Pelo contrário, encontramos aqui os dois elementos mais básicos e necessários para a vida diária: alimento suficiente e vestuário suficiente, para sustentar-nos e abrigar-nos o corpo.

«... contentes...» No grego é «arkeo», que quer dizer «suficiente», «ser bastante», «ser suficiente», e que na voz passiva significa «estar satisfeito», «estar contente». Notemos aqui o uso do verbo no futuro, que tem certo sentido imperativo, dando em resultado a seguinte tradução possível: «...estejamos contentes...» Mas, tanto « futuro como o imperativo transmitem o mesmo significado. «Mas com boa vontade e bom ânimo, sustenta tu a minha alma; quando fortaleceres a minha alma, ficarei satisfeito com o que me deres». (Salmos de Salomão 16:12, onde é usado o mesmo vocábulo grego aqui empregado, na Septuaginta, que é tradução do original hebraico do A. T., para o grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã).

Apesar de que este versículo mostra «a essência mesma do estoicismo» (no dizer de Easton, que coloca o versículo entre aspas, como se tivesse sido citado daquela fonte), o sentimento ali expresso é totalmente oriental, concordando com diversas das declarações do Senhor Jesus. (Ver Mc 6:7 e ss.; Mt 10:5 ess.; Lc 19:1-7; Mt 6:25-33 e Lc 12:22-31).

Conta-se a história de um jovem que procurou escapar a nado de um navio que naufragava. Ora, durante a viagem ele trazia consigo grande soma em dinheiro, e não queria perdê-lo. Por isso, amarrou na cintura nada menos de duzentas libras em ouro. Mas, por causa do peso, não pôde atingir a praia, preferindo morrer afogado a abandonar o dinheiro. Depois alguém perguntou: «Quando ele afundava, ele tinha o ouro, ou o ouro o tinha?» (Mornings in the College Chapei, segundo sermão de Ruskin). Por conseguinte, as riquezas de um homem podem tornar-se, realmente, a causa de sua morte, em detrimento dele mesmo. Porém, todo e qualquer pecado tem idêntico efeito. Certamente o pecado nos possui; não somos nós os possuidores do pecado. Isso é para nosso detrimento, e não para nosso bem. Por conseguinte, deveríamos procurar satisfazer-nos com aquilo que derivamos da piedade, a qual é um notável auxílio à vida, e, de fato, sua própria fonte.

«Quiçá não exista mais notável exemplo da incorrigível perversidade da natureza humana do que o fato que, a despeito de toda a experiência em contrário, geração após geração continua a buscar mais e mais riquezas, como o valor mais digno de ser buscado». (Plummer, in loc).

 

6:9: Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.

 

Neste versículo pode haver ou não peculiaridades estóicas. Notemos que não estão em foco «os que já são ricos», como se esses é que caíssem na ruína; mas os que correm esse perigo são os que «...querem...» ficar ricos. É posta toda a ênfase na vontade, em contraste com meros atos externos; pois a passagem busca o «motivo», tal como se vê em Mt 5:21 e ss. Os estóicos gregos criam que a atitude ideal deve ser a da «apatia», a total ausência de desejo, porque é do anelo que se originaria toda a insatisfação e todo o mal. Por conseguinte, cada qual deveria combater contra as próprias emoções, especialmente o «desejo», o «prazer», a «tristeza» e o «medo». Essas são as quatro faltas máximas de que um homem deveria corrigir-se. Portanto, é o «desejo de ficar rico» que abre caminho para as «comportas pelas quais se derramam muitos outros desejos insensatos e perniciosos, que submergem o indivíduo na total ruína». «Essa é uma 'armadilha' (do diabo? ver II Tm 2:26), que procura enredar os homens, visando a sua destruição. O leitor crente deveria lembrar-se dos trechos de Lc 12:16 e ss. e 16:19 e ss., onde se vê que os ricos são privados, mediante a morte, não somente de suas riquezas materiais acumuladas, mas também da bem-aventurança eterna». (Gealy, in loc).

