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livro de Genesis big bang x criacionismo
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             Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo —

                                      Parte 1 2  3

 

No último dia 17 de março, a comunidade científica foi “sacudida” por uma descoberta que teria “comprovado” uma vertente, ou “fase”, da teoria do Big Bang, a chamada hipótese inflacionária. O achado consistia de “ondas gravitacionais” que, na expressão de alguns cientistas, são classificadas como “marcas” inequívocas de que o Universo foi mesmo gerado há 13,72 bilhões de anos. Apesar da excitação que esse tipo de descoberta provoca, o físico brasileiro Marcelo Gleiser, em sua coluna na Folha On-Line, afirma que, assim “Como toda nova descoberta científica, esta também precisa passar pelo escrutínio da comunidade e ser confirmada por outros experimentos” (Ecos da Criação). Infelizmente, pouco mais de três meses depois, parece que tudo não passou de alarme falso e houve uma precipitação em divulgar o “achado”.* É o que informa o mesmo cientista em sua coluna no dia de hoje (A Sedução da fama). A que se respeitar a naturalidade da euforia inicial, principalmente se se considerar que os primeiros sinais desse tipo foram detectados, involuntariamente, há 50 anos, pelos radioastrônomos, Arno Penzias e Robert Wilson que, segundo Stephen Hawking, eram “dois físicos americanos dos Bell Telephone Laboratories, em Nova Jersey” que “estavam testando um ultra-sensível detetor de microondas (microondas são como ondas de luz, porém, com frequência da ordem de apenas dez bilhões de ondas por segundo). Penzias e Wilson ficaram preocupados quando descobriram que seu detetor estava registrando mais ruído do que deveria. O ruído não parecia vir de qualquer  direção particular. Primeiro descobriram dejetos de aves no aparelho e pesquisaram outros possíveis defeitos, mas logo desistiram. Sabiam que qualquer ruído interior da atmosfera seria mais forte se o detetor não estivesse apontado diretamente, do que quando estivesse, porque os raios de luz atravessam muito mais atmosfera quando recebidos próximo do horizonte, do que quando recebidos diretamente do além. O ruído extra era o mesmo em qualquer direção que o detetor apontasse; portanto, deveria vir de fora da atmosfera. Era também o mesmo de dia ou à noite, e durante todo o ano, ainda que a Terra estivesse em rotação sobre seu eixo e percorrendo sua órbita em torno do Sol. Isto demonstrava que a radiação deveria vir de além do sistema solar e, mais ainda, de além da galáxia, ou variaria quando do movimento da Terra apontasse o detetor para diferentes direções” (Uma Breve História do Tempo, pp.69-70). 

Por causa desse “achado”, Penzias e Wilson, ganharam em 1978, o Prêmio Nobel de Física. A demora se deu pelo fato de que a associação dos sinais detectados com a teoria do Big Bang só “foram interpretados mais tarde como resquícios de uma fase extremamente quente do Universo”, diz o físico brasileiro Mário Novello em sua obra Do Big Bang ao Universo Eterno (p.21). O que poucos sabem é que, como relata o jornalista Francisco Neves, em um dos textos de apoio à obra Poeira das Estrelas, de Marcelo Gleiser, apesar de a descoberta acidental dos dois físicos fornecer sustentação experimental à teoria, “Georg Gamow, Ralph Alpher e Robert Hermann, que em 1948 haviam apresentado o modelo teórico do Big Bang — no qual a existência de uma radiação cósmica de fundo era postulada —, sequer foram mencionados pelos laureados pelo trabalho” (p.155). É constrangedor que isso tenha ocorrido no meio acadêmico, pois os dois radioastrônomos não descobriram nada, eles apenas tiveram a “sorte” de constatar — acidentalmente, observe-se —, o que Gamow, Alpher e Hermann postularam três décadas antes. Infelizmente, conhecimento e titulação não significam necessariamente que a pessoa tenha caráter e civilidade. Patifarias à parte, o fato é que o achado de março é mais uma confirmação de um tipo de postulação teórica que teve início há pouco mais de noventa anos. Apesar de toda a hostilidade existente entre religiosos e cientistas, é “quase irônico”, diz Gleiser, “que o primeiro a propor um modelo científico da origem do universo fosse ao mesmo tempo padre e cosmólogo” (Ibid., p.141). Foi o que aconteceu em 1930 quando o padre belga, Georges Lemaître, que além de teólogo, era físico, propôs o chamado “Átomo Primordial”. A despeito dessa informação de Marcelo Gleiser, o matemático canadense John Byl, afirma que “Edgar Allan Poe, que se tornou mais famoso por seus contos, foi o primeiro a sugerir que o universo teve origem numa gigantesca explosão” (Deus e Cosmos, p.70). Byl informa que no “pequeno livro Eureka, publicado em 1848, Poe descreve como o universo foi criado por Deus, a partir do nada, como uma partícula primordial explosiva”. A explicação da hipótese de Poe, é que “Inicialmente a matéria explodiu movimentando-se em todas as direções. Na medida em que o universo se expandia, a gravidade gradualmente induziu os átomos a se condensarem, formando assim as estrelas e planetas. Eventualmente, em algum tempo no futuro, a ação da gravidade fará que pare a expansão, e então começará a contração. O cosmos finalmente retornará ao seu estado inicial, um pequeno ponto, tempo na qual ele desaparecerá” (Ibid.).  

 

 

 

Mas o destaque ao nome de Lemaître não se dá por ter sido, ou não, o primeiro a propor uma teoria do início do universo. Segundo o físico Lawrence Krauss, a proposta do padre belga foi fundamental para a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, daí a sua importância. Isso porque, apesar de ainda no início de 1916 o famoso físico ter completado a elaboração de uma nova teoria da gravitação, e não apenas isso, pois era igualmente “uma nova teoria do espaço e do tempo também”, pois, “foi a primeira teoria científica que explicou não apenas como os objetos se movem através do espaço, mas também como o próprio Universo pode se desenvolver”, como Krauss explica, havia “um percalço” na teoria. “Quando Einstein começou a aplicar sua teoria para descrever o Universo como um todo, ficou claro que ela não descrevia o Universo em que vivíamos” (Um universo que veio do nada, p.18). Isso porque, como diz Krauss, para a “comunidade científica de 1917, o Universo era estático e contínuo, e consistia em uma única galáxia, a Via Láctea, rodeada por um espaço vasto, infinito, escuro e vazio. Isso descreve o que você veria ao olhar para o céu, a olho nu ou com um pequeno telescópio, e na época havia poucos motivos para suspeitar do contrário” (Ibid., pp.18-19). Em outras palavras, “a teoria da Relatividade Geral de Einstein não pare[cia] consistente com a imagem [estática] que se tinha do Universo”, levando-o a inserir uma modificação em suas equações, o termo cosmológico ou, como diz Gleiser, “pressão negativa” (O fim da Terra e do Céu, p.284), que ele posteriormente classificou como “o maior erro de sua vida”. Krauss afirma que por “ser apenas o acréscimo de uma constante às equações, agora é convencional chamar esse termo de constante cosmológica” (Ibid., p.71). Em termos mais claros, apesar de Einstein ter intuído, mas não apenas isso, pois segundo Krauss, sua teoria também “teve a ver com a observação” (p.19), pelo fato de esta não coadunar com o que se pensava acerca do universo naquele contexto histórico, sua teoria teve de ser ajustada — erradamente —, para que pudesse ser ao menos postulada. 

