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arrebatamento da igreja P.1
arrebatamento da igreja P.1

 

PAROUSIA

 

 

Ou segunda vinda de Cristo, no que tange à igreja cristã. (naquilo que diz respeito a todos os homens, crentes ou incrédulos será colocado em outra oportunidade)

 

Consideremos os pontos seguintes:

 

I. Observações gerais:

 

1. A parousia será uma série de acontecimentos, começando com Armagedom (Ap 16:15), e estendendo até a destruição final da velha terra (II Pe 3:4,12). O tempo do aspecto da parousia que acontecerá antes do milênio é desconhecido (Mt 24:6). O tempo do arrebatamento da igreja é debatido.

2. Será um período de refrigério ou descanso, vindo da parte do Senhor (At 3:19).

3. Significará a restauração de todas as coisas (Rm 8:21; Ef 1:10). O «mistério da vontade de Deus» será cumprido. A segunda vinda será uma série de acontecimentos e até o milênio pode ser considerado parte dela. II Pe 3:4-13 mostra que até o julgamento final e a destruição do velho sistema cósmico fazem parte da parousia no seu sentido mais amplo. O processo histórico será incorporado na grande transição da «parousia». A parousia utilizará o processo histórico para cumprir o mistério da vontade de Deus, mas também transcenderá aquele processo. O cumprimento do mistério da vontade de Deus fará Cristo o centro da Nova Criação, na qual ele será tudo para todos.

4. Consistirá da manifestação, aparecimento e revelação de Jesus Cristo (I Pe 1:7,13).

5. Será o dia de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2:13).

6. Também será o Dia de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo (I Co 1:8 e II Pe 3:12).

7. É acontecimento predito nas páginas do A.T. (Dn 7:13); e figura tão freqüentemente no N.T., que é mencionado numa média de um versículo em cada vinte e três. (Ver Jd 14; Mt 25:31; Jo 14:3; At 3:20 e I Tm 6:14).

8. Esse acontecimento será precedido por certos sinais (Mt cap. 24).

9. Sua maneira: será nas nuvens (Mt 24:30 e Ap 1:7); na glória de Deus Pai (Mt 16:27); na glória de Cristo (Mt 25:31), uma verdade literal (At 1:9,11); acompanhado pelos anjos (Mt 16:27); I Ts 3:13 e Jd 14); em Companhia dos crentes (I Ts 4.14); repentino (Mc 13:36); como se fora um ladrão que assalta à noite (I Ts 5:2; II Pe 3:10 e Ap 16:15); será como um relâmpago (Mt 24:27).

10. Propósitos: A glorificação dos santos (II Ts 1:10; I Ts 4:15 e ss); não será para efeito de expiação (Hb 9:28 e Rm 6:9,10); visará a própria glória de Cristo (II Ts 1:10); visará julgar tanto aos salvos quanto aos perdidos (Sl 50:3,4; Jo 5:22; II Tm 4:1; II Co 5:10).

Cumpre-nos observar, por semelhante modo, que tal juízo é vinculado à parousia e não à morte física de cada indivíduo. As questões eternas, pois, não serão fixadas até à segunda vinda de Cristo. Portanto, o poder salvador ou restaurador de Cristo se prolonga pelo mundo intermediário e não se restringe apenas a este mundo físico, terreno.

Cristo destruirá a morte quando de sua vinda (ver I Co 15:25,26). Assim, os seus santos receberão a natureza e a semelhança de Cristo, mediante a ressurreição e a subseqüente glorificação; e isso atua neles, por enquanto, como uma esperança purificadora (ver I Jo 3:2,3 e I Ts 4:14,16). Tal ocorrência redundará em glória tanto para Cristo como para os crentes (ver Cl 3:4). A coroa da glória será dada aos crentes nessa oportunidade (ver II Ts 4:8 e I Pe 5:4). E então terá início o reino milenar de Cristo (ver Dn 7:27; II Tm 2:12; Ap 5:10 e 20:6).

11. Em relação aos crentes, esse acontecimento se reveste agora dos seguintes elementos: Os crentes devem amar a vinda do Senhor (ver II Tm 4:8); devem esperar por ele (ver Fp 3:20; Tt 2:13); devem aguardar a Cristo (ver I Co 1:7 e I Ts 1:10); devem apressar a vinda de Cristo (ver II Pe 3:12); devem orar para seu desenlace (ver Ap 22:20); devem estar preparados para esse dia (ver Mt 24:44; Lc 12:40); devem vigiar a respeito (ver Mt 24:42).

12. Em relação aos incrédulos, a segunda vinda de Cristo serve de motivo de zombarias (ver I Pe 3:3,4); os incrédulos presumem de sua ocorrência tardia (ver Mt 24:48); serão surpreendidos por seu súbito desenlace (ver Mt 24:37-39); serão castigados quando houver tal ocorrência (ver II Ts 1:8,9); e o anticristo será destruído em seu poder e domínio nessa oportunidade, caindo em perdição eterna (ver II Ts 2:8). Ef 1:10, vinculado com I Pe 3:18-20, 4:6, mostra como a missão de Cristo, afinal, terá efeitos imensos e universais, sobre todos os homens, não somente sobre os eleitos. Tudo, afinal, terá seu centro em Cristo, e terá uma utilidade, embora não a mesma dos eleitos, sendo imensamente inferior.

Queremos notificar ao leitor que, nas referências sugeridas acima, nenhum esforço foi feito por nós para distinguir os temas relativos ao «arrebatamento da igreja», dos temas atinentes à segunda vinda de Cristo, na «glória».

 

II. O tempo do arrebatamento:

 

Precisamos também considerar a questão do tempo da segunda vinda de Cristo, no que diz respeito à tribulação, e no que concerne à diferença entre o arrebatamento da igreja e a segunda vinda de Cristo. John F. Walvoord, presidente do Dallas Theological Seminary, de Dallas, no Texas, talvez tenha escrito a exposição mais completa que há sobre esse tema. Ele alistou cinqüenta razões pelas quais cria no arrebatamento antes da tribulação, o que significa que a igreja não passaria pelo período da Grande Tribulação. Bastaria a natureza completa de seus estudos para merecer a nossa atenção, mesmo que não concordemos totalmente com tal ponto de vista. Abaixo expomos essas razões, e abaixo oferecemos uma breve crítica.

Para efeito de brevidade, o termo arrebatamento é usado para indicar a vinda de Cristo para a sua igreja, ao passo que a expressão «segunda vinda» é uniformemente usada em alusão à vinda de Cristo à terra, a fim de estabelecer o seu reino milenar, acontecimento esse que todos consideram pré-tribulacional.

 

Argumento Histórico

 

1. A igreja cristã primitiva cria na iminência do retorno do Senhor, o que é um ponto doutrinário essencial da posição pré-tribulacional.

2. O desenvolvimento detalhado da verdade pré-tribulacional, durante os poucos séculos passados não prova que essa doutrina seja recente ou que seja uma novidade. Seu desenvolvimento é similar ao das outras principais doutrinas da história da igreja.

 

Hermenêutica

 

3. A posição pré-tribulacional é o único ponto de vista que permite uma interpretação literal de todas as passagens tanto do Antigo como do Novo Testamento sobre a Grande Tribulação.

4. Somente a posição pré-tribulacional distingue claramente entre a nação de Israel e a igreja, em seus respectivos programas.

 

Natureza da Tribulação

 

5. O pré-tribulacionismo conserva a distinção bíblica entre a Grande Tribulação e a tribulação em geral que a antecede.

6. A Grande Tribulação é devidamente interpretada, pelos que crêem no arrebatamento antes da tribulação como tempo de preparo para a restauração da nação de Israel. (Ver Dt 4:29,30 e Jr 30:4-11). O propósito da tribulação não é preparar a igreja para a glória.

7. Nenhuma das passagens do A.T. sobre a tribulação menciona a igreja (ver Dt 4:29,30; Jr 30:4-11; Dn 9:24-27 e 12:1,2).

8. Nenhuma das passagens do N.T. sobre a tribulação menciona a igreja (ver Mt 24:15-31; II Ts 1:9,10; 5:4-9 e Ap 4 - 19).

9. Em contraste com a posição mid-tribulacional, o ponto de vista pré-tribulacional prove uma explanação adequada para o começo da Grande Tribulação, no sexto capitulo do livro de Apocalipse. Já a primeira dessas posições é refutada pelo ensinamento claro das Escrituras, que diz que a Grande Tribulação começará muito antes da sétima trombeta do décimo primeiro capitulo do livro de Apocalipse.

10. A distinção apropriada é mantida entre as trombetas proféticas das Escrituras através da posição pré-tribulacional. Há base firme para o argumento central do mid-tribulacionismo que a última trombeta do livro de Apocalipse é a última trombeta, não havendo conexão segura entre a sétima trombeta do décimo primeiro capítulo do livro de Apocalipse, a última trombeta do trecho de I Co 15:52 e a trombeta de Mt 24:31. São três acontecimentos distintos.

11. A unidade, da septuagésima semana do livro de Daniel é mantida pelo pré-tribulacionismo. Em contraste com isso, a posição mid-tribulacional destrói a unidade dessa septuagésima semana, confundindo o programa de Israel com o programa da igreja.

 

Natureza da Igreja

 

12. O arrebatamento da igreja nunca é mencionado em qualquer passagem referente à segunda vinda de Cristo, após a tribulação.

13. A igreja não está destinada à ira (ver Rm 5:9; I Ts 1:9,10 e 5:9), Portanto, a igreja não poderá entrar no «grande dia da ira deles» (ver Ap 6:17).

14. A igreja não será surpreendida pelo Dia do Senhor (ver I Ts 5:1-9), que inclui a tribulação.

15. A possibilidade do crente escapar da tribulação é mencionada em Lc 21:36.

16. À igreja de Filadélfia foi prometido livramento da«hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra» (Ap 3:10).

17. É uma das características da maneira divina de agir a livrar aos crentes antes de qualquer juízo divino ser infligido contra o mundo, conforme é ilustrado nos livramentos de Noé, Ló, Raabe, etc. (Ver II Pe 2:6-9).

18. Ao tempo do arrebatamento da igreja, todos os crentes irão para a casa de Deus Pai (ver Jo 14:3), e não retornarão imediatamente à terra, após o encontro com Cristo nos ares, conforme ensinam os post-tribulacionistas.

19. O pré-tribulacionismo não divide o corpo de Cristo quando do arrebatamento com base no princípio dás obras. O ensinamento de um arrebatamento parcial se baseia sobre a falsa doutrina que diz que o arrebatamento da igreja recompensará as boas obras. Trata-se antes de um aspecto final da salvação pela graça divina.

20. As Escrituras ensinam claramente que a igreja inteira, e não apenas uma parte dela, será arrebatada quando da vinda de Cristo para a sua igreja (ver I Co 15:51,52 e I Ts 4:17).