Embora a ênfase recaia sobre o desejo e a motivação, não devemos pensar que o autor não considere que o «estado de riqueza» não seja igualmente pernicioso, pelo menos potencialmente. Que ele assim pensasse está de conformidade com o contexto em geral. O autor sagrado temia o que as riquezas podem fazer a um homem, pois podem levá-lo a grandes pecados degradantes. Esse resultado pode ocorrer para os ricos, e não somente para os que «querem ficar ricos». Comparar isso com Tiago 5:1 e ss., que é uma passagem que fala contra os males e abusos praticados pelos ricos. Naturalmente, se poderia observar corretamente que não é a «possessão» das riquezas que prejudicam a um homem, mas, sim, o «amor» às riquezas é que podem produzir a queda, conforme aprendemos no décimo versículo deste capítulo. Contudo, a própria possessão de riquezas já serve de força poderosa para levar um homem a «amar» àquilo que adquiriu.

«...tentação...» No grego temos o vocábulo «peirasmos», que significa «teste», «provação». Nem sempre a idéia é de tentação para o mal, porquanto a idéia pode envolver apertos que criam dificuldades. Porém, no presente contexto, isso deve significar a tentação de fazer o mal, a sugestão para que o indivíduo tenha motivos errados na vida.

«...caem...» Essa palavra mostra o poder que as tentações exercem sobre qualquer indivíduo, levam-no a perder o equilíbrio, caindo em uma condição de alma que é doentia, que presumivelmente pode destruir sua conversão a Cristo e o seu bem-estar espiritual, levando-o a falhar na salvação de Deus, conforme exige o contexto (sobretudo o versículo seguinte).

«...cilada...» No grego é «pagis», que significa «armadilha», como aquelas que são usadas para apanhar animais e pássaros, levando-os a seu cativeiro ou destruição. Essa condição leva o homem a perder o domínio próprio, para seu detrimento pessoal. Ele se torna cativo de forças estranhas e malignas, exteriores, como é o caso do «poder de Satanás». (Comparar com II Tm 2:26, onde se lê sobre os «...laços do diabo...»).

«...concupiscências...» No grego temos o termo «epithumia», que significa «desejo», «anelo», bom ou mau; mas, no presente contexto, certamente tais desejos são malignos, «anelos perversos». Na tentativa de obter riquezas materiais, a personalidade inteira do indivíduo será pervertida. Quando tiver atingido o seu alvo, já será uma pessoa depravada; e então passará a utilizar-se de seu dinheiro para satisfazer paixões ilícitas, dando-se licença de experimentar de frutos proibidos. Essa palavra também é freqüentemen­te usada para indicar os desvios de ordem sexual, embora não se limite a isso. (Comparar com a expressão usada em II Tm 2:22, «paixões da juventude», onde o sentido sexual certamente é o predominante).

«...insensatez...» No grego é «anoetos», que significa «sem inteligência», «tolo». O poder de raciocínio e o bom senso de um homem que procura ficar rico ficam embotados, se não mesmo totalmente eliminados pelas paixões descontroladas, que passarão a dominar-lhe a vida. Ele perderá seu senso de julgamento moral. E fará coisas que não poderão ser explicadas pela razão e pelo bom senso moral.

«...perniciosas...» No original é «Maberos», que significa «prejudicial». Seus desejos, moralmente descontrolados, terminarão por prejudicá-lo moral e espiritualmente, ainda que possa escapar de outros efeitos daninhos. Isso o prejudicará em seus melhores interesses, que consiste do bem-estar espiritual.

«...afogam...» No grego é «buthidzo», que significa «afundar», «mergulhar sob». As coisas anteriormente mencionadas arrastam o indivíduo à ruína, afundando-o na mesma. Esse é o elemento em que os que buscam riquezas são imersos; e ali encontrarão total destruição de sua personalidade, de sua espiritualidade; e assim perdem a redenção que lhes é oferecida em Cristo.