Surpreendentemente, informa-nos Krauss, em “1927, antes de obter o segundo doutorado, Lemaître resolveu as equações de Einstein da teoria da Relatividade Geral e demonstrou que ela prevê um Universo não imutável e que, de fato, sugere que o Universo em que vivemos está em expansão. A ideia parecia tão chocante que o próprio Einstein a contestou com a declaração: ‘Sua matemática está correta, mas sua física é abominável’” (Ibid., pp.21-22). Ignorando tal oposição, “Lemaître seguiu adiante e, em 1930, propôs que o Universo em expansão na verdade teve início como um ponto infinitesimal, que ele chamou de ‘Átomo Primordial’, e que esse início representava, talvez numa alusão ao Gênesis, um ‘Dia sem Ontem’” (Ibid., p.22). Apesar disso, segundo Gleiser, “Lemaître foi o primeiro a admitir que o seu modelo era mais uma visão mítico-científica que uma descrição matemática da origem do universo. Algumas de suas ideias, porém, foram incrivelmente proféticas. Por exemplo, ele sugeriu que as desintegrações radiativas do núcleo primordial deveriam deixar ‘fósseis’, formas de radiação espalhadas pelo cosmo. Essa radiação, conhecida como radiação cósmica de fundo, foi encontrada em 1965!” (Poeira das Estrelas, p.143). Justamente os sinais que os radioastrônomos detectaram de forma acidental. Antes ainda de prosseguir, é preciso observar que a proposição de Lemaître coincide com a descoberta do americano Edwin Hubble que, no final da década de 20, “demonstrou que as galáxias se afastam umas das outras a velocidades que aumentam proporcionalmente à sua distância” (Ibid., p.140). Tais exemplos ilustram, concretamente, a tese defendida por Thomas Kuhn a respeito do papel de uma teoria que acaba tornando-se um paradigma, isto é, uma “revolução científica” (A estrutura das revoluções científicas, p.122). Houve muita resistência até que a física einsteiniana substituísse a newtoniana**, pois a “emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de insegurança profissional, pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal” (Ibid., p.95). Na verdade, a insegurança da ciência existente no momento em dar respostas, aponta para um “fracasso das regras existentes” que, por sua vez, “é o prelúdio para uma busca de novas regras” (Ibid.). 

Evidentemente que não há possibilidade, e também necessidade, de neste espaço se recontar “a história do universo, geralmente aceita, de acordo com o que é conhecido como ‘modelo da grande explosão térmica’” (Uma Breve História do Tempo, p.164). Mesmo porque, para isso, teríamos de passar por lances históricos que envolvem nomes como os do físico austríaco Christian Doppler, bem como o de Henrietta Swan Leavitt, Vesto Slipher e Milton Humason que, em 1842, 1908, 1912 e 1929, respectivamente, fizeram descobertas que proporcionaram as condições para que o conhecimento a respeito do referido modelo viesse à tona, ou “confirmaram”, retroativamente, aspectos da futura hipótese (Um universo que veio do nada, pp.18-52). Na realidade, todas as observações dessas personagens, contrariavam a ideia que se tinha na época, ou seja, que o universo era “essencialmente constante no tempo” (O universo numa casca de noz, p.71) e, por conseguinte, eterno. Um exemplo emblemático de resistência a essas “inovações” data de 1948 quando, três cientistas, Fred Hoyle, Herman Bondi e Thomas Gold, no lugar de “supor que a expansão cósmica leva a uma origem num momento do passado, sugeriram que o universo sempre foi o mesmo: segundo eles, o cosmo não só é essencialmente o mesmo em todo o espaço, como havia sugerido Einstein com seu princípio cosmológico***, mas também no tempo” (Poeira das Estrelas, p.144). Tal ideia ficou conhecida “como ‘princípio cosmológico perfeito’, segundo o qual o cosmo é e sempre foi essencialmente o mesmo no tempo e no espaço”. Gleiser informa que com essa alternativa, em “termos filosóficos, voltamos à noção pré-socrática do ser, imutável e fundamental” (Ibid.). Evidentemente que o trio possuía “argumentos científicos” para apresentar tal proposta. Diante de objeções como a descoberta de que as galáxias estão em recessão, um desses argumentos, “aparentemente uma heresia científica”, diz Gleiser era que “para acomodar a expansão cósmica, basta supor que a energia total do universo não seja conservada” (Ibid.). Contudo, conforme informa o físico brasileiro, “em meados da década de 1960 ficou claro que esse modelo, conhecido como ‘modelo padrão’, está incorreto: não podia explicar de forma simples e convincente a existência da radiação cósmica de fundo” (Ibid., p.145). 

Para se ter uma ideia da força do “modelo padrão”, em 1955, nada menos que Stephen Hawking, à época um pré-adolescente de apenas 12 anos cujo apelido no colégio era “Einstein”, revela, em sua autobiografia, que “tinha seis ou sete amigos próximos” com os quais travava “longas conversas e discussões a respeito de tudo, desde modelos controlados por rádio até religião, parapsicologia e física”. Ele diz, porém, que com o seu grupo, “Uma das coisas sobre as quais [falava] era a origem do universo e se foi necessário um Deus para criá-lo e levá-lo adiante. Eu ouvira falar que a luz das galáxias distantes tendia para a extremidade vermelha do espectro e que isso devia indicar que o universo estava se expandindo. (A tendência para o azul teria significado que estava se contraindo.) Mas eu tinha certeza, de que deveria haver alguma razão para o desvio para o vermelho. Um universo essencialmente imutável e eterno parecia muito mais natural. Talvez a luz ficasse apenas cansada, e mais vermelha, em seu caminho até nós, especulei” (Minha breve história, p.32). Contudo, Hawking informa que dois anos depois de iniciar seu ph.D., percebeu que estava errado, ou seja, diante das evidências, ficou claro que o “modelo da grande explosão térmica”, proposto no final da década de 1940, era mais exequível por concordar com as observações. Marcelo Gleiser diz que tal “modelo, que o próprio Hoyle zombeteiramente chamou de ‘modelo do Big Bang’, pressupõe exatamente o oposto do modelo padrão: o cosmo teve, sim, uma origem, há bilhões de anos” (Poeira das Estrelas, p.145). O fato é que, conforme informa-nos Hawking, a “grande questão em cosmologia no início da década de 1960 era se o universo tinha um princípio”. Muitos cientistas instintivamente se opunham a essa ideia e, como consequência, à teoria do Big Bang, porque sentiam que estabelecer um ponto inicial da criação levaria a ciência a um impasse. Seria necessário apelar para a religião e a mão de Deus para determinar como o universo tinha começado” (Minha breve história, p.69). Como já foi dito, o embate se concentrou em dois modelos, um na teoria do estado estacionário e o outro, na chamada hipótese inflacionária. Uma vez que o primeiro vinha, diante das observações, cada vez mais perdendo a sua força, diz Mário Novello, citando uma fala de um debate informal no apêndice I de sua obra, na qual o debatedor afirma que “o modelo inflacionário apresentou uma proposta simples e que possui consequências passíveis de observação — e, como tal, está dentro do esquema convencional da ciência”. O mesmo debatedor reconhece que “a história da física, como qualquer tipo de história, é feita por aqueles que detêm o poder”. Assim, apesar de se atribuir “a Alan Guth a ideia original” do modelo inflacionário, é possível pensar que “vários outros cientistas apresentaram antes dele trabalhos semelhantes, como Alexey Starobinsky, Katsuito Sato e outros” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.114).