21. Em oposição ao ponto de vista que postula um arrebatamento parcial, o pré-tribulacionismo se alicerça sobre o ensinamento definido das Escrituras que a morte de Cristo nos livra de toda a condenação.

22. O remanescente piedoso da tribulação é retratado como composto de israelitas, e não membros da igreja, conforme é dito pelos post-tribulacionistas,

23. O ponto de vista pré-tribulacional, em contraste com o post-tribulacionismo, não confunde termos gerais como 'eleitos' e 'santos', que se aplicam aos salvos de todos os séculos, com termos específicos como 'igreja' e aqueles que estão 'em Cristo', o que se refere somente aos santos desta era.

 

Doutrina da Iminência

 

24. A posição pré-tribulacional é o único ponto de vista que ensina que o retorno de Cristo e realmente iminente.

25. A exortação para nos consolarmos ante a vinda do Senhor (ver I Ts 4:18) só é significativa para o ponto de vista pré-tribulacional, sendo contradita especialmente pelo post-tribulacionismo.

26. A exortação para esperarmos pela 'gloriosa manifestação' de Cristo em favor do que lhe pertencem (ver Tt 2:13) perde sua significação se a tribulação deve ocorrer antes disso. Os crentes, nesse caso, deveriam esperar sinais da vinda de Cristo, apenas.                                                                             

27. A exortação para nos purificarmos, em face do retorno do Senhor, se reveste de maior significação se a vinda de Cristo for iminente (ver I Jo 3:2,3).

28. A igreja é uniformemente exortada a esperar a vinda do Senhor, ao passo que os crentes que estiverem vivos durante o período da tribulação as recomendaque aguardem sinais da volta de Cristo.

 

A obra do Espírito Santo

 

29. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor do mal», não poderá ser retirado do mundo a menos que a igreja, na qual habita o Espírito, for retira ao mesmo tempo. A tribulação não poderá começar enquanto essa restrição não for suspensa.

30. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor», será tirado do mundo antes de revelar-se o 'iníquo', que dominará o mundo durante o período da tribulação (ver II Ts 2:6-8).

31. Se for literalmente traduzida a expressão «isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia», ou seja, «isto não acontecerá sem que primeiro venha a partida», ficará claramente demonstrada a necessidade do arrebatamento antes do começo da Grande Tribulação.

 

Necessidade de um Intervalo entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda de Cristo

 

32. De acordo com II Co 5:10, todos os crentes da presente era deverão comparecer perante o tribunal de Cristo, nos céus, um evento jamais mencionado nas narrativas detalhadas concernentes à segunda vinda de Cristo à terra.

33. Se os vinte e quatro anciões do trecho de Ap 4:1 - 5:14 representam a igreja, conforme muitos expositores bíblicos acreditam, então torna-se necessário o arrebatamento e o galardoamento da igreja antes do início da tribulação.

34. A vinda de Cristo para buscar sua Noiva deverá ter lugar antes da segunda vinda de Cristo a terra, para a festa nupcial (ver Ap 19:7-10).

35. Os santos da Grande Tribulação não serão arrebatados quando da segunda vinda de Cristo, mas continuarão em suas ocupações ordinárias, plantando e edificando casas, e também gerarão filhos (ver Is 65:20-25). Isso seria impossível se todos os santos fossem arrebatados quando da segunda vinda de Cristo à terra, conforme ensinam os post-tribulacionistas.

36. O julgamento dos gentios, que se seguirá à segunda vinda de Cristo (ver Mt 25:31-46), indica que tanto os salvos como os incrédulos ainda se acharão em seus corpos naturais, o que seria impossível se o arrebatamento tivesse lugar quando da segunda vinda de Cristo.

37. Se o arrebatamento tivesse lugar ao mesmo tempo que a segunda vinda de Cristo à terra, não haveria nenhuma necessidade de separar as ovelhas dos cabritos, como algo ocorrido em um julgamento subseqüente, mas a separação teria lugar no próprio ato do arrebatamento dos crentes, antes de Cristo realmente estabelecer o seu trono à face da terra (ver Mt 25:31).

38. O julgamento da nação de Israel (ver Ez 20:34-38), que ocorrerá depois da segunda vinda de Cristo, indica a necessidade de reunir novamente o povo de Israel. A separação entre os salvos e os perdidos, nesse julgamento, obviamente terá lugar algum tempo após a segunda vinda, e seria algo desnecessário se os salvos já tivessem sido separados dos incrédulos por meio do arrebatamento.

 

Contrastes entre O Arrebatamento e a Segunda Vinda de Cristo

 

39. Ao tempo do arrebatamento, os santos se encontrarão com Cristo nos ares, ao passo que, na segunda vinda, Cristo retornará ao monte das Oliveiras, vindo assim ao encontro dos santos na terra.

40. Ao tempo do arrebatamento, o monte das Oliveiras ficará intocado, ao passo que o tempo da segunda vinda será formado um grande vale a leste de Jerusalém (ver Zc 14:4,5).

41. Quando do arrebatamento, os santos vivos serão arrebatados, ao passo que nenhum crente será arrebatado em conexão com a segunda vinda de Cristo àterra.

42. Quando do arrebatamento, os santos serão levados para os céus, ao passo que, na segunda vinda de Cristo à terra os santos continuarão à face da terra, sem qualquer arrebatamento.

43. Ao tempo do arrebatamento, o mundo continuará sem julgamento e prosseguirá em seus caminhos pecaminosos, ao passo que na segunda vinda de Cristo o mundo será julgado e a retidão será estabelecida neste mundo.

44. O arrebatamento da igreja é retratado como livramento antes do dia da ira; mas a segunda vinda de Cristo será seguida pelo livramento daqueles que tiverem confiado em Cristo durante a tributação.

45. O arrebatamento é descrito como iminente, ao passo que a segunda vinda de Cristo é precedida por sinais definidos.

46. O arrebatamento de santos vivos é uma verdade revelada exclusivamente no N.T., ao passo que a segunda vinda de Cristo, com suas ocorrências correlatas é uma doutrina que se destaca em ambos os Testamentos.

47. O arrebatamento diz respeito exclusivamente aos salvos, ao passo que a segunda vinda de Cristo envolve tanto os salvos como os perdidos.

48. Quando do arrebatamento, Satanás não será amarrado, ao passo que por ocasião da segunda vinda de Cristo, Satanás será amarrado e lançado no abismo.

49. Nenhuma profecia a ser cumprida há entre a igreja e o arrebatamento, ao passo que muitos sinais terão de ser cumpridos antes da segunda vinda de Cristo.

50. Nenhuma passagem, que trata da ressurreição dos santos, por ocasião da segunda vinda de Cristo, em ambos os Testamentos, menciona o arrebatamento dos santos vivos, ao mesmo tempo.

Não se presume que os argumentos acima expostos estabeleçam por si mesmos a sua validade; antes, apresentamos esses argumentos como apoio e justificação para a discussão previamente exposta, dando o sumário de razões em favor do ponto de vista pré-tribulacional.

 

A CRITICA

 

A partir deste ponto apresentamos a critica a esses pontos de vista pré-tribulacionais:

1. Um bom serviço foi feito pelo autor da lista acima, pois apresenta-nos várias formas de distinção, existentes entre os evangélicos de hoje em dia, entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo», e a relação que ambas essas ocorrências têm para com a igreja cristã, para com os incrédulos, para com a Grande Tribulação e para com o milênio. Isso ajuda-nos a perceber, de maneira geral, como a questão é manuseada em nossos dias, em contraste com o modo como era manuseada em gerações passadas, por aqueles que não estabeleciam tais distinções.

2. Entretanto, devemos salientar que um mero grande número de argumentos, por si mesmos, não prova a validade de tais distinções, a menos que alguns deles, considerados isoladamente, ou todos juntos, realmente sejam convincentes. Ora, aqueles que não acreditam na distinção entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo», quanto à sua natureza e quanto ao elemento do tempo, não se deixam convencer por aqueles argumentos acima, nem considerados em separado e nem em seu conjunto. Abaixo oferecemos apenas um exemplo de como alguns desses argumentos são negados, através do que se pode ver como podem ser todos eles derrubados. Não nos deveríamos esquecer que qualquer sistema, quando bem desenvolvido, tem boa consciência dos argumentos dos sistemas opostos, pelo que também encerra argumentos e contra-argumentos sobre pontos controvertidos:

a. O argumento histórico: A distinção cronológica entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo» é uma doutrina recente, que veio à cena apenas a cem anos passados. Portanto, pode tratar-se de uma criação moderna, que dá à igreja da fé fácil um meio de escape para não entrar na prometida Grande Tribulação. Os crentes primitivos criam na iminência do retorno de Cristo; mas não consistia isso de um dogma, mas tão-somente de uma «esperança». (Caso contrário, a igreja primitiva teria incorrido em grave erro de cálculo, pois Cristo não retornou no tempo deles). Mas, quanto à sua «esperança», ela não se cumpriu, o que facilmente pode dar-se também em nosso caso. Por igual modo, Paulo esperava morrer em Roma, e no fim de sua vida terrena parece ter perdido a esperança que veria a Cristoenquanto vivo na carne. Outrossim, estando os crentes primitivos tão distantes daquele evento, não se mostraram muito exatos sobre o que deveriam esperar; e seus sentimentos sobre a iminência do retorno de Cristo não devem ser necessariamente transferidos para a igreja moderna, apesar de ser correto esperarmos pela vinda «breve» de Cristo, precedida por determinados sinais, conforme aqueles que lemos no vigésimo quarto capitulo do evangelho de Mateus. Passagens como essa não antecipam uma vinda de Jesus Cristo em dois «estágios»; e são somente os hiperdispensacionalistas que separam as previsões de Jesus nas categorias «para os judeus» e «para os cristãos», ao passo que o evangelho de Mateus é um documento «cristão», escrito já bem dentro da era cristã.

b. O argumento baseado na hermenêutica: Pode-se acreditar bem firmemente em uma «tribulação» literal, e ao mesmo tempo crer que a igreja cristã passará por ela.

c.  Natureza da tribulação: Limitar a tribulação somente à preparação da nação de Israel para a restauração, e não encarar a tribulação como medida que purificará a própria igreja, como se fora uma espécie de medida preparatória da Noiva para a vinda do Noivo, é fazer com que os capítulos quinto a décimo nono, do livro de Apocalipse, não tenham qualquer aplicação direta à igreja cristã, ao passo que esse livro tem como seu propósito especifico advertir e sustentar a igreja em meio à tribulação; e isso tanto no período da igreja primitiva, que sofria tribulações e perseguições, como prefiguração do que aconteceria futuramente, como também profeticamente, para ajudar a igreja cristã que existir quando ocorrer a «Grande Tribulação». Fazer com que a maior parte do livro de Apocalipse e outras passagens proféticas (como o décimo terceiro capítulo do livro de Marcos e o vigésimo quarto capitulo do livro de Mateus), não ter qualquer aplicação à igreja é estabelecer distinções que as próprias Escrituras não estabelecem, cortando a Bíblia em pedaços, porquanto assevera indiretamente que esses não são, realmente, documentos cristãos, não tendo sido escritos para beneficio da igreja, o que é uma posição insustentável.

d. No tocante à natureza da igreja. Passagens como Ap 3:10, que supostamente indica o «livramento da presença da ira», bem podem não significar isso ao serem consideradas dentro do pensamento que tal versículo foi escrito para uma igreja que naquele exato momento passava por uma hora de teste, a qual foi «sustentada» ou «guardada», mas não foi livrada da presença da tribulação. A igreja primitiva foi «guardada da tribulação» por haver sido preservada de seus maus efeitos; mas não no sentido de ter sido tirada da tribulação. Ora, esse é o mesmo tipo de livramento que aguarda a futura igreja cristã. Em sentido algum a igreja do fim está destinada à ira; mas poderá sofrer os efeitos da ira divina que sobrevirá ao mundo, até ao ponto em que ela mostrar-se mundana, necessitada de purificação desses elementos, embora a ira final de Deus não se descarregue contra ela. Se há alguma coisa evidente no mundo de hoje, é que a igreja precisa desesperadamente dessa purificação.