«O apóstolo considera essas pessoas como marinheiros em uma tempestade; devido à força conjunta dos ventos, das ondas e da maré, são elas violentamente projetadas entre as rochas, o barco é despedaçado, e, em um momento, são todos engolfados no grande abismo! Tal é a sorte e a inevitável catástrofe daqueles que querem ser ricos, embora venham a esforçar-se por concretizar os seus desejos pelos meios mais rigidamente honestos». (Adam Clarke, in loc).

«...isto é, em total ruína, na ruína tanto da alma como do corpo; e é uma situação irrecuperável, como a de um homem que se afoga no mar, com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Essa é a insensatez e esse é o perigo daqueles que se arriscam a querer ser ricos a qualquer custo». (John Gill, in loc).

«Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência» (Pv 23:4).

«...ruína...» no grego é «olethros», que significa «ruína», «destruição», «morte», e que pode indicar tanto a ruína física como a espiritual, a temporal ou a eterna. Supomos que ambos os aspectos estão subentendidos aqui.

«...perdição...» No grego é «apeleia», «desperdício», «destruição», «aniquilamento». Uma vez mais pode ser temporal ou eterna, física ou espiritual; e provavelmente ambas as possibilidades estão em foco. Esta palavra visa reforçar aquela outra, fortalecendo a idéia da ruína inevitável que terá de sobrevir a tais indivíduos, ainda que, normalmente, sejam palavras sinônimas.

Aquele que tem o desejo de tornar-se rico,

Também deseja adquirir riquezas em pouco tempo. (Juvenal).

 

Por conseguinte, tais homens são mergulhados impensadamente no mal e nos desejos descontrolados, que finalmente os levam à ruína. O contexto desta passagem exige bem mais que meramente a idéia de «ruína moral».

 

6:10: Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.

 

A expressão «...amor ao dinheiro...» é tradução de um único vocábulo grego, isto é, «philaguria», cuja tradução mais literal seria «simpatia pela prata»; porém, «prata», nesse caso, representa «dinheiro», pois, naquele tempo, muitas moedas de valor eram feitas desse metal.

«...raiz de todos os males...» Isso traduz literalmente o grego. Alguns eruditos interpretam essa expressão como «a raiz de todas as espécies de males», como se houvesse alguns males que não se originassem do amor às riquezas. Naturalmente, isso expressa uma verdade; mas esta declaração é mais enfática do que isso. Simplesmente declara que todos os males procedem desse desejo, sem qualquer qualificação suavizadora. Natural­mente isso exagera a realidade, mas fá-lo para efeito de ênfase; contudo, permanece de pé a verdade que o amor ao dinheiro é uma das mais poderosas forças destruidoras, ficando assim justificado o autor sagrado em seu exagero; pois, após mais detido exame, fica evidente que ele não exagerou muito. Também é verdade que não existe mal a que não possamos ser conduzidos pelo dinheiro, ainda que não possamos, em todos os casos, ser levados a todos os males através do dinheiro. Seja como for, o dinheiro abre caminho para bom número de males, mergulhando os homens na ruína.

Notemos a ausência do artigo definido antes da palavra «...raiz...» Assim sendo, a frase poderia ser traduzida por «...o amor ao dinheiro é uma raiz de todos os males...» Portanto, tal cobiça poderia ser reconhecida como uma dentre várias raízes do mal. Mas não deveríamos pressionar demais o ponto, pois isso enfraqueceria a declaração bíblica. A despeito da ausência do artigo definido, no original grego, é melhor traduzirmos por «a raiz», porquanto isso preserva a força tencionada pelo autor sagrado, em nosso idioma português.

Essa declaração é proverbial, embora seja impossível descobrir sua fonte originária. É provável que tenha surgido, simultaneamente, em vários lugares, de uma forma ou de outra, sem ter havido uma única fonte. (Ver Testamento dos Doze Patriarcas, Judá, cap. 19). Há um provérbio grego, que alguns atribuem a Biom e outros a Demócrito, que diz: «O amor ao dinheiro é a cidade-mãe (ou origem) de todos os males», citado em Diog. Laert. vi.50. Sêneca (em «de Ciem.», ii.I) diz: «...desejos estranhos, dos quais procedem todos os males da alma». E Filo, «de Judice», cap. 3, nos adverte: «O amor ao dinheiro é incentivo para grandes transgressões». Policarpo(ad Phil., cap. 4) evidentemente tem uma alusão a este versículo, o que, incidentalmente, mostra a data relativamente antiga das «epístolas pastorais».

