Criar um Site Grátis Fantástico
Translate this Page

Rating: 2.9/5 (1475 votos)



ONLINE
4




Partilhe esta Página

 

 

<

Flag Counter

mmmmmmmmmmm


// ]]>

how to watch super bowl 2021 for free

Historia da igreja dos Estados Unidos seculo 17-19
Historia da igreja dos Estados Unidos seculo 17-19

 O PROTESTANTISMO NORTE-AMERICANO: SÉCULOS (17 A 19)

 (FONTE.Portal Makenzie-teologia-S.P) 

Ementa: como principal matriz do protestantismo brasileiro, o seu congênere norte-americano é merecedor de análise cuidadosa. O período estudado vai desde o início da colonização inglesa das Treze Colônias, através de anglicanos e puritanos, até as grandes transformações que se seguiram à Guerra Civil. 

1. Primórdios (1607-1700)

 1.1 Antecedentes

Os primeiros cristãos a se fixarem no atual território dos Estados Unidos foram católicos romanos originários da Espanha e da França.

 (a) Nova Espanha

A colonização espanhola da América do Norte teve início com a conquista do México por Hernando Cortés, em 1519-21. A administração colonial espanhola com freqüência oprimiu a população nativa, mas os missionários muitas vezes realizaram um trabalho notável entre os indígenas. Os principais missionários foram os franciscanos, que atuaram na Flórida, Texas, Novo México e Califórnia. No Novo México, em 1630, cerca de 35 mil índios cristãos concentravam-se ao redor de vinte e cinco estações missionárias. Em 1680, os índios pueblo destruíram Santa Fé e mataram dois terços dos missionários. Em 1691-1711, Eusébio Kino trabalhou no Novo México e no Arizona. O grande pioneiro da Califórnia foi Junípero Serra, que em 1769 fundou uma missão em San Diego. Nos próximos 75 anos, foram fundadas 21 estações missionárias, sendo a última San Francisco Solano (1823). Nesse período, cerca de 100 mil índios foram batizados.

 (b) Nova França

A França teve o controle do Canadá e do meio-oeste dos futuros Estados Unidos desde a fundação de Québec por Samuel de Champlain em 1608 até a derrota diante dos ingleses em 1759. Além de trabalhar entre os colonos franceses, os sacerdotes também evangelizaram os índios. Embora os franciscanos tenham dado uma contribuição significativa, os principais missionários foram os jesuítas, destacando-se entre eles o padre Jean de Brebeuf. Chegado em 1626, ele obteve considerável êxito na conversão dos índios hurons, demonstrando grande sensibilidade cultural e genuíno interesse pelo bem-estar dos mesmos. Brebeuf foi morto pelos índios iroqueses em 1649. Uma admirável missionária foi Marie Guyart (1599-1672), ligada à ordem das ursulinas. Os jesuítas fundaram diversas missões no vale do Rio Mississipi até a Luisiana, as quais, todavia, produziram poucos resultados permanentes.

 1.2 Os primeiros grupos

A Inglaterra foi a principal responsável pela colonização do território norte-americano e dela vieram os primeiros grupos protestantes a se fixarem nos Estados Unidos. A ruptura de Henrique VIII com Roma (1534) foi o primeiro passo para a criação da Igreja Anglicana, que se tornou protestante nos reinados de seus filhos Eduardo VI (1547-53) e Elizabete I (1558-1603). No reinado de Maria Tudor (1553-58), que tentou tornar a igreja inglesa novamente católica, muitos líderes protestantes refugiaram-se em Genebra e em outras cidades reformadas suíças e alemãs. Ao retornarem à pátria, já no reinado de Elizabete, alguns desses líderes e muitos que haviam permanecido na Inglaterra, mobilizaram-se em prol de uma reforma mais sistemática da igreja. Foi isso o que deu origem ao puritanismo na década de 1560.

 (a) Virgínia

A primeira colônia inglesa do Novo Mundo foi a Virgínia, que teve início com a fundação de Jamestown em 1607. Como parte da incorporação da colônia, a Igreja da Inglaterra tornou-se a sua igreja oficial. Embora em um grau menor que na Nova Inglaterra, a religião teve bastante destaque na Virgínia. Seu primeiro código de leis tornou compulsória a freqüência aos cultos dominiciais e continha normas rigorosas contra o adultério, a violação do dia do Senhor e os excessos no vestuário. A preocupação missionária em relação aos índios também estava presente. John Rolfe casou-se com a lendária Pocahontas em parte para comunicar-lhe a fé cristã. Alexander Whitaker, o principal ministro dos primeiros tempos sempre se preocupou em converter os indígenas. A chegada de escravos africanos a partir de 1619 traria grandes conseqüências para a sociedade e para a igreja.

 (b) Plymouth

Os primeiros puritanos a migrarem para a América estabeleceram-se em Plymouth, Massachusetts, em 1620. Quando o escocês Tiago I sucedeu Elizabete no trono inglês (1603-1625), sua recusa em apoiar a causa dos puritanos desapontou os protestantes mais radicais, entre os quais estavam algumas igrejas locais separadas da igreja nacional. Uma delas, localizada em Scrooby, Nottinghamshire, resolveu mudar-se para um ambiente mais amistoso. Inicialmente, foram para a Holanda, mas não se adaptaram à nova cultura. Além disso, temiam que seus filhos abandonassem os seus princípios religiosos sob a pressão de interesses econômicos e de outras igrejas. Doze anos depois, resolveram transferir-se para o Novo Mundo, sob o patrocínio de comerciantes ingleses. Embarcados no Mayflower em setembro de 1620, pretendiam ir para a Virgínia, mas os ventos tempestuosos os desviaram para Cape Cod, onde chegaram em novembro. Antes de desembarcarem, os homens assinaram um acordo pelo qual se comprometeram a manter a solidariedade do grupo e a renunciar à busca individual do lucro. William Bradford (†1657), o primeiro governador e historiador da colônia, escreveu um comovente relato dos rigores do primeiro inverno, no qual morreu a metade dos “peregrinos”. Eventualmente, os colonos superaram as dificuldades iniciais e após a primeira colheita realizaram uma celebração especial de ação de graças, com vários dias de duração, juntamente com seus amigos indígenas. Em 1630, a colônia tinha somente 300 residentes, mas continuou a prosperar e em 1691 uniu-se à colônia de Massachusetts.