3. A obra do Espírito Santo. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor», será realmente tirado do caminho antes que a grande tempestade comece a açoitar; mas isso não significa que ela não possa permanecer com sua igreja durante a tempestade, protegendo-a até ao ponto em que isso não impeça a tempestade.

4. Contrastes entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda para julgar. Ninguém pode negar que há trechos bíblicos que descrevem diferentemente a segunda vin­da de Cristo, mostrando os elementos variegados, complexos e aparentemente contraditórios que há ali, porquanto muitas condições e povos, terrenos e celestiais, estão ali em foco. Porém, tudo quanto pode ficar provado por essa observação é que se trata de uma ocorrência complexa e dotada de efeitos de longo alcance, e não que deve ser dividida meramente em duas fases cronológicas separadas.

É melhor dizer que a segunda vinda de Cristo será uma série de acontecimentos, sobre um tempo considerável, e que alguns deles se aplicarão à igreja, e outros aos outros homens.

Nenhuma tentativa é feita aqui para apresentar uma refutação completa. Longos artigos têm sido escritos sobre o tema, ao longo das linhas aqui sugeridas. O argumento em favor do arrebatamento anterior à Grande Tribulação não é tão forte como seus defensores dão a entender. Todavia, a questão não está resolvida sob hipótese alguma. Este comentário toma a posição que qualquer exame do problema, em face do que dizem as Escrituras e mediante o uso de argumentos favoráveis e contrário, não pode solucionar a questão além de qualquer dúvida, e que somente os acontecimentos da história, em desdobramento podem aclarar o assunto, a menos que Deus ache por bem dizer-nos qual a verdade final sobre a matéria, mediante profecia ou revelação, e assim unir a igreja em torno da questão. O mais provável, entretanto, é que os próprios acontecimentos venham a esclarecer tudo. O autor deste comentário crê pessoalmente na necessidade de purificação, através, pelo menos parte da Tribulação, e que assim a igreja sofrerá para seu próprio benefício; e também que esses acontecimentos ocorrerão num futuro bem próximo. A experiência demonstrará tudo para nós, ao passo que nossos argumentos em prol e contra esta ou aquela posição servem somente para deixar-nos na dúvida, até que os próprios acontecimentos ocorram.

III. A vinda literal de Cristo. A palavra «literal» normalmente é usada para indicar o que é físico ou visível e, com freqüência, «real». Mas a vinda de Cristo pode ser «real», ainda que não seja física e nem visível para todos os homens. Pelo menos, para a igreja e para o Israel, será visível. Cristo recolherá para si mesmo os seus santos, e passará a reinar sobre a terra; mas este «reino» poderá ocorrer «espiritualmente». Isso não indica uma maneira «irreal» e, sim, «real», de uma maneira diferente do que partes da igreja ordinariamente pensam. Afinal de contas, o que é «real», e mesmo «mais real», não é o que é material, mas antes, o que é espiritual. Portanto, uma elevada glória poderá ser dada à igreja, havendo grande transformação física à face da terra, um autêntico milênio, mesmo sem a forma visível de Cristo fazer-se presente. Seja como for, Cristo é o poder que há por detrás de ambas as coisas, e ele reinará verdadeiramente, «literalmente», embora talvez não se manifeste sob forma visível. Ainda temos muito que aprender sobre o que significará a manifestação particular do segundo advento de Cristo, no que diz respeito à terra. Dizemos uma vez mais que os próprios acontecimentos, à medida que se desenrolarem, esclarecerão isso para nós, se Deus não o fizer mais claramente de antemão. A segunda vinda de Cristo será um acontecimento real e literal, mas talvez ocorra inteiramente de forma espiritual (para o mundo físico). Deus, entretanto, esclarecerá isso para nós, quando estivermos preparados para receber tal esclarecimento.

IV. A igreja cristã primitiva esperava esse acontecimento em seus próprios dias. (Ver I Ts 4:15 e I Co 15:51). Não esperavam que houvesse um longo «período da igreja», entre o primeiro e o segundo adventos de Cristo. Em todos os séculos a igreja cristã deverá compartilhar dessa atitude, a fim de preservar essa esperança, para que ela atue como um elemento purificador (ver I Jo 3:2,3). Esta própria primeira epístola aos Tessalonicenses, a qual mostra-nos quão viva era essa esperança, de modo que alguns cristãos primitivos tinham suspenso até mesmo o trabalho físico, com suposta base na iminência da vinda de Cristo, serve de demonstração dessa expectação. É mesmo possível que as declarações do Senhor Jesus que se encontram em Mt 24:34 e 16:28 tivessem sido influências determinantes dessa atitude da igreja primitiva. Essas passagens dizem, respectivamente: «Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça». E: «Em verdade vos digo que alguns aqui se encontram que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino». Por outro lado, há passagens bíblicas, como At 1:7 e Mc 13:32 que impossibilitam toda a idéia de cálculo aproximado de tempo, deixando o assunto como questão aberta.

V. A segunda vinda de Cristo será desvendamento e concretização do senhorio de Cristo, tanto para o mundo como para a igreja. Será um gigantesco passo na direção da restauração de tudo, segundo os termos do primeiro capitulo da epístola aos Efésios. No trecho de Ef 1:10 podemos ver acerca do «mistério da vontade de Deus», que se cumprirá quando do retomo de Jesus Cristo, como um fato ou potencialmente, devido ao poder e autoridade que Cristo assumirá naquela oportunidade, ainda que não se manifestem de imediato todos os efeitos da tomada daquela autoridade, conforme se vê no décimo quinto capítulo da primeira epístola aos Corintios e na passagem dos capítulos décimo nono a vigésimo segundo do Apocalipse. Cristo será, afinal, «tudo para todos», (como Ef 1:23 pode ser traduzido).

O termo grego mais freqüentemente usado para indicar a volta de Cristo é «parousia», que significa «presença» ou «chegada». De fato, esse vocábulo veio a ser usado como termo técnico pára indicar esse acontecimento, o qual também é denominado «segunda vinda», a fim de distingui-lo da primeira vinda de Cristo.

 

            Notas Enciclopedia de Filosofia e teologia,Normam R.Champlin,2010

A «Parousia» - Poder Determinante dos Deveres Cristãos (3.1-18)

 

Sumário (Não deixe de ver todos até o v 18)

 

1.      Critérios para a condenação da heresia que nega a «Parousia» (3.1,2)

2.      Os ímpios, destruídos pelo dilúvio, foram os precursores dos que agora negam a «parousia» (3.3-7)

3.      Provas extraídas do A.T. em apoio à «parousia» (3.8-10).

4.      Aplicação ética da «doutrina da parousia» (3.11-13).

5.      Epístolas de Paulo em apoio à doutrina da «parousia» (3.14-17).

6.      Conclusão e Bênção (3.18).

 

1Critérios para a condenação da heresia que nega a «Parousia» (3.1,2)

 

No segundo capítulo desta epístola, se encontra longa denúncia contra a natureza moral depravada dos falsos mestres gnósticos da Ásia Menor. No capítulo seguinte, o autor sagrado aborda um de seus erros doutrinários centrais - a negação da realidade da parousia, ou segundo advento de Cristo, o que é encarado como dotado de elementosdebilitadores. Provavelmente, esta segunda epístola de Pedro foi escrita em um período em que a doutrina da «segunda vinda de Cristo a qualquer ocasião» estava começando a perder o seu poder na igreja. Portanto, o presente capítulo é, essencialmente, a demonstração de como a falta de fé na «parousia» servia de elemento corruptor da natureza moral dos mestres gnósticos. Quanto ao elemento do tempo desse evento, o autor sagrado argumenta que a longa espera, da parte do homem, pode ser apenas um breve momento, de acordo com a mentalidade divina (ver II Pe 3:8). Este argumento, em si mesmo, subentende o afastamento da ardente expectação da «parousia», típica dos cristãos primitivos. Dificilmente podemos imaginar Paulo a falar desse modo, porquanto dava a impressão de que se incluía entre os vivos, por ocasião do retorno do Senhor a esta terra. (Ver I Ts 4:15 e I Co 15:51 acerca desta expectação, que supomos fosse geralmente aceita pela igreja cristã primitiva).

 

O autor sagrado começa por trazer tanto os profetas do A.T. como os apóstolos do Senhor para as fileiras que defendem a doutrina da parousia (Ver II Pe 3:2 e ss.). Ele subentende que a inteira tradição profética continha esta previsão, e que ela também previu que zombadores haveriam de negá-la e de rejeitá-la. A «parousia» dará início a um julgamento de fogo. Nisso, o autor sagrado parece mesclar a doutrina normal da «parousia» com a doutrina da destruição da terra e de todo o universo, mediante o fogo, o que normalmente, dentro das explicações proféticas do cristianismo, será algo que terá lugar muito mais tarde, já no fim do milênio, ou mesmo já dentro do futuro remoto, na eternidade. Por toda esta epístola, pode-se observar que o «juízo final» é associado à parousia, pelo que não há distinções claras acerca dos eventos principais do futuro, no tocante ao juízo.

 

Os julgamentos referidos em II Pe 2:4 subentendem a concretização do julgamento por ocasião da «parousia», e não muito após o juízo do grande Trono branco. Evidentemente, o autor sagrado não estabelecia distinções de «tempo» nesses acontecimentos, que são características do Apocalipse e da teologia cristã posterior. De fato, no décimo versículo, ele faz o remoto «dia do Senhor» (o verdadeiro «julgamento final», que se vê no vigésimo capítulo do livro de Apocalipse) ser identificado com a «parousia». Certamente que não devemos confundir a «parousia» com a imensa conflagração que assinalará o fim do sistema de universos, conforme o conhecemos hoje em dia. Que o autor sagrado falava acerca da «parousia» ou segundo-advento de Cristo, fica demonstrado pelo fato que ele, tal como os primitivos cristãos, via este acontecimento como algo bem próximo, tendo denunciado os zombadores que o negavam ou o odiavam.