«Certamente que, hoje em dia, ninguém precisa de provas para o fato que homens e mulheres cometerão qualquer pecado ou crime por causa do dinheiro». (Robertson, in loc).

«...raiz...» No grego é «riza», palavra usada metaforicamente para indicar «origem», «ponto inicial», a «motivação» do que qualquer ato se origina. (Comparar isso com Rm 11:16-18).

«...cobiça...» No grego é «orego», que significa «aspirar», «esforçar-se por», «estender», que neste texto é usado no particípio presente, no grego original. Aqueles que «vivem se esforçando» atrás das riquezas, «exercitando-se» cobiçosamente atrás delas, desviam-se finalmente da fé e caem em uma armadilha onde muitas projeções pontiagudas os despedaçam.

«...se desviaram da fé...» No grego é usado o termo «apoplanao», que significa «desviar-se de». O anelo desordenado pelas riquezas é um desejo contrário à fé. Tal anelo nos desvia da fé e nos lança em ações anticristãs, que finalmente são prejudiciais à alma.

«...fé...» Primariamente, temos aqui a «fé objetiva». Tais homens «apostatam» da «fé cristã». Mas a fé «subjetiva» também está envolvida. Tais indivíduos perdem sua «outorga de alma» a Cristo. (Quanto à «fé objetiva», ver I Tm 1:2. Quanto à «fé subjetiva», ver Hb 11:1). A palavra «fé» também é usada, nas «epístolas pastorais», para indicar a «virtude» da fé; mas essa virtude é apenas a expressão da fé subjetiva na vida diária. (Ver o trecho de Gl 5:22 quanto à fé como um dos aspectos do «fruto do Espírito Santo»). O viver pela fé é o viver na virtude da confiança em Cristo, em que o crente entrega a alma a ele. Os cobiçosos, entretanto, desviar-se-ão da «fé cristã», perdendo sua dependência a Cristo e a sua lealdade a ele; e, dessa maneira, perderão até mesmo a virtude da fé diária.

«...se atormentaram...» No grego é «peripeiro», que quer dizer «traspassar». Talvez esteja em foco a figura simbólica de uma armadilha, em que um animal cai, estando a mesma equipada de projeções pontiagudas, que o traspassam e matam. Isso está de acordo com a idéia da «cilada», apresentada no nono versículo. As riquezas levam-nos a uma armadilha assim, e é inevitável que sejamos traspassados. A busca pelas riquezas materiais meramente leva os homens a serem traspassados por setas agudas, sofrendo eles a agonia de uma vida arruinada e de uma alma perdida.

«...muitas dores...» No grego é «odune», que significa «ais», «dores», «lamentos». Na ruína e destruição que sofrem, tanto temporal como eterna, há dor e sofrimento, há também lamentação e remorso, tal como um animal traspassado em uma lança sabe o que é agonizar. A advertência dada aqui é ao mesmo tempo pitoresca e patética.

 

Bibliografia Champlin

 

Última Acusação aos Falsos Mestres

 

Paulo está prestes a encerrar a carta. Uma vez mais ele exorta a Timóteo: Ensina e recomenda estas coisas. A exortação ensina e recomenda estas coisas leva Paulo a recapitular uma vez mais, antes de concluir, duas considerações dominantes: Os falsos mestres e o papel de Timóteo.

Nesta seção ele apresenta o último desmascaramento dos falsos mestres e a última acusação contra eles. Grande parte do que está dito no primeiro parágrafo faz lembrar a linguagem do capítulo 1. Todavia, grande parte é material novo. Aqui, o quadro se apresenta em minúcias. Esses mestres, que constituem o motivo de tudo — a presença de Timóteo em Éfeso, esta carta, o "desvio" ou "rejeição" da parte de alguns da igreja — revelam-se presunçosos, nutrindo avidez doentia por controvérsias. E tudo isto revela-se porque a razão fundamental é a ganância. Eles pensam que a "piedade" é meio de obter lucro financeiro — exatamente como os mascates do culto de Diana (At 19:23-41).