 

Como a história da cosmologia pende para o nome de Alan Guth na discussão da formação da teoria do Big Bang, vale a pena deter-se um pouco mais em sua proposta. Antes, porém, é importante observar que, a despeito do crescente interesse em torno da proposta do Big Bang (pois a “hipótese de um universo que começou extremamente quente e foi se resfriando à medida em que se expandia está de acordo com todas as evidências observáveis que temos atualmente”), é preciso reconhecer que, a despeito disso, mesmo essa hipótese “deixa inúmeras perguntas sem resposta” (Uma Breve História do Tempo, p.171). “Estranhamente”, as quatro questões “sem respostas” estão apenas na edição antiga da excelente obra de Hawking. Na nova edição do livro, escrita com Leonard Mlodinow e lançada em 2005, além de o título ter sido ligeiramente modificado — Uma nova história do tempo —, tais indagações simplesmente não aparecem. O detalhe curioso é que elas ainda não foram respondidas. É preciso, antes de prosseguir, ressaltar duas outras questões: A primeira é que, conforme explica Mário Novello, “o cenário descoberto pelo matemático [e físico] russo Alexander Friedmann, que descreve um Universo dinâmico, em expansão, como um processo evolutivo, permitiu vislumbrar um território novo” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.23). Como já foi dito, a despeito de não haver espaço aqui para se recontar a história do Big Bang, torna-se interessante destacar alguns nomes e aqui parece prudente falar desse russo, Alexander Alexandrovich Friedmann (1888-1925), que teve importância capital na formação dessa cosmologia. Enquanto Lemaître desenvolveu a posição de Einstein mostrando que, contrariamente ao que defendia o cientista alemão de origem judaica, o modelo cosmológico apresentado por ele implicava em um universo dinâmico, Friedmann, diz Novello, no final dos anos 20, “submeteu à publicação na revista alemã Zeitschrift fur Physisk uma análise da questão cosmológica distinta daquela contida na solução original proposta pelo fundador da cosmologia moderna” (Ibid., p.35). De acordo com Novello, a “principal novidade consistia em tratar a questão como um processo dinâmico, no qual contrariamente ao modelo de Einstein, exibia-se uma evolução do Universo, uma dependência temporal de suas propriedades mais fundamentais e, em particular, de sua geometria. No entanto, o apriorismo de um Universo estático — a famosa hipótese introduzida por Einstein em seu primeiro modelo cosmológico — mostrou-se tão fortemente reacionário que conseguiu evitar, por mais de um ano, a publicação do trabalho de Friedmann” (Ibid.). Prescindindo de muita explicação pode-se citar que, de acordo com a cosmologia de Friedmann, há três possíveis modelos e destinos do Universo: “um universo supercrítico [com] geometria fechada [que] acaba entrando em colapso [‘Big Crunch’]; um universo crítico [com] geometria plana [que] continuará sua expansão indefinidamente; [e] um universo subcrítico [com] geometria aberta [que] também continuará sua expansão indefinidamente” (O fim da Terra e do Céu, p.290). “Fechando” o círculo histórico, basta dizer que Georg Gamow, trabalhou com Friedmann até sua morte em 1925.

A segunda questão é que existem vários modelos de Big Bang ou, como chama Marcelo Gleiser, “universos de escrivaninhas” que “foram descobertos nos anos de 1920 e 1930, baseados em soluções das equações de Einstein com diferentes distribuições de matéria” (Ibid., p.286). Apesar de o próprio Gleiser dizer que Alan Guth, atualmente lotado no “Instituto de Tecnologia de Massachusetts, desenvolveu originalmente a teoria que prevê que a geometria do Universo deve ser plana, conhecida como ‘teoria do universo inflacionário’”, é preciso observar que, segundo o mesmo autor, “Ideias que se aproximavam da solução de Guth já existiam no final dos anos 1970, mas ninguém as havia aplicado dentro do contexto relevante e com a mesma elegância e clareza” (Ibid., p.332). Tal é possível pelo fato de que, como explica Mário Novello, a “geometria de Friedmann admite como fonte — via equações da relatividade geral — um fluido perfeito. Essa configuração de distribuição da matéria é caracterizada, [...] pela densidade de energia (representada pela letra E) e pela pressão (representada pela letra P). Entre elas existe em geral uma equação de estado que relaciona as duas quantidades, a saber: P = s E” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.129). “Assim”, finaliza o mesmo autor, “para cada valor possível da constante s, temos um dado tipo de fluido perfeito. Como, na maior parte dos fluidos conhecidos, s assume valores entre 0 e 1, existe uma grande quantidade de configurações materiais. Cada uma dessas configurações corresponde a uma dada geometria possuindo um correspondente big bang. Claro que somente um desses valores teria sido efetivamente realizado na natureza. Como não sabemos com precisão qual foi ele, todas as possibilidades devem ser entendidas como geometrias possíveis, isto é, possíveis universos, cada qual gerando seu correspondente big bang” (Ibid.). O ponto a destacar é que o “artigo de Guth apareceu em 1981 e foi rapidamente seguido por variações propostas por Andrei Linde (hoje na Universidade de Stanford) e, independentemente, por Andreas Albrecht (hoje na Universidade da Califórnia, em Davis) e Paul Steinhardt (hoje na Universidade de Princeton)” (O fim da Terra e do Céu, pp.332-33). Assim, desde quando o trabalho pioneiro de Guth veio a público, informa Gleiser, “dezenas de cenários alternativos foram propostos — alguns por este autor — pressupondo receitas diferentes para a sopa primordial de partículas, mas obtendo basicamente os mesmos resultados, após um número maior ou menor de aproximações, mais ou menos elegantes”. O que está se afirmando, é que o modelo inflacionário, ou seja, a “inflação em cosmologia é ainda uma ideia em busca de uma teoria”, pois “boa parte do debate atual entre cosmólogos é se um ou outro modelo é melhor ou mais ‘natural’” (Ibid., p.333). Após explicar toda a problemática, Gleiser informa que “qualquer que seja a física pré-inflacionária (supercordas ou outra), ela está codificada no ínflaton**** e suas interações; o modelo do Big Bang é o que vem depois da inflação. Em outras palavras, a inflação reinventou o Big Bang. Não foi à toa que Alan Guth deu o subtítulo ‘The quest for a new theory of cosmic origins’ [A busca por uma nova teoria da origem do cosmo] a seu livro de divulgação científica sobre a cosmologia inflacionária” (Ibid., p.345). 