 

3:1: Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto com admoestações o vosso animo sincero;

 

«...Amados...» Uma maneira bastante comum de aludir aos crentes, subentendendo sua participação no amor de Deus, como filhos, juntamente com a «santa família», a igreja. Mas esta palavra também assinala a transição para um novo assunto, pelo que é um artifício literário. (Ver novamente esta palavra nos versículos oito, catorze e dezessete deste capítulo. Comparar com I Pe 2:11 e 4:12). Esse termo é usado por mais de cinqüenta vezes no N.T., indicando indivíduos ou comunidades inteiras.

 

«...segunda epístola...» Geralmente se pensa que temos aqui alusão à primeira epístola de Pedro. Entretanto, alguns estudiosos o negam, com base nos argumentos seguintes:

1. Esta segunda epístola de Pedro é dirigida a crentes judeus, ao passo que a primeira epístola de Pedro é dirigida a crentes gentios. Assim, as comunidades endereçadas eram diferentes, não podendo haver aqui alusão a uma carta que seus leitores -origirmis não receberam.

2. O próprio Pedro pregara aos endereçados desta segunda epístola de Pedro, mas aparentemente isso não sucedeu no caso dos leitores da primeira epístola (comparar I Pe 1:12 com II Pe 1:16).

3. O conteúdo da primeira epístola de Pedro não é descrito aqui com exatidão, pelo que aquela epístola não pode estar em foco neste ponto.

A maioria dos intérpretes, entretanto, concorda que há aqui certa alusão à primeira epístola de Pedro; mas muitos deles acreditam que isso é artificial, visando obter autoridade apostólica para esta epístola, a qual, na realidade, não teria sido escrita pelo apóstolo Pedro.

 

«...despertar com lembranças...» Estas palavras podem subentender que a primeira epístola teve os mesmos propósitos que esta segunda. Mas a leitura de ambas mostranos que elas abordam temas inteiramente diversos. Ambas falam sobrea parousia ou segunda vinda de Cristo, mas esta segunda epístola foi escrita para denunciar aos hereges gnósticos, ao passo que a primeira foi escrita para encorajar uma igreja que sofria perseguições.

 

«...mente esclarecida...» No grego é «eilikrine», isto é, «sem mistura», «puro». A raiz parece ser «eile», o «calor do sol» e «krino», «julgar», «testar», «discernir», ou seja, «algo testado pelo calor do sol». Tal palavra também pode significar «testado pela luz do sol» ou «aclarado pelo sol», conforme é demonstrado por qualquer bom léxico grego. Seu uso aqui, com o sentido de «sincero», provavelmente é o tencionado pelo autor sagrado. Suas mentes ainda não tinham sido pervertidas ou corrompidas pela heresia gnóstica; continuavam a crer na «parousia» ou segundo advento de Cristo, e pelo menos alguns deles tinham escapado da sensualidade gnóstica. O autor sagrado espera manter seus leitores pensando desse modo, sem importar que os gnósticos negassem essa doutrina ou não.

 

A primeira epístola de Pedro, em concordância com a segunda, tem em comum o apelo à autoridade dos profetas e apóstolos (ver I Pe 1:10-12; II Pe 1:4,16-21 e 3:2). Ambas salientam reiteradamente a segunda vinda de Cristo como uma das verdades fundamentais da tradição apostólica (ver I Pe 1:4-7; 4:5,7,13,18; 5:4,10; II Pe 1:11,19; 2:9; 3:4,7,8,10-13). Certas similaridades como estas podem ter levado o autor sagrado a sentir-se justificado a ver sua epístola como uma espécie de continuação da primeira.

 

3:2: para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos;

 

«...palavras...» A mensagem geral da retidão, conforme agora fora anunciada pela mensagem cristã, contrária à heresia gnóstica, tanto quanto à doutrina, como quanto à ética. Mas, está particularmente em foco a palavra «profética», que prediz sobre a segunda vinda de Cristo, a «parousia». Os leitores da epístola não eram ignorantes, e seriam tidos como responsáveis pela luz recebida. Isso pode ser comparado ao paralelo do décimo sétimo versículo da epístola de Judas, onde as «predições dos apóstolos» são vistas como confirmatórias da expectação sobre o segundo advento de Cristo. Antes, nesta mesma epístola, já tivemos ocasião de ver a combinação do testemunho dos profetas do A.T. com o testemunho dos apóstolos do N.T., como pano de fundo e apoio do ensinamento sobre a «parousia». (Ver II Pe 1:12-21). Ali se vê que a segunda vinda de Cristo foi prefigurada pela sua «transfiguração».

 

«...mandamento do Senhor e Salvador...» O trecho de II Pe 2:21 diz: «santo mandamento», indicando o evangelho cristão, que traz consigo a «exigência moral». Assim também, aqui, o evangelho é chamado de «mandamento», indicando que o mesmo envolve várias «exigências» que os crentes devem observar. Isso contradizia a licenciosidade dos gnósticos, que eles queriam que fizesse parte da moralidade cristã, através de seus falsos ensinamentos. Mas também fica inclusa a necessidade da aceitação de certas crenças que fazem parte do sistema cristão, corretamente entendido, incluindo a «parousia». A lealdade ao Senhor exige a lealdade ao ensino sobre seu segundo advento, como parte imprescindível deste sistema.

 

«...Senhor e Salvador...» Os títulos que aqui vemos também figuram em II Pe 2:20. Aquele que tem a Jesus como seu Salvador e Senhor não abandona o evangelho em favor de ensinamentos falsos que porventura penetrem na cristandade. Todo o que tem a Jesus como Senhor terá uma vida santa. Os gnósticos degradavam a Cristo e tinham abandonado o conceito de seu senhorio absoluto. (Ver Cl 2:19 acerca disso). Eles pensavam que os «aeons» ou «emanações angelicais» fossem tantos outros «senhores», aos quais adoravam, e que seriam mediadores da salvação.

 

«...mandamento...» Essa palavra (no grego, «entole») é usada em outras porções do N.T. como «ensinamento», dotada de autoridade e de poder irresistível sobre os crentes. Em sua forma verbal, ver Mt 17:9; 28:20; Jo 15:14,17; At 1:2; 13:47. Em sua forma nominal ver Jo 13:14; 14:15,21 e 15:10,12. (Comparar também com I Jo 2:3,4,7,8; 3:22-24; 4:21; 5:2,3; II Jo 4-6). Os «mandamentos» de Cristo, confirmados pelo ensinamento dos apóstolos, deve permanecer de pé, em oposição a «fábulas engenhosamente inventadas» (ver II Pe 1:16). Os apóstolos precisam ser reputados sucessores dos profetas do A.T., em que o ensinamento deles é suplementado e desenvolvido pelo ensinamento dos apóstolos. Os gnósticos, entretanto, negavam a autoridade do A.T.

 

2. Os ímpios, destruídos pelo dilúvio, foram os precursores dos que agora negam a «parousia» (3.3-7)

 

A seção que ora se inicia é, essencialmente, o adorno do trecho de Judas 17,18, com o propósito de frisar a «parousia» como porção essencial do evangelho dos apóstolos. O autor sagrado lança mão, novamente, da narrativa sobre o dilúvio, a fim de ilustrar certo aspecto de sua mensagem. Antes (em II Pe 2:4-10), isto fazia parte de uma seção que busca mostrar quão inevitável é o juízo dos ímpios. Nos dias de Noé foi pregada uma mensagem que anunciava um cataclismo, a «vinda» de um grande acontecimento que significaria a prestação de contas e a punição das vidas más. Os homens ignoraram propositalmente as advertências, ridicularizando-as.

 

Isto não pode impedir o julgamento divino. Assim também, hoje em dia, os homens zombam da doutrina da «parousia» ou segunda vinda de Cristo. A «parousia» será, igualmente, uma prestação de contas e um julgamento, em que os homens serão chamados a dar contas da vida que levam. Também há, agora, os escarnecedores.

 

3:3: sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria, andando segundo as suas próprias concupiscências,

 

«...Tendo em conta...» Trata-se da mesma expressão achada em II Pe 1:20. Ao aprendermos e sabermos, certas coisas se revestem de importância primária. Para os crentes, a fé na «parousia» é uma delas. Os versículos onze a treze deste capítulo mostram a importância da «parousia» para a ética cristã, pois é impossível salientar-se exageradamente a exigência moral do evangelho. Portanto, acima de tudo quanto se possa mencionar, que se saiba «primeiramente isto»: a «parousia» é uma doutrina veraz embora muitos zombem dela.

 

«...últimos dias...» Temos aqui uma expressão que pode revestir-se de boa variedade de significações. Os judeus viam-na como algo que indica «dias imediatamente antes da manifestação do Messias». No cristianismo veio a significar «dias imediatamente antes do segundo advento de Cristo». Algumas vezes se reveste de um significado profético, em que essa vinda é transferida para um período posterior; normalmente, porém, significa «nosso próprio tempo», o qual é visto como algo que precede imediatamente a vinda de Cristo. Assim, neste ponto, o autor sagrado alude aos «seus próprios dias», quando fala em «últimos dias». Suas palavras, pois, para ele, não são primariamente preditivas de alguma data remota e indeterminada. Ele acreditava que já vivia nos «últimos dias». Do ponto de vista profético, os intérpretes crêem que Escrituras, tal como a que temos à nossa frente, embora falem de condições que caracterizavam os tempos apostólicos, são essencialmente preditivas. Assim, pois, nas páginas do N.T., as palavras «últimos dias» se referem, especificamente, ao tempo que antecederá imediatamente à segunda volta de Cristo. Portanto, as condições que havia na igreja primitiva, que os escritores sagrados consideravam como os «últimos dias», eram somente simbólicas e preditivas em sua natureza. Na realidade, não viviam nos «últimos dias», embora assim pensassem. A igreja, em qualquer época de sua história, espera a segunda vinda de Cristo como acontecimento possível a qualquer instante. Esta é uma esperança purificadora para os crentes.

 

Essa expressão sempre traz consigo a idéia de tempos perturbados, prenhes de apostasia, de ganância, de concupiscência, de toldas as formas de iniqüidade. Esse era o ponto de vista dos judeus, relativamente às condições que haveria imediatamente antes da manifestação do Messias. Os cristãos primitivos, pois, retiveram essa mesma idéia, mas no tocante ao tempo imediatamente anterior à «nova manifestação» de Cristo. (Ver Dn 9:25. No N.T., ver Jo 6:39,40,44,54; 11:24; 12:48; At 2:17; II Tm 3:1; Hb 1:2; Tg 5:3; I Pe 1:5,20; I Jo 2:18; Jd 18; Clemente, Rom. 14:2; Barnabé 16:5). A tradição cristã associava, igualmente, a vinda de Cristo, com o aparecimento do anticristo, que antecederia àquela, por pouco. (Ver o segundo capítulo da segunda epístola aos Tessalonicenses, especialmente seu terceiro, versículo, acerca deste tema).