O segundo parágrafo (vv. 6-10), portanto, é a reação de Paulo à ganância deles. O apóstolo pronuncia a sentença da ruína que os espera.

 

6:2b Pela última vez nesta carta Paulo ordena a Timóteo: ensina e recomenda (ou "exorta") estas coisas. Como antes (3:14; 4:6,11; 5:7, 21), estas coisas referem-se ao que já foi dito, pelo menos entre 5:3 e 6:2, embora a natureza concludente do que se segue possa percorrer todo o caminho de volta a 2:1.

 

6:3-5 Em contraste com estas coisas que Timóteo deve ensinar, há os que ensinam outra doutrina (a mesma expressão de 1:3). Os vv. 3-5 são um único parágrafo condicional, no grego, do tipo conhecido como presente simples particular, significando que ambas as partes do parágrafo expressam o modo como as coisas realmente são. Tais sentenças condi­cionais são usadas quando o autor tem perfeita certeza de sua premissa. Neste caso, a prótase (a parte que começa com "se", v. 3) descreve o que os falsos mestres não fazem, mas deveriam estar fazendo. A apódose (a parte que começa com "é soberbo... ", vv. 4-5) descreve os resultados.

A maior parte do que está dito no v. 3 já foi dito antes. Que o herético ensina falsa doutrina foi dito em 1:3; sãs palavras é repetição da metáfora médica de "sã doutrina", encontrada pela primeira vez em 1:10; a combinação de sãs palavras e doutrina que é segundo a piedade para descrever a verdade do evangelho ocorreu em 4:6; e que o ensino deve ser segundo a piedade eusebeia reflete o "mistério da piedade" de 3:16 e a verdadeira piedade que se opõe às fábulas profanas de 4:7-10.

O que é novo no parágrafo é a expressão as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo. Pensam alguns que isto se refiriria ao que talvez se encontrasse nalgum evangelho escrito e, desse modo, significaria as palavras proferidas por Cristo. Mas isso deixa de considerar a ênfase dada por Paulo, a saber, que os falsos mestres abandonaram a verdade do evangelho, que procede de nosso Senhor Jesus Cristo, que é a origem suprema da fé, ou "piedade", que Paulo proclamava. O fato de eles abandonarem a Cristo (isto é, o evangelho) é seu grave erro.

Os vv. 4-5 descrevem os resultados de os falsos mestres haverem se desviado do ensino são. Paulo começa caracterizando o falso mestre de duas maneiras: Primeira, é soberbo e nada sabe (cp. o " ignorante cheio de pompa", da NEB). Esta acusação reflete um assunto freqüente de Paulo, a saber, que os que abandonam a verdade do evangelho julgam a si mesmos como sábios, ou "bem informados" e desse modo incham-se de auto-importância quando, na realidade, nada entendem.

Segunda, delira acerca de questões e contendas de palavras. Com um belo trocadilho Paulo descreve o oposto de "sãs palavras" como enfermidade, delírio, "ânsia mórbida" (BAGD) por controvérsias, ou contendas de palavras. Já observamos que seus ensinos levam a "con­versa sem sentido" (controvérsias; discursos vãos — veja disc. sobre 1:4, 6); fomos prevenidos pelo que está registrado em 2:8, de que tais contendas geram discórdias. Agora, tudo isso está explicado com clareza (cp. 2 Tm 2:23-25; Tt 3:9). O que a princípio eram meras "espe­culações ociosas" (1:4) no fim leva a contendas de palavras (no grego, uma palavra composta de logoi," palavras" e mache, "luta", significan­do "batalhas verbais").