A aceitabilidade da proposta de Guth se deu por sua capacidade de responder a um dois principais problemas do modelo cosmológico do Big Bang. Trata-se do problema do horizonte que, explica Gleiser, é uma das “limitações mais óbvias do modelo do Big Bang”, pois refere-se a, “paradoxalmente, sua incapacidade de explicar uma de suas propriedades mais relevantes, a incrível homogeneidade da temperatura da radiação cósmica de fundo”. Essa é um dos mistérios a ser explicados, pois, como se sabe, “qualquer que seja a direção em que uma antena sensível à radiação de micro-ondas aponte na abóbada celeste, essa antena medirá a mesma temperatura com uma precisão de uma parte em 100 mil. Tal homogeneidade da distribuição de fótons torna-se ainda mais impressionante quando tentamos entender como ela é possível” (Ibid., p.333). Prescindindo estritamente de tal explicação pela absoluta falta de espaço, vale ainda dizer que o “que torna misteriosa a questão da homogeneidade da temperatura da radiação cósmica de fundo é que, como vimos, a última vez que os fótons puderam interagir com as partículas de matéria para ajustar as suas temperaturas foi durante o desacoplamento, quando o Universo tinha a tenra idade de 300 mil anos. O problema é que, nessa época, o horizonte causal — a região dentro da qual a temperatura poderia ter sido homogeneizada — correspondia a uma área que hoje ocupa menos de um grau no céu (em torno de duas leias cheias). Nesse caso, como é que os fótons em regiões distantes do Universo ‘sabem’ que devem ter a mesma temperatura?” (Ibid., p.335). Gleiser diz que “Guth propôs uma solução brilhante”. Sua proposta, segundo Gleiser, foi a seguinte: “Suponha que durante os primeiros instantes de sua existência, em torno da época em que a Grande Unificação***** supostamente ocorreu (10-36 segundo), o Universo sofreu um dramático aumento de sua taxa de expansão, de modo a inflar uma região minúscula — menor do que o horizonte causal da época — até um tamanho gigantesco, grande o suficiente para incluir todo o Universo observável hoje [...]. Após um curtíssimo intervalo de tempo, a taxa de expansão cósmica retorna ao normal e o Universo, agora ‘inflado’, volta a evoluir de acordo com o modelo do Big Bang. (Lembre-se que, no modelo do Big Bang, a gravidade diminui gradualmente a taxa de expansão do Universo.) Devido a esse curto, mas extremamente rápido, período de expansão (para aqueles leitores mais matemáticos, a expansão da geometria durante esse período foi exponencial), a solução de Guth ficou conhecida como ‘universo inflacionário’” (Ibid., pp.335-36). 

A não confirmação do achado do dia 17 de março traz à tona a possibilidade de se discutir outros modelos cosmológicos, entre eles, o que defende Mário Novello, um universo eterno, sem singularidade, ou seja, autogerado, sem início e sem fim. Isso apenas demonstra que o insaciável desejo humano pelo conhecimento das origens de tudo parece não descansar. Mesmo que uma teoria prove ser a descrição da realidade ou ainda que uma das centenas de narrativas sobre a criação pareça ser uma pista do surgimento de tudo, ainda assim não haverá a saciedade de tal busca. Fico a pensar como reagiriam religiosos que se apropriam das teorias para comprovar a Bíblia. Penso especificamente na proclamação, em 1951, do Big Bang, pelo papa Pio XII, como evidência do Gênesis. E imagino também a reação de pensadores cristãos como Charles Colson, por exemplo, que no combate ao evolucionismo afirma que a “teoria do big bang dá um sopro quase fatal na filosofia naturalista, pois o seu credo considera a realidade como uma sequência ininterrupta de causa e efeito que pode ser traçada indefinidamente” (E agora como viveremos?, p.85). Antes de tecer explicações acerca do princípio antrópico (registre-se apenas que existem duas versões dele: a forte e a fraca), Colson diz que os “naturalistas simplesmente não têm nenhuma forma de se opor ao desafio colocado pelo big bang sem enroscar-se em contorções lógicas impossíveis. Os fatos claramente indicam que o Universo não é eterno, e não pode originar-se a si mesmo. A implicação é que o Universo começou em um momento definido no tempo, em um lampejo de luz e energia. A ciência começou a soar misteriosa tal como o Gênesis 1: ‘E disse Deus: Haja luz’ (1.3)” (Ibid., p.86). O grande e grave problema para quem adota esse tipo de abordagem que, reconheço, tem até uma motivação boa, é que ele acaba refém da comprovação de tal perspectiva, assim como ateus que adotam a mesma visão com outras motivações. Esquecendo de que, como ensinou Lemaître, o “fato de o Big Bang ter acontecido ou não é uma questão científica, não teológica” (Um universo que veio do nada, p.22). Não obstante, no afã de comprovar sua tese, o próprio físico ateu, Lawrence Krauss, cai na armadilha de dizer que o Big Bang é um fato, pois “todas as evidências hoje confirmam de maneira contundente” (Ibid.). Ele, porém, tem o mérito de afirmar que, caso tenha ocorrido, o Big Bang “pode ser interpretado de diferentes maneiras, de acordo com predileções religiosas ou metafísicas” (Ibid.) Ele chega a dizer que é possível “ver o Big Bang como o próprio Criador ou, ao contrário, argumentar que a matemática da relatividade explica a evolução do Universo desde o seu início, sem a intervenção de qualquer divindade”.  E completa dizendo que uma “especulação metafísica como essa é independente da validação do Big Bang e irrelevante para a nossa compreensão” (Ibid., pp.22-23). Será? Tudo leva a suspeitar que não, pois como veremos no próximo texto, Stephen Hawking, Mário Novello e o próprio Lawrence Krauss, importam-se com a fundamental questão de como surgiu tudo.

 

O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo — Parte 2

 

No último texto, ao finalizar com a citação de Lawrence Krauss dizendo que a interpretação do evento Big Bang (se este tivera um início autogerado ou com o start de uma divindade) era irrelevante, pois tal especulação metafísica não é necessária à compreensão científica do evento, deixei uma dúvida no ar dizendo não acreditar que esta palavra expresse mesmo a verdade, pois tanto Krauss, como Stephen Hawking e Mário Novello, demonstram certa preocupação com o aspecto metafísico da explicação do universo. Todos os que me acompanham sabem que sempre falei do fato de que em todos esses anos de pesquisa acerca da relação entre ciência e religião ou fé e razão, os maiores problemas que enfrento não vem propriamente da ciência e sim da teologia que, pretendendo-se científica, insiste em pontos obsoletos que não aceitam revisão. O problema dos proponentes do Criacionismo como uma teoria, por exemplo, é que eles não querem que, à luz de novas descobertas, a teoria sofra modificações, pois, como é óbvio, sendo uma teoria “bíblica”, logo, “revelada por Deus”, não pode conter “erros” (coisa que é absolutamente normal em qualquer teoria). Por outro lado, não se pode negar que cientistas comportem-se exatamente dessa forma e não aceitem revisar suas propostas teóricas. 