 1.3 Os puritanos da Nova Inglaterra

Muito mais importante para a história política e religiosa dos Estados Unidos foi outra colônia puritana que se estabeleceu um pouco ao norte de Plymouth. A experiência dos puritanos da Nova Inglaterra veio a dominar as percepções posteriores da história inicial do protestantismo norte-americano por diversas razões: líderes destacados (John Winthrop, John Cotton, Cotton Mather, etc.), influência social e política, contribuição democrática, ênfase à educação e energia moral.

 

Os primeiros puritanos ingleses queriam eliminar os vestígios do culto e das práticas católicas romanas que sobreviviam na Igreja da Inglaterra moldada por Elizabete I, Tiago I e seus conselheiros. Eles queriam completar a Reforma e completá-la sem demora. As suas principais convicções podem ser sintetizadas em quatro pontos: (1) Os puritanos criam que a humanidade depende inteiramente de Deus para a sua salvação. Os seres humanos são pecadores que não irão buscar reconciliação com Deus a menos que este tome a iniciativa de salvá-los (afirmação plena da soberania divina). (2) Os puritanos acentuavam a autoridade das Escrituras. Eles criam que a Bíblia tem uma autoridade “reguladora”: isto significa que, até onde possível, os cristãos devem fazer somente o que as Escrituras prescrevem diretamente. (3) Os puritanos criam, como o maior parte dos europeus daquela época, que Deus havia criado a sociedade como um todo unificado. A igreja e o estado, as esferas individual e pública, eram áreas complementares. Essa convicção estava por trás dos seus esforços em criar colônias nas quais todos os aspectos da vida refletissem a glória de Deus. (4) Os puritanos criam que Deus relaciona-se com as pessoas através de pactos ou acordos solenes. De modo especial, os puritanos congregacionais da Nova Inglaterra enfatizavam que as igrejas locais surgiam quando crentes individuais pactuavam-se para servir a Deus como um grupo e fazer a sua vontade. Quase todos os tipos de puritanos também sustentavam que Deus estabelecia alianças com nações, em particular aquelas que haviam recebido um conhecimento especial das verdades bíblicas. O puritanismo extraiu boa parte de sua força do sutil entrelaçamento dessas alianças (família, igreja e comunidade).

 A grande migração puritana para o Novo Mundo ocorreu quando diminuíram os prospectos de reforma na Inglaterra. Carlos I, que sucedeu o seu pai Tiago I (1625-1649), não apenas tinha tendências católicas romanas, mas parecia decidido a governar a Inglaterra por direito divino. Ele entrou em conflito com o parlamento e, a partir de 1629, tentou governar sem convocar o mesmo. Ele encarregou o arcebispo de Cantuária, William Laud, de eliminar o puritanismo da Igreja Anglicana. Em 1628, um grupo de puritanos simpatizantes da estrutura eclesiástica congregacional adquiriu o controle da Companhia da Nova Inglaterra. Depois que a companhia foi reorganizada visando dar ênfase à colonização e não ao comércio, e depois de ter obtido um novo estatuto do rei concedendo maior autonomia administrativa, ocorreu a primeira migração para a Baía de Massachusetts, em 1630 (mais de 1000 colonos). Nos dez anos seguintes, pelo menos 20 mil colonos cruzaram o Atlântico, nem todos eles puritanos convictos.

 1.3.1 Fé e vida

O puritanismo foi a religião dominante em quatro colônias americanas: Plymouth; Massachusetts (que absorveu Plymouth em 1691); Connecticut, que surgiu em 1636 quando vários pastores sob a direção do Rev. Thomas Hooker levaram colonos de Massachusetts para o vale do Rio Connecticut; e New Haven, fundada em 1638 sob a liderança do Rev. John Davenport e do governador Theophilus Eaton. Em 1662 estas duas últimas colônias tornaram-se uma só.

 A primeira geração de colonos puritanos acreditou que seria possível realizar o seu grande projeto de reforma que se mostrara inviável na Inglaterra. O padrão foi estabelecido por Massachusetts e ficou conhecido como “New England Way” (O Caminho da Nova Inglaterra). Logo que chegaram, os ministros e os magistrados concordaram na necessidade de evidências mais visíveis de conversão. Deu-se uma nova ênfase à experiência de conversão como critério para a plena admissão na igreja. Os candidatos a membros deviam não só aceitar as doutrinas puritanas e viver com integridade, mas também testemunhar diante dos irmãos que haviam experimentado a graça redentora de Deus. Aqueles que pudessem testificar de modo aceitável acerca de sua salvação constituíam igrejas pela aliança de uns com os outros.

 Somente tinham direitos políticos os homens que eram membros plenos das igrejas pactuadas. Ou seja, o pacto da graça qualificava o indivíduo tanto para ingressar na igreja quanto para exercer o direito de voto na vida pública da colônia. Essa vida pública por sua vez cumpria o pacto social com Deus, uma vez que os líderes eleitos pelos membros da igreja formulavam leis que honravam as Escrituras. Todavia, a Nova Inglaterra não era uma teocracia, pois os ministros não exerciam um controle direto da vida pública. Era, no entanto, um lugar em que os magistrados freqüentemente buscavam os conselhos dos pastores, inclusive quanto à melhor maneira de promover a vida religiosa das colônias.

 Por algum tempo, o sistema funcionou. Sob a liderança de John Winthrop, o primeiro governador, metade dos homens da colônia filiou-se às igrejas e participou do governo. As agitações ocorridas na Inglaterra na década de 1640, quando os puritanos coligados com os parlamentaristas guerrearam contra o rei Carlos I, fizeram com que os puritanos de Massachusetts aprovassem a Plataforma de Cambridge (1648), que reafirmou a sua teologia reformada e a sua ordem eclesiástica de congregacionalismo não-separatista. Esse congregacionalismo insistia vigorosamente na uniformidade religiosa e buscava restringir ou excluir todos os dissidentes.

