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teologia conservadora
teologia conservadora

                                           NÃO SOMOS MODERNISTAS NEM PÓS 

            MODERNISTAS."NÃO PRECISAMOS MISTURAR OU DA 

             MISTURA DA   TEOLOGIA MUNDANA E MODERNISTA 

                                 DOS CONTEMPORRANEOS" 

 

.Os teólogos que obedecem dogmas do "liberalismo teológicos" denominados por radicais são contrarios as verdades de revelação Divina em toda Escritura(2°tm 3.16-17)e afirmam que a biblia não é a palvra de Deus e sim apenas contem em alguns textos a palavra de Deus.Porem a biblia é a palavra de Deus.(1°cor 2.10-16).

A maneira de fazer teologia tem variado consideralvelmente ao longo da história da igreja.Houve  periodos em que havia uniformidade consideravel dentro da teologia, acompanhada de uma uniformidade de métodos.A era do escolatisismo católico romano é um exemplo disso.Poe vezes, a teologia protestante tem apresentado homogeneidade similar.O periodo imediatamente posterior á Reforma foi um desses tempos dentro do luteranismo.Hoje entretanto, há consideravel diversisdade.

 Uma carateristica de nosso tempo de vida relativamente curto das teologias.Em certo sentido,a grande síntese teológica contruída por Agostinho permaneceu aproximadamente 800 anos.Toamás de Aquino formulou um sistema euma metodologia teológica que permaneceu 250(em meios católicos,7oo anos)).A teologia de João Calvino prevaleceu por quase três séculos. Quando contudo chegamos a Friedrih Scheliermacher,encontramos o liberalismo que ele inspirou por pouco mais de um seculo.A teologia de Karl Barth foi suprema apenas no periodo de 25 anos,e a demitização de Rudolf Bultmaan 12 ano.(notas ibid,pp.28).

Outra dimenção do ambiente teológico atual é declinio das grandes escolas de penssamento teolo´gico.Na década de 50 era possivel identificar de forma básica a maioria dos grandes teólogos com algum campo especifico,seja neo-ortodóxo,neo-liberal,Bultmannniano ou outro grupo.Agora no entanto muitas vezes só existem teólogos e teologias individuais.Embora possa haver consenso geral ou blocos de idéias, não há compromisso fortes com sistemas de penssamento como taís.Assim, não se pode mais simplesmente decidir esposar um sistema pronto.O que ocorre para esse declinio é que agora os gigantes liberais teológicos já sairam de cena.A primeira parte do seculo 20 apresentou o penssamento de Karl Barth, eles quanto ao penssamento e ninguém reúne seguidores como eles.Na maior parte é cada teólogo por si.(ibid,pp.28). 

 

 

     E A TEOLOGIA CONSERVADORA NESTE CONTEXTO HISTÓRICO?

 

"EMBORA TENHAM SURGIDO SIGNIFICATIVAS NA ABORADAGEM TEOLÓGICA  ATRAVÉS DO SÉCULOS , A PREOCUPAÇÃO EVANGELICA É SIMPLEMENTE  INVESTIGAR O QUE A BIBLIA DIZ SOBRE DETERMINADO ASSUNTO E JUNTAR TUDO  FORMANDO ALGUM TIPO DE TODO COERENTE"

.

Até certo ponto a teologia evangélica ou conservadora tem se esquivado do declinio.Por deixarem claro que t~em a biblia como fonte,os evangélicos não sofrem nem debatem se o foco principal,está nos sentimentos ou na atividade ética.Embora tenham surgido nuanças significativas na abordagem teológica atravez do séculos , a prewocupação evangélica é simplemente investigar o que biblia diz sobre determinado assunto e juntar tudo,formando algum tipo de todo coerente.A metodolgia defendida neste neste assunto mantém essa postura básica.Há tres licões que podemos aprender com essa rápida visão do ambiente teológico contemporraneo. 

                                                      1.LIÇÃO 

 

Precisamos cuidar para não nos identificar demais com cultura contemporranea:Como a cultura está mudando muito rápido com a explosão do conhecimento e com as transformações nos fatores sociais,as teologias que se ligam de modo muito estreitoás evoluções contemporraneas torna-se iguamente obsoletas.Uma analogia aqui é uma peça de máquinas não pode haver muita folga para que não se gaste muito, por outro lado se ficar muito estreita, as partes podem se quebrar com pressão.Da mesma forma, é importante ter um equilibrio entre a formulação de essencia atemporal da doutrina critã e a contextualização em uma situação especifica.Se em nossa tarefa tivermos de favorecer uma ou outra ,devemos nos concentrar na primeira.(notas ibid,pp.28-29). 

    

                                                      2 LIÇÃO 

Uma segunda lição tirada do cenario contemporraneo é que é possivel certa dose de ecletismo na feitura da teologia.Isso não deve dar e entender que tomamos elementos dispares de diferentes teologias e os combinamos acriticamente.Pelo contrario, o que estamos dizendo é que nenhum sistema possui um ponto de vendas exclusivo bem na eaquina do mescado teológico,sendo possivel aprender de varias teologias diferentes.(ibid,pp.29).

 

                                                      3 LIÇÃO

 

Uma terceira lição é a importancia de manter algum grau de indenpencia ao estudar as idéias de um teólogo liberal e modista ou neo liberal.Embora, pelo menos em parte,seja valioso ser discipuilo de alguém,não se deve cair em um discipulo que aceite acriticamente tudo o que o teologo afirme.Isso é na relidade é fazer com que um dependa do outro no que se refere a fé.Mesmo no caso das pessoas com quem se tenha mais aproximação(e,talvez,especialemte nesses casos),é essencial questionar surgimento de um penssamento criativo indenpendente.Embora isso a tarefa teológica um tanto mais dificil,o esforço é valido.Permancemos  na teologia conservadora sem aderir o liberalismo das novas heresias que surgemn por ai,e vamos quesitonar essas novas heresias mesmo com exame da palavra de Deus.(ibid,pp.29


História e Cristianismo – sobre o liberalismo e  fundamentalismo

 

O Fundamentalismo foi um movimento marcante de reação à entrada do Liberalismo Teológico nos arraiais das igrejas protestantes americanas no início do século XX. O termo “Fundamentalismo” é uma referência direta à obra de doze volumes intitulada The Fundamentals lançada em 1910. Seu conteúdo professou guerra aberta contra o ateísmo, o catolicismo, o socialismo, a filosofia moderna, o mormonismo, o espiritismo e muitos grupos semelhantes, mas principalmente, a Teologia Liberal “que se baseava numa interpretação naturalista das doutrinas da fé, a alta crítica alemã e o darwinismo, que pareciam subverter a autoridade da Bíblia” (MCINTIRE em ELWELL, 1992, v.2, p. 187).

Duas informações nos fornecem uma noção do impacto da obra: 1) O número de exemplares: Foram três milhões de cópias distribuídas gratuitamente por todo território americano. 2) As denominações incluídas: A obra teve a co-autoria de presbiterianos, batistas e anglicanos de vários lugares como Inglaterra, Escócia, Canadá e EUA.

Há historiadores como Roger E. Olson que dividem o fundamentalismo em duas fases: moderada e extremista (cf. OLSON, 2001, p. 576-84). Para ele, Machen e The Fundamentals fazem parte dessa primeira fase moderada. Mcintire divide a história do fundamentalismo em quatro fases (cf. MCINTIRE, 1992, p. 187-90).

Em sua primeira das quatro fases, o Fundamentalismo lutava pelos elementos fundamentais da fé cristã. Entretanto, não demorou muito e “a lista dos inimigos tornou-se mais estreita e os fundamentos, menos abrangentes” (MCINTIRE, 1992, p. 187) desviando o movimento do seu foco inicial. É na primeira fase, nesse cenário turbulento de luta direta contra o Liberalismo, que surge a figura de J. Gresham Machen.

Machen está ligado (como um protagonista de valor) a quase todas as obras literárias quando a matéria é a controvérsia Fundamentalismo-Liberalismo (cf. PIERARD em ELWELL, 1992, p. 424-29; CAIRNS, 1995, p. 420-33; HART, 1993; DOLLAR, 1962; NOLL et. al, 1983, p. 378-82; MCINTIRE, 1992). Apesar de não apreciar a denominação “fundamentalista”, Machen e o Fundamentalismo (da primeira fase) tinham um inimigo comum – o Liberalismo. Nas palavras do próprio Machen: “Na presença de um grande inimigo comum, eu tenho pouco tempo para atacar meus irmãos [fundamentalistas] que permanecem comigo na defesa da Palavra de Deus” (STONEHOUSE, 1954, p. 337-8). Ele acreditava viver em tempos de conflito. Em suas palavras, “O presente não é tempo para tranquilidade ou prazer, mas para seriedade e obra súplice” (MACHEN, 2001, p. 172).