Já escrevi em outras ocasiões acerca da “fé dos cientistas” (Veja aqui e aqui), mas não pude deixar de admirar-me mais uma vez ao ler, no último domingo de outubro (26), a coluna do físico brasileiro Marcelo Gleiser que fala exatamente desse assunto, inclusive, com o mesmo título: “A fé dos cientistas”. Retomando aquilo que já foi dito diversas vezes, Gleiser fala sobre o fato de os cientistas acreditarem, a priori, em um universo ordenado de causa e efeito, pois de outra forma nenhuma pesquisa seria possível (Este ponto, inclusive, é exaustivamente utilizado por apologistas para provar a veracidade do criacionismo ou até mesmo a existência de Deus). Conhecida como “determinismo”, como disserta Gleiser, essa visão sofreu vários abalos com as descobertas da física quântica, pois em “mundo quântico, essa certeza tem que ser posta de lado, e precisamos adotar regras baseadas em probabilidades”. Apenas para constar, basta dizer, conforme Gleiser, que ninguém menos que “Einstein, Schrödinger, Planck e outros grandes nomes da ciência sofreram, recusando-se a aceitar isso”, pois para estes cientistas, “a natureza tinha que seguir regras simples, determinísticas, mesmo se não soubéssemos quais”. Para o físico brasileiro, professor do Dartmouth College, em Hanover (EUA), “Esse tipo de postura só pode ser chamado de fé”, pois significa justamente “acreditar numa natureza ordenada, racional, mesmo quando se manifesta de forma aleatória”. Gleiser lembra então a famosa, e incompreendida, frase de Einstein que, ao escrever a Max Born, disse que “‘Deus não joga dados’”, pois tanto o cientista alemão como “outros”, diz Gleiser, “buscaram teorias que explicassem as estranhas probabilidades quânticas como manifestações de uma ordem mais fundamental. E falharam”.

 

Mesmo admitindo a existência de “fé” na ciência, Marcelo Gleiser faz então uma ressalva, e diz que há “uma diferença essencial entre a fé religiosa e a fé científica: dogma”. E completa, afirmando que em “ciência, o dogma é insustentável, pois cedo ou tarde mesmo as ideias mais arraigadas — se erradas — sucumbem à evidência dos dados. Em ciência, a fé numa ideia errada tem de ser abandonada. Na religião, a evidência dos dados é elusiva ou mesmo irrelevante, o que faz com que a fé seja uma proposta sempre viável”. Aqui talvez seja interessante fazer alguns esclarecimentos acerca do fato de que, para a fé religiosa, a descoberta, ou a evidência, dos dados ser, ainda assim, algo, nas palavras de Gleiser, irrelevante ou elusivo. Isso, claro, da forma como atualmente entendendo o que é “fé”. Primeiramente, alinho-me com Roger Haight no reconhecimento de que, “em um mundo de radical pluralismo [...], parece impossível descobrir algum fundamento de alguma ordem na sociedade humana”, logo, é evidente que haja “ameaças à existência humana [e] um dinamismo humano por superá-las”. Assim, a “busca de salvação, portanto, inscreve-se na estrutura e na dinâmica mesmas da liberdade humana em ação” (Dinâmica da teologia, p.35). Uma vez que “nenhum objeto finito, nenhum conjunto de valores intramundanos, pode satisfazer o que é demandado pela lógica da ação humana, na medida em que esta só pode consistir em um ser infinito e absoluto”, conforme Haight é justamente “essa indisponibilidade que determina a fé como dimensão constitutiva do ser humano” (Ibid., p.36). Toda a humanidade, indistintamente, precisa de um fundamento para a busca da “salvação”, isto é, a busca pelo livramento de sua derrocada e extinção. O fato é que, “mesmo na ausência de um objeto que corresponda às exigências da ação os seres humanos ainda devem escolher”, pois não conseguem viver em um “vácuo”, sem em uma direção para a qual direcionar suas vidas e histórias.

 

Assim, nas palavras de Haigth, as “pessoas aceitam algum centro de gravidade que equilibra as ponderações dos diversos valores em sua vida”, e isso, apesar de não terem evidência alguma de que tal centro seja ou não verdadeiro (Isso se se considerar como capaz o ponto de vista que decide o que é ou não real). Na realidade, as pessoas adotam “um sistema de significação que estabelece certas verdades fundamentais”, ou seja, as “sociedades inculcam uma gama de objetos de fé que proveem uma unidade, uma ordem compreensiva e inteligibilidade à vida”. Tal centro de gravidade torna-se então em “objetos de fé”, pelo fato de que “a fé é compromisso vinculante com esses objetos, verdades e valores que conferem sentido à existência humana em seu nível mais fundamental”. Isso significa que, quando “os membros de qualquer sociedade ou cultura os internalizam em sua vida, esses valores basilares não podem ser reconhecidos como objetos de fé”, pois passam a “afigurar-se como verdades evidentes por si mesmas”. No entanto, a “consciência histórica”, diz Haigth, “informa-nos em que medida a fé permeia a vida humana”, pois, na verdade, o “simples pluralismo desses valores fundamentais indica tratar-se de objetos transcendentes de fé”. Tal “abordagem segundo um ponto de vista concreto, existencial e histórico mostra que todos os seres humanos vivem em consonância com alguma forma de fé”. Com base nessa constatação, Haigth, afirma que a “fé é um fenômeno humano comum, uma dimensão essencial da ação humana que constitui a existência humana em sua integralidade”. Em termos diretos, “todas as pessoas têm fé” (Ibidem). É evidente que existem objeções a esse pensamento, e podem ser apresentados contrapontos de estilo de vida baseados, por exemplo, em prazer, consumismo e outros aspectos que parecem prescindir de algum tipo de fé. Não obstante, “por trás desse comportamento aparentemente errático, na medida em que é absolutamente responsável, pode-se detectar, mediante análise redutiva, uma dedicação, um compromisso de fé, uma direção, um caminho em que se empenhou o coração” (Ibidem.). Nesse caso, isso apenas significa que o “objeto de fé pode situar-se bem abaixo em qualquer escala de valores” (Ibid., pp.36-37). Na verdade, o objeto de fé pode até mesmo “ocultar-se a uma avaliação reflexiva”, e pode ainda “incorporar-se à lógica implícita do comportamento de determinada pessoa ou povo”, mesmo assim, “algum objeto de fé acha-se sempre operativo na medida em que é constituído pelo somatório das decisões efetivas de um indivíduo” (Ibid., p.37). 

Até aqui, a única coisa que se quis explicitar é que a fé é própria dos seres humanos e que, a existência e o próprio fato do “pluralismo dos objetos de fé revela que a fé é fé e não conhecimento passível de demonstração, e que é universal e inescapável” (Ibidem.). Tal perspectiva “antropológica da fé também liberta a fé em um objeto transcendente do peso de uma heteronomia que nega a liberdade humana”, pois a “questão da fé é a questão da salvação”. Isto é, essa abordagem “também indaga que objeto, que valor, que realidade suprema vale mais a dedicação e o compromisso da liberdade humana”, pois o “valor da liberdade humana pode ser mensurado pelo objeto de sua fé”. Por mais absurdo que seja, “o paradoxo da fé é que a magnitude do objeto do compromisso exalta a própria liberdade” e é nesse particular que se situa “a convicção cristã de que Deus estabeleceu a liberdade humana como capacidade de infinitude” (Ibidem.). Para além dessa discussão que, inclusive, pode parecer demasiadamente cansativa, o fato é que a “fé consiste em um ser atuado e em uma submissão a valores que transcendem a identidade”, em outros termos, o “compromisso de fé exige uma espécie de dependência e de plenitude em relação ao valor daquilo a que nos sujeitamos” (Ibid., p.39). Assim, a fé, para bem ou para mal, é o quê de mais profundo e visceral possuímos, sendo responsável pela orientação da nossa vida e pela busca da “salvação”, e isso, ainda se falando em termos puramente antropológicos, significa que, conforme a “fenomenologia da existência humana [...] a desvela”, a fé é “propensão ou esforço tendente ao infinito” (Ibid., p.40). Isso obviamente não quer dizer que a fé não tenha conexão alguma com a realidade presente. E também não significa que, como já foi dito, não haja pessoas cuja dinâmica da vida não consista em um compromisso com sua própria nação (ou outra!), com a riqueza ou outras coisas e, neste caso, é preciso reconhecer que, no sentido estrito, tal fé não é “religiosa”. 