 Os puritanos também se esforçaram por criar um sistema educacional que preservasse o seu experimento. Em 1636 a legislatura de Massachusetts autorizou a criação de um colégio, instalado dois anos depois quando o jovem pastor John Harvard legou à nova instituição uma biblioteca de 400 volumes. Desde o início, o propósito primário do Harvard College foi a preparação de pastores, mas seus objetivos não se limitavam a isso. A educação primária e secundária também preocupou os líderes puritanos. A “Cartilha da Nova Inglaterra” (The New England Primer), um livro que ensinava noções básicas de leitura e redação através da Oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos, tornou-se o livro-texto mais popular de todas as colônias no século 18. Essa ênfase ao ensino fez da Nova Inglaterra um dos lugares mais alfabetizados do mundo.

 1.3.2 Crises

À medida que o tempo passou, um número cada vez maior de filhos dos pioneiros deixou de ter a mesma experiência religiosa que os seus pais, não podendo assim se tornar membros plenos da igreja. O problema agravou-se quando esses filhos começaram a casar-se e ter os seus próprios filhos. Segundo a teologia reformada dos puritanos, os convertidos tinham o privilégio de trazer seus filhos para o batismo como selo da graça pactual de Deus. Agora, muitos daqueles que haviam sido batizados como crianças não estavam apresentando-se voluntariamente para confessar a Cristo; todavia, queriam que seus filhos fossem batizados. O dilema era delicado: os líderes puritanos desejavam preservar a igreja para os crentes verdadeiros, mas também queriam manter tantas pessoas quanto possível sob a influência da igreja. Um sínodo de ministros reunido em 1662 encontrou a solução através do “half-way covenant” (pacto do meio-termo), pelo qual a segunda geração podia apresentar os filhos para o batismo e filiação parcial à igreja. Todavia, a Santa Ceia e outros privilégios ficavam reservados para aqueles que pudessem testificar sobre uma atuação específica da graça de Deus em suas vidas.

 Outras crises surgiram no final do século 17. A guerra contra os índios em 1675-76 trouxe devastação para as vilas mais afastadas e causou a morte de centenas de colonos. Em 1685, as colônias da Nova Inglaterra perderam as suas assembléias representativas e foram colocadas com Nova York e Nova Jersey sob o controle da coroa inglesa. Esse expediente foi um esforço do rei Tiago II (1685-88), um católico romano, no sentido de refrear os protestantes radicais do Novo Mundo. Em 1687, a Igreja da Inglaterra passou a oficiar o seu culto em Boston. As colônias recuperaram em parte a sua autonomia depois que o parlamento substituiu o rei por novos monarcas, William e Mary, em 1688. O novo estatuto de Massachusetts (1691) era muito mais secular que o original. Ele estipulava que o governador seria nomeado pelo rei. Ainda mais importante, agora o direito de eleger a legislatura colonial seria determinado pela propriedade e não pela filiação à igreja.

 ma das crises mais perturbadoras ocorreu em Salem Village, ao norte de Boston, em 1692. Embora os processos e execuções por feitiçaria não fossem desconhecidos na Nova Inglaterra, os eventos de Salem foram muito além de incidentes anteriores. Em conseqüência de diversos fatores religiosos, psicológicos e políticos e de vários meses de excitação descontrolada, vinte pessoas foram executadas (quase todas mulheres e a maioria por enforcamento). Finalmente, quando começaram a ser feitas acusações contra indivíduos de caráter ilibado e quando líderes como Increase Mather, o pastor de Boston, protestaram contra os procedimentos, o movimento rapidamente se esvaziou. Eventualmente, chegou-se à conclusão que o diabo estivera mais atuante nos acusadores e naqueles que lhes deram ouvidos do que nas pessoas acusadas. Até hoje esses episódios constituem-se em uma mancha na reputação dos puritanos.

 Apesar desses problemas e do declínio religioso associado com a crescente prosperidade material dos habitantes da Nova Inglaterra, as igrejas puritanas continuaram a exercer um papel central na sua sociedade por longo tempo.

 1.3.3 Dissidências

Em meados do século 17, vários indivíduos e grupos desafiaram o “caminho da Nova Inglaterra” e alguns deles foram banidos para a pequena colônia de Rhode Island.

 (a) Os batistas, que partilhavam de várias das convicções dos puritanos, surgiram em Massachusetts logo após as primeiras migrações. A mais antiga igreja batista da Inglaterra, fundada por John Smyth nas proximidades de Londres em 1612, associou o calvinismo básico dos puritanos com as práticas batismais dos menonitas holandeses, que batizavam crentes adultos ao professarem a sua fé. Os puritanos sentiam-se ameaçados pelos batistas, especialmente por sua insistência em que o estado não tinha qualquer papel a desempenhar nas igrejas, bem como pela maneira como as suas práticas batismais rompiam o vínculo existente entre a fé pessoal, a orientação da igreja e a participação na sociedade mais ampla. John Clarke, o principal pioneiro batista da Nova Inglaterra, chegou em 1639 em Rhode Island, onde fundou a cidade de Newport. No mesmo ano, foi fundada a primeira igreja batista da América.

 Outro personagem ligado aos batistas foi o controvertido Roger Williams (1603?-1683), que chegou a Massachusetts em 1631 depois de tornar-se conhecido como um zeloso pregador puritano. Irrequieto e contestador, Williams inicialmente fixou-se em Plymouth e em 1633 assumiu o pastorado da igreja de Salem. Dentro de pouco tempo, as suas opiniões atraíram a ira das autoridades da colônia. Ele afirmava que os puritanos no tinham direito às terras indígenas do Novo Mundo porque tais terras tinham sido espoliadas e, portanto, os estatutos coloniais eram ilegítimos. Além disso, indivíduos que não haviam confessado a Cristo não podiam ter responsabilidades em um pacto social. Os magistrados erravam ao impor a freqüência à igreja e outros deveres espirituais, uma vez que as verdadeiras ações cristãs procedem do coração.