 

«...escarnecedores...» A própria circunstância de que tais homens se estejam levantando, a negarem a «parousia», na opinião do autor da epístola, era prova de que ele já vivia nos «últimos dias», porquanto a segunda vinda de Cristo, naturalmente, será acompanhada por tais condições, e a tradição profética já tinha antecipado tal coisa. Aqueles escarnecedores eram ímpios, sem regra moral alguma, mas continuamente andavam segundo suas próprias concupiscências. Embora afirmassem ser os mais santos dentre os mortos, viviam no excesso da auto-indulgência. Estes eram, exatamente, os tipos de homens que o autor sagrado via que entrariam nas fileiras do cristianismo não muito antes da «parousia» ou segundo advento de Cristo.

 

O aparecimento de zombadores e de falsos mestres, na igreja, são sinais sobre os «últimos dias». (Ver I Jo 2:18 e ss.).

 

«Com essas palavras, o apóstolo Pedro lança seu ataque contra a negação da «parousia», o erro doutrinário que subjaz às extravagâncias morais dos falsos mestres. Mas, ele tinha em vista esse tema, desde o início de sua epístola». (Bigg,in loc).

 

3:4: e dizendo: Onde está o promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde oprincipio da criação.

 

Comenta Homrighausen (in loc): «Os «zombadores» mundanos, seculares, pareciam estar com a razão. Não levavam a sério o mundo espiritual, pelo que nada tinham a ver com o cumprimento mais amplo da vida e da história. E aquela gente presa a esta terra tem seus contemporâneos atuais. Estes não estão interessados pela segunda vinda de Cristo. Até mesmo os crentes, cuja esperança desde há muito vem sendo adiada, se inclinam por perder seu interesse pela mesma. Muitos não se apegam mais ao literalismo da fé profunda da igreja. O método científico tem diluído a realidade, ao ponto da mesma tomar a natureza prosaica da continuidade. Qualquer idéia de interferência vinda de fora, no mundo de processos inflexíveis, é ridicularizada como um absurdo. A segunda vinda é uma curiosidade teológica, uma espécie de ameaça religiosa que é brandida pelos evangelistas de fogo e trovão, uma pura ficção criada por mentes temerosas e férvidas. Afinal de contas, ano se sucede a ano, e geração se sucede a geração, e século se sucede a século. Nada tem havido de novo debaixo do sol, e nada haverá de novo no futuro. A mentalidade horizontal do secularista, a mentalidade fechada do naturalista, a mentalidade indisposta do pagão, não podem perceber qualquer coisa no cumprimento daquilo que foi iniciado na Palestina, anos atrás».

 

As respostas de Pedro a tais atitudes são essencialmente três, que alistamos abaixo:

 

1. Argumento baseado na história. A história tem tido seus eventos incomuns, seus cataclismas. Por exemplo, consideremos o dilúvio. Isto mostra que coisas assim podem suceder, e cremos que algo assim sucederá novamente. O processo histórico não é algo necessariamente contínuo, sem interrupções abruptas e modificações repentinas. A «parousia» transforma­rá repentinamente ao mundo, afetando os seus habitantes.

 

2. Ao tratarmos com o «Deus eterno», precisamos perceber sua estimativa acerca do tempo, que não é igual à nossa estimativa. Para a mente divina, não há qualquer grande demora. As coisas têm lugar quando ele quer que assim seja, e tudo dentro do breve dia concebido pela mente divina. Assim sendo, o autor sagrado ensina aqui que os homens têm uma perspectiva limitada que perverte sua estimativa sobre as coisas.

 

3. A própria «demora» não envolve negligência divina, mas antes, Deus deseja dar oportunidade de arrependimento e salvação a todos. Essa demora é uma dádiva divina aos homens. Havia um antigo ditado entre os judeus que dizia que, se todos os judeus se tornassem penitentes por um único dia, o Messias viria imediatamente. Mas ele agora não vem pela segunda vez porque o Senhor espera que os homens encontrem a sua salvação; a «parousia» é retratada, nas páginas do N.T., como o fator determinante das fronteiras eternas, o fim da oportunidade para alguém obter a «salvação», em contraste com as condições do presente. Quais «outras formas» de oportunidade Deus possa dar, estão fora do alcance de nossa capacidade. O primeiro capítulo da epístola aos Efésios indica que alguma forma de reconciliação e harmonia será estabelecida em redor de Cristo, como Cabeça, em todo o universo, em toda a criação; mas isso não significa que os homens participarão da vida dos eleitos. A eternidade definirá o que isso significa.

 

«...promessa...» Esta foi proferida por profetas e apóstolos, estando registrada nas Escrituras proféticas. A negação da «parousia», por parte dos mestres gnósticos, era, parcialmente, a negação da revelação divina. Estes homens tinham perdido a fé na Palavra revelada.

 

Os crentes do primeiro século, em contraste com isso, acreditavam que a grande promessa do retorno de Cristo seria cumprida no próprio tempo da vida terrena deles. (Ver I Ts 4:15 e I Co 15:51).

«...vinda...» No grego é «parousia», que literalmente significa «presença», «aparecimento», termo que veio a ser um termo técnico para a «segunda vinda de Cristo». O autor sagrado não faz a distinção entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo» e o «juízo final», conforme se percebe no vigésimo capítulo do livro de Apocalipse. Sua mente fundia tudo juntamente. A teologia cristã posterior estabeleceu várias distinções entre estes eventos, embora algumas destas distinções, mais provavelmente, não sejam válidas.

 

Os homens, devido à impaciência, perdem de vista essas coisas, pretendendo interromper os ordeiros planos de Deus, por um toque súbito da corneta de Gabriel, pondo fim a tudo. Muitos estudiosos, como Lutero, se têm maravilhado que Deus desde há muito, não tenha tocado o sinal de fim da perversidade humana, mas antes, continue a tolerar aos homens. Charles Beard, um bem conhecido historiador, declarou que uma coisa a história nos tem ensinado, a saber:

 

Embora os moinhos de Deus moam lentamente, Contudo, moem excessivamente fino. (Longfellow).

 

«...pais dormiram...» Pais do V.T., e possivelmente, pais da igreja. O primeiro par de gerações cristãs conservava firmemente a crença na «parousia». Mas, agora, estas gerações já tinham falecido, e nada tinha acontecido. Por que continuariam outros a conservar as expectações daqueles? E nestes nossos próprios dias, mui distantes do tempo em que os cristãos pela primeira vez tiveram tal expectação, podemos raciocinar do mesmo modo. Contudo, o aparecimento do anticristo em nossa época haverá de mostrar que «nem todas as coisas continuam as mesmas». É possível que a alusão que aqui se faz aos «pais» seja mais lata, incluindo até mesmo os patriarcas israelitas. No tempo deles, esperavam o Messias. Bem, ele veio e instaurou uma radical mudança. Se ele veio uma vez, certamente virá novamente. Assim sendo, se ao assim argumentarem os mestres falsos teciam alusão aos pais judeus, o argumento deles, em favor da continuidade da história, sem a intervenção de crises espirituais significativas, não é um bom argumento.

 

Os filósofos, de modo geral, excetuando os estóicos (os quais esperavam uma conflagração final de todas as coisas), falavam tanto da eternidade passada da matéria, como de sua continuidade por toda a eternidade futura. Filo assim se manifestou, e vários escritos rabínicos expressam o mesmo sentimento. Mas a doutrina petrina da conflagração geral (ver os versículos décimo e décimo primeiro deste capítulo) contradiz esse ponto de vista de uma essencial «imutabilidade». Talvez os falsos mestres da Ásia Menor pretendessem comprovar sua doutrina de «continuidade» mediante a citação de escritos filosóficos e rabínicos. (Ver Filo, de mundo, 2). Ali a «continuidade» é uma idéia alicerçada sobre «a lei eterna do Deus eterno».

 

A própria história serve de prova de que todas as coisas não têm continuado a mesma coisa «desde o princípio da criação». Isso não é verdadeiro nem no tocante ao estado da matéria, porquanto tem ocorrido cataclismas; e nem no tocante às questões espirituais, pois o Messias já se manifestou uma vez. Jerusalém foi destruída no ano 70 D.C., e, novamente, em 132 D.C., e toda uma comunidade e um sistema religioso foram apagados. Os falsos mestres da Ásia Menor terminaram por contemplar ambos os acontecimentos. A história mostrou ser contrária à tese deles—continuidade ininterrupta. Tomaram a posição absurda de que não pode haver surpresas.

 

«Esse argumento cético é empregado com força crescente, à medida que se vão passando novas gerações. E terá maior força justamente antes da falácia ser inequivocamente exposta às vésperas do dia do juízo». (Plummer, in loc).

 

O próprio Senhor Jesus exortou-nos à vigilância e à prontidão, embora tenha proibido a marcação de datas. (Ver Mt24:34).

 

3:5: Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde antigüidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;

 

«...deliberadamente esquecem...» As notas expositivas sobre o versículo anterior demonstram que a própria história é contrária à teoria da «imutabilidade», pregada pelos falsos mestres gnósticos. O autor sagrado salienta dois exemplos, a saber: a criação e o dilúvio. A própria criação foi uma drástica modificação na ordem de coisas e o dilúvio não foi menos do que isso. Além de ser drástica modificação, o dilúvio também foi um julgamento. Eventos como esses os gnósticos ansiavam por olvidar. Isso não estava de acordo com os seus argumentos, e, naturalmente, os homens gostam de ignorar aquilo que enfraquece suas opiniões e doutrinas. Há grande vaidade nos homens, quando supõem que são os guardiães de toda a verdade divina. Se ouvem alguma idéia nova, e seus cérebros não se sentem em conforto com a mesma, imediatamente a rejeitam como algo sem valor. A Academia Francesa da Ciências, há alguns séculos atrás, declarou solenemente que é «fisicamente impossível que pedras caiam do céu». E, assim, as universidades que tinham recolhido meteoritos se sentiram , embaraçadas, doando ou jogando fora suas coleções de meteoritos. Os homens de ciência, naquela época, tinham visão acanhada por demais para incorporar esse acontecimento (observado por testemunhas oculares) em seu sistema de crenças. Assim também, quando um representante de Edison foi enviado a demonstrar o «toca-discos» a essa mesma academia, sua demonstração sobre a «cera falante» foi interrompida, quando expulsaram o homem fisicamente para fora do recinto. Ficaram irados e declararam que: «Qualquer tolo sabe que a cera não pode falar». Acusaram o homem de perpetrar um «truque barato de ventriloquismo».