Para muitos, Machen foi o principal teólogo do movimento (OLSON, 2001, p. 557). A explicação para tamanha reputação se encontra em sua erudição, mas principalmente por sua obra Cristianismo e Liberalismo onde se propõe demonstrar que o “Liberalismo moderno […] não é cristão” (MACHEN, 2001, p. 18).

Por sua erudição, por seus feitos numa época marcante para o protestantismo, pelo impacto e, principalmente pela natureza holística de sua obra, justifica-se uma análise cuidadosa de sua vida e obra. Todavia, devido às limitações de espaço, nos deteremos a um aspecto marcante de seu material apologético: O assentimento da historicidade dos eventos bíblicos como fator indicador da autêntica ortodoxia cristã.

O artigo que segue trará uma breve biografia de Machen seguida de uma análise de sua magnum opus (Cristianismo e Liberalismo); em seguida exporá a importância da história no cristianismo tendo o Liberalismo e a Neo-ortodoxia (dois fenômenos confrontados por Machen) como contraponto. Por fim, uma palavra sobre a perspectiva de Machen quanto à crítica histórica.

2 UMA BREVE BIOGRAFIA (cf. STONEHOUSE, 1954; NICHOLS, 2004; KELLY, Em ELWELL, v. 2, p. 463-4. MACHEN, 2001, p. i-iv).

Nascido em Baltimore em 28 de julho de 1881, John Gresham Machen era parte de uma família presbiteriana próspera, tanto financeira quanto culturalmente. Seus pais, Arthur W. Machen e Mary G. Machen o introduziram em um estilo de vida que combinava piedade e intelectualidade. Machen sempre foi encorajado a buscar o melhor da educação. Por exemplo, logo cedo foi acostumado a falar francês em casa. Sobre sua erudição e embates com os liberais, Olson diz que “Seus oponentes teológicos liberais não conseguiram encontrar nenhuma falha em sua erudição e nem demiti-lo taxando-o de obscurantista demente, como costumava fazer com outros fundamentalistas” (OLSON, 2001, p. 577).

Formou-se com honras (primeiro da turma) na Universidade de Johns Hopkins em 1901, e logo após estudou um ano com o famoso estudioso do grego bíblico B. L. Gildersleeve (na época, presbítero de sua igreja). Em 1902 se matriculou em Princeton. Em 1905 concluiu sua graduação. Lá, estudou com homens como B. B. Warfield e Greahardus Vos. Após a conclusão dos seus estudos em Princeton (1905), foi convidado por Francis L. Patton e William P. Armstrong a ser instrutor de grego bíblico. Porém, preferiu ir a Alemanha estudar em Marburg e Göttingen. Lá estudou um semestre em cada instituição. Teve como um de seus mestres o famoso liberal Wilhem Herrmann. A despeito da extraordinária influência de Wilhem Herrmann e da crise teológica decorrente dessa, Machen, com ajuda de B. B. Warfield, Patton e Armstrong, persistiu numa visão conservadora quanto às Escrituras.

De volta ao território americano, aceitou o convite de ensinar grego bíblico em Princeton. Na época, o livro texto era Essentials of New Testament Greek de Huddlestone. Por considerá-lo “pobre e escasso”, Machen o complementou com exercícios extras produzidos por ele mesmo. Em 1923, suas notas de aula se converteram em New Testament Greek for Beginners. Sem dúvida, uma obra marcante para todos os estudantes iniciantes de grego do Novo Testamento do século XX.

Em 1920 Machen teve sua primeira participação controversa em sua denominação. Valdeci da Silva Santos nos explica:

Naquela ocasião [Assembléia Geral], os delegados da reunião deveriam votar o Plano Filadélfia, que previa a coalizão de dezenove pequenas denominações presbiterianas em uma única denominação nacional. […] contrariando os colegas de cátedra [Joseph Ross Steveson e Charles Eerdman], Machen se opôs ao plano, por entender que ele pretendia uma reunião jurídica e uma pluralidade teológica indesejável (SANTOS, 2004, p. 152).

Em 1923 Cristianismo e Liberalismo, um marco para o fundamentalismo, foi lançado confrontando não somente o Liberalismo como todos os que o toleravam. A obra evidenciou ainda mais as diferenças entre liberais e ortodoxos que, até então, ainda coexistiam nas mesmas denominações e instituições de ensino. Algumas das novas denominações criadas a partir de 1930 foram: Igrejas Fundamentalistas Independentes dos Estados Unidos (1930); Associação das Igrejas Batistas Regulares (1932); Igreja Presbiteriana Ortodoxa (1936); Igreja Presbiteriana Bíblica (1938) e Associação Batista Conservadora dos Estados Unidos (1947).

Com a persistência da Presbyterian Church in the U.S.A. (doravante, PCUSA) e Princeton em tratar as diferenças nas instituições como questões meramente administrativas e não doutrinárias, Machen, após muitas lutas, deixa Princeton em 1929 para fundar no dia 25 de setembro do mesmo ano o Seminário Teológico de Westminster. Depois da derrota no tocante a Princeton, Machen perdeu a luta com respeito à Junta de Missões Estrangeiras. Foram várias as acusações feitas ao Teólogo de Princeton. Dentre elas: falta de zelo e fidelidade em manter a paz na igreja (MACHEN, 2001, p. iii). No dia 29 de março de 1935 foi suspenso do ministério da PCUSA. Em 1936, junto com outros cinco mil conservadores fundou a Igreja Presbiteriana da América, que posteriormente foi denominada Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC).

Resistindo aos conselhos de amigos, Machen foi para o Estado de Dakota do Norte em resposta a um convite para pregar. No decorrer da viagem contraiu pneumonia e no primeiro dia de 1937 veio a falecer com apenas 55 anos de idade. Como Calvino e outros grandes homens que representam uma era, Machen teve um fim prematuro. Suas últimas palavras foram: “Sou grato pela obediência ativa de Cristo sem a qual não há esperança” (MACHEN, 2001, p. iv). 

 

3 CRISTIANISMO E LIBERALISMO, SUA MAGNUM OPUS 

 

A produção literária de Machen é extensa; inclui artigos, pregações e livros. De todas elas, Cristianismo e Liberalismo é, sem dúvidas, a mais emblemática. Stonehouse, um dos grandes biógrafos de Machen, dedica um capítulo inteiro sobre a obra (STONEHOUSE, 1954, p. 336-50). Aqui queremos alistar duas possíveis razões para sua proeminência: 1) A repercussão e 2) Seu conteúdo holístico. 

 

3.1 A Repercussão.

 

Nenhum livro faz sucesso somente devido ao seu conteúdo. É na sintonia entre conteúdo e o “espírito de mundo” (zeitgeist) e/ou contexto histórico que encontramos a fórmula do sucesso. Faz-se, pois, necessário uma palavra sobre o contexto histórico de Cristianismo e Liberalismo.

Segundo Stephen J. Nichols: “O contexto imediato de Cristianismo e Liberalismo é o sermão pregado por Harry Emerson Fosdick no dia 21 de maio de 1922 cujo título era ‘O Fundamentalismo ganhará?” (NICHOLS, 2004, p. 82). Stonehouse corrobora as palavras de Nichols ao afirmar que a aceitação de Macmillan se deu porque foi “influenciada pela atenção que tinha sido atraída para Fosdick, a grande controvérsia, e a força do movimento de reafirmação dos fundamentos” (HART, 1995, 341).

Fosdick “foi um dos clérigos mais influentes da primeira metade do século XX” (LINDER em ELWELL, 1991, v.2, p. 183) bem como um dos maiores “popularizadores do liberalismo teológico moderno” (LINDER, 1991, p. 183). Por seu empenho em defesa do Liberalismo, foi denominado pelos conservadores de “Moisés do modernismo” e “Jesse James do mundo teológico”.

A influência de Fosdick e sua pregação explícita contra o fundamentalismo explicam a aceleração da publicação de Cristianismo e Liberalismo. Era preciso uma resposta rápida e à altura. E Macmillan encontrou um excelente representante do lado conservador da controvérsia. A editora recebeu o livro no início de dezembro de 1922 e dois meses depois foi publicado. Segundo Stonehouse, “durante do resto do ano um pouco menos que mil cópias foram vendidas, mas em 1924, quando o livro tornou-se popular e a controvérsia [fundamentalismo-modernismo] tornou-se mais intensa, a venda total aproximou-se das cinco mil cópias” (STONEHOUSE, 1954, p. 341). 