 Essas idéias ameaçavam quase todos os aspectos da vida da colônia e por isso Williams foi expulso. John Winthrop propôs que o seu banimento ocorresse na primavera, mas William resolveu partir em outubro de 1635. Após um inverno rigoroso, ele finalmente chegou à Baía de Narragansett em abril de 1636, onde fundou a cidade de Providence. Roger Williams é conhecido como o primeiro grande “democrata” dos Estados Unidos, uma reputação parcialmente justificada. Sob sua liderança, Rhode Island tornou-se a primeira região das colônias norte-americanas em que a liberdade de culto foi estendida a quase todos os grupos. Foi também a primeira colônia que tentou uma separação entre as instituições da igreja e do estado. Todavia, antes de tudo Williams foi um completo puritano. As suas razões para defender a liberdade de culto e a separação entre igreja e estado foram sobretudo religiosas.

 (b) Anne Hutchinson (1591-1643) foi outra fiel puritana que incomodou as autoridades de Massachusetts. Ela emigrou para a Nova Inglaterra a fim de ficar perto do seu pastor, John Cotton, que se transferiu para Boston em 1633. Anne apreciava particularmente a sua mensagem sobre a livre graça de Deus. Logo após a sua chegada, ela iniciou uma reunião de meio de semana para comentar o sermão de Cotton no domingo anterior e tratar de outras questões espirituais. Eventualmente, surgiu a suspeita de que as suas idéias estavam se aproximando do antinomismo (para os puritanos, o erro segundo o qual os cristãos não precisam dos Dez Mandamentos para mostrar-lhes como viver). Em suas reuniões, ela argumentava que o crente possuía o Espírito Santo e, portanto, não estava preso às exigências da lei. Além disso, o simples fato de uma pessoa obedecer as leis da sociedade não queria dizer que ela era realmente cristã. Como John Cotton ensinava claramente, a salvação era pela graça e não pelas obras da lei.

 As idéias de Hutchinson eram um corolário legítimo da teologia puritana básica. A dificuldade estava no choque dessas noções com o projeto dos puritanos na Nova Inglaterra. Se os indivíduos ficassem entregues a si mesmos, o que seria da sociedade piedosa que os puritanos desejavam tão ardentemente? As autoridades iniciaram um processo judicial em que a senhora Hutchinson fez a sua própria defesa, citando as Escrituras e argumentando cuidadosamente contra os líderes da colônia. Porém, quando parecia que Anne Hutchinson havia silenciado os seus opositores, ela cometeu o erro fatal de afirmar que o Espírito Santo comunicava-se diretamente com ela à parte das Escrituras. Assim sendo, ela e seus seguidores foram banidos em 1638. Após uma breve estadia em Rhode Island e em Long Island, Anne fixou residência na colônia de Nova York, onde pouco depois ela e a maior parte da sua família foram mortos pelos índios.

 (c) Cotton Mather (1662-1728) foi o mais notável líder dos puritanos no período anterior ao Primeiro Grande Despertamento. Ele pastoreou a igreja Old North Church, em Boston, ao lado do seu pai, Increase Mather, e foi um grande defensor do Caminho da Nova Inglaterra. Todavia, Cotton também se mostrou muito tolerante para com outras expressões do cristianismo (no final da sua vida ele participou da ordenação de um pastor batista quando isso ainda era considerado um passo bastante radical). Ele foi também um escritor prolífico, tendo publicado mais de 400 livros e panfletos, manteve uma vasta correspondência e foi um ardoroso promotor da ciência (entre outras coisas, ele introduziu a vacinação contra varíola em Boston).

 1.4 Outros grupos

 1.4.1 Anglicanos

Fora da Nova Inglaterra, a Igreja Anglicana foi o principal grupo religioso existente nas antigas colônias inglesas. Ela tornou-se a igreja oficial da Virgínia, partes da cidade de Nova York (1693), Maryland (1702), Carolina do Sul (1706) e do Norte (1715) e Geórgia (1758). Todavia, os problemas eram muitos, a começar do enorme tamanho das paróquias e da carência de recursos. A falta de um bispo residente também criou sérias dificuldades. No entanto, a igreja contou com os serviços de alguns líderes dedicados como James Blair (1656-1743), que foi comissário ou administrador da igreja da Virgínia por mais de meio século. Entre outras coisas, ele fundou o “William and Mary College” em 1693. Outro líder destacado foi Thomas Bray (1656-1730), o comissário da Igreja da Inglaterra em Maryland entre 1696 e 1700. Durante sua breve estadia, ele fundou duas agências que se tornariam muito influentes: a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (SPCK, 1699), que fornecia livros para ministros e leigos, e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Regiões Estrangeiras (SPG, 1701), voltada para missões entre os indígenas. John Wesley, o fundador do metodismo, passou dezoito meses frustrantes na Georgia com um jovem missionário (meados da década de 1730).

 Ironicamente, a Igreja da Inglaterra eventualmente teve o seu maior êxito em regiões nas quais não era a igreja oficial. Durante os grandes reavivamentos de meados do século 18, os moradores da Nova Inglaterra que buscavam uma igreja mais moderada e menos entusiástica voltaram-se em grande número para o anglicanismo. Eventualmente os missionários anglicanos fundaram um certo número de igrejas fortes na Pensilvânia, Nova Jersey e Long Island.