 

«Se alguém dirigir sua atenção para as novidades do pensamento, em seu próprio período de vida, observará que quase todas as idéias realmente novas se revestem de um certo aspecto de insensatez, quando são apresentadas pela primeira vez». (Alfred North Whitehead).

 

Assim também, há homens religiosos que pensam que seus sistemas são finais e perfeitos. Limitam a verdade de Deus a certas fronteiras e sempre será considerado «herege» aquele que procura ampliar esses limites. Mas os limites estabelecidos pelos homens geralmente são as limitações de seu próprio entendimento e não limites autênticos.

 

«...pela palavra de Deus...» Em outras palavras, a criação veio à existência pela palavra de Deus. Em seguida, o mundo humano e o reino animal que fora criado pereceram nas águas do dilúvio (ver o sexto versículo deste capítulo). O ato criador foi uma modificação abrupta no curso das coisas; o dilúvio foi outra modificação súbita. Ao usar a expressão «palavra de Deus», o autor sagrado deixa entendido que a mesma «palavra», sem forma falada e escrita, dada através dos profetas, assegura-nos que modificações repentinas podem ocorrer e realmente ocorrerão. Assim, nos versículos oitavo a décimo deste capítulo, ele mostra que as Escrituras do A.T. concordam com sua tese, não com a teoria gnóstica da «imutabilidade». O ensinamento dos apóstolos concordava com o A.T., nesse particular. As seguintes passagens neotestamentárias falam sobre a «parousia» ou segundo advento de Cristo: Mt 10:23; 16:28; 23:4,27-31,34, 42; At 1:11; I Ts 4:16,17; II Ts 1:7-9; Tg 5:8,9; Ap 2:5,25 e 3:11.

 

«...céus...» A forma plural é usada aqui, como é comum nas páginas do N.T. Os judeus contemplavam a existência de sete céus. A forma singular, «céu», seria uma doutrina estranha para eles. Por isso é que Paulo falava dos «lugares celestiais», nos quais habitavam anjos bons, anjos maus, homens, e, no ponto mais elevado dos céus, o próprio Deus. (Ver Ef 1:3).

 

Notemos que primeiramente foram criados os céus, e depois a terra. Isso indica, mui provavelmente, as «esferas espirituais» de tipo não-material, e então secundariamente, os céus estrelados. Isso concorda com a narrativa do primeiro capítulo do livro de Gênesis e com a literatura rabínica, que apresentam primeiramente a criação espiritual, então a criação dos céus físicos, e somente depois a criação desta terra.

 

«...a qual surgiu da água e através da água...» Essa expressão tem provocado muitas dificuldades. Poderia subentender que o autor sagrado aceitava a antiga noção grega de que um dos quatro elementos básicos é primário. Os quatro elementos básicos seriam a terra, o ar, o fogo e a água. O autor sagrado talvez concordasse com a idéia que a «água» é o elemento primário, e que, mediante várias modificações na condensação e na

rarefação, foi ela usada para criar os outros elementos.

 

Essas palavras, contudo, não se aplicam bem à narrativa do Gênesis, em que o globo terrestre aparecia «coberto de águas», e então foram separadas» as terras das águas, etc. Se isso é tudo quanto o autor sagrado queria dizer com essas palavras, então ele declarou a questão de maneira simples e peculiar. A maioria dos estudiosos acredita que está em foco o trecho de Gn 1:9, e que o aparecimento da terra seca, emergindo, da massa de água, é tudo quanto está em foco aqui. Isso, porém, pode ser uma explicação que simplesmente evita a dificuldade, ao invés de aclará-la. O que significa «pela água» ou «através da água»? Certamente isso se adapta às antigas explicações, oferecidas pela filosofia grega, muito melhor do que a noção de que a simples separação entre terras e águas está aqui em pauta. Se não é isso que está em foco, então haverá aqui alusão a alguma noção metafísica obscura, a respeito da qual não temos qualquer conhecimento, o que explicaria a obscuridade do próprio texto sagrado.

 

Alford (in loc.), conjectura que «pela água» são palavras que indicam que a «água» acima, que desce mediante a chuva, é o meio pelo qual a terra continua «existindo». Podemos supor que ele aludia a «formas de vida», existentes na terra, através da água. Faucett (in loc), faz da «água» o «agente» da formação da superfície da terra, de tal modo que a vida pode posteriormente ser encontrada ali, em um lugar próprio para sua habitação. Outros estudiosos supõem que tudo quanto está aqui focalizado é que a «água» foi misturada compactamente com os elementos terrestres, e que as duas coisas «perfazem» a natureza do nosso mundo. Águas subterrâneas, pois, estariam aqui especialmente em foco.

 

Tais explanações são possíveis, mas de maneira alguma são as soluções corretas. Nas Homílias Clementinas xi.xxiv temos a antiga idéia de que as coisas foram feitas partindo da água; isso mostra que a antiga noção metafísica dos gregos continuava sendo aceita por alguns e tornou-se, parte da teologia de alguns cristãos. Portanto, é possível que esta idéia esteja em foco no presente versículo. De qualquer modo, sem importar as noções metafísicas utilizadas pelo autor sagrado, é claro que está em foco a criação, como algo que ocorreu pelo poder da palavra de Deus. E isso foi uma modificação radical de qualquer condição que porventura tivesse existido antes disso. Pela mesma «palavra» (de conformidade com a tradição profética do A.T.) a «parousia» ou segundo advento de Cristo também teria lugar. E a «parousia» será uma modificação radical, de conseqüências extremamente grandes e profundas.

 

3:6: pelos quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água;

 

As súbitas modificações que poderão ocorrer, poderão ser formas de julgamento, tal como foram o dilúvio e como o será a «parousia» ou segunda vinda de Jesus Cristo. A terra, por assim dizer, foi absorvida à sua forma original, tendo retornado a seu elemento primário, a água. A água cooperou com a palavra de Deus a fim de provocar a destruição de indivíduos altivos e iníquos.

 

«...o mundo daquele tempo...» Havia uma antiga tradição, refletida no livro de Enoque (lxxxiii.3-5) no sentido que, ao tempo de dilúvio, houve uma espécie de destruição dos céus e da terra, com o surgimento de um novo céu e de uma nova terra. Naturalmente, isso não é cientificamente válido; mas tradução existia, e talvez o autor sagrado faça aqui alguma alusão a isso. A antiga tradição dizia que o universo inteiro retornou a seu elemento primário, a água. É possível que o autor sagrado tenha empregado sua linguagem aqui com o intuito de dar a entender a antiga tradição meramente como um colorido retórico. Seja como for, o dilúvio, sem importar o tipo de julgamento então envolvido, tornou-se o precedente para o autor sagrado pensar que o universo inteiro poderá vir a ser absorvido pelo fogo (ver o décimo versículo deste capítulo).

 

«Katakleitheis» Desse termo grego é que veio nosso vocábulo moderno «cataclisma», não se podendo justificar uma coisa pela outra. Enfim, houve, distorção na tradução, que serviu apenas para obscurecer o texto sagrado.! A tradução inglesa RSV diz aqui: «...the world that then existed was deluged, with water and perished...», em que o termo «deluged» é tradução de; «katakleitheis». Outras traduções trazem algo semelhante. A destruição, por conseguinte, foi causada por um «cataclisma de água». Outros cataclismas poderão ocorrer. A «parousia» será um cataclisma de fogo. Esse é o ponto a que quer chegar o autor sagrado.

 

3:7: mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens Ímpios.

 

O que sucedeu haverá de suceder novamente, embora de modo um tanto diverso. O processo histórico tem demonstrado essa possibilidade e a revelação mostra que se trata de algo inevitável. Tal como o antigo cataclisma, o novo será um meio de julgar aos ímpios, incluindo aqueles que disserem que nada semelhante poderá ocorrer novamente.

 

«...céus... terra...» Este versículo, bem como os que o seguem, mostram que o autor antecipava total destruição dos céus e da terra, conforme os conhecemos agora. É estranho, para a moderna escatologia cristã, que associemos isso à «parousia», pois quase todos não entendem que o segundo advento de Cristo será acompanhado de destruição, mas apenas de renovação, em que Cristo assumiria o governo das nações e levaria os homens a juízo. Segundo é mencionado antes, o autor sagrado não faz distinção entre o «arrebatamento», o «segundo advento para julgar» e «o juízo final» (o que incluirá necessariamente a destruição dos atuais céus e da terra atual, sendo trazidos à existência novos céus e nova terra). (Ver Ap 21:1 quanto aos «novos céus e nova terra»). Por igual modo, não há distinções cronológicas claras nesta epístola, pois ela situa tais coisas após o milênio e após o grande Trono Branco.

 

«...pela mesma palavra...» Qual? A Palavra de Deus, cujo poder entrará em ação, a qual criou a criação original e então a levou à destruição; a qual estabeleceu uma nova ordem de coisas após o dilúvio, mas que levará essa nova ordem a juízo. A Palavra escrita descreve essa «palavra»; mas a expressão que aqui temos não é alusão às Escrituras Sagradas.

 

«...entesourados...», isto é, guardados como um tesouro, para serem conduzidos a determinado destino. O mundo é o guardião do fogo primário, por assim dizer, tal como o é da água primária. O fogo pode tomar conta do mundo, tal como o fez de certa feita a água. A ciência, naturalmente, tem demonstrado que isso é possível, pois uma explosão cósmica poderia destruir a tudo. Alguns intérpretes relembram-nos que as armas atômicas poderiam deflagrar uma total destruição da terra. No texto presente, porém, estão em vista forças «cósmicas» e naturais, usadas pelas mãos de Deus, por seu decreto, e não a destruição do homem por si mesmo. Seja como for, aquilo que antes era tido como impossível (a saber, a total destruição do próprio universo) é agora considerado como possível. O presente texto assevera que, eventualmente, isso ocorrerá.

 

Os três mundos. Temos aqui o reflexo da antiga noção judaica acerca da existência de três mundos:

1. O mundo antediluviano (ou universo), que terminou com o dilúvio.

2. O mundo renovado, que é o nosso, mas que eventualmente também perecerá.

3. O «novo mundo», no qual reinará a justiça, quando será restaurada a harmonia original.

Essa é a «nova criação aludida em Ap 21:1». Esse é o «mundo eterno» que não terá fim, e no qual Cristo será exaltado como Cabeça (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios).

 

«...homens ímpios...» Embora Deus os tenha tolerado ( e agora tolera uma geração do mesmo tipo, ver o nono versículo deste capitulo), contudo, finalmente haverá de chegar seu tempo. É que ainda resta alguma paciência divina, que é infinitamente maior que a dos homens. Mas os ímpios que viveram antes do dilúvio (descrito em Gn 6:5) são os «progenitores espirituais» dos atuais homens ímpios, entre os quais se acham os falsos mestres gnósticos. Pais e filhos, dentro do terreno espiritual, haverão de sofrer a mesma sorte.