O sucesso de vendas não é a única amostra de sua importância e/ou proeminência em relação às suas outras obras. Foram várias as recomendações feitas por especialista. Mas ficaremos com a mais simbólica; as palavras de comentarista secular Walter Lippmann:

É um livro admirável. Por sua perspicácia, por sua importância, e por seu tino, esta fria e rigorosa defesa do protestantismo ortodoxo é, penso, o melhor argumento popular produzido pelo outro lado da controvérsia. Faremos bem ouvir o Dr. Machen. Os liberais ainda têm que respondê-lo (NICHOLS, 2004, p. 82).

 

3.2 O Conteúdo Holístico

 

Como o próprio título revela, a obra lida com uma situação histórica específica: A distinção entre Liberalismo (modernismo) e Cristianismo torna o primeiro uma ameaça a ser condenada, justificando-se, pois, uma luta aberta contra o mesmo.

Machen lida, pois, com condições peculiares dos seus dias; como por exemplo, a aceitação de liberais em instituições cristãs; a desonestidade desses na manutenção de expressões ortodoxas, porém, redefinidas, bem como no uso dos recursos de instituições confessionais. O uso constante da expressão “situação presente”, “presente controvérsia”, “no presente”, “o presente”, “medidas necessárias hoje” (MACHEN, 2001, p. 163, 166, 169, 170, 172) reforça sua preocupação com uma situação histórica particular. Em alguns casos, Machen usa o termo “igreja” pressupondo tratar-se da “Igreja Presbiteriana”. Alguns dos conselhos do último capítulo só poderiam ser aplicados ao governo de igreja por ele defendido (presbiteriano), revelando assim, a aplicabilidade restrita da obra.

Apesar de sua natureza particular, em Cristianismo e Liberalismo Machen não nos proporciona somente um manual peculiar aos presbiterianos contra o Liberalismo Teológico do início do século XX, tornando-se uma obra “presa” a um contexto histórico particular. Antes, por tratar com os elementos essenciais do cristianismo, ou seja, as doutrinas inegociáveis que fazem do cristianismo, cristianismo, Machen, legou à Igreja as colunas doutrinárias do cristianismo.

Cristianismo e Liberalismo não somente nos ajuda a entender a como lidar com o Liberalismo; ele nos apresenta o que realmente é o cristianismo. Embora a obra tenha um caráter apologético, é uma obra mais positiva que negativa, por que enquanto combate o Liberalismo (natureza negativa), Machen nos ensina o que é Cristianismo (natureza positiva). “A resposta de Machen vai além da sua situação contemporânea e fala de questões de importância atemporal” (MACHEN, 2001, p. 83).

O caráter holístico da obra também é revelado em sua metodologia. Machen analisa o sistema a partir de seus fundamentos e/ou pressupostos. Sua crítica capital ao Liberalismo é que ele “[…] procede de uma raiz completamente diferente”, ou “bases da fé” (MACHEN, 2001, p. 172) opostas. Aqui Machen nos alerta para o fato de que é exatamente nos fundamentos que se trava a verdadeira batalha pela fé. Toda teologia é construída a partir de pressuposto e/ou fundamentos; e é ai que as batalhas devem ser travadas.

A declaração que segue revela a consciência de Machen do caráter atemporal de sua defesa do cristianismo: “a investigação com a qual estamos agora preocupados é sem dúvida a mais importante de todas aquelas com as quais a igreja deve lidar” (MACHEN, 2001, p. 19).

Por sua natureza holística, Cristianismo e Liberalismo ajuda-nos a julgar e/ou entender assuntos outros como espiritualidade, exclusivismo, ecumenismo, milagres, crítica bíblica, apologética, linguagem religiosa, amor, justiça, salvação, pragmatismo, a natureza da fé etc. Sua metodologia de abordagem ao Liberalismo pode ser usada para avaliação de qualquer fenômeno religioso. Ela pode ser usada contra o subjetivismo do misticismo bem como a secura anti-sobrenatural do cristicismo histórico que negava os eventos mais importantes do cristianismo (morte e ressurreição de Cristo). Sem dúvidas, uma obra para todos os tempos.

 

4. CRISTIANISMO E HISTÓRIA

 

O tema “história” é uma constante na vida e obra de J. Gresham Machen. Ele aparece cedo nos escritos do teólogo de Pricenton. Permeia toda sua monografia de graduação sobre o nascimento virginal de Cristo e é tônica do seu sermão de ordenação cujo título era História e Fé: Um Evangelho despido da história é simplesmente uma contradição de termos (MACHEN, 2001, p.i.). A temática é reiterada várias vezes ao longo de sua produção literária.

 

4.1 O Liberalismo e a História

 

Sua preocupação com a história tinha uma explicação: A separação entre cristianismo e história era, para Machen, o grande interesse da teologia moderna (MACHEN, 1951, p. 170). Em suas palavras:

Em uma época como esta, é óbvio que cada herança do passado deve ser objeto de uma crítica aguda; […] a dependência de qualquer instituição do passado é agora, às vezes, até mesmo considerada como fornecedora de uma presunção não em função da mesma, mas contra. […] Se tal atitude for justificável, então nenhuma instituição é encarada com uma presunção hostil mais forte do que a instituição da religião cristã, visto que nenhuma outra instituição tem se baseado com mais honestidade na autoridade de uma era passada do que ela (MACHEN, 2001, p. 15).

Ele entendeu como poucos que quando o assunto é teologia moderna, uma das questões cruciais era o lugar da história no Evangelho cristão (HART, 1995, p. 344). Para Machen “O cristianismo […] é dependente da história” (MACHEN, 2001, p. 122). E ainda: “um evangelho independente da história é uma contradição de termos” (MACHEN, 2001, p. 122). Para ele:

O estudante do Novo Testamento deve ser primariamente um historiador. O centro e o cerne de toda a Bíblia é história. Tudo que está na Bíblia está ligado a um arcabouço histórico e nos conduz a um clímax histórico. A Bíblia é primariamente um livro histórico (MACHEN, 1951, p. 170).

A hermenêutica moderna foi alvo das críticas de Machen, pois não permitia se lê um evento sobrenatural como histórico. Machen detecta esse pressuposto ao afirmar que “a raiz do movimento [liberal] é uma; as variedades da religião liberal moderna são arraigadas no naturalismo – isto é, na negação de qualquer entrada do poder criativo de Deus” (MACHEN, 2001, p. 14). De encontro ao naturalismo Machen assegura que:

O Jesus apresentado no Novo Testamento foi claramente uma Pessoa histórica – isto é admitido por todos os que têm se confrontado com os problema [sic] históricos. Mas, o Jesus apresentado no Novo Testamento foi claramente uma Pessoa sobrenatural. Porém, para o liberalismo moderno, uma pessoa sobrenatural nunca é histórica (MACHEN, 2001, p. 108).

De Ritschl e Kant o Liberalismo herdou a idéia de que a mensagem religiosa se reduz à ética. Essa redução do cristianismo tinha uma relação direta com a desvalorização de sua historicidade. Vindo em uma corrente oposta, Machen afirma que a ética cristã (imperativo) está atrelada e/ou é decorrente do indicativo histórico da morte e ressurreição de Cristo. Em suas próprias palavras:

O pregador liberal está realmente rejeitando toda a base do Cristianismo, que não é uma religião edificada sobre aspirações, mas em fatos. Aqui se encontra a diferença fundamental entre o liberalismo e o Cristianismo – o liberalismo está, no geral, no modo imperativo, enquanto o cristianismo começa com um indicativo triunfante […] (MACHEN, 2001, p. 53).

Ainda pensando na relação entre ética e cristianismo, Machen argumenta que há fatos que se impõem em nossa vida. São eles: sofrimento, morte, culpa e pecado. A esses fatos, afirma Machen, “o pregador moderno responde – com exortação” (MACHEN, 1951, p. 171). A essa postura Machen contrapõe:

Muito eloqüente, meu amigo! Mas que pena! Você não pode mudar os fatos. O pregador moderno oferece reflexão. A Bíblia oferece mais. A Bíblia oferece notícias – não reflexão sobre o antigo, mas notícias de algo novo; não algo que pode ser deduzido ou descoberto, mas algo que aconteceu; não filosofia, mas história; não exortação, mas o Evangelho (MACHEN, 1951, p. 171).