 1.4.2 Católicos romanos

George Calvert (1580?-1632) e seu filho Cecil (1605-1675), primeiro e segundo Lordes Baltimore, foram os fundadores de Maryland, a única das colônias norte-americanas originais a ter uma significativa influência católica romana. George Calvert, que se converteu ao catolicismo em 1625, foi secretário de estado do rei Tiago I da Inglaterra. Calvert teve de renunciar por não poder jurar fidelidade à Igreja Anglicana quando Carlos I sucedeu o seu pai como rei naquele mesmo ano. Todavia, Carlos I estava ansioso em recompensar os Calvert pelos leais serviços prestados ao seu pai e a si próprio, desejo que cumpriu ao dar à família um grande título de propriedade no Novo Mundo (1632). A colônia resultante recebeu o nome da esposa católica de Carlos I, Maria Henrietta da França. Além de interesses econômicos, os Calvert queriam criar um refúgio para os católicos ingleses. Ao mesmo tempo, eles também estavam interessados em atrair colonos protestantes. Em 1649, Cecil promulgou para Maryland o famoso “Ato Concernente à Religião”, que ofereceu liberdade de culto a todos os que se considerassem cristãos, fossem eles católicos, anglicanos ou puritanos. Em 1691, a concessão original de Maryland foi retirada da família Calvert, sendo restituída em 1715, quando o quarto Lorde Baltimore ingressou na Igreja da Inglaterra. Maryland permaneceu na posse dos Calvert até a revolução americana e mesmo depois disso continuou a ser um centro do catolicismo americano.

 1.4.3 Quakers

Outro grupo cristão inglês que veio para o Novo Mundo foram os quakers (quacres) ou “friends” (amigos), como preferiam chamar-se sob a inspiração de George Fox (1624-1691). Em 1656, duas mulheres quacres, Ann Austin e Mary Fisher, chegaram a Boston com sua mensagem sobre a “luz interior de Cristo” e sua crítica da religião formal e externa, sendo imediatamente expulsas pelas autoridades. A despeito das multas e açoites que sofreram, os quacres continuaram indo para Massachusetts, até que, em 1659-61, quatro deles foram enforcados por sedição, blasfêmia e contínua perturbação da paz. Logo, muitos quacres estabeleceram-se em Rhode Island, apesar da pequena simpatia de Roger William pelas suas doutrinas.

 Os quacres acabaram fundando a sua própria colônia, a Pensilvânia, através de William Penn (1644-1718), filho mais velho do almirante de mesmo nome que capturou a Jamaica dos holandeses em 1655. William, o filho, uniu-se aos “amigos” em 1666, foi preso por escrever um folheto criticando as doutrinas da Igreja da Inglaterra e, enquanto na prisão, escreveu o clássico devocional No Cross, No Crown (1669). Desejoso de encontrar um refúgio para os seus correligionários, ele apoiou uma expedição quacre a Nova Jersey em 1677-78. Em 1681, ele recebeu do rei Carlos II uma enorme área de terra para saldar uma grande dívida de que seu pai era credor. A Pensilvânia (“selva de Penn”) tornou-se o lugar com maior tolerância religiosa em todo o mundo. Em 1682 fundou-se a cidade de Filadélfia e foi publicada a “Estrutura de Governo” da colônia. A Pensilvânia prosperou desde o início, recebendo colonos de muitas partes da Europa. Já em 1683, a cidade de Germantown (“cidade alemã”) foi fundada por menonitas alemães e quacres holandeses. Penn também se destacou pela maneira justa como tratou os indígenas. Ele residiu em sua colônia somente em dois breves períodos (1682-84 e 1699-1701). Um dos quacres mais destacados na história americana foi o pacifista e abolicionista John Woolman (1720-1772).

 1.4.4 Presbiterianos

Desde o século 17, muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo presbiteriana foram do continente europeu para os Estados Unidos. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.

 Muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o século 18, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos.

 O primeiro líder do presbiterianismo norte-americano foi Francis Makemie (1658-1708), que nasceu na Irlanda, estudou na Escócia e foi enviado como missionário ao Novo Mundo. Makemie evangelizou em muitas regiões (Nova Inglaterra, Nova York, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte e Barbados) e fundou uma igreja presbiteriana em Snow Hill, Maryland, em 1684. Em 1706, ele reuniu presbiterianos de diferentes origens (ingleses, galeses, escoceses, escoceses-irlandeses e da Nova Inglaterra) no Presbitério de Filadélfia, que adotou como padrão doutrinário a Confissão de Fé de Westminster. Em 1707, Makemie foi preso pelo governador de Nova York, Lord Cornbury, por pregar numa residência de Long Island sem uma licença. Makemie defendeu-se apelando ao Ato de Tolerância (Inglaterra, 1689), que concedeu liberdade religiosa aos quacres. Ele foi absolvido, mas teve de pagar as elevadas despesas do seu julgamento. Esse episódio firmou a imagem dos presbiterianos como defensores da liberdade e granjeou novo respeito pela denominação.

 Em 1717 foi organizado o Sínodo de Filadélfia, constituído pelos Presbitérios de Filadélfia, New Castle (Delaware) e Long Island (depois Nova York). Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o “Ato de Adoção”, que aprovou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários do Sínodo.

 1.4.5 Reformados holandeses e alemães

A Igreja Reformada de Nova Amsterdã foi uma igreja oficial de 1628 até 1664, quando a cidade foi transferida para o controle dos ingleses e passou a denominar-se Nova York. Mais tarde, graças a novas ondas de imigrantes e pastores mais atuantes, surgiram fortes igrejas holandesas em Nova York e Nova Jersey. Quase ao mesmo tempo chegaram os imigrantes reformados vindos do sul da Alemanha, que em 1740 possuíam cerca de cinqüenta igrejas, quase todas na Pensilvânia.

 Com isso, ampliou-se um fenômeno que viria a caracterizar a nova nação – sua grande diversidade religiosa –, fato até então desconhecido na Europa. Até meados do século 18, muitos outros grupos cristãos foram para a América, motivados principalmente pelo desejo de liberdade religiosa, como os menonitas, batistas alemães, schwenkfelders (Kaspar Schwenkfeld, 1489-1561), huguenotes e irmãos morávios, vários deles inspirados pelo movimento pietista.