O homem é soberbo e delira; a soberba e a ânsia doentia de engajar-se em controvérsias e levar adiante batalhas verbais têm, por sua vez, dois efeitos devastadores. Primeiro, produzem uma comunidade despedaçada e doentia. Quando os mestres abandonam o evangelho e discutem e brigam, isto acarreta invejas ou ciúmes — as pessoas tomam partidos — sendo isso pecado mortal (veja Gl 5:21; Rm 1:29). As invejas em geral explodem em porfías (ou "contendas"). Isto, também, está nas listas de Gl 5:20 e Rm 1:29. As duas palavras aparecem juntas, caracterizando os oponentes de Paulo em Filipenses 1:15 (cp. 1 Co 3:3). Porfías (cp. Tt 3:9) por sua vez ocasionam blasfêmias (cp. Tt 3:2) e ruins suspeitas. Quão egoísta é o ensino do erro — e quão destrutivo! E quantas vezes é feito em nome do "conhe­cimento" e da sabedoria (cp. 1:7; 6:20-21)! Finalmente, resultam em permanentes contendas. Esta palavra ocorre só aqui, no NT, e significa constante atrito (Moffatt) ou "irritação mútua" (Goodspeed) entre pessoas.

O segundo resultado da "enfermidade" (o herege delira), é o que o erro vem fazendo aos próprios falsos mestres. Eles se tornaram homens corruptos de entendimento; a metáfora da enfermidade chega à con­clusão: decadência e corrupção da mente. Que tais mentes corruptas foram despojadas da verdade é repetição de tema comum. Os crentes chegaram a conhecer a verdade (2:4; 4:3; 2 Tm 2:25); esses homens foram despojados dela (cp. 2 Tm 2: 18; 3:7, 8; 4:4).

Tais homens corruptos de entendimento, não mais possuindo a verdade, por fim evidenciam em sua maneira de pensar que a piedade (eusebeia; cp. 3:16; 4:7-8) é fonte de lucro (ou "proveito"). Esta acusação final, insinuada em 3:3, 8, parece desmascarar o que eles têm feito o tempo todo. Esses homens ensinavam, porque isso lhes proporcionava um meio de "ganhar dinheiro". Embora Paulo não nos diga com precisão o que isso significa, quanto a esses mercenários, o ensino da filosofia como "manto para acobertar a ganância"  (1 Ts 2:5, RSV; "intuitos gananciosos", ECA), era uma acusação comum na Antigüidade (veja, p.e., Dio Chrysostom, Oration 32, e da qual Paulo teve de defender-se pelo menos em uma ocasião (1 Ts 2:4-9; cp. Gl 1:10). Talvez esses falsos mes­tres tenham colhido algumas pistas da cultura, passado a bajular as pessoas — e por fim tomado o dinheiro delas. Deve-se notar, em conclusão, quantas coisas negativas sobre os hereges têm equivalências positivas nas qualificações para líderes da igreja em 3:2-12.

Esse problema da ganância dos falsos mestres é tão crucial que Paulo agora vai dispensar-lhe atenção especial (vv. 6-10). Ele reage de duas formas à maneira de eles pensarem em eusebeia como meio de benefi­ciar-se: nos vv. 6-8, Paulo mostra a relação entre a verdadeira piedade e o dinheiro — este nada tem que ver com aquela — e nos vv. 9-10, mostra o verdadeiro fim dos que desejam dinheiro.

 

6:6 Este versículo contrasta de pronto com as últimas palavras do v 5, num chocante trocadilho. É grande fonte de lucro a piedade. Eles pensam que piedade " é meio de tornar-se ricos". Estão certos, em parte. Há grande lucro (ou ganho, agora usado metaforicamente) na eusebeia, desde que esta venha acompanhada por contentamento, isto é, se estivermos satisfeitos com o que temos e fazemos, e não buscarmos lucro material.