No primeiro capítulo de sua magnum opus, Machen argumenta que a essência do cristianismo é doutrina. Uma clara rejeição do conceito sentimental e/ou experimental de religião defendido pelos liberais e herdado de Schleiermacher. Sobre a relação história e doutrina Machen afirma:

Desde o início, o evangelho cristão, como de fato o nome “evangelho” ou “boas novas” infere, consistia de relato de algo que havia acontecido. […] “Cristo Morreu” – isto é história; ‘Cristo morreu pelos nossos pecados – isto é doutrina. Sem estes dois elementos, conjugados em união absolutamente indissolúvel, não há Cristianismo.” (MACHEN, 1951, p. 35)

E mais:

O mundo deveria ser redimido através da proclamação de um evento. E com o evento estava o seu significado; e a apresentação do evento com seu significado é doutrina. Estes dois elementos estão sempre combinados na mensagem cristã. A narração dos fatos é história; a narração dos fatos com significado dos mesmos é doutrina (MACHEN, 1951, p 37).

Em suma, para Machen, no cristianismo, o sobrenatural, a ética, a doutrina e a história estão essencialmente conectadas. Nas palavras de Machen, trata-se de uma “união indissolúvel”. O abandono da história pode até manter a crença “filosófica” em Deus com seus corolários éticos. Porém, afirma Machen, o abandono da história, “nunca pode preservar o Evangelho, pois ‘evangelho’ significa ‘boas novas’” (MACHEN, 2004, p. 98).

 

4.2 A Neo-ortodoxia e a História 

No dia 2 dezembro de 1929, A Savage of Scribner´s Publishing House enviou para Machen uma cópia da obra de Emil Brunner intitulada The Theology of Crisis. O objetivo da editora era uma recomendação e/ou conselho de um representante da ala conservadora (HART, 1991, p. 189). A resposta de Machen a Scribner “tornou-se sua resposta típica quando o assunto era neo-ortodoxia; disse que não entendia a teologia da crise como um retorno ao cristianismo evangélico, mas seu conhecimento limitado o impedia de um julgamento final” (HART, 1991, p. 189).

Um ano antes, em um artigo escrito em 23 de abril para um pequeno grupo de ministros, Machen demonstra muito cuidado em tomar uma posição para o movimento que estava surgindo – a teologia da crise. Em várias partes do documento Machen revela suas limitações. Ele diz que tem “poucas palavras” (MACHEN, 1991, p. 197) e que tem dificuldade de “explicar o que não entende” (MACHEN, 1991, p. 200).

Para Machen, em alguns assuntos como: o homem perdido no pecado e a graça de Deus como um dom de Jesus Cristo seu filho, a teologia da crise “soa como John Bunyan, João Calvino, o Catecismo Menor e a Fé Reformada” (MACHEN, 1991, p. 200). No entanto, apesar de todo cuidado para com assuntos não completamente compreendidos, Machen é firme em declarar que:

Eles [Barth, Brunner e seus associados] diferem, eu penso (se pudermos ignorar detalhes e irmos imediatamente ao centro das coisas) – eles diferem na sua epistemologia, diferem em sua atitude para com simples informação histórica que a Bíblia contém (MACHEN, 1991, p. 201).

Para Machen, Barth “tenta fazer a fé cristã independente das descobertas da história científica quanto a vida de Cristo” (MACHEN, 1991, p. 203). E ainda, “A atitude de Barth e seus associados no tocante ao criticismo histórico constitui uma fraqueza mortal da escola” (MACHEN, 1991, p. 204).

A despeito de sua reconhecida limitação julgamento, o grande incômodo para Machen está na estranha indiferença de Barth a questões de criticismo literário e histórico no tocante a Jesus Cristo. Essa indiferença era tamanha que até mesmo Bultmanm, com seu ceticismo extremo na esfera histórica, pode aparentemente ser considerado um membro da escola barthiana uma vez que era um dos contribuidores do jornal Zwischen den Zeiten (MACHEN, 1991, p. 204).

“A reação inicial de Machen ao barthianismo sugere que ele considerou a neortodoxia, em suas variações tanto na América quanto na Europa, como uma extensão do Liberalismo protestante ao invés de um repúdio” (HART, 1991, p. 193). Ambas as escolas tinham problemas quanto à historicidade do cristianismo. Na primeira, a negação do sobrenatural não permitia uma “leitura completa” do registro dos Evangelhos fragmentando-os na busca do Jesus histórico. Na segunda, as doutrinas basilares como Trindade, fé, pecado e redenção em Jesus eram fruto de uma leitura descompromissada e indiferente da história. Na primeira, o Evangelho era julgado pela crítica história naturalista; na segunda, a história era desvalorizada pelo subjetivismo decorrente do seu conceito deturpado de revelação. Ambas eram ameaças ao verdadeiro cristianismo, pois tinham negligenciado um elemento essencial – sua historicidade.

 

5 O CRITICISMO HISTÓRICO

 

Segundo Eta Linnemann, “Para a teologia histórico-crítica, a razão crítica decide o que é e o que não pode ser realidade na bíblia; e essa decisão é feita na base da experiência diária acessível a cada pessoa” (LINNEMANN, 2009, 101-102). Em outras palavras, “Aquilo que é espiritual é julgado segundo critérios da carne” (LINNEMANN, 2009, p. 102). Certamente partindo desse pressuposto, nunca chegaremos a conclusões de cunho sobrenatural. Pois, como bem colocou Augustus Nicodemus: “É sabido e reconhecido, nas mais diversas áreas do conhecimento, que a escolha de um método já determina, por antecipação, a extensão e o tipo de resultados da pesquisa” (LOPES, 2005, p. 136).

A despeito de seus pressupostos e métodos, para Machen “Não podemos, […], ser indiferentes ao criticismo bíblico” (MACHEN, 1951, p. 183-184). Ele entendia que a rejeição do caráter histórico das Escrituras era uma ameaça a igreja uma vez que a Escritura é o fundamento desta. “Machen não apenas censura as críticas liberais, mas também o que ele considerou a piedade convencional e descuidada do protestantismo” (HART, 1995, p. 37). Apelar para o sobrenatural não era o único caminho. Nas palavras de Hart:

Embora [Machen] cresse que a origem do cristianismo era sobrenatural e que a visão de Paulo é mais bem entendida com uma reflexão dessa realidade, Machen não se satisfazia com a história providencial para explicar a origem do movimento cristão (HART, 1995, p. 50).

“Ao invés de evitar os métodos e achados da alta crítica, como muitos conservadores fizeram, Machen usou a nova erudição tanto para defender o Cristianismo histórico quanto para atacar a complacência do protestantismo corrente” (HART, 1995, p. 50).

Para Hart, a postura de Machen tem explicação na sua formação em Princeton. “Tão incongruente quanto parece, a doutrina da inerrância bíblica do Seminário de Princeton instigou seus estudiosos a intensificar o estudo crítico ao invés de fugir dele” (HART, 1995, p. 42). Hart esclarece:

[…] teólogos de Princeton usavam métodos críticos para argumentar que inspiração e erudição avançada eram compatíveis. […] Ao invés de impor limites, essa doutrina [inspiração] permitiu os estudiosos de Princeton explorar completamente os aspectos humanos da formação e recepção da Bíblia (HART, 1995, p. 43).

Aqui se faz necessário uma palavra sobre o estudo da história no início do século XX. Uma nova concepção da pesquisa histórica estava surgindo – era a Nova História. Enquanto Machen “assumiu uma visão atemporal e estática do passado que objetivava encontrar o propósito original do autor” (HART, 1995, p. 55), os da nova escola estavam preocupados com os elementos sociais e culturais que explicavam os eventos históricos. Para essa escola, cristianismo não era definido pelos ensinos de Paulo e dos apóstolos; antes, como tudo nessa escola, Cristianismo era um fenômeno social. Muito da obra The Origin of Paul´s Religion de Machen foi investido para revelar “as explicações impróprias do naturalismo que atribuiu a crença de Paulo ao condicionamento do desenvolvimento histórico e cultural” (HART, 1995, p. 51).

Essa diferença entre escolas fica clara quando observamos as variações nos julgamentos feitos em resenhas e/ou comentários sobre The Origin of Paul´s Religion. Elas iam de elogios rasgados como os feitos por Benjamin W. Bacon até as críticas feitas por James Moffatt (HART, 1995, p. 53-4). Parte das críticas bem como dos elogios se davam pela concepção de história, e, por conseguinte, da metodologia empregada.