 1.4.6 Índios e escravos

Com algumas exceções, o contato dos ingleses com os índios foi mais um obstáculo do que um auxílio para a difusão da fé. Dois antigos pastores de Massachusetts, John Eliot (1604-1690) e Thomas Mayhew Jr. (1621-1657), fizeram um esforço significativo de evangelização dos indígenas americanos. Eliot, pastor congregacional em Roxbury, perto de Boston, reuniu um bom número de conversos em “praying towns” (cidades de oração) e traduziu a Bíblia para a língua algonquim. Seus esforços resultaram na criação da primeira sociedade missionária da Inglaterra, a Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra (1649). Em Martha’s Vineyard e outras ilhas próximas, Mayhew, seu pai (após a morte do filho) e outros membros da família alcançaram ainda maior êxito que Eliot, talvez porque aceitaram um pouco mais da cultura indígena na civilização cristã que estabeleceram. A chamada Guerra do Rei Filipe (1675-76) entre os colonos e os índios foi grandemente prejudicial para as missões indígenas. Os próprios índios cristianizados foram internados em uma ilha da baía de Boston e quase todos morreram devido ao frio, doenças e fome.

 Os primeiros escravos africanos chegaram à Virgínia em 1619. Dentro de pouco tempo, a escravidão tornou-se um dos principais aspectos da sociedade das colônias sulistas. Foi também um importante fator econômico nas demais colônias, pois o tráfico de escravos enriqueceu muitos comerciantes de Nova York, Newport, Boston e outros centros comerciais do norte. A princípio, praticamente nenhum indivíduo ou denominação questionou a escravidão. Somente no final do século 17 alguns quacres e menonitas alemães começaram a protestar contra a mesma. O primeiro protesto conhecido surgiu em Germantown, Pensilvânia, em 1688. Nesse período inicial da história americana, aparentemente poucos escravos abraçaram a fé cristã.

 1.5 Conclusões parciais

O que se pode concluir sobre o cristianismo da América do Norte depois de um século de colonização inglesa?

 (a) Os padrões europeus continuavam a dominar a vida religiosa, seja na Nova Inglaterra puritana, na Virgínia anglicana ou na Pensilvânia quacre e menonita.

 (b) O novo ambiente estava efetuando mudanças nesse legado europeu: tolerância religiosa, pluralismo, maior participação dos leigos, interesse missionário por grupos não-europeus.

 (c) A maior parte dos colonos permaneceu em contato com as igrejas. A adesão integral na realidade era baixa (de 5% dos adultos no sul a 1/3 dos adultos na Nova Inglaterra), mas a participação relativamente regular nas atividades religiosas parece ter sido elevada. As evidências sugerem que em 1700 até 80% dos habitantes freqüentavam algum tipo de culto religioso com certa regularidade.

 (d) A distribuição das igrejas refletia a herança étnica e denominacional das primeiras colônias. Em 1740, três das quatro denominações com maior número de igrejas eram inglesas e protestantes: congregacional (423 igrejas), anglicana (246) e batista (96), e a quarta era escocesa (ou escocesa-irlandesa) e protestante: presbiteriana (160). A seguir, vinham os grupos da Europa continental: luteranos (95 igrejas), reformados holandeses (78) e reformados alemães (51). Havia ainda 27 igrejas católicas romanas, quase todas em Maryland. Uma série de grupos menores concentrava-se na Pensilvânia e áreas adjacentes. Numa exceção entre os centros urbanos, Nova York, com suas nove igrejas de oito denominações, refletia em uma só localidade o pluralismo cristão que as colônias como um todo estavam começando a exibir.

 2. Americanização (1700-1800)

Do início do século 18 até o início do século 19, três fenômenos contribuíram decisivamente para moldar a nacionalidade norte-americana e conferir um caráter peculiar ao cristianismo norte-americano: o Grande Despertamento, a Guerra da Independência e a Revolução Americana.

 2.1 O Grande Despertamento

O reavivamento colonial foi denominado “um grande e geral despertamento” porque atingiu tantas regiões e tantos aspectos da vida colonial. Embora o despertamento tenha sido mais um surto de piedade avivamentista do que um evento distinto, ele foi enormemente importante tanto para as igrejas quanto para a sociedade americana. Na Nova Inglaterra, o reavivamento trouxe nova vida para muitas igrejas congregacionais e incentivou grandemente o crescimento dos batistas. Nas colônias centrais, os presbiterianos e os reformados holandeses, após algumas divisões iniciais, também cresceram rapidamente. No sul, que foi alcançado por último, o avivamento produziu um renovado crescimento dos batistas e começou a preparar o caminho para o grande movimento metodista do período posterior à revolução.

 Os primeiros sinais do Grande Despertamento surgiram na década de 1720 em igrejas reformadas holandesas de Nova Jersey, quando o jovem pastor Theodore Frelinghuysen (1691-1784), que tivera contato com o pietismo na Holanda, desafiou as pessoas a terem um conhecimento mais profundo e experimental da fé cristã. Entre os indivíduos afetados por esse avivamento estava o presbiteriano Gilbert Tennent (1703-1764), que fora preparado para o ministério por seu pai, William Tennent, no modesto “Log College” (1736). Como pastor em New Brunswick, Gilbert tornou-se o líder do avivamento em sua denominação. Logo, surgiram dois grupos no presbiterianismo: o “New Side”, representando a preocupação puritana com uma fé experimental, e o “Old Side”, com sua insistência na doutrina correta, própria dos escoceses-irlandeses. De 1745 a 1758, houve dois sínodos rivais – Filadélfia (defensor da ortodoxia de Westminster) e Nova York (avivalista), que eventualmente se uniram.

 O Grande Despertamento atingiu a Nova Inglaterra a partir de um avivamento ocorrido na cidade de Northampton, Massachusetts, em 1734-35. Em 1739, o avivamento ressurgiu e difundiu-se amplamente em toda a região. Embora composto de avivamentos locais, o Grande Despertamento produziu dois líderes “nacionais”, um pregador inglês e um teólogo da Nova Inglaterra.