Aqui, talvez, surja a necessidade de se fazer a distinção apontada por Marcelo Gleiser, pois, grosso modo, conforme disserta Roger Haight, a “realidade finita, em si mesma, não deve ser objeto de fé religiosa” (Ibid., p.41). Por quê? Um exemplo bíblico ilustra o ponto. O texto de João 20.24-29 relata o caso envolvendo a incredulidade, ou a dúvida, de Tomé a respeito de seus amigos terem visto Jesus após a morte, ou seja, ressuscitado. Oito dias depois de ter aparecido aos discípulos, Jesus retorna ao mesmo local e, nessa oportunidade, encontra Tomé (tudo leva a crer que o Mestre viera naquele dia justamente para isso). Cristo dirige-se ao duvidoso discípulo e oferece-lhe exatamente o que Tomé dissera que solicitaria: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado”. O discípulo então exclama o que se pode chamar de uma das grandes confissões neotestamentárias — “Senhor meu, e Deus meu” —, mas é impossível não se notar o tom retórico de Jesus: “Creste porque me viste?”. Ora isso não é “crer”, mas exercer bom senso, pois se está diante da realidade e ainda assim não crê, o problema deixa então de estar no objeto de fé, e vira-se para o próprio agente, uma vez que, estando diante do que antes dizia não crer, se se é normal, não há mais razão alguma para não acreditar. Por isso, Jesus completa: “Bem-aventurados os que não viram mas creram!” (Evangelhos e Atos dos Apóstolos. Novíssima tradução dos originais, p.216). É óbvio que a fé (fé mesmo!), só pode referir-se aos que não viram. Estes sim, podem dizer que têm fé, pois não contemplaram, apalparam e ainda assim creram. Agora, quem viu e tocou, não precisa de fé, somente de bom senso, pois como afirmara René Descartes, “ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava” (Discurso do Método, p.62). Em outras palavras, se o cético duvida também de sua própria existência, então não há mais o que fazer! 

Desse percurso reflexivo resultam algumas implicações. A primeira é que, de forma estrita, “a linguagem teológica deve envolver o mistério transcendente. Caso contrário, não é uma afirmação de fé nem uma asserção teológica. Na tradição da teologia cristã, o objeto próprio da fé é, genericamente falando, restrito a Deus” (Dinâmica da teologia, p.41). Assim, continua Haight, “a linguagem ou as afirmações que não comportem uma experiência de transcendência, mas são corroboradas pela evidência empírica, não são, estritamente falando, afirmações teológicas”. Como exemplo, Haight cita o fato de Jesus ter sido um ser humano e diz que tal sentença “não constitui uma afirmação de fé”, bem como, a “assertiva de que a Igreja é uma comunidade de discípulos de Jesus não requer fé para ser apreciada por seu valor de face”, ou seja, por ser algo visível e palpável. Dessa forma, em se tratando dessas afirmações, é preciso reconhecer que são “julgamentos empíricos” e, por isso mesmo, prescindem da fé, pois “uma afirmação teológica implica transcendência” e, continua o mesmo autor, “em si mesmas, essas afirmações não constituem proposições teológicas” (Ibid.). Os dois eventos mais importantes da fé em Cristo — encarnação e ressurreição — são transcendentes e, portanto, objetos de fé. E isso não apenas teologicamente, mas biblicamente, pois o próprio Jesus fala da felicidade de quem não viu e creu, pois Ele ascenderia novamente ao Pai e sabia que se alguém condicionasse o crer a ver e apalpar, tal como Tomé, seria impossível crer, pois Ele não mais se manifestaria dessa forma! Uma vez que o conhecimento, resultado da atividade científica, nos termos de Gleiser (e reconhecido por ele como uma idealização), é “o produto final da pesquisa científica [e] deve ser algo concreto, [posto que as] hipóteses [...] devem ser comprovadas, [e os] dados obtidos em experimentos passíveis de repetição por outros”, a fé, nesse sentido, não é conhecimento. Mas também é preciso reconhecer que, se essa definição, ou visão do conhecimento científico, diz o matemático John Lennox, fosse mesmo “sustentada, ela não aceitaria a maior parte da cosmologia contemporânea como ciência”, pois é complicado ver, por exemplo, “como o modelo padrão para a origem do Universo pode descrever alguma coisa além de acontecimentos únicos — a origem do Universo não é (facilmente) replicável” (Por que a ciência não consegue enterrar Deus, p.44). Ao referir-se ao primeiro versículo da Bíblia, por exemplo, o mesmo matemático diz que a “declaração de Gênesis é uma declaração de fé, não uma declaração de ciência, exatamente como a asserção de Sagan (referindo-se à frase o “Cosmos é tudo o que existiu, existe ou existirá”, registrada na obra Cosmos) não é uma declaração de ciência, mas de sua crença pessoal” (Ibid., p.40).

 

           O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo — Parte 3

 

Todos sabemos que a ideia de como o Universo veio a existir é um tema fascinante e a humanidade tão cedo não desistirá de perscrutá-lo. Pelo tempo que o assunto vem sendo explorado e com recursos cada vez mais avançados, representada por alguns cientistas, a humanidade acredita que brevemente encontrará a resposta. Com seu clássico Uma breve história do tempo, Stephen Hawking, surpreendeu a todos em 1988 ao assumir, depois de ter procurado contar a “história do universo”, partindo do Big Bang e chegando aos buracos negros, que “mesmo se descobrirmos uma teoria completa e unificada, não significa que seremos capazes de prever eventos em geral; e isto por duas razões. A primeira é a limitação estabelecida pelo princípio da incerteza da mecânica quântica sobre o nosso potencial de previsão. Não há nada que possamos fazer para fugir disso. Na prática, entretanto, esta primeira limitação é menos restritiva do que a segunda, que brota do fato de não podermos resolver exatamente as equações da teoria, exceto para situações muito simples. (Não podemos mesmo resolvê-las para o movimento de três corpos na teoria da gravidade de Newton, e a dificuldade aumenta com o número de corpos e a complexidade da teoria.)” (Uma breve história do tempo, pp.230-31). O grande sonho de Hawking, desde aquela época, era “encontrar” uma teoria unificada que pudesse resolver tais questões, o que seria uma “teoria definitiva do Universo”. O cientista, porém, mais lúcido naquele tempo, disse que ainda que tal teoria exista e, caso fosse descoberta, “jamais se teria certeza de que, de fato, seria a versão correta, uma vez que teorias não podem ser comprovadas” (p.229). 