«Na realidade, a profecia e o testemunho apostólico se combinam, a fim de mostrar que o Deus que formou a terra 'da água e por meio da água', e que de certa feita a destruiu, destruí-la-á pelo fogo, incluindo até mesmo os céus que agora existem (comparar com Enoque 83:3-5; Is 29:6; 30:30; 34:4; 51:6; 66:15,16; Dn 7:9,10; Jl 2:30,31; 3:15,16; Na 1:5,6 e Ml 4:1). Em lugar disso, ele estabelecerá o seu reino. A tradição apostólica não deixa margem para dúvidas sobre essas questões, até onde diz respeito aos membros fiéis da igreja». (Barnett, in loc).

A tradição de que o mundo, antes destruído pela água, seria novamente destruído pelo fogo, era antiga tradição judaica, adotada pelo cristianismo. Josefo (Antiq. 1.2.3) refere-se a um livro de profecias, atribuídas a Adão, que continha tal declaração. Alguns dos próprios gnósticos, provavelmente através da influência do estoicismo, mantinham doutrina similar. Assim também Irineu (i. 7.1) diz que os valentinianos tinham uma doutrina de que «o fogo que se oculta no mundo (fogo primário), a brilhar, a acender e a destruir toda a matéria, se apagará juntamente tom a matéria e ficará extinto». A terra estaria sendo entesourada pelo fogo, que algum dia haverá de irromper e destruir a tudo.

«...dia do juízo...»

 

«...entesourados...» Esse termo também é usado em II Pe 2:4,9 e em I Pe 1:4. (Quanto ao fato que o termo «destruição» descreve o juízo, o que arruína um homem em relação a seu original destino tencionado, ver II Pe 2:1,3). Nas páginas do N.T., «apoleia» não pode significar «aniquilamento», embora, por si mesma, seja palavra que pode ter esse sentido. Não há qualquer idéia de «proveito» nesse entesouramento, embora outros trechos bíblicos mostrem que os grandes ciclos trazem certo proveito, não apenas destruição. A própria destruição é um meio de redundar em proveito, porquanto limpa do mal à casa universal de Deus. Tão longe estava o autor sagrado de pensar que é impossível a «mudança» radical que ele informa-nos que tais mudanças assinalam os estertores dos ciclos antigos e os começos dos novos ciclos; portanto, trata-se de algo necessário, dentro daquilo que Deus faz. Os elementos necessários para modificações tão radicais residem inerentemente no mundo e no universo. A água de certa feita fez sentir seu peso; chegará a vez do fogo. Mas ambos esses elementos são controlados pela «palavra de Deus», pois esse é seu desígnio divino e seu poder.

 

Nos escritos de Melito (bispo de Sardes no século II D.C.), no curetoniano siríaco, há um comentário sobre o conceito deste versículo, que é interessante exemplo da exegese antiga: «Houve um dilúvio de água, e todos os homens e criaturas vivas foram destruídos pela multidão de águas; mas os justos foram preservados na arca de madeira, por ordenança de Deus. Assim, também será nos últimos tempos; haverá um dilúvio de fogo, e a terra se incendiará com os ídolos que os homens têm feito; e será consumido o mar, juntamente com suas ilhas; mas os justos serão livrados da fúria do fogo, tal como aqueles justos (foram salvos) na arca, do dilúvio de águas».

 

3. Provas extraídas do A.T. em apoio à «parousia» (3:8-10).

 

O autor sagrado expõe três argumentos em favor da «parousia»:

1. O argumento histórico, que mostra que já ocorreram outros cataclismas, e que grandes mudanças históricas têm tida lugar. Assim sendo, a história não favorece à idéia «continuidade sem mudanças radicais», que era a tese dos gnósticos (ver os versículos quarto a sétimo deste capítulo).

2. A mente divina é diferente da mente humana; aquilo que nos parece demorado, não o é necessariamente para ele. Isso pode ser demonstrado pelo A.T. (ver o oitavo versículo).

3. A «demora», na realidade, é uma demonstração de misericórdia, porquanto dá aos homens tempo de se arrependerem, para que assim escapem do juízo que inexoravelmente leva à «perdição» (ver o nono versículo). Não obstante, o «dia do juízo» chegará e será terrível (ver o décimo versículo deste capítulo).

 

Os crentes que se mostram impacientes e se inclinam por fazer soar a trombeta de Gabriel, se isso lhes fosse possível, a fim de porem fim a tudo, deveriam considerar esses fatores. Há certa verdade divina que podem deixar escapar, devido à sua impaciência. Isso é confirmado em Sl 90:4.

 

3:8: Mas vos, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.

 

«...uma cousa...» Isso pode ser negligenciado; mas é uma explicação de suposta «demora». Deus tem determinado seus próprios «tempos e épocas» (ver At 1:7); e estes não se atrasam em suas mãos. Deus não tem pressa, seus planos estão sendo executados dentro de rígido horário. Isso pode envolver a passagem de mil anos; mas, para Deus, isso não é adiamento. Para ele, um período assim é como se fora um só dia. A fim de comprovar tal coisa, o autor sagrado faz alusão ao trecho de Sl 90:4, onde se lê: «Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a vigília da noite». O autor sagrado dá a entender isso no tocante à «parousia»—para os homens talvez esse acontecimento pareça tardio. Mas o próprio autor sagrado não entendia as coisas assim. Seja como for, «divinamente falando» (conforme se deve compreender a maneira de falar de um crente espiritual), nem mesmo mil anos seriam grande demora.

 

«...não deveis esquecer...» Os crentes talvez estivessem demonstrando certa impaciência no tocante à doutrina da «parousia», com a tendência de começarem a duvidar de sua validade, porquanto suas expectações ainda não se tinham cumprido. A nossa fé nos orientará na direção da eternidade, modificando nossa mentalidade. Ela nos ensinará a retermos nossas crenças e expectações, sem impaciência. Até mesmo as previsões e declarações do A.T. mostram a validade de nossa fé. Os mestres gnósticos rejeitavam a autoridade do A.T., mas o autor sagrado não hesita em usar esse documento para apoiar seu argumento.

 

Significados, vistos no presente versículo:

 

1. A idéia é aplicada aos dias da criação, em que cada um deles é ampliado para envolver «mil» anos. Naturalmente, essa idéia é, pelo menos, «cientificamente absurda». Um dia ou mil anos não é nem mesmo uma gota no balde das eras geológicas necessárias para produzir as modificações que se tem verificado no mundo.

 

2. Alguns estudiosos supõem que o autor desta epístola quis dizer que não existe a «categoria de tempo» na mente divina. Isso é possível, pois Platão já falara nesse sentido. A filosofia neoplatônica poderia ter levado o autor sagrado a compartilhar dessa crença. Naturalmente, isso foi o começo da teoria da relatividade, pois ali o tempo é pintado como algo não necessariamente aplicado a toda a existência, no mesmo fluxo.

 

3. Este e o versículo seguinte ensinam, pelo menos, que a misericórdia divina é tão grande que a mente divina perde todo o computo de tempo finito.

 

4. Alguns antigos pensavam que temos aqui indícios de que o mundo perduraria por seis mil anos, em que cada milênio corresponderia a um dia da criação; o sétimo dia seria o «milênio». Biblicamente falando, isto é, segundo o cômputo cronológico do A.T-, passar-se-ão seis mil anos desde Adão até ao ano 2000 D.C. Naturalmente, a geologia tem demonstrado que já se passaram muito mais de seis mil anos de história humana. Contudo a declaração bíblica pode ser simbólica, representando uma cronologia representativa, e não estritamente histórica. Essa cronologia representativa fala da existência do homem, da criação ao juízo, como se essa perdurasse seis mil anos. Essa tabela de tempo estaria agora quase completa. Muitos eruditos modernos compartilham dessa antiga opinião. Tal idéia também pode ser encontrada no Talmude. (Ver Zohar sobre Gênesis fol 13:4. Ver Bartenora em Mishnah, capítulo sétimo, secção quarta. O sétimo dia, que duraria por mil anos, para os antigos intérpretes judeus, seria o período correspondente ao reinado do Messias, quando ele viesse em seu primeiro advento, mas que o cristianismo percebeu que só ocorrerá quando de seu segundo advento).

 

5. Este versículo ilustra que os desenvolvimentos históricos, bem como os seus paralelos espirituais, podem envolver períodos longuíssimos, segundo os homens calculam.

 

6. Ainda outros pensam que, neste contexto, temos a idéia de que Deus «pode punir em um dia os pecados de mil anos»; mas isso não é apropriado ao versículo e ao seu contexto, sem importar o que pensemos do próprio conceito.                                                                                                               

 

3:9: O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.

 

O autor sagrado expõe agora a terceira razão pela qual ele continuava a crer na «parousia»—sua demora «aparente» é apenas a maneira pela qual Deus demonstra a sua paciência, para que os homens possam arrepender-se e escapar do juízo. (Ver as notas de introdução ao oitavo versículo, onde se acham os três argumentos apresentados pelo autor sagrado em favor da «parousia»).

 

«...não retarda...» No grego é «braduno», «demorar», «adiar», como que mediante despreocupação, indiferença, descuido ou impotência, idéias que os zombadores vinculam ao que lhes parece a «demorada» volta do Senhor.

 

«...Senhor...» Está em foco a pessoa de Jesus Cristo, cuja «parousia» está sendo esperada. Cristo voltará para fazer deste mundo o seu reino.

 

«...promessa...» isto é, da «parousia» ou segundo advento de Cristo, o que concretizará plenamente a salvação dos crentes.

 

«...pelo contrário... ele é longânimo para convosco...» A suposta «demora» do retorno de Cristo tem um bom motivo por detrás. Não se deve à falta de interesse por nós. Bem pelo contrário, é devido ao seu profundo interesse por nós, pois almeja que nos arrependamos, aprendendo que seu caminho é melhor, pois assim podemos escapar ao juízo que o seu retorno inexoravelmente trará. (Isso pode ser comparado com Rm 3:25 e 11:32). Assim sendo, podemos considerar como nossa salvação a «longanimidade de nosso Senhor», segundo se lê no décimo quinto versículo. Em outras palavras, a demora misericordiosa do Senhor, devido à sua longanimidade, resultará na salvação de muitos, pois o tempo extra que assim lhes é dado não será inútil. Muitos são os que tiram proveito do dom divino, para bem-estar eterno de suas almas. Portanto, essa demora, se for corretamente entendida, inspirará os crentes ao evangelismo, pois verão isso como meio de ampliarem a influência do evangelho.