 2.1.1 George Whitefield (1714-1770)

Whitefield talvez tenha sido o protestante mais conhecido em todo o mundo no século 18. Com certeza ele foi o líder religioso mais conhecido nos Estados Unidos naquele século. Whitefield era um ministro da Igreja da Inglaterra e foi colega de John e Charles Wesley no Clube Santo de Oxford, nas décadas de 1720 e 1730. Mais tarde, ele iria transmitir aos irmãos Wesley algumas práticas que caracterizariam o movimento metodista, como pregações ao ar livre e a evangelização de pessoas comuns que tinham poucas ligações com as igrejas. Whitefield visitou rapidamente a Geórgia em 1738 para auxiliar na fundação de um orfanato. Ao retornar às colônias no ano seguinte, a sua reputação de pregador dramático o precedeu. A sua visita causou enorme impacto. Quando esteve na Nova Inglaterra no outono de 1740, multidões de até oito mil pessoas reuniram-se todos os dias para ouvi-lo, durante mais de um mês (nessa época, toda a população da Nova Inglaterra não passava de 290 mil habitantes). A campanha de Whitefield, um dos episódios mais notáveis de toda a história do cristianismo americano, foi o principal evento do Grande Despertamento da Nova Inglaterra. Ele haveria de retornar muitas vezes às colônias americanas, onde faleceu em 1770 como havia desejado: em meio a outra campanha evangelística.

 Ao contrário de outros reavivalistas posteriores, Whitefield era um calvinista que acentuava o poder de Deus na salvação. Ele rompeu com John Wesley em 1741 por causa do arminianismo deste, com sua ênfase no livre arbítrio humano. (Mais tarde, eles reconciliaram-se como amigos, mas não em sua teologia, e Wesley pregou um afetuoso sermão memorial após a morte de Whitefield.) Por outro lado, Whitefield interessava-se muito mais pela pregação do que pela teologia. Ele sabia como falar às pessoas simples, com uma linguagem igualmente simples, e apelava fortemente ao coração. Além disso, ele também pregou quase todos os seus sermões extemporaneamente, sem anotações. Desse modo, Whitefield contribuiu para o estilo mais democrático e popular do cristianismo americano.

 2.1.2 Jonathan Edwards (1703-1758)

Se Whitefield foi o pregador mais importante do Grande Despertamento, Edwards foi o principal apologista do movimento e o maior teólogo americano por mais de um século. Aos 21 anos, ele tornou-se pastor-auxiliar do seu avô, Salomon Stoddard (1643-1729), na Igreja Congregacional de Northampton, Massachusetts. Stoddard foi um líder notável que procurou ir além do “pacto do meio termo” ao defender que todos os que vivessem vidas externamente corretas podiam participar da comunhão. Ele também propôs que as igrejas congregacionais criassem um modelo de supervisão “conexional” ou “presbiteriano” para orientar as igrejas locais e os seus ministros.

 Muitas das obras teológicas de Edwards resultaram do seu esforço em defender os reavivamentos coloniais como verdadeiras obras de Deus. O seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, pregado em Enfield, Connecticut, em 1741, é seu escrito mais conhecido, mas ele gastou a maior parte do seu tempo preparando estudos mais formais, inclusive uma profunda análise dos fenômenos do reavivamento, publicada com o título Tratado Sobre as Afeições Religiosas (1746). Essa obra argumenta que o verdadeiro cristianismo não é revelado pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, e sim quando um coração é transformado para amar a Deus e buscar a sua vontade.

 Após a morte de Edwards, seus amigos publicaram sua obra A Natureza da Verdadeira Virtude (1765), onde ele insiste que a experiência da graça de Deus é o único fundamento para uma moralidade autêntica e duradoura. A experiência humana ordinária pode explicar a bondade humana ordinária, mas não a “verdadeira virtude”. Anteriormente, o livro A Liberdade da Vontade (1754) havia apresentado idéias calvinistas tradicionais acerca da salvação com um novo enfoque. Seu argumento básico foi que a vontade não é uma entidade verdadeira, mas uma expressão do motivo mais forte existente no ser da pessoa. Em outras palavras, a natureza pecaminosa não pode agradar a Deus a menos que Deus, por uma infusão da graça, transforme o caráter do pecador. Edwards deu sustentação à ênfase dessa obra através de outro livro, O Pecado Original (1758), no qual argumentou que toda a humanidade estava presente em Adão quando este pecou. Assim sendo, todas as pessoas partilham do caráter pecaminoso e da culpa que Adão trouxe sobre si mesmo.

 Edwards foi um teólogo fascinado com a majestade e o esplendor do Ser Divino. Os grandes temas da sua teologia foram a grandeza e a glória de Deus, a total dependência da humanidade pecadora em relação a Deus no que se refere à salvação e a beleza etérea da vida de santidade. A obra de Jonathan Edwards e seus seguidores foi a contribuição mais significativa na área da teologia surgida na América do Norte no século 18. Ver Alderi S. Matos, “Jonathan Edwards: Teólogo do Coração e do Intelecto”, Fides Reformata III:1 (Janeiro-Junho 1998), 72-87; Gaustad, Documentary History, I:214-220; e Hardman, Issues in American Christianity, 52-57.

 2.1.3 Efeitos religiosos dos reavivamentos

Os reavivamentos produziram, pelo menos por algum tempo, um aumento no número de adesões às igrejas e o fortalecimento espiritual de muitas comunidades cristãs. 2) A mensagem cristã foi levada de modo mais direto a grupos marginalizados da sociedade. Um exemplo inspirador foi o de David Brainerd (1718-1747), que se tornou um zeloso missionário junto aos indígenas do leste de Nova Jersey e cujo Diário foi publicado por Jonathan Edwards. No trabalho entre os escravos destacou-se o presbiteriano Samuel Davies (1723-1761), especialmente em Virgínia. 3) O avivamento também gerou um movimento de reforma social através de seguidores de Edwards. Samuel Hopkins (1721-1803), que foi pastor em Newport, Rhode Island, protestou insistentemente contra a escravidão. 4) O despertamento gerou um maior interesse pela educação, tanto para pastores quanto para leigos. Como conseqüência direta ou indireta do movimento, vários “colégios” importantes foram fundados: Princeton (presbiteriano, 1746), Brown (batista, 1760), Queens (mais tarde Rutgers; reformado holandês, 1764) e Dartmouth (congregacional, 1769), destinado especialmente aos indígenas convertidos.