Vinte seis anos depois, o cosmólogo, físico teórico, professor fundador e diretor do Projeto Origens da Arizona State University, Lawrence Krauss, empolgado com as descobertas anunciadas em 17 de março do ano passado que, inclusive, conforme já foi dito no primeiro texto dessa série (O Big Bang, o Universo Eterno e o Criacionismo — Parte 1) não se confirmou, afirma em artigo assinado para Scientific American Brasil de novembro passado que, a despeito de “o júri ainda não [ter] se pronunciado sobre se realmente vimos um farol do universo primordial, não vamos ter de esperar muito para saber” (Cicatriz do Big Bang in Scientific American Brasil, p.48). Lawrence Krauss acredita que 2015 será um ano decisivo para essa questão. O que ficou conhecido popularmente por “ondas gravitacionais”, na realidade, diz Krauss, trata-se do “experimento Imageamento de Fundo de Polarização Cósmica Extragaláctica 2 (BICEP2, na sigla em inglês) no polo sul” (Ibid., p.54). Se o sinal detectado pela equipe em março passado se confirmar, será um passo decisivo “para a física de partículas”, diz o mesmo autor, pois explicará “novos fenômenos sobre a natureza das forças fundamentais”. Isso não é tudo, de acordo com Krauss, em se confirmando o sinal do BICEP2, “nossa visão empírica do Universo terá aumentado muito mais que em qualquer momento da história da humanidade”, pois será uma prova incontestável da inflação imaginada pela teoria do Big Bang. “Em primeiro lugar”, revela Krauss, “a intensidade inferida do sinal de ondas gravitacionais implica que a inflação ocorreu numa escala de energia muito próxima da escala de energia em que as três forças não gravitacionais da Natureza*, se juntaram numa grande teoria unificada, mas somente se existir uma nova simetria da Natureza — a supersimetria”. A constatação dessa última implicaria no fato da “existência de uma abundância de novas partículas com massas na faixa que pode ser verificada pelo LHC quando for reativado” (Ibidem). Existe ainda “outra explicação menos especulativa na descoberta das ondas gravitacionais da inflação”, tal refere-se ao fato de que tais “ondas poderiam ter sido geradas pela amplificação de flutuações primordiais no campo gravitacional durante a inflação”. Ele então completa dizendo que se esse “for o caso, então a gravidade deve ser descrita pela teoria quântica” (Ibidem). Em termos diretos, seria a unificação desses dois campos. 

A empolgação de Krauss torna-se justificável quando se verifica que a busca de Stephen Hawking era justamente pela possibilidade de tal unificação. Não obstante, conforme o mesmo autor diz, a observação direta de tal possibilidade, baseada na física de partículas, conforme propôs Alan Guth, em 1980, ao dizer que o Universo poderia ter se inflado rapidamente logo após o Big Bang (algo que o, à época, jovem físico, chamou de “inflação, apoiando-se numa parte central do Modelo Padrão da física de partículas chamada quebra de simetria espontânea, que descreve como forças que uma vez estiveram unificadas se separaram”, p.49), assim “como no caso do campo Higgs, o campo de quebra de simetria produziria partículas massivas e exóticas, mas as massas envolvidas no processo eram muito maiores que a massa de partícula de Higgs” (p.52). O que isso significa? Significa que, para comprovar tal possibilidade, “seria necessário construir um acelerador 10 trilhões de vezes mais poderoso que o LHC para explorar diretamente as teorias que respaldam esse fenômeno” (Ibid.). As referidas teorias são chamadas de “teorias da grande unificação, ou GUTs, porque unificam as três forças do Universo — exceto a gravitação — numa única força” (Ibidem). Assim, em termos simples, Krauss diz que “apesar de a ideia da inflação ser bastante convincente, não existe até o momento qualquer teoria básica que explique exatamente como a inflação deve ter ocorrido, principalmente porque não conhecemos detalhes associados à grande unificação, como o nível exato de energia em que as forças se unificaram” (p.53). Por isso, ele especula que “enquanto teorias inflacionárias mais simples explicam boa parte do que observamos no Cosmos atualmente, diferentes versões de inflação poderiam ter criado universos totalmente diferentes”. Para saber mais, e com mediana segurança, Krauss afirma ser preciso “investigar o Universo diretamente, para encontrar evidências de inflação e, se isso de fato ocorreu”, ou seja, a ideia é “explorar detalhadamente a física envolvida” (Ibid.), algo que só pode ser feito com as ondas gravitacionais, daí a importância da confirmação do achado de março passado. 

A unificação, sobretudo, da gravidade e da mecânica quântica, é um assunto “particularmente importante porque ainda não existe nenhuma teoria da gravidade quântica bem estabelecida” (p.54). A procura é por “uma teoria que descreva a gravidade usando as regras que governam o comportamento da matéria e da energia nas menores escalas possíveis”. Krauss explica que a “teoria de cordas é talvez a melhor opção até o momento, mas não há evidências de que esteja correta ou de que possa, consistentemente, resolver todos os problemas que a teoria da gravitação quântica completa deveria resolver”. O mesmo autor informa que, “como mostrou Freeman Dyson, do Institute for Advanced Study, em Princeton, Nova Jersey, não há dispositivo terrestre capaz de detectar grávitons individuais, as supostas partículas quânticas que transportam a força da gravidade, porque para isso o detector deveria ser tão grande e denso que colapsaria formando um buraco negro antes de completar uma observação”. Krauss diz então que ainda que se fizesse tudo isso, conforme especulou o mesmo Dyson, “não se pode garantir que a gravidade seja descrita por uma teoria quântica”. Por isso, Krauss anuncia com entusiasmo que, “se as ondas gravitacionais geradas pela inflação forem realmente confirmadas, o argumento de Dyson pode ser removido, ainda que permaneça uma lacuna”. Assim, continua ele, em se confirmando os achados de março de 2014 e se, “de fato, encontrarmos ondas gravitacionais da inflação, objetos clássicos (não quânticos), poderemos calcular a origem dessas ondas usando mecânica quântica”. Ainda que, admite ele, “todos os resultados da física clássica, incluindo o movimento de uma bola de beisebol em voo, não provam que a mecânica quântica está por trás deles: o movimento da bola será idêntico, mesmo se a mecânica quântica não existisse”. Assim, afirma Krauss, “precisamos provar que a geração de ondas gravitacionais pela inflação, ao contrário do movimento de uma bola de beisebol, decorre de processos quânticos”. Lawrence Krauss revela que, há pouco tempo, ele e um colega chamado Frank Wilczek, do Massachusetts Institute of Technology, fecharam essa lacuna: “Usando a técnica mais básica da física, análise dimensional, que explora fenômenos físicos representando-os nas suas unidades de massa, espaço e tempo, é possível demonstrar; em bases gerais, que o fundo de ondas gravitacionais produzido apenas pela inflação desapareceria se a constante de Planck — a quantidade que comanda a intensidade dos efeitos quânticos — desaparecesse”. A conclusão de Krauss a respeito dos achados de março último é que, “se a equipe do BICEP2 tiver realmente medido ondas gravitacionais da inflação, a gravidade precisa ser descrita por uma teoria quântica” (p.55). 