A palavra autarkeia (contentamento) expressa a virtude predileta dos filósofos estóicos e cínicos, para os quais ela significa “auto-suficiência" ou a capacidade de o indivíduo confiar em seus próprios recursos. Alguns há (D-C, Hanson, Brox, et ai.) que consideram essa tradição filosófica como jazendo por trás dos vv. 6-8 e, por isso, traduzem: " Se ela estiver ligada à auto-suficiência" (D-C; cp. NEB, "cujos recursos estão dentro dele"). Mas Paulo já empregou esta palavra num contexto análogo em Filipenses 4:11; aqui ele " virou a mesa" em cima dos estóicos ao declarar que a verdadeira autarkeia não é a auto-suficiência, mas o Cristo-suficiência. Para Paulo, portanto, a palavra significa contentamento, a dotação de poder que Cristo nos concede para vivermos tanto acima da escassez quanto da abundância (Fp 4:13). De mais a mais, não há indício em 1 Timóteo de que seu autor considerava virtude qualquer coisa parecida com auto-suficiência. A vida para ele depende da graça e das misericórdias de Deus (1:12-17); o ministério paulino procede de Cristo, que o designou e lhe deu poder para executá-lo (1:12).

O objetivo de Paulo, portanto, é combater a ganância dos falsos mestres e, de modo incidental, a ganância de outros que por elafossem tentados.

 

6:7-8 Paulo dá agora dois motivos pelos quais o contentamento deveria acompanhar a piedade e por que, quando isso ocorre, temos "grande fonte de lucro". O primeiro motivo (v. 7) é, antes de tudo, escatológico. Nada podemos levar conosco por ocasião da morte (ou da parousia), por isso o ganho material é irrelevante, e a ganância, irracional. O texto grego é indicativo — e particularmente esquisito — na forma, mas ECA capta bem o sentido. Porque nada material trou­xemos para este mundo ao nascermos, e nada podemos levar dele ao morrermos. Este sentimento também pode ser encontrado entre os estóicos, mas é com precisão o ponto de vista de Jó 1:21: "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá" (ECA; cp. Ec 5:15; Fílon, On the Special Laws 1. 294-95, onde ele se expressa em termos muito chegados aos de Paulo e então o sustenta aludindo a Jó 1:21). A ênfase de Paulo recai sobre a segunda cláusula, nada podemos levar do mundo; diante desta realidade escatológica, a ganância não faz nenhum sentido.

Todavia, Paulo acrescenta como segundo motivo, tendo, porém, Sustento e com que nos vestir, estejamos contentes (o verbo oriundo do mesmo substantivo do v. 6). De novo se alega que isto "reflete o espírito do estoicismo" (D-C, p. 85), o que é verdade. Mas também reflete com mais precisão o ensino de Jesus (Lc 12:22-32; Mt 6:25-34), que em ambos os evangelhos é colocado de modo independente num contexto que condena a ganância (Lc 12:16-21; Mt 6:24). Desse modo, as coincidências com o estoicismo(Filos.Designação comum às doutrinas dos filósofos gregos Zenão de Cício (340-264) e seus seguidores Cleanto (séc. III a. C.), Crisipo (280-208) e os romanos Epicteto (c. 55-c. 135) e Marco Aurélio (121-180), caracterizadas sobretudo pela consideração do problema moral, constituindo a ataraxia o ideal do sábio.) são incidentais; o que parece acontecer nos vv. 7-8, pelo contrário, é muito semelhante ao que Paulo escreve em 5:18. Faz alusão a um texto do AT (v. 7) seguida por uma alusão ao ensino de Jesus (v. 8).

A questão é bastante clara. A piedade não é algo que proporciona lucro material (v. 5); antes, ela é em si mesma o maior lucro (v. 6). A verdadeira piedade, contudo, é acompanhada por contentamento (v. 6). Uma vez que nada podemos levar conosco por ocasião de nossa morte (v. 7), se temos os essenciais da vida, podemos estar contentes (v. 8); e tal atitude obviamente exclui a ganância.

 

6:9-10 Agora, mediante contraste com os vv. 6-8, Paulo retorna aos falsos mestres e sua avareza. O que ele diz no v. 9, é claro, tem alcance mais amplo, sendo verdadeiro com referência a todos os que querem ficar ricos. A carta é escrita, afinal de contas, para que a família de Deus se comporte de acordo com a verdade e com a piedade real. Assim, ele generaliza de início, descrevendo os resultados da ganância, que se aplicariam a todos. Mas o v. 10 deixa claro que alguns já capitularam, o que vincula todo o parágrafo ao v. 5. Desse modo, os vv. 9-10 são triste comentário final de Paulo — e o julgamento — sobre os falsos mestres. Eles querem ficar ricos.