Machen reconhecia a intensa relação entre método e pressuposto. Ele era consciente de que não existia um “criticismo científico puramente neutro” (MACHEN, 2004, p. 519. Além disso, Machen tinha ciência de que muitas das pressuposições do criticismo eram naturalistas e por isso “uma pessoa sobrenatural, de acordo com os historiadores modernos, nunca existiu” (MACHEN, 1951, p. 175). Para ele, a negação do nascimento virginal, por exemplo, se dava por “pressuposições filosóficas ao invés da tradição histórica” (HART, 1995, p. 41).

Ele critica o pressuposto naturalista que nega o sobrenatural quanto lida com a tentativa liberal de separação o natural do sobrenatural no relato bíblico. Para ele “o processo de separação nunca foi realizado com sucesso.” (MACHEN, 2001, p. 108), pois revela inconsistência entre os pressupostos e as conclusões. Ele nos alista três razões para o fracasso de uma “leitura seccionada” dos Evangelhos:

Em primeiro lugar, existe a dificuldade inicial de separar a narrativa natural da narrativa sobrenatural nos Evangelhos. As duas são inextrincavelmente interligados. […] Em segundo lugar, suponhamos que a primeira tarefa tenha sido realizada. É realmente impossível, mas suponhamos que tenha sido realizada. Você tem o Jesus histórico – um mestre da justiça, um profeta inspirado, um adorador puro de Deus. […] Mas tudo em vão! […] Há uma contradição bem no centro do Seu ser. Essa contradição surge de sua consciência messiânica. (MACHEN, 1951, p. 176-7).

Aqui temos um grande problema, afirma Machen. Para os mesmo liberais que afirmam, por meio da crítica histórica, que Jesus tinha uma consciência messiânica, “um humilde mestre que pensa ser o juiz da terra […] seria um insano” (MACHEN, 1951, p. 176-7).

“Em terceiro lugar, o Jesus liberal é insuficiente para explicar a origem da Igreja Cristã. O poderoso edifício da cristandade não foi construído em um pin-point” (MACHEN, 1951, p. 176-7). E, nas palavras de Machen, “história odeia um vácuo” (MACHEN, 1951, p. 181-2). Para Machen, “A Igreja Cristã […] é fundamentada na ressurreição de Cristo dos mortos. Se a ressurreição é negada, então a origem da Igreja torna-se um problema insolúvel” (MACHEN, 1997, p. 58). “A igreja não foi fundada na memória de um mestre morto, mas na presença de um Senhor vivo. A mensagem, ‘Ele ressuscitou’ – é o coração do Evangelho” (MACHEN, 1997, p. 59). Com essas três considerações, Machen revela a contradição entre as conclusões dos liberais com seus pressupostos anti-sobrenaturais.

Em suma, Machen tinha o estudo da história como essencial para o estudante das Escrituras. Por ser um livro histórico, a Bíblia faz daqueles que a desejam entendê-la verdadeiros historiadores. O historiador, por sua vez, deve ser coerente com os dados extraídos da pesquisa histórica séria, providenciando assim explicações lógicas para os eventos históricos uma vez que “história odeia um vácuo”. Além disso, deve ser cuidadoso visto que não existe neutralidade na pesquisa histórica. Sem esquecer-se, claro, de não ignorar as pesquisas da crítica histórica. 

Temos muito a aprender com o zelo de Machen para com a historicidade do cristianismo. São muitas as implicações extraídas das colocações feitas pelo teólogo de Princeton. Aqui queremos alistar cinco:

Em primeiro lugar, intelectualidade não é antagônica à espiritualidade. Não podemos apelar à providência sempre estivermos diante das acusações feitas por estudiosos ignorando os fatos que se impõe; nem muito menos supersticiosamente ignorar os dados do estudo crítico. Em contraponto, ao mesmo tempo em que nos desafia ao estudo profundo, Machen reconhece que toda análise é direcionada por pressupostos.

Em segundo lugar, o assentimento da historicidade dos eventos bíblicos nos desperta para a tarefa missionária. Por possuir uma mensagem histórica e não “existencial atemporal”, o cristão não pode esperar que o homem encontre dentro de si mesmo o diagnóstico e a resposta para seus problemas. Ele precisa ouvir a notícia da morte expiatória e ressurreição corpórea de Cristo para responder com fé. “A fé vem pela pregação” (Rm. 10.17).

Em terceiro lugar, Machen desafia a igreja a extrair das boas notícias tanto sua doutrina quanto sua ética. A ênfase em ética ou em bons conselhos desvinculada dos eventos chaves do cristianismo nivela a igreja cristã a outras religiões. “É a conexão da experiência presente do crente com a aparição histórica real de Jesus no mundo que previne nossa religião de ser misticismo e faz com que seja cristianismo” (MACHEN, 2001, p.122).

Em quarto lugar, Machen nos ajuda com a tarefa apologética. A fé é uma resposta a um evento histórico (Rm. 10.17), portanto, não pode nascer de dentro de nós mesmo via argumentação. Nenhuma manobra filosófica pode levar pessoas à fé cristã visto que fé é uma resposta (reação) ao anúncio de um evento histórico. Em suas palavras: “não algo [é] que pode ser deduzido ou descoberto […] não filosofia, mas história” (MACHEN, 1951, p. 171).

Por último, Machen desafia aqueles que hoje se denominam “fundamentalistas” a lutar pelos elementos fundamentais da fé como aqueles da primeira fase. Quando estudamos a história de Machen, ficamos tristes em constatar que os “princípios elementares” dos primeiros fundamentalistas tornaram-se “pormenores fundamentais”. A luta dos primeiros fundamentalistas era pela inerrância das Escrituras, a historicidade dos eventos bíblicos etc. Hoje, ser fundamentalista é lutar por ou contra instrumentos musicais, versões, dispensacionalismo  e questões específicas envolvendo a liberdade de consciência. Essa, com certeza, não foi a luta de Machen; certamente não é a minha, e espero que não seja a sua.

fonte teologiabrasileira.com

                              Entendendo os fundamentalistas - Parte 1

 

O nome fundamentalistas foi cunhado para se referir aos conservadores que se coligaram para defender a fé cristã da intrusão do liberalismo.

Para muitas pessoas, o tema deste artigo pode parecer árido, acadêmico e sem qualquer importância. Entretanto, considerando os argumentos abaixo, sua relevância ficará clara. Primeiro, o fundamentalismo está em evidência no mundo . Em todo o mundo, grupos religiosos fundamentalistas estão crescendo rapidamente. Na América Latina, grupos pentecostais radicais se multiplicam e mudam as estatísticas gerais. Na Coréia do Sul e no Taiwan, centros do confucionismo neotradicionalista se firmam. No Japão, uma nova versão radical do budismo cresce rapidamente. E o fundamentalismo do mundo islâmico é conhecido por todos.

Nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, o fundamentalismo cristão ganha força, após um período de aparente extinção. Muito embora existam profundas diferenças entre esses grupos mencionados, eles têm em comum o desejo de retornar aos fundamentos e às origens de sua religião, e estão dispostos a lutar por isto.

Segundo, o termo “fundamentalista” designa uma larga porcentagem do cristianismo norte-americano , com ramificações no mundo e também no Brasil. A influência do fundamentalismo no Brasil não pode ser esquecida ou minimizada.

Terceiro, o uso pejorativo do termo . Determinados termos, dentro do cristianismo, acabam por perder seu sentido original e adquirir uma conotação pejorativa. Não poucas vezes, estes termos pejorativos são usados irresponsavelmente para rotular adversários políticos e eclesiásticos, e com generalizações injustas. Se pudermos, devemos sempre ajudar a esclarecer o que o termo significa.

E, finalmente, existem bem poucos estudos sobre o tema “fundamentalismo” no meio evangélico. Se pudermos ajudar no esclarecimento da Igreja de Cristo sobre este assunto, ficaremos gratos a Deus. 

 

O surgimento do liberalismo teológico 

 

A melhor maneira de compreender a origem do termo “fundamentalista” é entender o crescimento do liberalismo teológico radical nas principais denominações históricas dos Estados Unidos no fim do século XIX e início do século XX. O liberalismo era, de muitas maneiras, um fruto do iluminismo, movimento surgido no início do século XVIII que tinha em seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e contra a religião em geral. As pressuposições filosóficas do movimento eram, em primeiro lugar, oracionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz e o empirismo de Locke, Berkeley e Hume. Os efeitos combinados dessas duas filosofias – que, mesmo sendo teoricamente contrárias entre si, concordavam que Deus tem que ficar de fora do conhecimento humano – produziu profundo impacto na teologia cristã.