 

«...não querendo que nenhum pereça...» Isso pode ser confrontado com I Tm 2:4, que diz: «...o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade». Este versículo, juntamente com aquele, nega tanto a «reprovação ativa» como a «reprovação passiva». Em outras palavras. Deus não se ocupa em endurecer as mentes dos homens, para que não aceitem a oferta da salvação; nem os deixa de lado, retendo deles sua graça. A demora da «parousia» serve de prova quanto a isso. A cruz é outra prova disso. A descida de Cristo ao «hades» a fim de pregar o evangelho aos espíritos desobedientes, também é prova da mesma afirmação.

 

Este versículo, por igual modo, não esquece apenas o «propósito oculto da predestinação». O autor sagrado meramente não contempla qualquer problema quanto à salvação para todos, sem ou com a eleição divina. Há a eleição divina (ver Ef 1:4). Porém embora não entendamos como, isso não é empecilho à real possibilidade de todos virem a ser salvos. Preferimos considerar que a questão é «paradoxal», isto é, um ensinamento que aparentemente se contradiz consigomesmo. Não sabemos dizer como a eleição divina e o livre-arbítrio podem ser verdadeiros, ao mesmo tempo; mas cremos que assim sucede; também cremos que para a inteligência divina (da qual todos haveremos eventualmente de participar não há qualquer contradição inerente a esses ensinamentos. O processo histórico consiste, essencialmente, da demora de Deus em agir; mas isso é necessário, porquanto até mesmo para Deus é preciso muito tempo para convencer os homens que seu caminho é realmente melhor, que esse é o único manancial autêntico de bem-estar espiritual. Em sua sabedoria divina, pois, ele sabe que é melhor esperar um pouco.

 

«...arrependimento...» Esse é o portão de entrada para a vida, pois é o início da conversão. A conversão consiste da fé e do arrependimento. A conversão é uma mudança de mente e de «direção de alma», operada pelo Espírito Santo, em cooperação com a submissão da vontade humana. Trata-se do primeiro passo da conversão, uma real mudança na qualidade moral do ser, não mera resolução para praticar o que é melhor. É uma espécie de primeiro passo em direção à nossa eventual participação na vida e na natureza de Cristo, o primeiro passo da alma para participar da santidade divina.

 

Deus é longânimo porque ele é eterno. «Aquele que é de eternidade, a eternidade pode dar-se ao luxo de esperar». (Plummer, in loc). Naturalmente, o plano de Deus envolve uma tabela definida de tempo. Ele sabe por quanto tempo deve esperar, ao passo que os homens podem pensar, erroneamente, que esse adiamento é sinal de desinteresse.

 

3:10: Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas.

 

O autor sagrado reafirma aqui o seu ensinamento que, assim como a criação já sofreu a devastação por meio da água, outro tanto sucederá novamente, mas mediante o fogo. (Ver o sétimo versículo deste capítulo quanto às possíveis «idéias metafísicas» por detrás dessa declaração). O autor sagrado emprega, ao que parece, a antiga idéia de Heráclito, posteriormente incorporada no estoicismo, de que o universo tem o «fogo» entesourado como um de seus elementos primários, e que, chegado o tempo certo, o universo inteiro revertera a seus elementos básicos, em imensa e total conflagração. Tal noção também existia no tocante à água. Alguns estudiosos crêem que a água foi o elemento primário, e que mediante condensação e rarefação outras coisas surgiram dela, chegando à existência, segundo as conhecemos, em grande multiplicidade. Assim sendo, por ocasião do dilúvio, todas as coisas, incluindo os céus, reverteram à água, segundo fica implícito nos versículos quinto e sexto deste capítulo. O juízo, portanto, tanto o da água como o do fogo, envolvem reversão aos elementos primários.

 

O autor inclui os céus estrelados e a terra, e talvez tivesse em mente os céus espirituais também, de tal modo que, bem literalmente, haverá novos céus e nova terra (ver o décimo terceiro versículo deste capitulo e o trecho de Ap 21:1). No tocante ao presente versículo, tem havido certo debate, que indaga se ele indica a «renovação» da antiga terra, mediante o fogo, para que a mesma matéria seja usada na confecção da nova terra, ou se este versículo contempla a total destruição e aniquilamento da terra física e dos Céus estrelados. Levando-se em conta a metafísica estóica, que o autor sagrado provavelmente empregava, certamente ele quis indicar a idéia de aniquilamento total, seguido por completa nova criação; não concebia mera renovação da antiga criação. A metafísica estóica, conforme é explanado acima, não concebia qualquer coisa como uma mera renovação.

 

«...dia do Senhor...» O autor sagrado não faz qualquer distinção clara, em sua escatologia, acerca da «parousia» e do «juízo final». Ele não alude a «arrebatamento», a «segunda vinda para ajudar», a «milênio» e, finalmente, a «juízo final», o que seria seguido pela criação de «novos céus e nova terra». Os capítulos dezenove e vinte e um do livro de Apocalipse indicam que esses acontecimentos serão entidades separadas (exceto que não haverá qualquer distinção entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda para julgar»). Em contraste com isso, o autor sagrado faz a «parousia» incluir todos esses elementos, excetuando o «milênio». Alguns crentes, evidentemente, não tinham qualquer refinamento em seu ensinamento escatológico. Assim, também temos hoje em dia os a-milenistas, os pós-milenistas e os pré-milenistas, todos com diferentes idéias acerca da realidade e da natureza da vinda de Jesus, do milênio e da relação deles mesmos para com o juízo final. Para o autor sagrado, o «dia do Senhor» é a mesma coisa que a «parousia», ao passo que, em outras porções do N.T., esse evento é visto como algo que levará os santos aos lugares celestiais, ou como juízo preliminar para os incrédulos, mas não o juízo final, que deverá esperar até terminar o milênio. Em I Ts 5:2 temos a mesma expressão que se acha aqui; o «dia do Senhor» virá como um «ladrão à noite». Nas Escrituras, essa expressão é usada para aludir a qualquer «intervenção» divina sobre a história humana, podendo incluir eventos distintos como a «parousia», o «milênio» e o «julgamento final». Nenhum desses acontecimentos, isoladamente, exaure o significado dessa expressão. Pode significar até mesmo qualquer julgamento divino direto, como demonstra­ção da ira divina, nada tendo a ver com qualquer intervenção final. O «dia do Senhor» pode ser bom ou mau, ou então ambas as coisas ao mesmo tempo, dependendo de como os homens se tiverem preparado para acolhê-lo. Normalmente, entretanto, essa expressão se reveste da idéia de julgamento divino.

 

«...como ladrão...» Isso também é dito acerca do «dia do Senhor», em I Ts 5:2, onde a questão é comentada. As idéias centrais são «secretamente», «inesperadamente», «repentinamente», apanhando os homens despreparados. (Ver também Mt 24:43 quanto à figura de linguagem que ali também é aplicada à «parousia»). A vinda de Cristo não permitirá que os despreparados se preparem e se arrependam. Será tarde demais para eles.

 

«...os céus passarão com estrepitoso estrondo...» Os céus estrelados estão em foco, e talvez até mesmo os céus espirituais. Haverá a reversão ao fogo primário. Não será apenas uma renovação. Será uma total aniquilação. Isso criará tremendo ruído. No grego temos «roidzhdon», um advérbio que significa «sibilante» (aplicado às serpentes), «farfalhante» (aplicado ao movimento rápido das asas dos pássaros) ou «rugido» (aplicado ao vento ou ao fogo). O autor pensava sobre o ruído feito por tremendo fogo, de natureza tão gigantesca que desafia toda a descrição.

 

«...elementos...» No grego é «stoicheia», derivado de «stoichos», «fileira». Esse vocábulo também era usado para indicar as letras do alfabeto, os «elementos» de um idioma qualquer. Tal palavra era aplicada, pelos filósofos da antigüidade, à terra, ao ar, ao fogo e à água, os elementos primários do universo material. Também era termo usado para aludir aos «espíritos elementares» e às «emanações» angelicais. Neste ponto, seu sentido é «elementos primários» da criação física, sem importar o que o autor sagrado pensasse sobre quais seriam os mesmos. Desde muitos séculos antes de ter sido escrita esta epístola de Pedro, havia uma crua teoria atômica; mas, considerando-se o que fica implícito nos versículos quinto a sétimo do presente capítulo (que abordam os elementos da «água» e; do «fogo») parece que o autor sagrado via os elementos básicos, terra, ar, fogo e água, como o «ABC» da criação física. Seja como for, todos esses elementos primários reverterão ao fogo; e isso será acompanhado por horrendo rugido. A ciência moderna, naturalmente, tem feito progressos suficientes para compreender o que são os «elementos», mas concorda com o texto presente de que a reversão à energia pura, que seria acompanhada por tremenda explosão e dissolução de tudo quanto existe, é possível. Assim sendo, apesar de que a antiga metafísica seja aqui usada para expressar tais idéias, conforme já seria de esperar, contudo, algo bem moderno é ensinado.

 

«...também a terra...» O mundo físico não escapará a essa universal conflagração.

 

«...e as obras que nela existem...» Todos os labores humanos se consumirão nessa oportunidade. Isso deixará somente o Deus eterno e sua habitação; e ai do homem que não se tiver arrependido! Repentinamente haverá de aprender que Deus, sendo o Criador, realmente é a única fonte do bem-estar espiritual. Lamentará para sempre ter buscado o bem-estar no mundo material, o que é impossível, se por bem-estar entendermos a felicidade eterna da alma.

 

Elementos. Consideremos os seguintes pontos a respeito:

 

1. Na concepção antiga havia quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Até o próprio fogo, conforme o conhecemos em sua manifestação terrena, será reabsorvido no fogo sobrenatural e verdadeiramente primário.

 

2. Também poderiam estar aqui em foco os elementos do universo, como as estrelas, a terra, etc. As primeiras certamente estão em foco, de alguma maneira. O autor aponta para os «blocos básicos de edificação» do universo físico.

 

3. Os «espíritos elementares» não podem estar em foco aqui, embora esse fosse um uso legítimo do termo grego «stoicheia». (Ver Cl 2:8,20 quanto a tal uso). Alguns antigos pensavam que as estrelas seriam «animadas», habitações de espíritos (seres angelicais); ou, então, que seriam a própria manifestação luminosa desses seres, os seus corpos, por assim dizer. A astrologia veio a misturar-se com essas noções. Esses «espíritos-estrelas» eram concebidos como seres dotados de influência sobre os homens. Mas o autor sagrado não tinha em mente uma metafísica tão complicada. Não pensava acerca da dissolução das «emanações» de Deus. Os corpos celestes são freqüentemente vistos, nas Escrituras, como coisas afetadas pela destruição que ocorrerá quando do «dia do Senhor». (Comparar isso com os trechos de Mt24:29; Is 13:9,10; 24:23 e 34:4).

 

NOTAS o novo testamento comentario,normam r.Champlin,2010

enciclopédia,de teologia e filosofia, Bentes ,e Normam R. Champlin,2010