 Conclusão: o Grande Despertamento foi o primeiro acontecimento nacional dos Estados Unidos. Whitefield e suas façanhas evangelísticas foram tópicos comuns de discussão desde o Maine até a Geórgia. Pastores de todas as colônias corresponderam-se para incentivar o reavivamento. De igual modo, líderes contrários ao entusiasmo avivalista, como o Rev. Charles Chauncy, de Boston, também estabeleceram conexões para tentar levar o movimento ao descrédito. O despertamento acelerou o processo que cada vez mais levava os imigrantes europeus a se identificarem como “americanos”. Ao mesmo tempo, essa nova identidade produziu uma crescente suspeita contra a Europa, especialmente a Inglaterra. Conceitos religiosos utilizados no avivamento, tais como “liberdade”, “virtude” e “tirania”, muito em breve passaram a ter também conotações políticas. Finalmente, a ênfase dada pelos pregadores às pessoas comuns como objeto da graça de Deus, ao lado da importância de uma decisão pessoal com respeito ao evangelho, fortaleceram noções de igualdade, democracia e responsabilidade pessoal que contribuíram para o processo que levou à independência dos Estados Unidos.

 2.2 A Época Revolucionária

Na segunda metade do século 18, a atenção de muitos americanos afastou-se do grande interesse religioso produzido pelo Grande Despertamento para concentrar-se em uma longa série de acontecimentos políticos e militares de grande relevância: a Revolução Americana (1775), a Declaração de Independência (1776), a Guerra contra a Inglaterra (até 1783) e a promulgação da Constituição Americana (1789).

 Nesse período, o evento de maior significação para as igrejas foi a implantação da liberdade religiosa, uma ruptura radical com os princípios de uniformidade e união entre igreja e estado que haviam caracterizado a civilização ocidental por mais de mil anos. Essa foi a origem do que conhecemos hoje como denominacionalismo. A nível nacional, a liberdade religiosa foi garantida por dois importantes documentos. O artigo 6º da Constituição Federal declarou: “Nenhum teste religioso jamais será exigido como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos”. Em 1791, a Primeira Emenda à Constituição dispôs que “o Congresso não promulgará nenhuma lei referente ao estabelecimento da religião ou que proíba o exercício da mesma”. Com isso, todas as igrejas passavam a ser associações voluntárias, teoricamente iguais perante a lei. (Todavia, em Massachusetts o congregacionalismo continuou a ser a igreja oficial até 1833!)

 A nova realidade afetou alguns grupos mais do que outros, tais como os congregacionais, batistas e quakers, que já eram independentes. As igrejas filiadas a suas matrizes européias precisaram organizar-se nacionalmente, a começar da Igreja Anglicana. Sob a liderança de William White, foi criada a Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos, cuja primeira convenção geral reuniu-se em Filadélfia em 1785. Dois anos depois, White e Samuel Provoost foram sagrados bispos pelo arcebispo de Cantuária. Em 1784 foi formada a Igreja Metodista Episcopal, que teve como primeiros líderes ou superintendentes o pioneiro Francis Asbury e Thomas Coke, nomeados pelo próprio Wesley, os quais em 1787 passaram a ser bispos. A primeira Conferência Geral reuniu-se em 1792. Os presbiterianos já eram autônomos, mas aproveitaram a oportunidade para completar a sua organização eclesiástica. Sua Assembléia Geral reuniu-se pela primeira vez em 1789.

 O período revolucionário também viu o surgimento de novos grupos nos Estados Unidos, alguns deles bastante heterodoxos, como foi o caso dos unitários (antitrinitários), que haviam surgido na Inglaterra já no final do século 16. A primeira igreja unitária inglesa só foi organizada em 1773, em Londres. Em 1787, a King’s Chapel, de Boston, a mais antiga igreja episcopal da Nova Inglaterra, tornou-se a primeira igreja declaradamente unitária, sob a liderança de seu pastor, James Freeman. Mais tarde, o unitarismo iria causar um grande cisma nas igrejas congregacionais. Outro grupo não ortodoxo surgido nessa época foi o dos universalistas (no aspecto soteriológico). Os primeiros universalistas ingleses e americanos foram trinitários, mas eventualmente o movimento abraçou a posição unitária. Um líder influente foi Hosea Ballou (1771-1852), pastor residente em Boston. Os universalistas realizaram sua primeira convenção em Filadélfia, em 1790.

 2.3 Os presbiterianos

De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York). Na época da Revolução Americana, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Os presbiterianos tiveram uma atuação destacada na revolução. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.

 2.4 Desdobramentos teológicos

As mudanças introduzidas na teologia mediante acomodações ao raciocínio da revolução foram sutis, porém amplas. O que aconteceu entre os teólogos da Nova Inglaterra ilustra essas mudanças. Dois discípulos de Jonathan Edwards, Joseph Bellamy (1719-1790) e Samuel Hopkins (1721-1803), chegaram à conclusão de que Deus somente pune os pecados que os seres humanos efetivamente cometem, e não uma pecaminosidade herdada de Adão. Eles não repudiaram a teologia calvinista recebida de Edwards, mas a influência de idéias contemporâneas sobre a felicidade humana e os direitos individuais, bem como a necessidade de justificar todos os princípios intelectuais por meio da razão, ficam evidentes na sua obra. Pouco depois, teólogos como Jonathan Edwards Jr. (1745-1801) e Timothy Dwight (1752-1817), um neto de Jonathan Edwards, desenvolveram ainda mais alguns conceitos que valorizavam a capacidade humana inata e se afastavam de uma plena afirmação da soberania de Deus.

VEJA MAIS www.estudarhistoriadaigreja.blogspot.com.br