Em muitas universidades cristãs, seminários e igrejas da Europa (e, posteriormente, nos Estados Unidos), as idéias racionalistas começaram a ganhar larga aceitação. Não é que os teólogos se tornaram ateus ou agnósticos, mas sim, que procuraram compatibilizar a crença em Deus com os postulados do racionalismo. Muitos teólogos passaram a afirmar a existência de Deus, mas negavam sua intervenção na História humana, quer através de revelação, quer através de milagres ou da providência.

Como resultado da invasão do racionalismo na teologia, chegou-se à conclusão de que o sobrenatural não invade a história . A história passou a ser vista como simplesmente uma relação natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que intervém e atua na história humana foram excluídos “de cara”. Como conseqüência, os relatos bíblicos envolvendo a atuação miraculosa de Deus na História, como a criação do mundo, os milagres de Moisés e os milagres de Jesus, passaram a ser desacreditados. Segundo esta linha de pensamento, já que milagres não existem, segue-se que esses relatos são fabricações do povo de Israel e, depois, da Igreja, que atribuiu a Jesus atos sobrenaturais que nunca aconteceram historicamente.

Para se interpretar corretamente a Bíblia, seria necessária uma abordagem “não religiosa”, desprovida de conceitos do tipo “Deus se revela”; ou: “A Bíblia é a revelação infalível de Deus”; ou ainda: “A Bíblia não pode errar”. Teólogos protestantes que adotaram essa abordagem crítica (que consideravam como “neutra”) justificavam-se afirmando que a Igreja Cristã, pelos seus dogmas e decretos, havia obscurecido a verdadeira mensagem das Escrituras. No caso dos Evangelhos, os dogmas dos grandes concílios ecumênicos acerca da divindade de Jesus haviam obscurecido sua figura humana e tornaram impossível, durante muito tempo, uma reconstrução histórica da sua vida. Esta impossibilidade, eles afirmavam, tornou-se ainda maior após a Reforma, quando a exegese dos Evangelhos e da Bíblia em geral passou a ser controlada pelas confissões de fé e pela teologia sistemática.

Os estudiosos críticos argumentaram ainda que, para que se pudesse chegar aos fatos por trás do surgimento da religião de Israel e do cristianismo, seria necessário deixar para trás dogmas e teologia sistemática, e tentar entender e reconstruir os fatos daquela época. O principal critério a ser empregado nessa empreitada seria a razão , que os racionalistas entendiam como sendo a medida suprema da verdade. As ferramentas a serem usadas seriam aquelas produzidas pela crítica bíblica, como crítica da forma, crítica literária, entre outras. Assim, muitos pastores e teólogos que criam que a Bíblia era a Palavra de Deus, influenciados pela filosofia da época, tentaram criar um sistema de interpretação da Bíblia que usasse como critério o que fosse racional ao homem moderno, dando origem ao chamado “método histórico-crítico” de interpretação bíblica.

Os estudiosos responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento inicial do método crítico defendiam que o “dogma” da inspiração divina da Bíblia deveria ser deixado fora da exegese para que ela pudesse ser feita de forma “neutra”. Seguiu-se a separação entre Palavra de Deus e Escritura Sagrada, rejeitando-se o conceito da inspiração e infalibilidade da Bíblia. Surge a idéia de “mito” na Bíblia, que era a maneira pela qual a raça humana, em tempos primitivos, articulava aquilo que não conseguia compreender. Segundo os exegetas críticos, as fontes que os autores bíblicos usaram estavam revestidas de “mitos”, ou lendas criadas por Israel e pela Igreja apostólica. O surgimento da dialética de Hegel marcou esta fase. Hegel oferecia uma visão da História sem Deus, explicando os acontecimentos não em termos da intervenção divina, mas em termos de um movimento conjunto do pensamento, fazendo sínteses entre os movimentos contraditórios (tese e antítese).

A tentativa de unir o racionalismo com a exegese bíblica não produziu um resultado satisfatório. Ficou-se com uma Bíblia que deixou de ser a Palavra de Deus para se tornar o testemunho de fé do povo de Israel e da Igreja Primitiva. Como resultado, surgiu um movimento dentro do cristianismo que se chamou liberalismo, o qual rapidamente influenciou as igrejas cristãs na Europa, e de lá, seguiu para os Estados Unidos, onde defendia os seguintes pontos:

  • O caráter de Deus é de puro amor, sem padrões morais . Todos os homens são seus filhos e o pecado não separa ninguém do amor de Deus. A paternidade de Deus e a filiação divina são universais. 
  • Existe uma centelha divina em cada pessoa . Portanto, o homem, no íntimo, é bom, e só precisa de encorajamento para fazer o que é certo.
  • Jesus Cristo é Salvador somente no sentido em que ele é o exemplo perfeito do homem . Ele é Deus somente no sentido de que tinha consciência perfeita e plena de Deus. Era um homem normal, não nasceu de uma virgem, não realizou milagres, não ressuscitou dos mortos. 
  • O cristianismo só é diferente das demais religiões quantitativamente, e não qualitativamente . Ou seja, todas as religiões são boas e levam a Deus; o cristianismo é apenas a melhor delas. 
  • A Bíblia não é o registro infalível e inspirado da revelação divina , mas o testamento escrito da religião que os judeus e os cristãos praticavam. Ela não fala de Deus, mas do que criam sobre ele. 
  • A doutrina ou as declarações proposicionais, como as que encontramos nos credos e confissões da Igreja, não são essenciais ou básicas para o cristianismo , visto que o que molda e forma a religião é a experiência, e não a revelação. A única coisa permanente no cristianismo, e que serve de geração a geração, é o ensino moral de Cristo. 

Nem todos os liberais abraçavam todos estes pontos, e havia diferentes manifestações do liberalismo. Entretanto, todas elas estavam enraizadas no racionalismo (só a ciência tem a verdade) e no naturalismo(negação da intervenção criadora de Deus no mundo), e queriam adaptar as doutrinas do cristianismo à moderna teoria científica e às filosofias da época. 

 

A reação conservadora: surgimento do fundamentalismo  cristão

 

O nome “fundamentalistas” foi cunhado para se referir aos pastores, presbíteros e professores conservadores americanos de todas as denominações históricas que se coligaram para defender a fé cristã da intrusão do liberalismo nos seus seminários e igrejas. O nome foi usado por três motivos. Primeiro, os conservadores insistiam que o liberalismo atacava determinadas doutrinas bíblicas que eram fundamentais do cristianismo e que, ao negá-las, transformava o cristianismo em outra religião, diferente do cristianismo bíblico.

Segundo, a publicação em 1910-1915 da série “Os fundamentos”, doze volumes de artigos escritos por conservadores que defendiam os pontos fundamentais do cristianismo e atacavam o modernismo, a teoria da evolução etc., dos quais foram publicadas 3 milhões de cópias e espalhadas pelos Estados Unidos. Há artigos de eruditos conservadores como J.G. Machen, John Murray, B.B. Warfield, R.A. Torrey, Campbell Morgan e outros.

Terceiro, a elaboração de uma lista dos pontos considerados fundamentais do cristianismo. Muito embora o conflito entre liberais e fundamentalistas envolvesse muito mais do que somente esses tópicos, citados abaixo, foram considerados na época pelos conservadores como os pontos fundamentais da fé e do cristianismo evangélico, tendo se tornado o slogan dos conservadores e a bandeira do movimento fundamentalista:

A inspiração, infalibilidade e inerrância das Escrituras – reagindo contra os ataques do liberalismo que considerava que a Bíblia estava cheia de erros de todos os tipos. 
A divindade de Cristo – também negada pelos liberais, que insistiam que Jesus era apenas um homem divinizado. 
O nascimento virginal de Cristo e os milagres – para o liberalismo, milagres nunca existiram, eram construções mitológicas da Igreja primitiva. 
O sacrifício propiciatório de Cristo – para os liberais, Cristo havia morrido somente para dar o exemplo, nunca pelos pecados de ninguém. 
Sua ressurreição literal e física e seu retorno – ambas doutrinas eram negadas pelos liberais, que as consideravam como invenção mitológica da mente criativa dos primeiros cristãos. 
Em 1920, o termo “fundamentalistas” foi empregado por conservadores batistas para designar todos aqueles que lutassem em favor destes cinco pontos. O uso se espalhou para todos, de todas as denominações afetadas pelo liberalismo que lutavam para preservar estas doutrinas fundamentais do cristianismo, e que se alinhavam teologicamente com o conteúdo da obra “Os fundamentos”. 