Além da unificação da mecânica quântica e da gravidade, Krauss revela o que interessa ainda mais nessa pesquisa. Ele afirma que o entendimento perfeito das “origens do Universo e a questão provocativa de, por que, afinal ele existe, [depende de se] provar a inflação pela observação de ondas gravitacionais”. Tal, segundo ele, proporcionará que se torne “física concreta” o que muitos consideram atualmente uma das “maiores especulações metafísicas”. Antes de revelar o que se trata, Krauss relembra a ideia de Alan Guth de que “a inflação é produzida por um campo que armazena e libera quantidades enormes de energia durante uma transição da fase”. A partir dessa premissa ele chama a atenção para o fato de que “as características desse campo implicam que, uma vez iniciado o processo, o campo que produz a inflação tende a continuar a inflar o Universo ad infinitum”, isto é, a “inflação prosseguirá indefinidamente, impedindo a criação do Universo como o conhecemos, porque qualquer matéria e radiação preexistente terá sido diluída pela expansão, deixando nada mais que vácuo em rápida expansão”. Krauss informa que o físico Andrei Linde, da Stanford University, “descobriu uma forma de escapar desse problema”, mostrando que “logo após uma pequena região do espaço completar a transição de fase, depois de ter se expandido o suficiente, essa região pode abranger o Universo observado atualmente”. Assim, “no restante do espaço, a inflação pode continuar para sempre, com pequenas ‘sementes’ formando-se em diferentes locais onde a transição de fase pode ser completada”. O resultado é que “em cada uma dessas sementes, surgiria um universo isolado, que sofreria uma expansão quente como o Big Bang”. Nessa perspectiva ou “cenário de ‘inflação eterna’ nosso universo então integraria uma estrutura muito maior, capaz de ser infinitamente grande e, em última instância, poderia conter um número arbitrariamente gigante de universos desconexos que podem ter sido formados, podem estar se formando ou ainda se formarão”. De quebra, diz Krauss, “dependendo de como ocorre a transição de fase que termina com a inflação em cada semente, a física que rege cada universo resultante pode ser diferente”.

 

A especulação é conhecida como “hipótese de multiversos” e, basicamente, indica que “o nosso universo pode ser um de um número infinitamente grande de universos separados, fisicamente diferentes”. A conclusão de Krauss, ao aventar tal possibilidade, é que ela indica ser “possível que as constantes físicas que vigoram em nosso universo sejam como são por mero acaso”, isto é, “se fossem diferentes, seres como nós poderiam não ter evoluído para medi-las” (Ibid.). O problema que Krauss procura contornar aqui é o do chamado princípio antrópico que, conforme explica Hawking, “diz que o universo tem de ser mais ou menos como o vemos, porque, se fosse diferente, não haveria ninguém para observá-lo” (O Universo numa casca de noz, pp.85-87). Além disso, trata-se de “uma perspectiva diametralmente oposta ao sonho de uma teoria unificada, com total poder de previsão, na qual as leis da natureza são completas e o mundo é do jeito que é porque não poderia ser diferente” (Ibid., p.86)**. É por isso que, finalizando sua argumentação, Krauss diz que tal “noção, talvez pomposa demais conhecida como Princípio Antrópico é incompatível para muitas pessoas e leva a uma infinidade de problemas que os físicos ainda precisam resolver” e, sem dúvida alguma, como ele mesmo admite, “para muitos, multiversos e princípio antrópico indicam até que ponto a física básica pode divergir do que seria considerado ciência empírica”. É justamente por isso, por causa da metafísica envolvida na interpretação da existência do universo, que Krauss finaliza esperançoso seu artigo: “Mas se o BICEP2 (juntamente com o LHC e outros experimentos) permitirem provar o fenômeno da inflação e da grande unificação poderemos determinar inequivocamente a física fundamental que rege o Universo nessas escalas de energia e tempo”. Ele sugere que, em se confirmando os achados de março de 2014, “um dos resultados” pode ser justamente o de que “a transição inflacionária que produziu nosso universo observável requeira a inflação eterna de Linde” e, sendo assim, “embora nunca tenhamos observado diretamente outros universos, estaremos tão seguros da existência deles como estavam nossos antepassados no início do século passado em relação à existência de átomos, mesmo sem poder observá-los diretamente”. 

Apesar de o modelo cosmológico do Big Bang ser aceito por grande parte dos cientistas, entre eles, os autores aqui citados, Lawrence Krauss e Stephen Hawking, este último, em sua autobiografia, afirma que sempre “ouvira falar que a luz das galáxias distantes tendia para a extremidade vermelha do espectro e que isso devia indicar que o universo estava se expandindo. (A tendência para o azul teria significado que estava se contraindo.)”. Hawking, entretanto, afirma que “tinha certeza de que deveria haver alguma outra razão para o desvio para o vermelho” (Minha breve história, p.32). O cientista lucasiano de Cambridge afirma que, dois anos depois, em seu ph.D., descobriu que estava errado. Tal conclusão, no entanto, ainda deixava o problema da área do horizonte por ser resolvido: O universo teria tido um início? Esse era o “pé na porta” da teoria para os cientistas. Assim, a ideia que estimulou Hawking foi justamente a questão de como contornar tal problema. Uma vez que a uniformidade do universo observável exigia que ele, no modelo do Big Bang, tivesse tido início em uma singularidade, diz Hawking, “era necessário [...] um espaço-tempo sem uma singularidade, como na versão euclidiana do buraco negro”. Ele então conversou com o físico estadunidense Jim Hartle “sobre como aplicar a abordagem euclidiana à cosmologia”. De acordo com tal abordagem, “o comportamento quântico do universo é dado por histórias múltiplas de Feynman no tempo imaginário”, assim, continua Hawking, “como o tempo imaginário se comporta como mais uma direção no espaço, as histórias no tempo imaginário podem ser superfícies fechadas, como a superfície da Terra, sem início ou fim”. Hawking revela então que ele e Jim decidiram “que essa era a escolha mais natural, na realidade a única escolha natural”. Eles então formularam a “proposta sem fronteira”, isto é, “que a condição de contorno do universo é que ele é fechado e sem fronteira” (Ibid., p.132). 

Hawking explica que, de acordo com “a proposta sem fronteira, o início do universo foi como o polo sul da Terra, com graus de latitude assumindo a função de tempo imaginário” (Ibid., pp.132-33). Tal seria mais ou menos assim: “O universo começaria como um ponto no polo sul. À medida que nos movemos para o norte, os círculos de latitude constante, representando o tamanho do universo, se expandiriam. Perguntar o que aconteceu antes do começo do universo se tornaria assim uma questão sem sentido, já que não há nada ao sul do polo sul”. Assim, prossegue o mesmo autor, o “tempo, medido em graus de latitude, teria um começo no polo sul, mas o polo sul é muito semelhante a qualquer outro ponto do globo. As mesmas leis da natureza que vigoram no polo sul vigoram em outras partes. Isso removeria aquela objeção secular a que o universo tenha um começo — que seria um lugar onde as leis normais colapsavam. O começo do universo seria, ao contrário, governado pelas leis da ciência” (Ibid., p.133). Hawking explica que essa foi a solução que ele e o físico Jim Hartle encontraram para contornar a dificuldade científica e filosófica de que o tempo tivesse um começo, transformando-o em uma direção no espaço”. Para Hawking, a chamada “condição sem fronteira implica que o universo seja espontaneamente criado a partir do nada” (Ibidem).*** Esse é o aparato teórico criado para que o modelo do Big Bang continue sendo viável, ao mesmo tempo em que se evita o problema do início ou do que havia antes do início.

FONTE CPAD NEWS 

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