Os resultados da ganância são uma espiral descendente. Primeiro, os gananciosos caem em tentação. A avareza tem um jeito de fazer as pessoas olharem em direções que de outro modo nunca teriam olhado. Como bem sabe o caçador, a sedução da isca (tentação) é que induz a presa a cair em laço. As duas andam juntas. O laço, neste caso, são as muitas concupiscências loucas e nocivas. A palavra concupiscências muitas vezes tem conotações sexuais, mas não há motivo para que se lhe aplique esse sentido aqui. As muitas concupiscências loucas talvez sejam a própria riqueza, que recebe o nome de loucura porque ela nada tem que ver com a verdadeira piedade, e de nocivas porque, em última análise, submergem os gananciosos na ruína e perdição.

A questão de Paulo é que o próprio desejo de riqueza carrega perigos espirituais inerentes, em parte porque (vv. 6-8) a riqueza em si não tem relação com a piedade, de maneira alguma, e em parte porque (v. 9) as concupiscências são laço colocado pelo próprio Satanás para afundar o indivíduo em ruína espiritual. Em outras palavras: Por que os indivíduos querem ficar ricos? A riqueza não tem relação alguma com nossa existência escatológica em Cristo; pelo contrário, a concupiscência leva a outros desejos que terminam em ruína, e dessa verdade os falsos mestres são o principal exemplo (v. 10).

No v. 10, um texto que tem sofrido muito abuso, Paulo conclui, de dois modos, sua acusação contra os falsos mestres. Primeiro, ele cita, ou faz alusão a um provérbio bem conhecido, que apóia seu argumento no v. 9 acerca dos maus efeitos da concupiscência da riqueza. Segundo, ele focaliza tudo isto nos falsos mestres, que de maneira vivida ilustram a verdade do que foi dito no v. 9.

Porque, diz Paulo, agora como evidência apoiadora, pois, neste caso o provérbio comum está perfeitamente certo: O amor do dinheiro é [melhor: "a"] raiz de todos os tipos de mal. Este texto não diz, como muitas vezes é citado errroneamente, que o dinheiro é a raiz de todo o mal, nem tenciona dizer que todo o mal que se conhece tem como raiz a avareza. Um provérbio muito semelhante a este ("O amor do dinheiro é a cidade-matriz de todo o mal") era largamente usado na Grécia antiga. Por natureza, os provérbios são breves, enfatizam expressões particula­res de certas verdades, muitas vezes de forma imprecisa e, para produzir efeito, exageram. Desse modo, o problema de Paulo não é precisão teológica quanto à relação da ganância com os demais pecados. Tanto judeus como gregos, muito tempo antes já haviam reconhecido os efeitos desastrosos que a avareza produzia na vida das pessoas, os quais eles expressam mediante provérbios. Paulo está apenas citando um provérbio como apoio a seu argumento de que a ganância é laço repleto de muitas concupiscências nocivas conducentes a todos os tipos de pecado.

A prova viva de tudo isto encontra-se nos presbíteros teimosos da igreja de Éfeso. Nessa cobiça alguns se desviaram da fé. Mercadejavam o evangelho trocando-o por doutrinas diferentes e, em assim fazen­do, se trespassaram a si mesmos (lit.," empaladas") com muitas dores.

Dessa maneira, a acusação final contra eles é trágica, e para Paulo muito dolorosa. Aqui estavam homens bons, que haviam surgido como líderes na igreja de Éfeso. Mas haviam-se deixado enredar por Satanás. Ninguém sabe como nem por quê eles se enamoraram de novas idéias, apaixonaram-se por interpretações especulativas, ou arranjaram aparência de bondade, ao apelar para um ideal ascético, um cristianismo elitista. Mas, no íntimo eles amaram o dinheiro, e isto os arruinou. Desviaram-se da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores, como por uma espada.