 

Entendendo os fundamentalistas - Parte 2 

 

Uma análise do desenvolvimento histórico e teológico do fundamentalismo na Igreja Cristã nos Estados Unidos e no Brasil 

 

As principais fases do movimento fundamentalista nos Estados Unidos

Nesta parte, analisaremos o desenvolvimento histórico e teológico do fundamentalismo na Igreja Cristã nos Estados Unidos e no Brasil. Podemos dividir sua história em quatro fases.

 

Fase 1: Conflito e derrota (até meados da década de 1920)

 

 Nesta fase inicial, líderes conservadores levantaram a bandeira contra o liberalismo ou modernismo dentro de suas denominações. Eles estavam lutando contra a incredulidade, antes que os liberais finalmente tomassem o controle dos seminários e da administração. O objetivo era expulsar os liberais das fileiras das igrejas. Várias medidas foram tomadas com este fim. Entre elas destacamos a publicação da série “Os fundamentos”. O alvo foi atacar o naturalismo, o liberalismo e todos os males a eles associados. A inerrância da Palavra de Deus é reafirmada nesta obra como sendo doutrina bíblica e fundamental. Os conservadores, a esta altura já conhecidos como “fundamentalistas”, se organizam em associações e em movimentos dentro das denominações. Surgem as listas dos “pontos fundamentais” que, embora variando quanto aos itens, concordam que a inerrância da Bíblia é essencial. As denominações realizam encontros e reuniões para debater o assunto.

Um importante fato ocorrido neste período foi que J. Gresham Machen e outros importantes professores conservadores deixam o Seminário Presbiteriano de Princeton, que fica nas mãos dos liberais, e fundam o Seminário de Westminster. É publicado o importante livro de Machen, Cristianismo e liberalismo (1923), um clássico sobre o assunto. Os fundamentalistas tentam também, através dos meios políticos, promulgar leis federais e nos Estados, proibindo o ensino do evolucionismo. Mas são derrotados no caso Scopes (1925), o julgamento de um professor de escola secundária que ensinava evolução em classe. Gradativamente, o movimento fundamentalista começa a adotar o pré-milenismo como um dos pontos fundamentais da fé cristã, o que provocará, na fase seguinte, um importante racha no movimento 

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Fase 2: Separação e organização (até meados da década de 1940) 

 

Nesta fase, o movimento fundamentalista percebe o fracasso em expulsar os liberais das fileiras das grandes denominações reformadas, muito embora os conservadores fossem a maioria nestas denominações. Como resultado, separam-se, formando novas instituições, associações, igrejas e denominações. São formadas novas denominações , como a Associação Geral de Igrejas Batistas Regulares (1932), a Igreja Presbiteriana da América – que, em seguida, mudou o nome para Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC), liderada por J. Machen (1936) –, a Associação Batista Conservadora da América (1947), as Igrejas Fundamentalistas Independentes da América (1930) e muitas outras. No sul dos Estados Unidos, os fundamentalistas dominaram a maior denominação batista, a Convenção Batista do Sul, a Igreja Presbiteriana do Sul, a Associação Batista Americana e muitas outras denominações. Todas estas defendem os pontos fundamentais, particularmente a inerrância da Palavra de Deus.

Os fundamentalistas formaram também muitas associações e juntas missionárias, seminários e institutos bíblicos, periódicos, conferências bíblicas pelo país afora para evangelização, defesa da fé e treinamento bíblico de pastores, missionários e obreiros. O movimento começa a associar-se com alguns valores morais da cultura americana, como a abstinência completa do álcool.

É nesta fase que o movimento fundamentalista se divide pela primeira vez. A causa da separação foi que muitos fundamentalistas queriam considerar o pré-milenismo como um dos pontos fundamentais do cristianismo. Além disto, havia a identificação crescente deles com a total abstinência de bebida alcoólica e rejeição das descobertas e avanços das ciências. Sai um grupo liderado por Carl McIntire para formar a Igreja Presbiteriana da Bíblia e o Seminário Teológico da Fé (1938). Com ele saíram Francis Schaeffer e Alan McRae, que posteriormente vieram também a afastar-se de McIntire.

O ponto principal é que nesta fase entra no movimento fundamentalista o conceito de separação organizacional de qualquer associação ou denominação que mantenha e tolere liberais em seu meio . Infelizmente, os fundamentalistas entenderam que a separação era a única forma bíblica para manter a pureza da fé e a integridade dos pontos fundamentais do cristianismo. Conseqüentemente, o termo “fundamentalista” começa a ter conotação de intransigência, divisionismo, intolerância, anti-intelectualismo e falta de preocupação com problemas sociais. Assim, no fim desta fase, o nome “fundamentalistas” se referia aos cristãos conservadores separatistas, que eram maioria dentro das denominações ao sul dos Estados Unidos, e aos que haviam saído de suas denominações, formando outras de caráter eminentemente fundamentalista. 

 

Fase 3: Neo-evangelicalismo (até meados de 1970) 

 

Nesta fase o fundamentalismo continua a batalha contra o liberalismo, de fora das denominações e contra um novo inimigo, o neo-evangelicalismo. O movimento ganha repercussão internacional. Os fundamentalistas criam programas de rádio e televisão e fundam faculdades que os mantêm unidos e ligados como numa rede invisível. É então que surge o neo-evangelicalismo ou evangelicalismo , uma ala dentro do movimento fundamentalista que deseja preservar os pontos fundamentais da fé, mas não deseja o espírito separatista da primeira geração de fundamentalistas. O evangelicalismo procura comunhão e associação com outros cristãos, pentecostais, conservadores e mesmo liberais, desejando fugir do rótulo “fundamentalista”, embora afirme, a princípio, a inerrância das Escrituras.

Esta segunda divisão no movimento atinge seriamente igrejas, denominações e seminários fundamentalistas. Os que se consideravam “evangélicos” saem do movimento fundamentalista para formar novas associações e igrejas “evangelicais”. Em termos organizacionais, surge nos Estados Unidos o Concílio Americano de Igrejas Cristãs, fundado por Carl McIntire (1941), representando os fundamentalistas, e a Associação Nacional de Evangélicos (1942), representando os evangelicais. Surgem o Seminário Fuller, a revista Christianity Today , o Wheaton College e a Associação Billy Graham, dentro da perspectiva “evangelical”. O fundamentalismo começa a atacar o evangelicalismo, considerando-o um grande perigo ao verdadeiro cristianismo por causa de sua abertura a outros cristãos, associação com liberais e tendência de acomodar a fé à ciência moderna.

Da parte dos fundamentalistas, é criado o Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (1948), formado por denominações, igrejas e indivíduos que se identificaram com a bandeira fundamentalista, em oposição ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), ecumênico e liberal em muitos aspectos. Nesta fase, o fundamentalismo se tornou menos proeminente, e alguns até pensaram que havia morrido. Na verdade, estava se expandindo através de evangelização, publicações, plantação de igrejas e programas de rádio. 

 

Fase 4: Luta contra o humanismo secular (até meados de 1980) 

 

A partir da campanha de Ronald Reagan para a presidência dos Estados Unidos, o fundamentalismo americano entrou numa nova fase. Ganhou proeminência por oferecer uma solução para a crise social, econômica, moral e religiosa da América, que envolvia legalização do aborto, proibição da leitura da Bíblia e oração nas escolas públicas etc. O inimigo era o humanismo secular , responsável por corroer os valores morais, as escolas, universidades, o Governo e a família. Os males associados ao humanismo eram: evolucionismo, liberalismo político e teológico, moralidade frouxa, perversão sexual, socialismo, comunismo e o ataque à autoridade das Escrituras. Para combater o novo inimigo, surgem de dentro do fundamentalismo novos ministérios fundados e liderados por uma nova geração de fundamentalistas, utilizando-se da mídia televisiva e impressa. Entre eles despontam Jerry Falwell, Tim LaHaye, Hal Lindsey, James Dobson e Pat Robertson. A base era a Convenção Batista do Sul, mas atingiram rapidamente todas as denominações e também outros países, como o Brasil. Ao contrário de gerações anteriores de fundamentalistas, envolveram-se com questões sócio-políticas. Fundamentalistas antigos, como Carl McIntire, somem do cenário por causa de desgaste político e extremo isolamento.

O alvo principal dos ataques fundamentalistas nesta época era o domínio do governo por humanistas e as conseqüências disto para a nação, em termos da libertinagem e relaxamento dos valores morais. Acreditavam que havia uma conspiração humanista para tomar a América e banir o cristianismo. A luta do fundamentalismo é contra os direitos dos homossexuais, do uso de drogas, o movimento feminista, associações com a Rússia, posse de armas. Por outro lado, os fundamentalistas se engajam na luta pelo ensino do criacionismo nas escolas, ao lado do evolucionismo.

Esses novos líderes fundamentalistas mantinham os mesmos pontos doutrinários e a mesma visão separatista da primeira geração de fundamentalistas, embora enfrentassem um outro inimigo, o humanismo secular. Sua mensagem foi de chamar a Igreja a retornar aos fundamentos da Palavra de Deus como chave para uma nova reforma na sociedade e na Igreja. Neste sentido, foi formada a Maioria Moral (1979), sob a liderança de Jerry Falwell, para combater o liberalismo moral e social nos Estados Unidos. Nisto se associam com católicos, pentecostais e judeus de pensamento igual ao deles.

O fundamentalismo ganhou mais força nesta época com o fato de que o movimento evangelical começou a dar mostras de que a política de boa vizinhança com liberais e católicos terminava em prejuízo para a fé bíblica. Líderes evangelicais, bem como seminários e publicações evangelicais, começaram a aceitar o evolucionismo teísta, o ecumenismo com católicos e liberais (Billy Graham). Associações evangelicais de teólogos começaram a tolerar teólogos que questionavam mesmo a onisciência de Deus. Por outro lado, os escândalos na década de 1980, envolvendo o casal Bakker, televangelistas fundamentalistas, causaram um grande revés no movimento fundamentalista nos Estados Unidos. Surgem movimentos radicais de dentro do fundamentalismo, como o Reconstrucionismo de Gary North e Rushdoony.

Apesar de tudo, o fundamentalismo nos Estados Unidos continua firme e crescendo. O crescimento, entretanto, não se faz em termos denominacionais, mas da multiplicação da mentalidade fundamentalista nos aspectos teológicos e apologéticos, dentro das denominações tradicionais e no crescimento de ministérios, missões, institutos e seminários de posição teológica fundamentalista.

(continua) 

 

Entendendo os fundamentalistas - Parte 3 

 

Terminando essa série de artigos sobre o fundamentalismo cristão, gostaria de fazer algumas distinções sobre o termo “fundamentalista”. À semelhança de outros rótulos nos meios evangélicos, o rótulo “fundamentalista” também é mal compreendido e mal empregado. Nada mais natural do que procurar esclarecer o assunto. Acho que a primeira coisa é falar sobre os vários possíveis sentidos em que o termo “fundamentalista” é empregado.

 O fundamentalista histórico não existe mais. Ele existiu no início do século 20, durante o conflito contra o liberalismo teológico que invadiu e tomou várias denominações e seminários nos Estados Unidos. J.G. Machen, John Murray, B.B. Warfield, R.A. Torrey, Campbell Morgan e, mais tarde, Cornelius Van Til e Francis Schaeffer são exemplos de fundamentalistas históricos. Falei sobre esse tipo de fundamentalista no meu primeiro artigo dessa série.

O fundamentalista americano ainda existe, mas perdeu muito de sua força. Embora tenha surgido ao mesmo tempo que o histórico, separou-se dele quando adotou uma escatologia dispensacionalista, aliou-se à agenda republicana dos Estados Unidos, exerceu uma militância belicosa contra tudo que considerasse inimigo da fé cristã, como o comunismo, o ecumenismo, o liberalismo, a ciência moderna e o próprio evangelicalismo. Defendia e praticava o separatismo institucional de tudo e todos que estivessem ligados direta ou indiretamente a esses inimigos. Recentemente, faleceu o que pode ter sido o último grande representante desse gênero de fundamentalista, o famigerado Carl McIntire. Alguns consideram que Pat Robertson é seu sucessor, embora haja muitas diferenças entre eles. Veja mais sobre esse tipo no segundo artigo da série.

O fundamentalista denominacional é aquele membro de denominação que se considera oficialmente fundamentalista e que até traz o rótulo na designação oficial. Após um período de grande florescimento no Brasil, especialmente no Nordeste e em São Paulo, as igrejas fundamentalistas, presbiteriana e batista, sofreram uma grande diminuição em suas fileiras. Grande parte das igrejas fundamentalistas presbiterianas regressaram à Igreja Presbiteriana do Brasil, de onde saíram na década de 1950. Em alguns casos, o fundamentalismo denominacional do Brasil foi marcado por laços financeiros e ideológicos com McIntire. Hoje, até onde sei, não há mais esse laço.

No Brasil, o fundamentalismo denominacional que sobrou desenvolveu uma síndrome de conspiração mundial para o surgimento do reino do anticristo através do ocultismo, da tecnologia, da mídia, dos eventos mundiais, das superpotências. Acrescente-se ainda o desenvolvimento de uma mentalidade de censura e apego a itens periféricos como se fossem o cerne do Evangelho e critério de ortodoxia (por exemplo, só é bíblico e conservador quem usa versões da Bíblia baseadas no Texto Majoritário, quem não assiste desenhos da Disney e não lê a série “Harry Potter”).

O fundamentalista xiita é sinônimo de intransigência, inflexibilidade, ser-dono-da-verdade e patrulhamento teológico. Este tipo tem mais a ver com atitude do que com teologia. Nesse caso, é melhor inverter a ordem e chamá-lo “xiita fundamentalista”. Na verdade, xiitas podem ser encontrados em qualquer dos campos protestantes. A propalada tolerância dos liberais, neoliberais e neo-ortodoxos é mito. Há xiitas liberais, neoliberais, neo-ortodoxos e, obviamente, xiitas fundamentalistas. Teoricamente, alguém poderia ser um fundamentalista histórico e denominacional, e ainda não ser um xiita .

Por fim, o fundamentalista teológico , outro sentido em que o termo é muito usado. O fundamentalista teológico se considera seguidor teológico dos fundamentalistas históricos e simpatiza com a luta deles. Sem pretender ser exaustivo, acredito que são considerados fundamentalistas teológicos atualmente os que aderem aos seguintes conceitos ou a parte deles: a inerrância da Bíblia, a divindade de Cristo, o seu nascimento virginal, a realidade e a historicidade dos milagres narrados na Bíblia, a morte de Cristo como propiciatória, sua ressurreição física de entre os mortos, seu retorno público e visível a este mundo, o conceito de verdades teológicas absolutas, o conceito de que Deus se revelou de forma proposicional, a aceitação dos credos e confissões da Igreja Cristã, a adoção do método gramático-histórico de interpretação bíblica, uma posição conservadora em assuntos como aborto e eutanásia, a preferência pela pregação expositiva, gosto pelos escritos dos puritanos antigos e modernos, a rejeição do liberalismo teológico e da neo-ortodoxia, a crença de que Deus criou o mundo em sete dias, a rejeição da ordenação feminina, não-rejeição da pena de morte e outros. Há quem queira acrescentar a essa lista os que votaram contra o desarmamento, são contra o esquerdismo brasileiro e gostam dos Estados Unidos.

Em linhas gerais, o fundamentalista teológico acredita que a verdade revelada por Deus na Bíblia não evolui, não cresce e nem muda. Permanece a mesma através do tempo. A nossa compreensão dessa verdade pode mudar com o tempo; contudo, essa evolução nunca chega ao ponto radical em que verdades antigas sejam totalmente descartadas e substituídas por novas verdades que, inclusive, contradigam as primeiras. O fundamentalista teológico reconhece que erros, exageros e absurdos tendem a ser incorporados através dos séculos na teologia cristã, e que o alvo da Igreja é sempre reformar-se à luz dos fundamentos da fé cristã bíblica, expurgando esses erros e assimilando o que for bom. Admite também que existe uma continuidade teológica válida entre o sistema doutrinário exposto na Bíblia e a fé que abraça hoje.

Na categoria de fundamentalistas teológicos, encontramos presbiterianos, batistas, congregacionais, pentecostais, episcopais e provavelmente muitos outros. É claro que nem todos subscrevem todos os pontos acima, e ainda outros gostariam de qualificar melhor sua subscrição. Contudo, no geral, acho que posso dizer que os fundamentalistas teológicos não fariam feio numa pesquisa de opinião sobre o que crêem os evangélicos brasileiros.